Compulsão pela notícia

Cabrini detalha estratégias no Domingo Espetacular e revela o que falou para fugir de fuzilamento

Jornalista recorda reportagens marcantes, o fato de ter sido o primeiro apresentador do Brasil Urgente, feito no Jornal da Band e atual sucesso no Domingo Espetacular


Roberto Cabrini em guerra, no Domingo Espetacular e na Band
Roberto Cabrini segue no ofício de repórter e trata o jornalismo como o ar que respira - Foto: Montagem/NaTelinha/Antonio Chahestian
Por Thiago Forato

Publicado em 25/06/2025 às 00:20,
atualizado em 25/06/2025 às 10:38

Roberto Cabrini respira jornalismo. O ofício lhe dá boa saúde e o inspira a estar sempre em forma. No comando do Domingo Espetacular ao lado de Carolina Ferraz desde janeiro, o jornalista falou das estratégias da revista eletrônica na guerra pela audiência. "Se a gente pega do Tom Cavalcante, é uma leitura. Se a gente pega no futebol, é outra leitura. E a gente está sempre procurando elaborar o roteiro mais adequado para não ter uma quebra de público", diz.

Essa e outras declarações foram feitas em uma longa entrevista ao NaTelinha publicada no YouTube (vídeo ao fim da matéria) e que também aparece aqui em formato de texto. Roberto Cabrini é o 17º convidado de uma série de 20 entrevistas com personalidades que fizeram ou fazem a história da TV neste mês que marca as duas décadas do site.

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O jornalista acumula décadas de carreira, célebres entrevistas e coberturas de guerra, inclusive em cenários apocalípticos. Em uma delas, quase foi fuzilado. Ele reproduziu a frase em árabe que salvou sua vida. E também matou sua fome com pão e tomate. "Foi o melhor banquete que eu pude fazer em toda minha vida", relembra.

Cabrini também revisita suas passagens por outras emissoras e das vezes que esteve com Silvio Santos (1930-2024). Foi no SBT, por exemplo, que levou ao ar uma das suas entrevistas mais conhecidas: com Fernando Collor de Mello. "Não foi fácil. Foi muito difícil. O primeiro passo foi que ele aceitasse me receber."

Editor-chefe de A Grande Reportagem, ponto do alto do Domingo Espetacular, o âncora do jornalístico acumula conquistas recentes importantes, como a entrevista de Vinicius Gritzback, que ganhou o prêmio Domingos Fraga de jornalismo. O material resultou no indiciamento e prisão de duas dezenas de policiais civis e militares provocando relações criminosas entre setores policiais e o crime organizado.

Outra premiação relevante foi o prêmio internacional Venice TV Award pelo documentário dos 30 anos da morte de Ayrton Senna, além do prêmio Direitos da OAB pelo documentário O Coiote - sobre imigração ilegal nos Estados Unidos -, e o prêmio da APCA pelo documentário Missão Cabul que tratava da volta do Talibã ao poder em 2021.

Falando em Talibã, aliás, Cabrini já havia recebido outro reconhecimento por uma reportagem produzida no Afeganistão. Em 1996, recebeu o Prêmio Vladimir Herzog pelo documentário que revelou a ascensão do movimento ao poder no país. À época, foi o único jornalista da América Latina a cobrir.

Confira:

NaTelinha - Você é apresentador, mas é essencialmente repórter. Por que você não deixou a função? Você continua fazendo reportagem, mas exercendo a função de repórter.

A essência, a base do jornalismo é a reportagem. O meu DNA é a reportagem. Eu não consigo conceber jornalismo sem reportagem. E eu creio que é fundamental que eu continue fazendo as reportagens. É para imprimir uma personalidade, para tornar o Domingo Espetacular ainda mais competitivo. E a minha presença como apresentador é um reconhecimento de toda uma trajetória e a necessidade de ter um DNA de um jornalista que tem uma biografia importante. Então, tudo está ficando nesse momento atual, onde eu ancoro um jornal junto com a Carolina Ferraz, que é uma colega muito querida, mas não deixo de fazer as grandes reportagens. Na minha opinião, a reportagem é o oxigênio dos jornalistas.

NaTelinha - Você ainda corre atrás dos seus entrevistados? Você tem feito algumas boas entrevistas, mas como é que acontece esses bastidores exatamente? Muitos chegam a se oferecer para você, você às vezes tem que insistir demais, você que tem que correr atrás, obviamente tem toda uma equipe por trás, mas na sua figura, o quão importante você é na hora de fechar cada entrevistado bombástico, se é que a gente pode dizer assim?

Eu continuo fazendo o que eu sempre fiz. Claro que eu tenho uma equipe, uma equipe muito competitiva, uma equipe que se inspira na minha trajetória, uma equipe muito dedicada também. Mas eu vivo no telefone, vivo pesquisando, vivo indo atrás, nada mudou no meu trabalho de reportagem. Eu acho que o dia que eu parar de fazer isso, eu não vou me tornar tão competitivo como eu tenho sido, não vou conseguir, com grandes cursos, não vou conseguir dar cabo às grandes investigações.

Mas televisão é um trabalho em equipe e é fundamental ter uma equipe realmente aguerrida. E essa equipe que saiu, uma equipe que grande parte dela foi escolhida por mim, uma equipe que já trabalha comigo há algum tempo, o entrosamento é muito grande, uma equipe que se espelha muito em tudo que eu tenho feito, tudo que eu fiz ao longo da minha carreira para dar prosseguimento. A gente vive momentos de grande adrenalina, de grande dedicação, onde muitas vezes você tem que alterar o roteiro, o perfil do que vai ser o Domingo Espetacular, numa questão de segundos, está tudo pronto e você tem que mudar, porque você tem que reagir rapidamente para não se distanciar daquilo que é notícia.

E fazer as grandes reportagens, fazer de maneira muito bem feita, o hard news, é uma das características principais da nossa equipe e é o que tem dado muito certo para a gente.

