Quem não 'milta', se trumbica!

Milton Neves diz que todos 'miltaram' e adianta: "Logo eu volto pra TV"

Fora da TV há um ano e meio, jornalista lançou podcast e recorda sua carreira: Roleta Russa, Cidade Alerta e até "enterro" do Corinthians


Milton Neves no Super Técnico, no podcast 100 Mi Mi Mi e no Cidade Alerta
Milton Neves lançou podcast, mas não esqueceu a televisão - Foto: Montagem/NaTelinha
Por Thiago Forato

Publicado em 19/06/2025 às 00:20,
atualizado em 19/06/2025 às 11:09

Milton Neves pode voltar à televisão aberta em breve. Recentemente, ele lançou o podcast intitulado Milton Neves 100 Mi Mi Mi e se assustou com a repercussão. "Achava que isso aí não ia dar futuro. É uma loucura", surpreende-se ele, que conta ter recebido alguns convites de emissoras, mas não gostou dos horários propostos.

A revelação foi feita em uma longa entrevista ao NaTelinha publicada no YouTube (vídeo ao fim da matéria) e que também aparece aqui em formato de texto. Milton Neves é o 13º convidado de uma série de 20 entrevistas com personalidades que fizeram ou fazem a história da TV neste mês que marca as duas décadas do site.

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O jornalista dizia que 'quem não milta, se trumbica'. A frase era sobre a realização de publicidade/merchandisings na TV. Ele sempre afirmou que ganhou muito dinheiro com isso e desta vez não foi diferente. "Hoje, gente que eu nunca imaginava que ia fazer propaganda, eles estão fazendo. Todos 'miltaram', entendeu? Todos 'miltaram'. Eles tinham que pagar até uma comissão pra mim", brinca.

Neves recorda as tendências que lançou, como ter uma mulher ao lado do apresentador em programa esportivo. "Eu forçava a barra", diz ele, que também afirma ter sido o precursor de assumir o time de coração na televisão. "Isso aí começou comigo. Depois, copiaram."

Confira:

NaTelinha - Começo te perguntando, Milton, quando é que você volta para a televisão aberta?

Eu estou fazendo um podcast e eu fui convidado por mil pessoas, entre aspas, e aí eu demorei para aceitar, sabe? Perdi tempo, porque o tal podcast é um sucesso, está dando milhões e milhões de visualizações, apesar da presença de Mauro Beting, aquela figura insuportável do meu lado. Aliás, o Mauro Alexandre Zioni Beting é o maior bom caráter que eu conheço nesse país, entendeu? Apesar daquela peruca horrorosa dele. Mas o podcast tá tirando muita audiência, tá na televisão, rapaz. Pegou no breu lá, de um jeito... Eu tô com companhias maravilhosas, além do Mauro Beting, né? Então a gente toca a bola bem lá.

Mas eu tenho convites aí, logo eu volto pra televisão mesmo, pro rádio e tal, etc.

NaTelinha - Logo, logo você volta pra televisão? Então realmente a gente pode cravar que em breve o Milton estará de volta? Já rolou convite? Você chegou a declinar de algum?

Não, alguns horários não gostei, sabe? Mas nós estamos abertos aí. O futuro a Deus pertence, é uma frase nova.

Milton Neves diz que todos

NaTelinha - Na internet, você falou que está com um podcast com Mauro Beting. Isso dá para matar um pouquinho da saudade da televisão, de certa forma? Como é que surgiu a ideia de você fazer um podcast do lado dele?

Eu fui convidado, né? Eu fui convidado e eu fiquei uns seis meses perdendo tempo, porque eu achava que isso aí não ia dar futuro. É uma loucura, cara. É uma loucura. É Milton Neves 100 Mi Mi Mi. A gente leva grandes convidados lá, sabe? E ali eles se soltam, porque são histórias maravilhosas e gente importante.

Eu, Mauro Beting, um convidado, a gente toca a bola duas horas com o mesmo convidado.

NaTelinha - Se adaptou rapidamente ao universo de podcast?

