Ninguém descobriu

Carelli diz quando começa a montar elenco de A Fazenda e revela que SBT quis volta da Casa dos Artistas

Diretor do 1º reality de confinamento do país recorda Casa dos Artistas, sua volta em segredo ao SBT e garante que todos os cachês em A Fazenda são iguais


Rodrigo Carelli no Show do Milhão, A Fazenda e mais jovem
Rodrigo Carelli dirigiu a Casa dos Artistas, relembra histórias e fala sobre os realities na Record - Foto: Montagem/NaTelinha
Por Thiago Forato

Publicado em 26/06/2025 às 00:20,
atualizado em 26/06/2025 às 13:06

O Power Couple Brasil 7 está em reta final, mas Rodrigo Carelli, diretor de realities da Record, já começou a trabalhar na montagem de casting da próxima temporada de A Fazenda há muito tempo. Mal começa um, já pensa no outro. "Já está começando a ser montado estrategicamente", adianta.

Essa e outras declarações foram feitas em uma longa entrevista ao NaTelinha publicada no YouTube (vídeo ao fim da matéria) e que também aparece aqui em formato de texto. Rodrigo Carelli é o 18º convidado de uma série de 20 entrevistas com personalidades que fizeram ou fazem a história da TV neste mês que marca as duas décadas do site.

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A história do reality show no Brasil passa por ele, que dirigiu Silvio Santos (1930-2024) na Casa dos Artistas em três temporadas. O Homem do Baú só se deu conta de que teria que fazer o programa ao vivo aos domingos quando alterou um pouco o formato na tentativa de evitar problemas com a Endemol. Com o sucesso da estreia, ignorou o fato de ter que dar expediente em tempo real no fim de semana. Foi ele quem deu a notícia de que o SBT tinha vencido o até então imbatível Fantástico. Mesmo 24 anos depois, garante que não esquece a cara do 'patrão' quando soube do feito. "Brilhou, sabe?", recorda.

Carelli também revela que foi contratado pelo SBT entre 2007 e 2008 para retomar a Casa dos Artistas. O projeto chegou a andar com pessoas trabalhando, mas não foi pra frente porque Silvio não queria apresentar. O Comercial, portanto, disse que não faria sentido. "Ninguém soube, ninguém soube. Vocês [jornalistas] não descobriram", brinca.

Meses depois da estreia da Casa 1, a Globo estreou o Big Brother Brasil, e o que também ninguém sabe, é que Boninho só assumiu o projeto em função da desistência de outro diretor. "Quem ia fazer era o Aloysio Legey. Ele se recusou a fazer às pressas, aí a Marluce [Dias], que era a chefona da Globo, colocou o Boninho."

Ao longo da conversa, ele também explica porque não houve tradução do título Power Couple para o português, relembra A Fazenda de Verão (com anônimos) e fala das criações recentes, como o Ilha Record e A Grande Conquista.

Confira:

NaTelinha - Power Couple em reta final, pegando o fogo... Você já está à procura, à caça do casting da próxima temporada de A Fazenda? Quando é que isso começa?

Mal a gente começa a fazer o casting do Power Couple, a gente já começa a fazer o casting da Fazenda. E esse ano eu acho que tem uma expectativa muito grande. Já tinha uma expectativa muito grande para o Power Couple, que está sendo, que a gente está conseguindo entregar, acho que todo mundo tá falando muito do Power, etc. E eu acho que A Fazenda também vem aí com um elenco bem surpreendente. Já está começando a ser montado estrategicamente.

NaTelinha - O que você pode prometer? Além de  muita confusão.

Eu acho que eu posso prometer o de sempre, que é pessoas realmente que querem competir, que querem ganhar esse prêmio, que não tem nada a perder, que querem se posicionar. E é uma coisa que a gente espera que todos eles façam. Em geral, a gente tem ali, vamos dizer assim, uns 10% a 20% de pessoas que frustram isso um pouco, mas a gente faz com que a mecânica do programa, as atividades, as propostas do programa e mesmo o atiçar dos apresentadores resolvam isso. O problema desses 10% aí que que acabam entrando com o fogo e apagam esse fogo rapidamente. Acho que tem gente que leva um certo susto no começo, né? Mas eu acho que isso é resolvível pelo elenco como um todo, pela dinâmica do programa, como eu falei, e o histórico do programa também.

Carelli diz quando começa a montar elenco de A Fazenda e revela que SBT quis volta da Casa dos Artistas

NaTelinha - Qual o contato da produção de vocês com o pessoal da Strix, que é detentora do formato? A Fazenda aqui no Brasil é a versão mais bem-sucedida deles. Nenhum outro país fez tanto A Fazenda como aqui.

Isso, nenhum país fez tanto A Fazenda como o Brasil, eu acho que o único país, o segundo país que fez mais foi a Inglaterra, eu acho que só na Inglaterra também que teve essa versão, na Inglaterra e em Portugal, que teve versões com celebridades, nos outros países as versões são mais com anônimos e são mais 'roots', principalmente na Escandinávia, que é de onde vem o formato. A Fazenda é um programa muito voltado a você sobreviver numa situação rural limite. É muito diferente da proposta, principalmente da Inglaterra e do Brasil. Se não me engano, a Colômbia também fez na mesma linha que a gente, mas não faz mais.