NaTelinha - É, a gente vê nos números de audiência. E você é um cara ligado nessa questão de número de audiência, Cabrini? Esse ano o Domingo Espetacular está indo ao ar depois do futebol, o que possibilitou até algumas quebras de recorde de audiência. Até que ponto isso te anima ou te preocupa? Você é um cara ligado nisso ou não?

Claro, com certeza. Não há circo sem bilheteria, a gente precisa acompanhar a audiência. Eu fico muito feliz sabendo que a gente já ficou em segundo lugar sem precisar de um futebol. O futebol torna a grade, a Record, ainda mais competitiva. Mas a gente procura pensar no que vai ser no termo jornal mediante o programa que veio antes também. Para que não haja uma dissociação do público que estava assistindo a programação que veio antes. Se a gente pega do Tom Cavalcante, é uma leitura. Se a gente pega no futebol, é outra leitura. E a gente está sempre procurando elaborar o roteiro mais adequado para não ter uma quebra de público importante para a gente formar realmente uma grade homogênea e competitiva, mas sempre também primando pela qualidade. O jornalismo precisa ter qualidade. Mais importante do que a audiência é a qualidade. A audiência tem que ser consequência da qualidade.

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NaTelinha - Mas se vocês pegam do futebol ou do Tom Cavalcante, como que é feita a leitura de com qual reportagem a gente vai começar aqui? 'Se a gente vai pegar em alto do futebol, vamos começar com isso'. 'Se a gente pega do Tom Cavalcante, vamos começar com isso'. O que é cada estilo de programa e o que vocês planejam para cada linha exatamente, Cabrini?

O público do Tom tem uma participação mais predominante do que o público do futebol. Então, o público do futebol, ele tende a responder melhor a grandes matérias investigativas. Essa não é só uma decisão minha, nós temos o diretor do programa, ele é o diretor-chefe da grande reportagem. Nós temos o diretor do programa, que é o Celso Teixeira, nós temos o Antonio Guerreiro, que é o nosso vice-presidente de jornalismo, o Flávio Sabelo, que é um dos nossos principais diretores também.

A gente procura observar é que se você pega no futebol, tende a ter um público mais masculino, que vai responder muito bem as grandes matérias investigativas. Já se você pega, por exemplo, do Tom Cavalcante, você privilegia as matérias um pouco mais leves, que possam se conectar melhor com o público feminino.

NaTelinha - Voltando um pouco na sua carreira, você foi o primeiro apresentador do Brasil Urgente que está no ar aí até hoje, foi a primeira vez que você ancorou um noticiário. Como é que foi capitanear esse projeto e vê-lo até os dias de hoje, ou seja, deu tão certo que passaram vários apresentadores, o mais longevo deles inclusive foi o Datena, mas o programa está aí na grade da Band até hoje sendo muito competitivo, claro que um pouquinho diferente daquilo que você fazia, mas o Brasil Urgente começou com você.

Eu tenho muito orgulho disso, foi um marco na minha carreira, foi a primeira vez que eu tive a oportunidade de fazer em grande escala a ancoragem de um telejornal. E o Brasil Urgente, sob a minha apresentação, era um jornalístico onde se predominava as matérias investigativas. A gente privilegiava as matérias investigativas, é um pouco diferente do que o Brasil Urgente é hoje. Digamos que o Brasil Urgente, na época em que eu o comandei, é bem semelhante ao que gente faz no Domingo Espetacular, com grandes matérias investigativas.

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NaTelinha - Depois, ainda na Band, você também ancorou outro telejornal, que foi o Jornal da Noite. Ou seja, você ficou numa pegada diária durante algum tempo. E, nesse caso, na madrugada, como era a sua rotina para fazer um telejornal diário e num horário, se é que a gente pode dizer, alternativo?

Foi aí que nasceu slogan 'um jeito diferente de fazer telejornal'. A gente conseguiu o maior índice de toda a história no Jornal da Noite. A gente chegou a dar 5 pontos de média, algo que jamais voltou a se repetir, usando uma fórmula bastante ousada. A gente eleva o principal assunto que poderia ser o acontecimento no dia ou uma grande matéria investigativa que a gente destrinchava em vários ângulos. Então a gente fazia praticamente metade do telejornal com um assunto e a outra metade noticiário do dia, onde entrava noticiário econômico, noticiário político e tudo mais. Essa fórmula se revelou consagradora, porque os índices eram absolutamente pioneiros e quebraram várias barreiras. Não se achava que um jornal que entrava tarde e à noite poderia ser tão competitivo.

E foram os três anos ancorando o Jornal da Noite, e era um jornal que me deu enorme agilidade, porque muitas vezes a gente editava o jornal ao vivo com os acontecimentos. Eu me lembro, por exemplo, na época do julgamento no Saddam Hussein, a gente praticamente editou o jornal ao vivo, como também editamos ao vivo na morte do jogador Serginho, o jogador do São Paulo que morreu por um ataque no coração. E a gente conseguia reagir com grande rapidez e mudar o foco no jornal, escolhendo prioritariamente um assunto e depois dividindo o restante do telejornal com os outros assuntos. Ele tinha o aspecto de revista e também de um telejornal diário, era um mix, era uma combinação entre um telejornal diário e um telejornal de forma de revista.

Uma forma que se revelou extremamente inovadora e pioneira em termos de conquista de audiência.

NaTelinha - E até que ponto era estafante essa rotina de fazer um telejornal diário e de madrugada? Até que ponto isso mexeu com você? E assim, vou até um pouco mais além, se isso mexeu com a sua saúde de alguma forma?

Olha, o que eu posso te dizer é o seguinte, eu não gosto de fazer mais do mesmo. Quando eu me empenho em um projeto, eu não quero que esse projeto seja apenas mais um exemplo de tudo aquilo que se faz. É uma marca na minha carreira, sempre procurar inovar, sempre procurar usar criatividade e procurar inspirar toda a equipe nessa direção. Hoje nós temos aqui na Record, grandes profissionais que começaram nessa época no Brasil Urgente reagindo rapidamente, mas ao mesmo tempo produzindo matérias com grandes textos, com uma abordagem diferenciada, com uma abordagem sofisticada, inclusive. E o desafio era conseguir fazer isso tendo pouco tempo para que isso pudesse ser feito.