Para mim é igual tomar um copo d'água, entendeu? E temos apoio de umas oito, nove empresas e tal, porque eu sou publicitário também, com muita honra. Parece que é uma conversa no sofá da casa da sogra. Eu estou surpreso, sou um veterano, e estou igual um menininho, aprendendo e aprendendo nada, eu já aprendi tudo, para entrevistar comigo, televisão é televisão, podcast é televisão, é a mesma coisa. Mas está uma delícia.

NaTelinha - Você fica vendo comentário do seu podcast, gente mandando hate, mandando você pra aquele lugar, ou mesmo te elogiando também? Com os números que você tem hoje de visualizações na internet... Você ainda fica lendo comentário ou você não perde a sua energia com isso?

Ah, eu vejo bastante comentário. Não todos, né? Claro, não dá pra ver todos. Chegam ensinamentos, chegam críticas, chegam elogios. O podcast realmente é um negócio maravilhoso. Eu talvez tenha sido o último a aceitar. 'Isso aí ninguém vai ver, não sei o quê'. Olha que ignorante. É um sucesso, cara.

NaTelinha - Não sei se você ainda assiste televisão, porque está fazendo sucesso um programa na Record chamado Acerte ou Caia!, do Tom Cavalcante, que você também já apresentou muito bem, diga-se de passagem, na televisão aberta. Você fez o Roleta Russa. Queria relembrar um pouco dessa história. Como é que foi?

O Tom Cavalcante é um Pelé. Eu tenho profunda admiração por ele. A gente se encontrou várias vezes aí. Ele é muito carinhoso e tal. Agora, o meu Roleta Russa lá foi um sucesso. E na época eu quase fiquei louco, porque eu fazia na Record, imagina... Debate Bola todo dia, Terceiro Tempo, domingo à noite. O Datena foi pra Bandeirantes e eu peguei e passei a apresentar o Cidade Alerta. Fazia o Roleta Russa. E o Bispo Gonçalves ainda pediu pra que eu fizesse e fiz na Rede Mulher um programa de debate que foi um grande sucesso.

Deu para revelar muita gente, como o Denilson, como o Renata Fan. E mais um monte, mais um monte. O Neto... O Neto, gente boa, e o Neto, eu tenho passagens incríveis com o Neto. O Neto falava para mim assim: 'Milton Neves, para de falar mal do Corinthians, porque se não fosse o Corinthians estava passando fome'. Pior que tava mesmo, viu? Porque a coisa era feia no começo.

Milton Neves diz que todos

NaTelinha - O Neto é uma das suas crias, de certa forma? Você tem um pouco de orgulho do sucesso que ele faz na Band todos os dias?

É um fenômeno. Eu tenho orgulho de todo mundo que eu lancei.

NaTelinha - Sobre o Roleta Russa, eu já vi você contando essa história, inclusive aqui no NaTelinha você também já contou que você chegou a ganhar do Silvio Santos. Como foi esse 'gostinho'?

Sem dúvida. E lá em Muzambinho, na minha casa, não tinha televisão, sabe? Então eu assistia na casa do amigo lá, branco e preto, é claro. E eu achava, quando eu era mais moleque, eu achava que o Silvio Santos não existia nada. E aí, teve um dia, o Felipão, badalado, técnico do Palmeiras, da seleção, ele deu a palavra pra ir no meu Terceiro Tempo da Record e também deu pra Rede Globo pra fazer também. Aí, o que aconteceu? Fizemos um link, cara. Eu tenho esse orgulho.

Eu acho que a única vez que o Silvio Santos dividiu a tela com alguém. Eu tenho gravado isso.

NaTelinha - O Silvio tava fazendo a Casa dos Artistas, né? A final da Casa dos Artistas, você em link com o Debate com a Dani Freitas na época.