Eu acho que a Inglaterra e a gente é que abriu um pouco as portas para essa fazenda mais luxuosa, por um lado, e voltada mais para a convivência deles do que propriamente focada só nos desafios rurais. Porque eu acho que o Brasil gosta muito disso. Acho que, desde a Casa dos Artistas, a gente tem esse prazer do público em olhar nesse buraco de fechadura, vamos dizer assim, ver o que acontece, principalmente com pessoas famosas, como é que elas se comportam, estando juntas numa situação como essa, desconectadas do mundo, totalmente desconectadas do mundo, e ao mesmo tempo competindo pelo gosto do público.

Afinal das contas, é o público que vota, é o público que decide quem fica e quem sai.

NaTelinha - Eu imagino que A Fazenda 'raiz', sueca, ela deva ser muito mais roots e muito mais chata também de acompanhar, embora eu não tenha visto a versão original...

Pra nós, sim. Mas pra eles, não. Eles gostam mais desse tipo. Questão de perfil do país mesmo, né? Que é uma coisa curiosa... O embate físico lá não é proibido.

NaTelinha - Ah, é?

Agora não está mais no ar lá também. Mas lá até 2012 mais ou menos, 2013, quando estava no ar lá as pessoas saíam na porrada.

NaTelinha - Mas qual que é o limite lá então?

Aqui é impossível, aqui não é aceitável mas lá tinha isso. Mas é muito diferente, na verdade. O nosso é mais parecido com o que a Inglaterra propôs. A Inglaterra fez uma versão com celebridades e era uma casa bonita, confortável, como é a nossa, com piscina, etc. E com os bichos também. A questão dos bichos fica muito por conta de você ter algo para fazer e algo para mostrar que você tem uma competência naquilo. E ser um motivo também de discórdia. 'Eu fiz, você não fez, etc'.

NaTelinha - A Fazenda brasileira já serviu de inspiração para outros países, acredito eu. É um grande case de sucesso da produtora, né?

Quando você compra os direitos de um formato assim, tudo que você cria em todos os países que compram o formato, tudo que é criado, vai para a 'Bíblia', que eles chamam, vai para o manual deles. Então, pode ser usado por outros países também. Então, tem muita coisa que a gente criou aqui que foi usada fora também. Porque a gente, na verdade, provas, ideias de provas, porque a nossa fazenda é a mais rica, vamos dizer assim, a maior produção de todos, de todo mundo. A produção, o que tem maior valor de produção, a maior estrutura mesmo de produção do mundo inteiro

NaTelinha - A questão do Power Couple também vai mais ou menos por aí. O quanto vocês modificaram a versão original, Carelli?

É, eu acho que talvez seja o maior também, mas o Power é um pouco mais parecido com a versão israelense, a original. É muito parecido, é muito mais parecido. Esteticamente, o tamanho das provas, o formato, o jeito que as coisas acontecem, a questão das suítes, é tudo mais parecido. Mas talvez o nosso seja, se não o maior, um dos maiores em termos de produção também.

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NaTelinha - Por exemplo, Power Couple não tem o nome traduzido, mas a Fazenda tem. Tinha o The Four também no Record que não era traduzido. Tinha Dancing Brasil. Como é que vocês fazem e escolhem: 'Esse nome eu vou traduzir' ou 'esse não'? Qual o critério para traduzir um título de formato?

No Brasil, alguns formatos, algumas palavras em inglês, como 'power', por exemplo, são bem assimiladas. 'Dancing' também, eu acho que é bem assimilado. Na verdade, o nome original é Dancing with the Stars. Seria Dançando com as Estrelas. E existe um outro formato que é feito no Brasil, que é o Dança dos Famosos. Então, a gente achou melhor usar a palavra em inglês, 'dancing'. E colocar o Brasil junto, né? Dancing Brasil. O Power Couple, a gente ficou muito em dúvida. A gente ficou entre Power Couple e Casal Power. A gente ficou entre esses dois. Mas a gente achou que esse 'power', no começo, tinha uma força. E a gente falou: 'Vamos torcer pra todo mundo falar esse Couple'.

Mesmo que não fale perfeitamente, mas marca bastante. Eu acho que acabou sendo assimilado, né? A gente tem também outros formatos no Brasil que são em inglês, né? Tipo o The Voice. Alguns formatos assim que são em inglês também. E eu acho que tem uma uma uma força. Já o Canta Comigo, que a gente a gente achou que que que ficava melhor em português mesmo.

NaTelinha - O título original do Canta Comigo é bem diferente...

All Together Now. Seria todos juntos agora, mas a ideia é essa, né? É All Together Now, é quando o cantor quer que o público cante junto com ele. E no caso, é aquele paredão de jurados. A ideia é o quem está competindo, fazer todos cantarem. Então, All Together Now, que tem aquele momento, que tem aquela virada, e aí os jurados levantam e cantam. Então, é All Together Now, e a gente achou que a melhor tradução era Canta Comigo, que é como os cantores aqui falam, quando querem que a plateia cante. 'Canta comigo, vem comigo, canta comigo'. Então, a gente optou pelo Canta Comigo.

NaTelinha - Voltando a falar de A Fazenda, o programa está no ar desde 2009 e só teve um único ano que A Fazenda não foi pro ar, que foi em 2016. O que aconteceu naquele ano? Houve risco da Fazenda não voltar para o ar? Você lembra o que aconteceu naquela época?

A questão de orçamento da emissora mesmo. Você sabe como é que é. No Brasil, a gente fazer televisão no Brasil, esse risco de sair do ar é sempre iminente. Mas a gente trabalha para que isso não aconteça. Até porque um sucesso como o da Fazenda seria uma pena sair do ar. Hoje eu acho que é difícil a Record viver sem ter A Fazenda todo ano.