Eu me lembro, por exemplo, que eu ia gravar o off na ilha de edição e não tinha nada escrito. Eu ia fazendo da minha cabeça, ia falando, porque não tinha tempo. Se eu parasse para escrever, não dava tempo da matéria entrar no ar. E grandes profissionais começaram comigo, tem aproximadamente uns sete ou oito profissionais dessa época que começaram no Jornal da Noite, que estão hoje na Record, ocupando os carros mais importantes, porque nunca deixaram de se beneficiar dessa semente de ousadia, de iniciativa. O jornalismo precisa sempre inovar.

A gente precisa sempre estar em sintonia com as mudanças da sociedade e é esse tipo de ênfase que eu procuro dar para todo mundo que trabalha comigo.

Sobre saúde, eu vou muito bem, obrigado ao jornalismo. O jornalismo só me dá boa saúde, porque o jornalismo me inspira a estar sempre em forma,, e eu diria que o jornalismo é meu oxigênio, longe de ser um problema de saúde, ele me dá saúde.

NaTelinha - Uma das suas célebres entrevistas, Cabrini, tem várias, mas eu estava revendo algumas delas nos últimos dias, e eu assisti novamente a do Fernando Collor de Mello, que você, inclusive, depois fez um documentário em cima disso, no Conexão Repórter. Ela repercute até hoje, muita gente recorre a ela quando quer ver alguma coisa do Collor. Mas, assim, como é que foi o bastidor daquela entrevista? Como é que você convenceu o Collor a te dar aquela entrevista e te dar uma liberdade de você perguntar tudo aquilo que você queria?

Bom, primeiro essa entrevista é um marco na minha carreira, a gente ganhou o prêmio da APCA, e o prêmio da APCA foi o reconhecimento dessa matéria, de uma matéria também muito ousada, que a gente fez no Iraque. Mas essa matéria foi muito importante, porque ela ganhou, inclusive, de audiência da Globo. Era um momento significativo na minha carreira, porque eu estava deixando a Globo, quando o Ayrton Senna morreu, eu permaneci mais um ano cobrindo Fórmula 1, mas eu achei que não valia mais a pena, eu queria me dedicar ao jornalismo investigativo, coisa que eu já fazia no escritório da Globo em Londres.

Um ano antes da morte do Senna, eu tinha localizado o Paulo César Farias, que é o maior audiência da história do Jornal Nacional. Então esse momento era um momento muito significativo, porque era um momento que eu deixava o porto seguro da Rede Globo para assumir o escritório do SBT em Nova Iorque e ajudar a inaugurar o SBT Repórter. Era uma emissora que não tinha tradição em fazer programas e reportagens. Então, eu me lembro muito bem que a Mônica Teixeira, ela é a editora-chefe desse programa, e ela queria até que eu fizesse O.J Simpson na estreia. Eu falei: 'É uma boa pauta, mas eu prefiro eu mesmo escolher o tema porque eu acho que precisa ser um tema que represente a minha cara, daquilo que eu penso do jornalismo atual'.

E foi daí que eu tive a ideia de fazer a primeira grande entrevista com o Fernando Collor de Mello. O primeiro desafio foi convencê-lo a falar. Ele precisava de fato de dar as explicações, à mesma medida em que eu precisava fazer as perguntas mais contundentes. Não podia ser um programa chapa branca. Tinha que ser um programa ousado nas perguntas, mas que ao mesmo tempo respeitasse o direito que ele tem de dar as suas explicações. E a revista Veja elegeu como a melhor matéria do ano, ganhamos o prêmio da APCA, ganhamos de audiência na Globo, e é uma matéria historicamente muito significativa, porque ela representou um sucesso muito grande para o SBT Repórter, depois a gente continuou, logo em seguida eu fiz a matéria do Iraque, depois eu fiz a matéria do Afeganistão, que ganhou o prêmio Vladimir Herzog, nesse mesmo SBT Repórter, onde a gente cobriu a ascensão do Talibã em 1995.

Mas essa matéria do Collor era decisiva, porque eu deixava o porto seguro da Globo, onde eu cobria a Fórmula 1, e a Globo tinha feito uma proposta incrivelmente atraente para que eu permanecesse na Globo, que a Globo entendia que a equipe que cobria a Fórmula 1 estava a ser mantida a todo custo, ainda mais num momento em que não havia mais Ayrton Senna. E o Alberico Souza Cruz, que era o diretor de jornalismo, ele fez uma proposta fantástica para que eu permanecesse, mas eu decidi ousar, porque eu queria me dedicar exclusivamente ao jornalismo internacional e ao jornalismo investigativo. Eu achava que já tinha cumprido uma etapa, um ciclo da minha carreira fazendo a Fórmula 1.

Adorei fazer a Fórmula 1, me abriu muitas portas, a Ayrton Senna me abriu muitas portas, tenho muito carinho por esse período, mas eu achava que eu precisava dar o passo adiante. Mas achar que dar o passo adiante, quando isso envolve sair da Rede Globo de Televisão, como o maior veículo de comunicação do país, não é uma questão fácil. Ela envolve coragem.

No final do ano, todos os veículos elegeram os melhores do ano, e a gente estava lá, representando o SBT, que não tinha tanta tradição nos jornais, embora já estivesse com o Boris Casoy, que estava também, à sua maneira mesmo, quebrando barreiras, etc. Então, essa entrevista do Collor, você lembrou que no Conexão Repórter, um programa que eu fiz em outro momento pelo SBT, a gente fez a história de uma entrevista, porque é uma entrevista muito importante, que foi a primeira entrevista do Fernando Collor de Mello depois do impeachment, onde respondeu o que jamais tinha respondido.

Da mesma forma que eu um orgulho também de anos depois ter feito a última entrevista de Dilma Rousseff antes do impeachment. Então, são marcos importantes na minha carreira.