Sim, sim, sim. Ele foi muito simpático comigo. Então, foi uma honra. Porque eu duvido que ele tenha dividido a tela com outro apresentador. Para mim é o suprassumo da honra. Porque o Silvio Santos é o Pelé da televisão. Pelé para mim, que eu amo o Pelé, entendeu? O Pelé para mim hoje não é Pelé só, futebol. É adjetivo. Qualquer cara. Qualquer mulher, qualquer homem que é um destaque naquela tal atividade, ele é o Pelé daquela atividade. Eu costumo fazer muito isso. Por exemplo, o Mauro Betting, apesar daquela peruca horrorosa dele, o Mauro Betting é o Pelé do bom-caratismo e da informação esportiva.

Agora, ninguém gosta do Pelé mais do que eu. Eu sei que é uma ousadia, um exagero, porque ele tem uma família e tal, mas eu amo o Pelé. Minha vida existe até o Pelé e depois do Pelé. E quando eu vi o Pelé a primeira vez, eu não acreditei. Lá na TV Record, estava na Record na época. Pelé, paixão da minha vida.

NaTelinha - Profissionalmente, talvez tenha sido o momento mais feliz, então, que você teve? Conhecer o Pelé e manter uma boa relação com ele?

O Pelé é muito bom. O Pelé sempre foi muito difícil, até para Globo e tal. Ele não era assim de arroz de festa. Ele ia pouco na televisão, entendeu? Mas às vezes, ou o quê? Umas 12, 13 vezes que a minha produção o chamou e era comigo, ele foi todas as vezes. Eu nunca vou esquecer, porque eu sou um cara grato. A gratidão é a primeira virtude do homem em base de todas as demais.

Milton Neves diz que todos

NaTelinha - Milton, você falou que o Silvio Santos é o Pelé da TV e vice-versa também. Queria que você resgatasse um pouquinho dessa história. Como é que foi o bastidor para você falar com o Silvio Santos ao vivo, juntos na mesma tela, dividindo a tela? Teve negociação, isso chegou no dia para você, você ficou ansioso? 'Vou falar com o Silvio na final da Casa dos Artistas'. Você lembra desse bastidor durante a semana? Como é que isso foi costurado?

Claro que eu não falei com ele, mas a produção falou com a produção dele. E foi a única saída. E ele foi muito correto, porque ele e a produção tinham garantido que iam na Record. E acabou-se aí com um bom senso. Ele falou: 'Vamos fazer nós dois'. Mas ele foi dar uma investigada. Ele não ia fazer programa com um Zé Mané qualquer, um jeito aí de ficha suja. E me tratou de forma maravilhosa. Eu entrevistei ao longo dessa minha longa carreira duas das filhas dele. E elas lembram perfeitamente. E eram meninas. E realmente foi uma coisa... Eu não tenho lembrança. Vocês aí do NaTelinha tem informação melhor, de alguém dividir a tela com o Silvio Santos. Eu acho que eu vou morrer com esse privilégio.

NaTelinha - Com outro canal, eu sinceramente não tenho conhecimento, assim, eu acho que foi um caso inédito mesmo, principalmente no SBT. E ali eram pontos de audiência que a televisão não vê mais. A Casa dos Artistas terminou com 55 de pico, você dava mais de 10 pontos...

Audiência... E tem coleguinha aí que acha que esse negócio de audiência é bobagem. Ô, gente! A audiência é tão importante para o rádio e para a televisão quanto o ar que a gente respira, quanto a água para o peixe. Se não tem audiência, não tem faturamento. Não tem faturamento, o que acontece? Vai todo mundo para a rua. É, exagerando um pouquinho. Mas eu conciliei legal também esse casamento do jornalismo, da apresentação de programas, de tudo quanto é jeito, desde que seja em língua portuguesa, porque eu sou monoglota, com a publicidade.

No Terceiro Tempo da Record, eu bati o recorde, eu chegava a fazer 25, 22 ações de merchandising. E eu falando, vende mesmo.

NaTelinha - Você também apresentou o Cidade Alerta. E o Cidade Alerta está aí no ar até hoje, né, Milton? Não é por acaso. Está o Reinaldo Gottino lá, ele está super bem.