Mas foi uma questão financeira ali mesmo, uma estratégia financeira. E depois voltou pelo mesmo motivo. Era um ano muito difícil comercialmente também.

NaTelinha - E nesses 16 anos da Fazenda também teve um fato inédito do programa, que só em uma temporada vocês tentaram incluir anônimos. Por que você acha que não teve de novo? Tem chance de isso acontecer novamente um dia?

Na verdade, aquela ideia era a ideia de fazer uma outra A Fazenda, um outro programa, que era A Fazenda de Verão. Seria um outro programa, um spin-off. Mas acabou que a gente percebeu que era melhor focar todos os esforços só no original mesmo. O resultado foi até legal, mas não foi tão diferente para valer a pena. Então, a gente preferiu concentrar os esforços em A Fazenda mesmo.

NaTelinha - Até porque três meses de anônimos e três meses de famosos também demanda demais de vocês, né?

É muita coisa. As duas vezes que a gente tentou fazer no mesmo ano duas A Fazenda, que foi a 1 e a 2, que foram quase uma semana e depois essa Fazenda de Verão, a gente vê que é tentador pra emissora, né? Porque é um formato, é um produto que fatura muito, faz muito sucesso comercial e tal, então é muito tentador, dá até para entender porque a emissora quer. Isso aconteceu com a Casa dos Artistas também. Fez tanto sucesso que o Silvio fez na sequência, a 2 e a 3. Só que a gente percebe que desgasta.

Desgasta o público, desgasta o formato, então é melhor um por ano mesmo e a gente buscar outros formatos, como a gente já teve A Ilha, A Grande Conquista. E o Power Couple que a gente já teve, e agora a gente volta com o Power, porque acho que de todos esses que a gente testou, o Power é o mais consistente.

NaTelinha - Sobre audiência, a gente viu que o BBB 25 teve a pior audiência da história, por exemplo. A televisão tem sofrido muito com esses números baixos, com esses patamares completamente diferentes, que você, na Casa dos Artistas, dava 50 pontos, acabou...

É outra realidade. Agora o Power Couple está indo super bem dentro da realidade atual. Está indo super bem, muito bem mesmo, mas dentro dessa nova realidade que é diferente para todas as emissoras.

NaTelinha - E você acha que o público está consumindo menos reality mesmo ou está consumindo menos reality, só que está consumindo menos reality na televisão?

Olha, eu acho que é muito complicado falar sobre isso, porque eu acho que o público está consumindo reality mais do que antes. Consumindo no sentido de se de se conectar, de estar sempre conectado às redes sociais, de consumir o reality em multiplataformas, de se engajar, de dar opinião, de tirar cortes, isso tudo está mais do que antes. O que está menor do que antes é a audiência absoluta de televisão. Então, dentro dessa realidade, a gente está tentando fazer o melhor.

Mas eu acho que nesse sentido, agora, a repercussão de reality show, ela é maior hoje do que antes. Do que quando dava 20 pontos. E eu acho que não tem nenhum tipo de gênero televisivo que repercuta tanto quanto reality show. E não tem nenhum gênero televisivo também que seja tão adaptável a desejos comerciais, entendeu?

Por exemplo, o merchandising dentro de um reality show é muito diferente de outro programa. Porque um merchandising dentro de uma novela, por exemplo, ele tem que estar dentro da realidade da novela, do personagem, do enredo. Eles têm que fingir que aquilo está naturalmente inserido ali. No reality show, a gente diz a marca. 'Agora a gente vai fazer uma prova de produto tal'. 'E o produto tal é ótimo porque ele faz isso, isso, isso e isso'. E o participante de reality show ainda fala assim: 'Obrigado, marca'. Coisa que é impossível acontecer numa novela, por exemplo. Então, esse tipo de coisa, essa desinibição, vamos dizer assim, que o reality show promove para as marcas é uma coisa única. É só reality show. Porque mesmo em variedades, tem um momento que o apresentador fala do produto, mas ele vai para um cantinho, vai atrás de uma bancada e fala oficialmente do produto. É diferente de um monte de pessoas, de personagens que estão ali dentro daquele contexto do reality, chegar e falar: 'Nossa, é muito bom mesmo esse produto, eu vou passar esse produto. Ai, obrigado, marca tal'. 'Ah, como é gostoso isso'. 'Uhul! Vai ter a prova da marca tal'. E o apresentador falar. Isso é só o reality show que consegue fazer isso.

Então, assim, além de todas as características do reality show, dessa conexão do público estar vendo uma realidade, do público poder votar em quem vai sair, quem vai ficar, dessa conexão absurda mesmo que o reality faz com o público, além disso, é uma janela comercial muito assim, deliciosa, vamos dizer assim, para o anunciante. Muito perfeita para o anunciante.

NaTelinha - Não tem como eu te entrevistar e não falar de Casa dos Artistas. Você já, inclusive, mencionou aqui o programa na conversa. Eu sei que você já deu diversas entrevistas sobre o programa, mas tem uma coisa, aliás, que eu nunca te vi falando. Como é que foi convencer o Silvio Santos de que a Casa dos Artistas precisaria ser ao vivo, porque o Silvio já fazia programa gravado há muitos e muitos anos. Como é que foi dizer: 'Silvio, você vai ter que trabalhar no domingo de verdade, todo domingo à noite por algumas semanas'. Como é que foi isso, Carelli?