NaTelinha - E como é que você conseguiu convencer o Collor a falar com você sem restrições?

Não foi fácil. Foi muito difícil. O primeiro passo foi que ele aceitasse me receber. Ele apresentou uma série de explicações sobre as decisões que ele tomou. E eu falei: 'Presidente, as suas decisões precisam chegar às pessoas que sempre o apoiaram'. Ele parou para pensar e falou: 'Eu acho que você tem razão'. Mas eu avisei: 'É fundamental que a gente faça todo tipo de pergunta'. Eu lembro que a primeira etapa do programa foi na Casa da Dinda, onde a gente fez algumas perguntas um pouco mais desafiadoras. Ele teve até vontade de desistir dessa matéria. Eu não quero que a gente fique apenas com a parte do senhor falando sobre a Casa da Dinda, sobre aquela espécie, entre aspas, de cachoeira, com tubulação de plástico que ele fez ali, e sobre o paisagista que ele contratou de uma maneira questionável por toda a imprensa e pelas investigações. Aí ele decidiu continuar. E a etapa decisiva desse documentário foi feita em Miami, onde ele respondeu a todas as perguntas, mas com um clima de muita tensão. Muita tensão mesmo. Ali era um outro homem, da mesma forma que eu era um outro repórter. Todos os laços de cortesia tiveram que ser despidos, porque ele respondeu da maneira que ele achava que tinha que responder. Eu perguntei da forma que eu achava que o público brasileiro tinha direito de indagar ao presidente que tinha sido destituído do poder por denúncia de corrupção.

Foi um marco na minha carreira e o senhor Fernando Collor também, sob a perspectiva dele, também deu respostas importantes, respostas que fazem muito pensar.

NaTelinha - E por que você acha que ele, analisando pelo lado dele, por que é que ele, no íntimo dele, o que ele viu em você que ele aceitou dar essa entrevista? O que ele tinha a ganhar com isso?

Olha, eu já era um jornalista com uma biografia muito importante, tinha localizado o PC Farias, tinha participado da cobertura da morte do Ayrton Senna, inclusive anunciando em rede nacional a morte dele, foi o momento mais difícil da minha carreira. Eu vivi um grande momento da minha carreira, minha ida pro SBT provocou enorme repercussão, e ele sabia de tudo isso, e ele julgou naquele momento que eu era um jornalista ideal, pelo prestígio que eu acumulava, naquele instante, para fazer a entrevista. Mas foi uma decisão dele, entendeu?

NaTelinha - E como é que você convence, Cabrini, personagens que às vezes estão no olho do furacão a te dar uma entrevista, a quebrarem o silêncio? Isso já aconteceu algumas vezes. Mas se é que você pode revelar, claro, que técnica, que poder de persuasão, de convencimento você usa para que eles digam sim e falem com você?

Muito simples. Primeiro, a credibilidade que se conquista ao longo de uma carreira. Em segundo lugar, eu tenho perfeita noção de que jornalista não é promotor, jornalista não é delegado, jornalista não é juiz. Jornalista, ele faz perguntas, mas ele jamais pode julgar. E eu sempre respeito o direito que cada entrevistado tem de apresentar o seu lado da história. Por isso que tantos me escolhem.

Eles sabem que eu vou fazer perguntas de forma, muitas vezes, contundente. mas jamais irei julgá-los. Eu, antes de fazer uma entrevista, não julgo o entrevistado, durante não julgo, e depois também não julgo. Eu, quando as pessoas me perguntam sobre vários entrevistados que eu fiz, Eduardo Cunha, Fernando Collor de Mello, PC Farias, fazia entrevista exclusiva, que tornou algo muito comum na minha trajetória. Eu jamais julgo essas pessoas depois. Se você me perguntar opiniões sobre pessoas que eu entrevistei, eu jamais irei emitir a minha opinião, porque eu acho que seria uma perda da confiança entre entrevistador e entrevistado. É uma ética que eu desenvolvi, e os entrevistados sabem que eu farei perguntas desafiadoras, mas eu não irei julgá-los.

E essa é a premissa básica: não julgar. E as pessoas apreciam dar entrevista para mim, por uma credibilidade, por sentir que elas podem dizer: 'Olha, se eu respondi as perguntas do Roberto Cabrini, é porque eu não temo nada'. Muitos já me falaram isso. É uma demonstração que eles podem dar à sociedade de que eles são transparentes. Mas, dito isto, eu sempre faço as perguntas do meu ponto de vista da sociedade. O que a sociedade precisa saber de um determinado entrevistado é o que eu faço. E sempre faço as perguntas de forma objetiva. Eu não acredito em repórter que fala mais do que o entrevistado. E eu nunca levo um roteiro que não possa ser mudado. Eu presto atenção nas respostas e, mediante as respostas que estão apresentadas, eu irei formular novas perguntas, novas indagações.

Então, as entrevistas comigo são muito dinâmicas, porque a gente sabe de onde elas partem, mas é totalmente impossível se prever onde elas chegarão, porque as melhores perguntas, que eu acredito firmemente nisso, são formuladas durante uma entrevista. Os entrevistados vão dando sinais daquilo que você deve perguntar. E a maneira de entrevistar A não é a maneira de entrevistar B, que não é a maneira de entrevistar C. É preciso de psicologia. Muitas vezes você precisa ser mais suave, outras vezes você precisa ter mais objetivo, mas sempre respeitando o direito que o entrevistado tem de apresentar o seu lado da história.

Eu me lembro perfeitamente de um secretário de segurança de São Paulo, não está mais na vida política, não, mas não revelarei por uma questão ética o nome dele, que dizia que era profundamente errado o repórter entrevistar membros do PCC, porque seria uma forma de se vangloriar, de se dar um destaque excessivo ao crime organizado. Até se descobrir que esse mesmo secretário de segurança tinha ligações com o PCC. Então, por isso que ele não gostaria que se falasse sobre o PCC. E ele usava essa argumentação de que seria antiético se entrevistar. Eu acho que muitos dizem: 'Ah, mas você entrevistar uma pessoa que produziu danos à sociedade é ruim, porque você vai glamourizar essa figura'. Eu acho que todos, sem exceção, sem exceção mesmo, têm o direito de apresentar o seu lado na história. Certa pessoa produziu danos, você precisa fazer entrevista, sob o ponto de vista da sociedade, e você fazendo a entrevista dessa forma, você vai inclusive fornecer as melhores pistas, as melhores indicações de como a sociedade pode se proteger dessa pessoa. Entrevistar não significa apoiar os atos de um determinado entrevistado, significa apenas fazer indagações sob o ponto de vista da sociedade.