Aliás, está muito bem mesmo. Ele só tem um defeito, ele é palmeirense, entendeu? Um defeito maior é quando o cara é torcedor do Corinthians. Eu sou Santos, meu amor, atééééé... Sei lá o que acontece depois que a gente vai embora, mas o Santos eu não vou esquecer nunca.

NaTelinha - Você liga a televisão para assistir determinada pessoa? Ou você já não quer mais saber?

Não, não. Eu quero saber, sim. Primeiro que eu vivo olhando, né? Eu sou um cara que sou, permita-me, o rei da saudade, do retrospecto. Eu amo muito o passado, sabe? Então eu ligo a televisão e vou dar umas 'corujadas', aqui tá bom, fico. Mas eu não vou especificamente em programa nenhum, não. Mas temos ótimos colegas aí no ar. 

NaTelinha - Mas você não tem nenhum programa, então, que te faz ligar a televisão especificamente para assistir aquele programa na televisão, sobretudo a aberta?

Não, não. Eu vejo, claro, a gente vê a Globo, né? Eu gosto do SBT, a Bandeirantes eu amo, entendeu? Mas na hora lá não tem, assim, uma explicação. Mas o negócio que eu acho que tiver na TV Muzambinho, que não existe, tiver passando futebol, aí eu vou assistir a TV Muzambinho.

NaTelinha - Você repetia bastante aquela frase, inclusive você já falou isso para mim e para várias outras pessoas que 'quem não milta se trumbica'. Hoje está todo mundo miltando, não está?

Estão 'miltando' sim, alguns de forma precária, mas tem alguns que estão na mesma linha. O Neto... O Neto não é nenhum professor de português. Muito pelo contrário. Mas ele é autêntico. E quando ele jogava e era bom demais, se ele tivesse a cabeça um pouquinho mais no lugar, ele teria disputado uma ou duas Copas. Porque metem o pau nele hoje dizendo que ele é o craque Neto, que ele nunca foi craque.

Lógico que foi craque. Ele jogou muita bola. Mas ele tem uma origem humilde e tal, aquele negócio todo. Mas o Neto merece. Ele é um lutador. Tem gente ingrata aí também que eu lancei, sabe? Muita. Uma mulher e um homem. Um moleque, entendeu? Que era moleque na época. E uma apresentadora aí que eu, nossa senhora, o que eu fiz por ela, eu fiz por pouca gente.

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NaTelinha - Você pode falar quem? Ou melhor não falar?

Não, um rapaz que eu gostava muito, depois nunca mais vi, que eu que coloquei lá na Jovem Pan, ele estava com um problema com a filha, o André Kfouri, entendeu? Aí ele foi embora dali uns 'X tempo' e nem despediu, nem obrigado, não falou.

Agora a Renata Fan, meu Deus do céu, se ela mudar o nome para Milton Neves lá, é a mesma coisa, porque ela aprendeu comigo. E ela está fazendo sucesso e parabéns para ela.

NaTelinha - Mas a Renata Fan foi ingrata com você?

Ah, foi sim, mas a história é longa, entendeu? Eu prefiro guardar o tempo bom que a gente fez programa juntos na Record. Foi quando ela aprendeu. Ela não sabia nada. Mas é só que ela torcia para o Internacional e continua torcendo. Desejo tudo de bom para ela, para o menino que eu citei, para todo mundo. Porque o mal reverte.

NaTelinha - Mas da frase 'quem não milta se trumbica', como é que você acha que abriu caminho pra tanta gente começar a fazer propaganda agora? Tem gente que eu nunca imaginava fazendo e hoje está fazendo.

Você foi brilhante agora, viu? Porque era uma patrulha ordinária, entendeu? Porque a inveja, o mau hálito da alma, ela aumenta realmente a realidade. E na época, na Jovem Pan e nos canais de televisão que eu trabalhei, era muita propaganda. Porque eu sou um publicitário. Continuo com muita mídia no ar aí, de rádio e televisão. Mas não tanto quanto quando eu estava na tela. Porque eu sou um bom vendedor, mas com um retorno. Porque o importante da publicidade é você satisfazer o veículo e o anunciante.