Na verdade, o que aconteceu, a história toda, não sei se você já sabe, o Silvio estava há um ano negociando com a Endemol, o Big Brother. Ele queria fazer o Big Brother, fazer o Big Brother no SBT. Chegou um ponto que eles, na hora de negociar o contrato, eles falaram: 'Ok, você vai ter o Big Brother, mas para ter o Big Brother, você tem que colocar no ar esses nossos outros formatos aqui'. Eram coisas tipo Acorrentados, que aí o Huck colocou no ar. O Huck fez. Barco do Amor, coisas assim que que depois eles tiveram que desovar tudo. E o Silvio falou: 'Não quero, eu quero fazer só o Big Brother'. E aí, nesse ponto, o contrato parou. Parou a negociação do contrato. E o Silvio muito esperto, deu um gelo na Endemol.

Só que a Endemol, também muito esperta, começou a negociar com a Globo, e o Silvio descobriu. E o Silvio falou: 'Não, então não. Então eu não quero mais e eu vou fazer o meu reality show de confinamento'. E como uma das características muito específicas do Big Brother é que é com anônimos, ele falou: 'Eu vou fazer com celebridades. E ao invés do público votar por telefone anonimamente, o público vai ligar e eu vou atender o telefone'.

E é engraçado você falar essa coisa do ao vivo, que ele pensou nisso, só que ele não pensou que isso ia ter que ser ao vivo. Exatamente, você tem razão. Depois ele descobriu que ia ter ao vivo. O processo todo, o que aconteceu? O pessoal do SBT, principalmente Paula Cavalcanti, que me conhecia da MTV, por isso me chamou para dirigir, a gente montou uma equipe muito jovem, muita gente era da MTV e tal, porque a Paula Cavalcanti, que era a diretora geral de produção do SBT, tinha vindo também da TVA e da Abril, como um todo, e aí ela me chamou. E aí a gente teve que ir do zero. Muita gente fala assim: 'Eles tiveram acesso à Bíblia do Big Brother'. Não, não tivemos acesso à Bíblia. O Silvio até tinha. Muito rapidamente a gente teve fazer e quando ele começou a perceber o tamanho da encrenca, ele começou a ficar meio... Quase desistiu, entendeu?

E aí, quando chegou, e aí ele descobriu que ia ter que ser ao vivo, tanto que quando chegou no dia do primeiro programa, ninguém no SBT sabia, só tinha cinco pessoas, cinco executivos do SBT que sabiam, e a minha equipe que era toda fora, todo mundo lá na casa do Morumbi. O pessoal que fez o cenário do programa ao vivo, por exemplo, não sabia, achava que era um game. Sabia que tinha que fazer a tal do logo da fechadura, mas não sabia o que era. A engenharia sabia o que tinha que fazer, mas não sabia o que era também. Aí a gente fez o primeiro bloco. O primeiro bloco foi pré-gravado. Por quê? Porque ele recebia todos os participantes e depois ele mandava os participantes para a casa do Morumbi.

Carelli diz quando começa a montar elenco de A Fazenda e revela que SBT quis volta da Casa dos Artistas

NaTelinha - Isso no domingo mesmo?

No domingo. Para dar tempo deles chegarem na casa do Morumbi, esse primeiro bloco a gente pré-gravou. Não foi ao vivo. O segundo bloco, que ele falava com eles já no Morumbi, era ao vivo. Então, a gente gravou o primeiro bloco. No primeiro bloco, ele estava muito mal-humorado. Muito assim, mal-humorado não, mas ele estava assim, não sabia se ia dar certo aquilo ou não. Então estava fazendo meio: 'Ah, vamos fazer'. E aí ele abria as malas deles. Ele fazia aquelas coisas que ele fazia, tipo: tinha uma cueca na mala da Bárbara Paz, na época tinha uma coisa que essas meninas descoladas usavam cueca e tal, e aí tinha uma cueca que falava: 'Ah, mas você é homem? Então você é homem?'.

Então teve essa primeira parte e ele tava meio assim. Aí ele foi pro camarim. E aí essa primeira parte entrou no ar. Quando esse primeiro bloco entrou no ar, em cinco minutos, o SBT ficou em primeiro lugar. E foi a primeira vez que o Fantástico ficou em segundo lugar na história do Fantástico. E aí a gente foi levar essa informação para o Silvio no camarim. Quando ele soube disso... No segundo bloco, ele já estava assim: 'Essa é a Casa dos Artistas'. Pronto! E não estava nem aí de ser ao vivo. Foi um sucesso instantâneo. Tanto que nessa primeira temporada, fora aquela questão da volta do Frota, ele seguia o roteiro certinho.

E o pessoal que trabalhava há muito tempo falou: 'Ele está estranho, ele está seguindo, ele está lendo dália, ele não lia dália'. Ponto ele não usava mesmo, mas ele estava seguindo a dália, ele estava seguindo o que estava proposto, que é uma coisa que ele não faz muito, ele era meio anarquista nesse sentido. Ele estava seguindo tudo por causa do sucesso. E isso foi assim até a metade da Casa 2. Na metade da Casa 2, não sei o que deu. Ele começou a anarquizar. Ele começou a fazer do jeito dele. Caos total. Chamou gente no meio. Entraram dois no meio. Mas essa é a história da Casa dos Artistas. É uma coisa incrível que eu tive o prazer, a honra de participar.

E é uma coisa histórica mesmo, né? Porque foi antes do BBB. O BBB que ia estrear em abril, que é o mês que estreiam as coisas na Globo, né? Não sei se ainda é, mas aquela época era. Estreou em janeiro.