NaTelinha - Você se recorda de chegar preparado para uma conversa, mas conforme o papo foi acontecendo, você mudou o roteiro de uma maneira drástica e foi por um outro caminho?

Muitas vezes isso aconteceu. Eu sempre digo isso aos jovens jornalistas, porque eles partem ali com um questionário, né? 10 perguntas, aí o entrevistado responde a primeira, ele dá, assim, pistas incríveis para uma outra indagação, ao invés de prosseguir naquele tema, naquela abertura de porta que passou a existir, o repórter, ele parte para a pergunta dois e pede grandes oportunidades, né? Eu, claro, eu procuro me preparar, qualquer jornalista precisa se preparar antes de fazer uma entrevista. Mas eu jamais permito que esse questionário seja fixo.

Muitas vezes, eu sequer tenho anotações nas minhas mãos. Eu só tenho anotações que são textos fundamentais para se indagar o entrevistado. Claro, você sempre procura se preparar, procura não esquecer de determinadas questões que tenham que ser feitas, mas essa de mudar totalmente, muitas vezes. Da mesma forma que quando eu saio às ruas, eu saio com uma impressão e você, nas ruas, encontra algo totalmente diferente. Se existe algo que eu critico no jornalismo atual é a ditadura das redações. É aquela reportagem que é concebida dentro de uma redação e o repórter sai às ruas não para descrever o que ele encontra, mas apenas para confirmar uma tese previamente estabelecida. Se o entrevistado número um não confirmar aquela tese, ele será sumariamente retirado da reportagem.

Se o entrevistado número dois confirmar, então ele terá um local de destaque nessa mesma reportagem. Isso não é jornalismo. Isso é confirmação de tese. Eu não acho que seja papel do jornalista confirmar teses. Ele pode sair com uma determinada ideia pré-estabelecida, o que é normal. Muitas vezes, uma ideia pré-estabelecida dentro da redação, mas é preciso que o jornalista seja pronto para mudar totalmente a pauta numa entrevista que você tentava agora há pouco ou numa reportagem de uma guerra, numa reportagem de uma manifestação, numa reportagem de qualquer tipo de acontecimento que mereça uma cobertura jornalística. Se permitir mudar significa fazer o jornalismo pulsar. Qualquer coisa que não seja isso é jornalismo. Eu não acredito em jornalismo ideologizado. Quando entrevisto pessoas da esquerda, pensam que sou da direita. Quando entrevisto gente da direita, pensam que sou da esquerda. Por quê? Porque eu procuro fazer questões sobre o ponto de vista da sociedade. Só isso. Sem ideologizações.

NaTelinha - Teve algum nome que você quis muito entrevistar, mas por alguma razão a pessoa acabou recuando? Ou seja, você teve todo o poder de convencimento para fazer a pessoa falar. Ela aceitou, mas depois ou mudou de ideia, ou depois ficou te enrolando. Acredito que deva ter algum caso, não sei se você pode abrir, claro, também tem isso.

Tem dois casos bem emblemáticos nesse sentido. Caso número um, eu fui para a Colômbia, para cobrir a presença de brasileiros na FARC. Tinha indicações, inclusive localizações geográficas dessas pessoas. Durante o trajeto, porque estava em San Vicente de Caguán, ali na Colômbia, e nós fomos surpreendidos por homens das FARC que nos sequestraram. Nós fomos desarmados, eles tiraram todos os nossos desarmados, porque eu considero a minha grande arma uma câmera, né?

Então eles tiraram todos os nossos equipamentos, sorte que a gente conseguiu filmá-los quando eles se aproximavam, e fomos colocados num caminhão que transportava porcos, porque eles recebiam ajuda de patenteiros, e fomos levados para um lugar inteiro, uma fazenda. Então, a matéria que deveria ser de brasileiros que estavam servindo as FARC acabou sendo de guerrilheiros das FARC, homens, mulheres, que sofreram grande lavagem cerebral e que acreditavam piamente num tipo de visão da humanidade, num tipo de visão das relações humanas. Aquilo que deveria ser uma reportagem brasileira de integrantes das FARC acabou se transformando uma visão única, uma oportunidade totalmente privilegiada de observar com cerca de 20 homens e mulheres, muito jovens, todos eles muito jovens, agiam, se comportavam e pensavam.

Pena que eu não pude filmar, mas a reportagem acabou sendo uma descrição de tudo que eu vi e ouvi naqueles três dias que a gente permaneceu sequestrado. Eles achavam que nós éramos agentes da CIA. Fizeram todas as notificações, constataram que não éramos agentes da CIA, que éramos, de fato, jornalistas brasileiros. E acabaram nos tratando muito bem. E eu acabei fazendo uma reportagem baseando-me nos relatos, e foi uma reportagem interessante, está incluído no meu livro, está inclusive no YouTube, pode se encontrar. Chama-se Relatos de um Sequestro. Outra reportagem foi quando eu fui para o Presídio de Segurança Máxima de Porto Velho para entrevistar o Nem da Rocinha

Tudo certo, ele tinha concordado, ele ia dar uma primeira entrevista dele com o jornalista brasileiro. Chegando lá, Eu encontro com ele e ele diz: 'Olha, eu aceitei te receber, mas para te comunicar que eu desisti da entrevista. Não tem jeito, agora não dá, talvez no futuro'. Só que quando eu acabei de conversar com o Nem da Rocinha, o rival dele, que estava ali no mesmo presídio, Fernandinho Beira-Mar, um homem até mais emblemático que o próprio Nem, podemos dizer dessa forma, ficou sabendo que o rival dele queria me dar uma entrevista. Ele falou: 'Eu quero falar'. Então eu falei com ele, ele ficou de dar uma entrevista. Ele falou: 'Tá bom, então eu vou me preparar para fazer entrevista contigo'.