Você tem que fazer bem feito. Então você lembrou bem. Hoje, gente que eu nunca imaginava que ia fazer propaganda, eles estão fazendo. Todos 'miltaram', entendeu? Todos 'miltaram'. Eles tinham que pagar até uma comissão para mim, viu? Agora, tem gente invejosa que não faz porque não tem a mínima condição. O pessoal não vai, porque a comunicação é muito ruim. O sujeito que não tem comunicação, normalmente é muito invejoso.

NaTelinha - Mas por que você acha que tanta gente torceu o nariz para jornalista, ou quem praticava jornalismo, torceu o nariz para publicidade?

Não tem jornalista sem publicidade. Se não tem publicidade, não tem jornalista. O rádio não tem dinheiro, a televisão não tem dinheiro, entendeu? Mas aí foi esse tabu, te agradeço por ter lembrado, porque esse tabu aí virou tudo, porque eu vendia demais. Eu ganhei muito, mas muito. Tudo direitinho, na nota fiscal, imposto, esse negócio todo. E aí, rapaz, virou, começou com um patrulheiro sofredor aí, e depois outros seguiram. Mas tudo por inveja. Se estivesse prejudicando a profissão... Pelo contrário. A publicidade que paga o salário de todo mundo. Sem publicidade, não tem rádio, não tem televisão, não tem jornal, não tem nada.

Então, todo mundo começou a fazer, como hoje, na maioria, muita gente, melhor dizendo, está fazendo. E a inveja dividiu. Então, resolveram. Porque o Cristo fui eu. E ganhei muito mesmo.

NaTelinha - E tinha gente que tinha inveja de você, mas depois começou a fazer também, e te procurou falando: 'Milton, você estava certo. Realmente, a gente tem que se render à publicidade. Não tem jeito. Eu estava errado'. Tinha gente que já te procurou assim?

Dos 40 patrulheiros, um ou dois... Vão falar: 'É... realmente você tinha razão e tal'. Mas eu deixo pra lá, fazer o quê? Passou, passou. Tem invejoso aí que não morreu porque é duro de morrer, viu? Porque era uma patrulha desgraçada. Invejoso maldito.

NaTelinha - Mas você ainda tem inimigos ou você já tá numa fase da vida que você ou nem liga pra eles ou nem lembra que eles existem ou já superou qualquer assunto que tenha tido alguma desavença no passado?

Não, não, tem um ou outro aí e tal, tem um aí que é o invejoso maior, deve sofrer pra dormir, entendeu? Mas a verdade é que a inveja, eu repito, né, terceira vez, é o mau hálito da alma. O cara nasce sem talento, é uma desgraça. Em qualquer profissão, não é no jornalismo, não. Em qualquer profissão.

NaTelinha - Milton, dos programas que você fez de todos eles, que não foram poucos, tem algum que você olha para trás e fala: 'Putz, esse aqui é o meu xodó e que orgulho de ter feito esse programa'? Tem algum programa específico assim?

Bom, eu sou filho do rádio. E eu nunca vou esquecer do Terceiro Tempo da Jovem Pan.

Milton Neves diz que todos

NaTelinha - Falamos do Cidade Alerta, eu queria que você relembrasse para a gente como é que você foi parar no Cidade Alerta, um cara que se destacou pelo fazendo jornalismo esportivo? Essa geração de hoje não sabe que você apresentou Cidade Alerta, mas se eu olhar lá, pegar no YouTube, pegar no Google, está lá você apresentando Cidade Alerta e dando bons índices de audiência também. Quem é que acreditou em você que era possível fazer do Milton Neves um bom apresentador de Cidade Alerta?

Fernando Luiz Vieira de Melo. Ele me chamava de 'Curinga da Jovem Pan'. O Datena tinha uma audiência absurda lá na Record e foi para a Band. O Fernando falou: 'O Milton Neves faz qualquer tipo de programa, desde que seja em língua portuguesa'.

NaTelinha - Mas você curtia fazer o Cidade Alerta ou você não via a hora de ir embora reconhecendo que não era sua praia?