NaTelinha - Às pressas, né?

Uma coisa que muito pouca gente fala também. Quem ia fazer era o Aloysio Legey. Ele se recusou a fazer às pressas, aí a Marluce [Dias], que era a chefona da Globo, colocou o Boninho.

NaTelinha - Eu não sabia dessa história.

Então, assim, muito louco, né? Como são as coisas, né? E aí eles fizeram as pressas, tanto que foi muito caótico também a estreia do BBB, porque eles ficaram muito revoltados. Cabeças rolaram na Globo. Como que não descobriram que estava sendo feito?

Porque a gente conseguiu realmente fazer num sigilo absoluto, que hoje seria impossível, né? Mas a gente conseguiu. Na época já era difícil, mas a gente conseguiu. Pelo fato de ser a casa ser em outro lugar. Só que a casa era do lado da casa do Silvio. Aí teve um momento teve o sequestro. Sabe aquele segundo sequestro?

NaTelinha - Sim, sim.

Aquilo aconteceu com a gente montando a casa dos artistas. Então teve um momento que tinha a imprensa inteira na frente da casa do Silvio e a gente ali sem ninguém desconfiar que alguma coisa estava acontecendo ali.

NaTelinha - E o Silvio, nesse ao vivo, vendo a audiência, vocês estavam batendo o Fantástico toda semana. O Silvio ficava vendo minuto a minuto, vocês sopravam para ele de alguma maneira? Como é que ele sabia disso?

Eu nunca esqueço a cara dele. Ele estava no camarim, eu entrei junto com o [Orlando] Macrini. Estava com a cara de 'estou trabalhando aqui, beleza'. Quando a gente contou que o Fantástico, que tinha batido o Fantástico, eu nunca esqueço a cara daquele homem. Tipo assim, brilhou assim, sabe? O Fantástico era uma coisa intocável, né?

NaTelinha - Agora eu te pergunto, Carelli, e se o Silvio realmente tivesse comprado o Big Brother? Você acha que estaria no ar até hoje, como tá na Globo?

Acho que não. Eu acho que não. E eu vou te dizer, teve um momento na Casa das Artistas 3 que ele falou assim: 'Eu não gosto desse programa'. Eu falei: 'Por que, Silvio?'. 'Porque eu não sei o que vai acontecer'. Porque ele tinha muito controle, ele gostava muito de ter controle sobre as coisas. Eu lembro, por exemplo, que na 3 ele ficou muito revoltado que o Agnaldo Timóteo que ele adorava, que era amigo dele, que ele achava que ia ganhar. O dia que o Agnaldo Timóteo foi eliminado, ele ficou muito revoltado. Então, ele não conseguia lidar muito bem com essa coisa imponderável, essa coisa tipo: 'Ah, eu não sei o que vai acontecer'. A graça é não saber o que vai acontecer. Mas ele sempre teve muito controle de tudo no SBT.

Por mais que ele tentasse fazer coisas, tipo, teve um dia que ele resolveu que não ia ter eliminação.

NaTelinha - Ele inventou isso na Casa 3 para o Agnaldo não ser eliminado, né? Tanto que a final teve um monte de gente.

Mas depois foi inevitável. Depois o Agnaldo foi eliminado de qualquer jeito. Então, ele não gostava disso. Só que isso é a essência do reality show. Eu falo, é o único tipo de programa, além de todas as características que eu te falei, da conexão com o público e da coisa comercial diferenciada, não sei o quê, uma coisa que acontece é que é um tipo de programa que quem produz e quem dirige não sabe o que vai acontecer. Assiste junto. Quando a gente está num programa ao vivo, de eliminação, eu estou assistindo junto com o público, eu dirijo o programa, mas eu só vou saber o que vai acontecer junto com o público, entendeu? A gente não sabe a reação do participante, a gente não sabe o resultado, às vezes muda, até à tarde a gente sabe que tem uma tendência, porque a gente tem as parciais, tem uma tendência de fulano sair, mas às vezes vira. Uma coisa que acontece muito também é a gente, por exemplo, a gente ficar triste que uma pessoa vai sair e que outra vai ficar, e depois percebe que foi melhor aquela que saiu sair e aquela que ficou ficar mesmo. Porque a gente acha que a gente sabe o que é melhor para o programa, mas depois a gente se surpreende também.

Então, é isso que ele não gostava, e por isso que acabou. Muita gente acha que é porque a audiência estava baixa ou porque a Globo ganhou o processo. São essas duas versões que as pessoas falam muito. E não era nenhuma dessas duas coisas. O Fantástico continuava ficando em segundo lugar até a Casa 3. E a Globo só ganhou o processo nove anos depois. Ele terminou porque ele não quis. Porque o Silvio é assim. Ele não tem porquê. Porque sim. 'Eu acordei hoje, não quero mais'. Acabou.

NaTelinha - A lembrança que eu tenho da Casa 1, Carelli, é que os dias iam passando e muita gente ficava meio que, parece que estava meio infeliz na casa. O Leandro saiu, o Frota depois saiu. Eu lembro que a Nana Gouvêa queria sair. Todo mundo querendo sair... Como é que você isso? É uma frustração?