No dia seguinte eu cheguei lá para entrevistá-lo e ele me disse: 'Não, eu pensei bem também, não vou dar entrevista'. Eu disse: 'Que decepção. Eu pensei que uma noção que eu sempre via a seu respeito era verdadeira'. Ele me perguntou: 'Qual noção é essa?'. Eu falei: 'Que a tua palavra não tem curva'. 'Como assim? Minha palavra não tem curva mesmo'. 'Você falou que você ia falar, mas você não quer falar'. 'Tá bom, eu vou falar, mas tem que ser o seguinte, cada pergunta que eu responder eu tenho que ouvir para saber se eu gostei e eu aprovar'. 'Tá bom, vamos fazer dessa forma'.

Eu fiz um sinal com o meu cinegrafista e eu percebi que o Fernandinho Beira-Mar, que é um cara muito inteligente, preparado, tinha uma fragilidade. Qual era?

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NaTelinha - A vaidade.

A vaidade. Com toda a resposta que ele me dava, claro, comecei lento. Comecei permitindo, soltando a bola pra ele quicar. E aí o cinegrafista fazia uma uma expressão de 'ok', 'que incrível o que você está falando'.

Resultado: foram duas horas de entrevista, onde eu não precisei voltar nenhuma pergunta e consegui fazer as perguntas mais desafiadoras. Mas precisei ali, mudar tudo. Eu não fui para aquele presídio para entrevistar o Fernandinho Beira-Mar. Fui lá para entrevistar o Nem da Rocinha. O Fernandinho ia desistir. Precisei ter uma presença de espírito na hora. Isso acontece muitas vezes. De você sair para fazer uma cobertura e voltar com outra. E você precisa estar pronto para isso. Essa entrevista do Fernandinho, ela é até recordista em visualizações, juntando os três, quatro perfis, quando ela está distribuída no YouTube, são mais de 30 milhões de visualizações. Um verdadeiro fenômeno.

NaTelinha - E o que você acha que fez o Fernandinho Beira-Mar, num primeiro momento, recuar até você usar o que ele disse contra ele mesmo? Por que você acha que, no caso dele, ele também tinha desistido de falar com você?

Sempre a repercussão, orientação de advogados. Eu já tinha, antes de estar naquele presídio, tentado falar com o Fernandinho inúmeras vezes. Sempre usando como contato advogados. Nunca andou. Mas esses personagens recebem daqueles que os auxiliam juridicamente, muitas vezes, aconselhamentos que não se manifestem. Muitas vezes eles querem falar, mas a Justiça não deixa. Eu acredito que todos têm que ter o direito de se manifestar. E quando a Justiça não permite que um determinado personagem, uma determinada personalidade se manifeste, eu acho que isso é algo que depõe contra a democracia.

Democracia tem o seu lado na história. Para, inclusive, que a sociedade possa ter uma visão mais crítica e mais justa dos pensamentos, até para discordar, até para questionar. Mas todos têm o direito de se manifestar.

NaTelinha - A guerra da Ucrânia já dura três anos e meio. Você esteve lá no começo dessa guerra, em reportagem de cenário de guerra. Você chegou perto de efetivamente morrer? Você temeu em algum momento pela sua própria vida? Você sentiu a coisa apertar ali?

Sim, com certeza. Eu estava em Kiev, os russos estavam a 30 quilômetros do centro da cidade, estavam na periferia. Foi a oportunidade em que eles mais se aproximaram da capital ucraniana. E foi quando o jornalista do New York Times morreu, nós estávamos a dois quilômetros de onde ele morreu ali, nas imediações de Kiev. E era um ambiente muito estável, bombardeios constantes, cidades que tinham sido arrasadas, abandonadas, mas repletas de minas terrestres, envolvia riscos. São riscos calculados que você assume em nome de se fazer uma grande cobertura. E foi o que nós fizemos. Fizemos essa cobertura, uma cobertura com a qual a gente ganhou prêmios, inclusive. Mas eu me lembro, por exemplo, que quando a gente se aproximou de Kiev, a única maneira de se aproximar era um trem noturno. E quando o trem se aproximava de Kiev, todas as luzes eram apagadas, para que o trem não se tornasse um alvo fácil das baterias, das forças russas, que almejavam qualquer transporte bélico que estivesse se movimentando ali.

Então todas as luzes tinham que ser apagadas. E isso durava aproximadamente uns 10 minutos, eram 10 minutos que pareciam uma verdadeira eternidade. Ninguém emitia um único som, era uma tensão muito grande, até você conseguir entrar no perímetro da cidade, num lugar mais seguro, e aí as luzes eram retomadas. E dessa minha estadia, que durou várias semanas na cidade, constantemente foi algo de pesados bombardeios. Todos os dias que você estaria para cobrir as consequências. E também, ao mesmo tempo, sabendo da possibilidade do próprio lugar onde você se operava. A gente estava em um hotel que tinha bunker, mas dependendo do tipo de ataque aéreo, o bunker pode não ser suficiente. Então, era um momento de extrema tensão. Mas quando eu cobri a guerra no Afeganistão, eu já tive uma longa experiência.

Eu já tinha coberto a guerra no Iraque, no Afeganistão, na Somália, do Haiti, enfim, eu já tinha uma experiência bem grande e eu consigo me manter sob controle, não entrar em pânico. Fundamental em ocasiões como essa é você não entrar em pânico.

NaTelinha - E você planeja voltar para a Ucrânia? A guerra ainda está rolando, mas quem sabe você volte para cobrir o fim da guerra, não é verdade?