Vou ser sincero com você. Tranquilo, acendeu o microfone e é comigo mesmo. 'Vermelhou' a coisa lá, como a gente fala em Muzambinho, 'vermelhou', desde que seja na língua portuguesa... Eu faço qualquer tipo de programa. E muito bem feito, como fiz.

NaTelinha - E você saiu do Cidade Alerta por qual motivo? Muitos acúmulos de programa?

Não, você sabe que isso aí eu não lembro, rapaz. Você sabe que isso eu não sei. Era programa demais. E não lembro nem quem passou a fazer. E eu tinha já um pouco de experiência de polícia. Antes, um pouquinho só. Na Praça dos Andradas, 185, onde eu fui criado, pela minha tia mãe, Antônia Carlos Fernandes, pela minha avó Beatriz Teixeira Fernandes, pela minha mãe, Carmen Fernandes Neves, é claro. E é do lado da delegacia, na Praça dos Andradas, 185, no centro nervoso de Muzambinho, entendeu? E eu tive ali o contato com os guardas, aquele negócio todo, mas era uma coisa pequena. Agora, o tempo passou e eu fui designado pelo Fernando Vieira de Melo a ser repórter de trânsito no Detran. Porque o Detran era o único lugar que você podia tirar carta, era o único lugar que você podia emplacar o carro, era o único lugar que você podia fazer licenciamento do carro, verificar as multas pendentes, pagar a multa, retirar a plaqueta.

NaTelinha - Você citou o Morsa. Quem mais que está fazendo muita falta e que não é possível resgatar? Gente que, obviamente, não está mais entre nós. Quem é que teria espaço cativo hoje em programa de televisão, mas que não está mais aqui? Ou de quem você sente mais falta?

Os primeiros que eu lembro mesmo, Paulo Roberto Morsa, Leôncio Martins e Osmar Pereira Soares de Oliveira, que eles faleceram e tal. Nossa, trabalhei com muita gente boa. A memória, de vez em quando, dá uma falhada. Mas lancei muitas mulheres, entendeu? Umas três, quatro. Uma do Rio de Janeiro e três aqui de São Paulo. E esse negócio de ter uma mulher do lado apresentador também começou lá. E eu forçava a barra. Eu forçava a barra. Eu era o dono de tudo lá. Eu forçava a barra para elas falarem, porque no começo elas estavam com o freio de mão puxado e tal.

NaTelinha - Mas a sacada então foi sua, você que incentivava elas a falarem e a figura da pessoa lendo ali as coisas e interagindo, a ideia foi sua?

É claro, porque no futebol tem muita gente feia. Tem que ter uma mulher lá pra dar um pouco mais de beleza. E algumas entendiam bem de futebol. Principalmente a do Rio de Janeiro. Uma moça do Rio de Janeiro. Eu tenho memória boa, mas deu uma sumida aqui. Foi a primeira com a qual eu trabalhei. Muito correta.

NaTelinha - E para voltar para a televisão, Milton, qual o projeto que você gostaria de emplacar se você pudesse ter a decisão de escolher? Tem alguma coisa que você gostaria de fazer especificamente para poder voltar?

Sabe qual é a minha tática? É só acender a luz. Só isso. Só acender a luz. Aí é comigo mesmo. O doutor Osmar falava muito isso para mim. Porque fizemos programas antológicos. E ele falava, desse jeito aí eu nunca vi. Tanto é que o mercado publicitário, que ele é muito sensível. Eles não botam os grandes empresários, as grandes agências, não botam um centavo onde não tem retorno. E eu e a equipe toda, a gente tinha uma audiência fantástica. E o departamento comercial pulava de alegria. Porque vender publicidade não é fácil.

Você tem que ter um produto muito bom no ar. Como aconteceu com o programa meu. O programa meu nunca deu prejuízo.