Aconteceram duas coisas ali. O primeiro é, eles não sabiam o que era aquilo. Não existia. Ninguém nunca tinha feito aquilo. O Mateus Carrieri, pra você ter uma ideia, ele falou assim: 'Isso é uma pegadinha. Eu tenho certeza que é uma pegadinha'. Então, assim, eles estavam completamente, imagina, é o que os participantes sentem de estar isolados e confinados e tal. Hoje, elevado à décima potência. Porque, assim, é sem ter visto nenhum reality show antes. Então, é assim, é uma coisa muito louca, surreal surreal.

A Bárbara não assistia televisão, pra você ter uma ideia. A Bárbara era uma atriz de teatro alternativo, riponga e tal. Caiu ali por acaso também, porque a Suzana Alves, a Tiazinha, ia estar nessa primeira. E a gente começou a fechar o elenco duas semanas antes de entrar no ar, pra não vazar. E aí, a Tiazinha foi enrolando pra assinar o contrato, aí três dias antes ela falou, não vou assinar. Deu uma paúra, né? Ela falou: 'Não vou assinar'.

E aí, a gente tinha gente ali da MTV junto comigo e a Chica Barros, que era uma das diretoras, que hoje é uma grande diretora, faz um monte de diretora geral agora e tal, mas trabalhava comigo, ela era muito amiga da Bárbara. Ela falou assim: 'Tem aquela menina que faz às vezes uns promos na MTV e que joga futebol no time feminino da MTV comigo. E ela é atriz. Ela é atriz'. Eu falei: 'Bora! cadê a foto dela?'. Pegamos uma foto linda dela, loira, que não aparecia a cicatriz, porque era meio 'photoshopada' a foto. Mandamos para o Silvio e o Silvio falou: 'Que bonita, loira, topo'. E aí entrou, foi assim que a Bárbara entrou. E aí ganhou, virou uma grande atriz, ficou famosa, ficou rica.

Ela é uma das pouquíssimos participantes de reality show que viraram realmente grandes estrelas, famosas e bem-sucedidas. E pode-se dizer isso dela, da Grazi, da Sabrina. E só, praticamente. Na Fazenda, a gente tem casos assim. Tem uma que já era uma estrela, deixou de ser e passou a ser uma estrela de novo, que foi a Gretchen.

Ela só é essa rainha dos memes, 'blá, blá, blá', por causa da participação dela na Fazenda e no Power Couple. Porque senão ela estaria totalmente fora. E a Nicole Bahls, que é um caso também, um destaque. E acho que Jojô Toddinho, também, na Fazenda, eu acho que é uma pessoa que teve um outro tipo de fama pós-Fazenda.

NaTelinha - Ah, tem o Paulo Nunes, que participou da Fazenda, é comentarista hoje na Globo, né? Eu esqueço também, esses caras passaram pela Fazenda.

Já era um um jogador de futebol famoso. Mas se você for ver, são poucos. E a Bárbara eu acho que é a mais impressionante de todas essas porque ela conseguiu por causa do reality show. Ela não conseguiria nunca, ninguém ia saber da existência dela se ela não tivesse feito a Casa dos Artistas. E ela reconhece isso. Quando ela me encontra, fala assim: 'Ele que me inventou!'. E hoje ela é júri do Festival de Berlim. É uma coisa muito impressionante.

NaTelinha - E o logo da Casa dos Artistas, Carelli, quem é que bolou aquele buraco da fechadura? De quem foi a ideia de fazer o logo do buraco da fechadura? Foi sua ideia?

Fui eu. Eu que tive a ideia de fazer o buraco da fechadura. Na verdade, eu até queria que fosse vermelho também, porque eu achava que impactava mais. Eu tenho formação publicitária. Eu fui formado pela ESPM. Tanto que eu converso muito bem com o pessoal do Comercial e tal, porque eu tenho uma noção, assim, dessa área. E, então, fui eu, fui eu que tive a ideia,.

Eu que criei, mas não fui eu que realizei, né?

NaTelinha - Não, claro, mas o conceito é seu.

É, o conceito é meu. Os outros logos dos meus programas não fui eu que criei, não, mas esse foi.

NaTelinha - E ficou, né? Ficou para a posteridade, que o Silvio continuou usando depois em temporadas que não era a Casa dos Artistas, mas ele usou no Protagonista de Novela, ele usou em O Grande Perdedor, Casamento à Moda Antiga, ele usava a sua logo.

Foi uma tentativa. Ele precisava 'desovar', vamos dizer assim, esses formatos que ele tinha comprado, e ele achou que associando com a Casa dos Artistas ia render. Mas eu não participei desses dois.

NaTelinha - Desses não, mas a sua logo de alguma tava ali... O Grande Perdedor eu achei uma pena não ter dado certo.

Você sabe que uma vez, depois desses dois aí, foi lá por 2007, 2008, talvez? A Daniela [Beyruti] e o Leon Abravanel me chamaram pra fazer de novo a Casa dos Artistas. O Silvio queria retomar a Casa dos Artistas original, como era.

Eu lembro que foi no meio de ano, tipo julho. Que era para ser para o final do ano, como eram as outras Casas. E aí eles estavam animados e tal. Aí eles me contrataram. Eu achei, assim, eles me contrataram não pelo tempo todo que seria até a temporada. Me contrataram primeiro só por três meses. Porque, principalmente o Leon, ele já sabia, ele falou: 'Tá estranha essa história'. E aí, o que aconteceu? Ele queria que fizesse. E um belo dia ele perguntou pra Daniela: 'Ah, que ótimo, vai ter, né? Quem que vai apresentar? Você?'. Ele falou: 'Não, eu não vou apresentar. Aí o Comercial falou: 'Se ele não apresentar, não faz sentido pra gente'. Aí não teve.