Com toda certeza, é uma possibilidade. Tudo aquilo que representa uma notícia importante para o nosso público vai merecer a minha atenção e eu, basicamente, jamais derrubei nenhum tipo de pauta por causa do risco que ela represente, que ela possa representar. Eu não tenho nenhum tipo de atração por adrenalina, como alguns poderiam achar, a minha atração é pelo bom jornalismo. O risco que a gente corre é calculado. Você procura aprender nas limitações como a cobertura pode representar para o jornalista.

Eu me lembro que nos anos 60, 70, quando você se apresentava como jornalista, você costumava, em geral, ser protegido. A partir da Guerra da Bósnia, jornalistas passaram a ser alvos de franco-atiradores. Na Guerra do Iraque, jornalistas começaram a ser alvos e de sequestros como moedas de troca para que grupos guerrilheiros conseguissem dinheiro. Então, o que mais se protege numa cobertura é o conhecimento do terreno aonde você está pisando. Muitas vezes é fundamental você vestir o seu equipamento, colete, o capacete, numa cobertura, uma guerra na Ucrânia, ou como a cobertura do conflito entre Israel e Hamas, isso foi decidido. Outras vezes é mais simples, você se infiltrar na população.

Porque se você usar todo o aparato de proteção em comunidades onde as pessoas do mal têm muitas vezes do que vestir, é como se você estivesse passando informação para elas que a sua vida é mais importante do que a delas. Então, você precisa antes de tudo mostrar que você respeita culturas diversas da sua. Quando eu estava no Afeganistão, na primeira cobertura, na ascensão dos Talibãs, a gente estava filmando uma vila, que estava sendo totalmente dizimada, justamente porque eles tinham dado comida para as tropas inimigas do Talibã. Era uma violência. E a gente filmou tudo isso. Na saída, a gente foi interceptado e eles fizeram toda a menção que iam nos fuzilar. O fato de eu saber falar algumas palavras, claro que falar fluentemente é impossível, mas eu sabia falar algumas palavras.

Eu consegui comunicar a quem iria nos fuzilar que a gente era um jornalista brasileiro, que a gente era jornalista, jornalista brasileiro, não americano. Estavam, naquele momento, muito, assim, muito magoados com a imprensa americana. O fato de saber falar algumas palavras fez com que aqueles guerreiros, que eram guerreiros de uma cultura muito pequena, muito rasa, se convencessem da necessidade de chamar um comando mais culto, onde eu pude me comunicar em inglês com mais facilidade. E ao invés de a gente ter sido fuzilado, a gente acabou até sendo alimentado. Era pão e tomate, mas foi o melhor banquete que eu pude fazer em toda a minha vida. Então, o que eu sempre digo é que você demonstrar respeito por culturas diversas é uma forma importante de se proteger e procurar conhecer o terreno onde você está pisando.

Então, nada te dá segurança total. Muitas vezes, você tem que usar todo o aparato, outras vezes você tem que se infiltrar, e quando você se infiltra, é claro, o outro lado do conflito acaba tendo a sua cobertura prejudicada, e você sempre procura fazer uma cobertura que mostre todos os planos. Como disse Bill Jones, com o pensador americano, em uma guerra, a primeira vítima é a verdade. Todos tentam manipular no trabalho do jornalista. A procura de tentar não se limitar a mostrar apenas uma verdade, ela é insana, difícil, mas absolutamente imprescindível para que você cubra bem uma guerra.

Cabrini detalha estratégias no Domingo Espetacular e revela o que falou para fugir de fuzilamento

NaTelinha - Cabrini, agora eu quero saber o que é que você falou para ele nesse idioma tão complexo, se é que você lembra o que você falou que ele conseguiu te entender para não te fuzilar. Você lembra as palavras exatamente que você falou para ele?

[Cabrini fala em árabe, mas depois revela o significado]. Não tem problema, fique calmo, eu sou jornalista brasileiro.

NaTelinha - Mas aí parou aí também, né? Não avançou mais.

Claro, a conversa não dava pra prosseguir. Pelo menos fui ouvido.

NaTelinha - Sem dúvida. Salvou sua vida.

E a gente, inclusive, no documentário, esse documentário está no YouTube, inclusive a gente estava levando lá câmeras escondida, e a gente, o momento que a gente estava ali, que estavam todos os guerrilheiros aí no nosso entorno, foram até filmados, né? A gente tem algumas imagens, na verdade a gente conseguiu filmar uns 10 segundos, mas mostra toda a situação. Uma cobertura que eu fiz foi pelo SBT, né? Ela foi no SBT Repórter de 1995 e tem toda essa situação.

Muita gente viveu ali nessa cobertura. Por exemplo, na cobertura a gente não usou um grande aparato, porque se eu usasse um grande aparato, eu ia ensejar o ódio deles. Foi o que eu reparei logo de cara. Eles odiavam todos aqueles jornalistas que chegavam com um aparato de segurança que eles não possuíam ali.

Então eles enxergavam isso como forças capitalistas, dominadoras, que não respeitavam a cultura do islã, a cultura do islamismo. Mas é uma percepção que você tem que ter muito rapidamente e conhecimento de culturas da liberdade e respeito daqueles que não pensam como você pensa. Você não pode estar em locais onde a cultura é totalmente diversa da sua querendo que as reações sejam semelhantes às que você teria na sua cultura. Você precisa respeitar. Eu acho que o grande dever de um repórter, em qualquer entrevista, em qualquer tipo de emissão, é entender a perspectiva do entrevistado, entender a perspectiva daquilo que está sendo coberto, que muitas vezes vai ser totalmente diferente. Nós temos, mediante culturas, mediante princípios, e quando você faz uma matéria, quando eu faço uma pergunta, essa pergunta, ou um texto, quando eu elaboro um texto, vai refletir de maneira inevitável à minha cultura.

Então o grande desafio que o repórter tem é de conseguir cobrir culturas diversas sem preconceitos. Não é fácil isso, é extremamente difícil, porque de forma até subliminar, de forma até inconsciente, você tende a ter um preconceito com aqueles que não pensam como você pensa. Mas bloquear esse tipo de raciocínio é absolutamente fundamental para que você seja, para o jornalismo, como ele deve ser exercido.