NaTelinha - Você entrava mais motivado quando o Corinthians era eliminado? Quando ele sofreu uma derrota mais acachapante, assim? Você mexia com o brio da torcida do Corinthians, que deve te odiar pra caramba, né? Porque, cara, você pisava em cima. Aquele velório de 2007, cara... É uma das cenas mais antológicas da história da televisão brasileira.

Quando eu coloco nas minhas redes sociais hoje, 'enterro do Corinthians', aquela foto, né? Nossa, é um sucesso. Porque queiram ou não, o Corinthians é o maior. Igual o Flamengo é o maior. Não tem jeito. Então, se você não tem o Corinthians, perde a graça. Se você não tem o Flamengo lá no Rio, perde a graça. Agora eu vou provocar. Se não tem Atlético Mineiro lá em Belo Horizonte, o Cruzeiro desaparece.

Milton Neves diz que todos

NaTelinha - De quem foi a ideia de fazer aquele velório do Corinthians ao vivo? Quem é que foi o causador da discórdia?

Seria fácil falar 'eu que bolei isso'. Mas seria mentira. Foram Mário Quaranta, maravilhoso que tá aí, eu acho que ele tá no SBT... Mário Quaranta e Edu Zebini. Quero mandar um abraço pra ele, pra família dele, que eu soube que ele teve uns problemas de doença.

O Edu Zebini é um cara que me ensinou muito, eu devo muito a ele. Mas realmente o caixão... E a turma pressionava, viu? Não era só na quinta, depois do jogo do Corinthians, nem na segunda, depois do jogo do Corinthians no domingo. Eles queriam o caixão todo dia.

NaTelinha - Todo dia? Seria maravilhoso, tinha que ter todo dia.

Mas aí ficava muito provocativo, acho que um bispo, gente boa lá, esqueci o nome dele, 'aí é provocativo, não. Aí vai perder a graça'.

NaTelinha - Nunca perde a graça, Milton.

Você lembra? Tinha os carregadores do caixão... Queira ou não, o Corinthians é o maior. Como diz o Neto, se não fosse o Corinthians, perde a graça.

NaTelinha - Além do tabu do 'quem não milta se trumbica', também não podia revelar o time...

Até a minha cueca é marca Santos Futebol Clube.

NaTelinha - Por que você acha que isso mudou, Milton? Porque hoje todo mundo revela o próprio time e antes tinha muito tabu?

Que os milhões de telespectadores seus não se ofendam. 'Milton Neves é arrogante e tal'. Isso aí começou comigo, cara. Começou comigo, depois copiaram. Eu lembro das mesas redondas que eu assistia lá em Muzambinho em branco e preto, na casa de amigos, do Ivonaldo Vieira, do Ivan Surdão, o irmão dele, eu ia nas casas que tinha, a televisão era, como é que chamava? Colorado RQ. Eu lembro disso. E era uma coisa assim, tinha quebra pau... Os grandes paus da televisão, na mesa redonda era na Gazeta. Ali o pau quebrava, mas quebrava o Castro, o Milton Peruzzi. Mas eu entrei nessa aí. Se você ficar querendo, igual um programa que você coloca três grandes médicos, figura mais importante da sociedade lá, falando de doença, é uma coisa enfadonha. Mas milhões de vezes mais importante que o futebol.

Porque o futebol é a coisa mais importante dentre as menos importantes. Então eu botei um molho. Um pouquinho de maldade, igual o caixão. Ah, mas eu falei que foi o Mário Quaranta. Sim, o Mário Quaranta é o dono do caixão. Mas tinha um outro colega que também deu essa ideia.

NaTelinha - Ah, é? Uma ideia coletiva?

E uma vez que a gente tentou, o Santos foi eliminado. Nós tentamos colocar o Paulo Morsa no caixão. Rapaz... Ele ficou pê da vida! Mas tentamos.

NaTelinha - Mas por que não conseguiu?

Porque ele não aceitou de jeito nenhum. Doutor Osmar também: 'Não deito aí. Só no dia que chegar a minha vez'.

NaTelinha - E você, participaria? Você entraria no caixão?

Ah, eu não também. É a última residência do ser humano.  Coisa tétrica.

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