NaTelinha - Ah, ele não queria mais apresentar.

Não, ele nunca quis apresentar essa nova. A Daniela achou que ele, quando ele deu 'ok', que ele automaticamente ia apresentar. Aí ele falou 'não'. E aí, para o Comercial não fazia sentido, entendeu?

Então, eu fiquei três meses lá meio que fazendo, começando a fazer o projeto e não aconteceu.

NaTelinha - Caramba, essa história eu não sabia. Essa história aí, o pessoal vai 'cavucar' ali o período de 2006 a 2008 para ver o que aconteceu.

Ninguém soube, ninguém soube. Vocês não descobriram.

NaTelinha - Não descobrimos. Verdade, verdade. E já era difícil guardar segredo, hein?

Já tinha uma equipezinha, já tinha umas seis pessoas trabalhando comigo e tal.

NaTelinha - Olha aí, rapaz... Quase a Casa dos Artistas voltou! Bom, a gente nunca vai saber se ia dar certo ou não, né? Mas vai ficar na memória. O Ilha Record e A Grande Conquista, Carelli, vocês desenvolveram o formato. Mas o que eu queria saber é se esses formatos estão sendo comercializados por aí.

A gente colocou pra jogo. Mas não sei se foi vendido ainda, não. Sinceramente, não sei. Eu precisava checar. A Ilha foi uma uma encomenda e a gente desenvolveu, uma encomenda da própria emissora, e eu e a minha equipe desenvolvemos. A Grande Conquista foi uma ideia que já veio a estrutura dela. Já estava pronta na cabeça do Marcelo Silva, que é o nosso chefe lá, que é o nosso vice-presidente artístico. E aí ele deu para a gente desenvolver também, mas já com a estrutura bem, assim, a ideia já desenvolvida na cabeça dele. E eu acho os dois formatos muito bons. Gosto muito do Ilha, principalmente. Mas é muito caro. E aí o que aconteceu? Ele seria mais viável se ele fosse ao vivo, igual a gente faz o Power e A Fazenda. Ele seria mais viável comercialmente.

Mas aí ele não ficou viável em termos de orçamento. Porque ele ficaria, por ser numa praia, por não ser em São Paulo, por ser, enfim, é uma estrutura muito complexa. Para você fazer como você faz A Fazenda, ia acabar ficando mais caro que A fazenda.

Carelli diz quando começa a montar elenco de A Fazenda e revela que SBT quis volta da Casa dos Artistas

NaTelinha - Mas é viável do ponto de vista técnico.

Do ponto de vista técnico é viável. Técnico é, mas ele é caro. Mas ele é caro. É mais caro que A Fazenda mesmo. E A Fazenda é um programa muito caro. É um programa muito caro, mas é uma estrutura que já está montada. E essa estrutura, além de não estar montada, ela não poderia ficar montada. A estrutura da ilha. Como o da Fazenda fica. E a da Fazenda, além de tudo, a gente usa para outros projetos. Para o que for usado dentro da estrutura da Fazenda.

NaTelinha - E tem algum formato que você tentou colocar em prática e não conseguiu, talvez até pelo custo?

Tem algumas.

NaTelinha - Tem algumas?

Não vou falar, não. (risos)

NaTelinha - Você não pode falar? Eu fracassei aqui, mas valeu a tentativa. (risos)

Mas tem. Já tem essa informação de que tem.

NaTelinha - É, já tem informação de que tem. Agora, mas pode ser que coloque em prática, pode ser que não...

Sempre a gente tem o desejo de colocar. Mas esses projetos, a gente já está muito feliz com eles.

NaTelinha - De quem foi a ideia de chamar o Felipe Andreoli e a Rafa Brites para o Power Couple? Foi uma boa sacada.

Eles foram chamados para integrar o elenco da Record primeiro e numa conversa com a diretoria da Record que eu nem tava presente, eles citaram o Power Couple. E aí me perguntaram para mim: 'Fala você o que acha deles fazerem o Power Couple?'. 'Eu acho uma ótima ideia e tal'. Então, foi incluído no pacote deles, porque eles estão fazendo três projetos, né? E aí, incluíram no pacote deles o Power Couple também

NaTelinha - Você que faz reality show há muito tempo, talvez tenha uma percepção parecida com a minha, que pode ser que eu não concorde com a minha percepção, mas é a que eu tenho no momento. Pode ser que eu não concorde comigo mesmo. Mas a impressão que eu tenho há alguns anos, é que as pessoas perderam aquele poder de reagir naturalmente. O que eu quero dizer que as reações de gente que vive em reality show é mais 'fabricada', 'pré-fabricada', não pela produção, mas pelas pessoas que sabem o que vai viralizar. A pessoa vai predisposta a agir de alguma maneira. Parece que as pessoas não agem mais naturalmente. Parece que não é real aquilo.

Ficou mais cerebral, né?

NaTelinha - Exatamente. Parece que as pessoas perderam... Parece que aquilo não é real.

Eu acho que é real, sim. Mas o que acontece é que as pessoas, elas são muito impactadas pelas opiniões das redes sociais. Na vida delas, no dia a dia delas. E não deveriam. E eu posso falar de carteirinha, porque eu sou um que não sou impactado. Falam muito de mim nas redes sociais e eu realmente não ligo. Realmente não ligo. Não é que eu não ligo. Não me impacta pessoalmente. Eu leio algumas coisas, acho engraçado algumas coisas, começam a falar umas loucuras...

Eu não consigo levar para o pessoal, não consigo tipo achar que é comigo mesmo o negócio. Porque na verdade não é comigo, é com um personagem Carelli que é o como se fosse o juiz. Sabe que nem no futebol? Tem o juiz, a figura do juiz. Então quando fala assim: 'Seu time tá perdendo, o juiz é ladrão'. E quando seu time tá ganhando, o juiz é ótimo É meio isso. Se o cara que você estava torcendo é eliminado, roubaram. Então, é normal isso. Eu acho que isso faz parte, inclusive, do sucesso do programa. Essa fúria, essa paixão e tal. Então, realmente, é uma coisa que não me impacta. E eu acho que não devia impactar tanto as pessoas, mas impacta.

Então, as pessoas vão muito armadas mesmo agora para o reality show. Mas como todas vão. Então eu acho que o jogo fica meio parelho. Não acho que isso afete tanto assim pelo menos os nossos realities. Não foram tão afetados por isso ainda, mas as pessoas vão de um jeito diferente mesmo.

NaTelinha - Você não acha que com isso o reality perde espontaneidade? Não que a pessoa vista um personagem, mas ela está ficando policiada o tempo inteiro. Ou às vezes extravasa demais pra poder aparecer.

É, mas não dura muito tempo não. Mas não dura muito tempo, e o público percebe. O fato de você perceber isso já resolve um problema, entendeu? Porque se você não percebesse isso, aí seria um problema. Você está achando: 'Nossa, essa pessoa é maravilhosa'. E ela é assim mesmo. E acreditar que ela é assim, mas não. Fica óbvio que ela não é assim. Então, tudo bem. O jogo está limpo, entendeu? Você vê que a pessoa está fazendo aquilo. É só mais uma camada, eu acho, dentro do reality show. Isso é mais uma camada para o público tentar descobrir, eu acho.

NaTelinha - Já vi você falar, mas também já vi participante de A Fazenda dizendo que ganhou X, outro dizendo que ganhou Y, com cachês divergentes de uma mesma temporada. Mas pra não ter dúvida: todos recebem a mesma importância sim ou não?

Todos recebem exatamente a mesma importância, sempre. E é impressionante, porque pessoas inventam, eles mesmos inventam diferenças de cachê e coisas assim, e isso realmente nunca aconteceu. Para te falar que isso nunca aconteceu, sabe quando isso aconteceu? Na primeira Casa dos Artistas. E foi o suficiente para nunca mais fazer isso. Porque eles falaram lá dentro. E foi um caos. Foi um caos. Um dos motivos dessas infelicidades que você falou, de querer ir embora, teve a ver com isso. Que uns ganhavam mais que os outros. Isso foi uma das coisas, não foi a única coisa. Foi uma das coisas. E aí, já morreu aí. A partir da Casa 2, já todo mundo ganhava a mesma coisa.

E até hoje, todos os meus realities, todo mundo ganha a mesma coisa. Já aconteceu até da gente fazer o seguinte. Aconteceu o seguinte. Ao fazer o casting, a gente perceber que aquele cachê que a gente está oferecendo, a gente não ia conseguir o casting que a gente queria. Aí a gente resolve aumentar, mas aqueles que a gente já tinha oferecido e que já tinham topado um valor menor, a gente faz o valor maior que a gente mudou. 'O cachê não vai ser aquele que a gente falou, vai ser maior'. Porque a gente percebeu que ia ter que ser maior pra gente conseguir outras pessoas.

NaTelinha - Eu entrevistei a Nubia uma vez e ela disse que quando o Silvio entrou lá na casa, até pra fazer aquela capa da Veja, uma das coisas que o Silvio foi acertar foi justamente esse negócio do cachê, né? 'Agora vai todo mundo ganhar a mesma coisa'.

Por causa do 'rolo' que tinha dado antes, entendeu? Era engraçado que ele me perguntava o que eu achava. Não ia adiantar. Mas ele me perguntava e o pessoal lá do SBT falava: 'Você não sabe como isso é absurdamente fora do comum, assim, dele te perguntar. Ele está te respeitando absurdamente'. Mas não adiantava nada. Se eu falasse que não, ele ia falar do mesmo jeito. O que a gente fazia muito era assim, por exemplo, no caso do Frota, eu convenci ele de que o Frota, ao entrar, ele tinha que entrar e falar assim: 'Gente, eu estou vindo aqui só visitar vocês e eu quero perguntar para vocês se vocês todos topam que eu volte'. Se todos topassem, ele voltaria. E eu sabia que ele ia convencer todos, porque o Frota é o Frota, ele ia convencer todo mundo. E ele convenceu todo mundo, e todo mundo topou e ele voltou. Então teve isso. Muita gente não lembra que teve essa dinâmica. E essa dinâmica fui eu que falei com o Silvio.

Fui eu que pedi. 'Vamos fazer isso para não ficar uma coisa do nada. Para não ser de graça que ele voltou'. E aí ele topou.

NaTelinha - E será que se um não concordasse ali, realmente o Frota não ia voltar? É a pergunta que eu me faço.

Eu torcia pra todo mundo topar pra não acontecer isso, né? Para o Silvio não falar: 'Mas mesmo assim ele volta'. Mas ficou melhor assim. No final todo mundo topou, porque o Frota tem uma lábia absurda, fez todo mundo topar. A única que ficou meio assim, ficou reticente, ficou: 'Vai, vou, não vou'. Foi a Núbia. Mas no final ela topou.

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