NaTelinha - Você estava falando que essa sua reportagem do fuzilamento e tudo mais foi na época que você estava no SBT. Você teve três passagens pelo SBT, se não me falha a memória. Eu queria saber como era a sua relação com o Silvio Santos. Logo faz um ano que o Silvio Santos se foi, infelizmente. Quando é que você teve o primeiro contato com ele?

Meu primeiro contato com o Silvio foi quando, na minha primeira passagem, eu recebi uma proposta da Rede Globo para ser correspondente em Londres. E ele não queria me liberar porque eu tinha um contrato. E eu precisei falar para ele que era importante, que era importante para a minha carreira, e que ele pensasse de uma maneira mais humana e menos como empresário. A primeira reação dele foi de não permitir. Isso foi em 1992.

Aos 44 minutos do segundo tempo, Luciano Callegari me chamou e disse: 'O Silvio pensou melhor e decidiu te liberar'. Eu tinha comandado, junto com o Luciano Callegari, a cobertura da Copa de 1990 na Itália, a gente tinha montado uma equipe, e tinha feito um maior sucesso, e eu tinha um contrato muito bom. Mas, para mim, era muito importante essa oportunidade de me tornar correspondente da Globo em Londres. Eu já tinha feito a cobertura da Fórmula 1 pelo SBT, dos bastidores. Eu não tinha, na maior parte, não tinha credencial. Nas outras, quando a Globo começou a ver que as nossas coberturas e bastidores passavam a suplantar o que eles faziam, mesmo não sendo a emissora da detentoras dos direitos, eles passavam a pedir para que não nos dessem credenciais. Mas mesmo assim, a gente fez uma cobertura histórica. Eu fui na ilha do Nigel Mansell, no iate do Piquet, eu fazia uma cobertura alternativa, né? Às vezes eu entrava no Paddock, às vezes não conseguia entrar, mas eu arrumava um jeito de fazer uma cobertura atraente num momento muito especial, na qual nunca tinha Nigel Mansell, Nelson Piquet, Ayrton Senna.

E nesse momento eu estava na SBT, fizemos uma cobertura histórica do tricampeonato do Ayrton Senna, e eu recebi a proposta, no final do ano, de ir para a Rede Globo, para ser correspondente em Londres, não só para cobrir com a Fórmula 1, mas para fazer todo tipo de cobertura. E eu não estava podendo ir porque não tinha liberação porque o Silvio decidiu não me liberar.

Depois, a segunda vez que eu o vi, foi dois anos depois, eu ganhei o Troféu Imprensa, graças à localização do PC Farias, graças a a cobertura da morte do Ayrton Senna, a cobertura da Fórmula 1, as matérias investigativas que eu fazia lá em Londres, e eu recebi o Troféu Imprensa e fui receber das mãos do Silvio Santos. Essa foi a segunda vez.

E depois, a terceira foi quando o SBT me tirou da Globo, como eu já contei, que a Globo fez uma proposta, para eu continuar, para fazer a Fórmula 1, mas já estava pedindo um grande desafio. Então, aí eu entrei pelas mãos do Luciano Callegari, e também do Filho, que deixou, que permitiu que essa entrevista do Collor fosse veiculada. E a última vez foi agora, nessa última passagem, que levou mais de 10 anos, aonde eu estava na Record, na minha primeira passagem para a Record, e a gente tinha basicamente, a gente tinha se tornado principal audiência da Record, no momento de lançamento da Fazenda, o Repórter Record vinha logo depois e era um enorme sucesso.

Eu lembro que eu voltei numa cobertura onde tinha entrevistado o pai do Michael Jackson, logo após a morte do Michael Jackson, foi até o recorde do Repórter Record na época. E a minha assistente, a minha empregada doméstica, uma pessoa que eu gostava, a Zezé, falou: 'Ligou uma pessoa aí que se chamava Silvio Santos. Não para de te ligar'. Pensei que podia ser trote, verifiquei que não era trote e o Silvio não parava de me ligar. Quando eu consegui falar com ele, ele falou: 'Venha para casa, eu preciso falar com você'. Ele fez uma proposta irrecusável. Ela representava muito mais do que eu ganhava, com a liberdade de criar um novo programa.

Enfim, uma proposta dos sonhos, né? Uma proposta que eu tinha que escolher. 'A proposta é agora, daqui a 10 minutos não tem mais'. O Silvio era um negociador bastante agressivo, mas um homem de muita palavra. E eu acabei indo para o SBT, foi quando eu fiz o Conexão Repórter, um programa no qual a gente a maior parte dos prêmios. Eu tenho 10 anos de Conexão Repórter, tive muita liberdade, e o Silvio sempre me ligava. A ideia, por exemplo, de fazer uma grande matéria com o Bispo Edir Macedo foi dele. Mas ele sempre também respeitou a minha liberdade. Eu tive a oportunidade de fazer jornalismo daquilo que eu achava que ele deveria fazer.

Foi um momento historicamente muito importante e que foi o resultado que eu voltasse para a Record, que é uma emissora inteiramente comprometida com jornalismo. E apresentando hoje o principal produto da emissora, que é o Domingo Espetacular, uma parte muito importante da minha carreira.

Cabrini detalha estratégias no Domingo Espetacular e revela o que falou para fugir de fuzilamento

NaTelinha - A sua liberdade no SBT, Cabrini, era estipulada em contrato ou você tinha só um acordo verbal, era no fio do bigode, como a gente fala?

Fio do bigode, o Silvio não precisava ter no contrato não, era só falar com ele. Era só falar com ele. Eu sempre tive total liberdade.

NaTelinha - É verdade que no SBT você teve um convite para comandar o programa chamado Boletim de Ocorrência em 2010 e você não quis?

É verdade. Eu achava que não era minha cara, não era meu DNA e não me interessei.

NaTelinha - Ninguém te fez nenhuma pressão para que você aceitasse?

Eles entenderam perfeitamente os meus argumentos.

NaTelinha - Aí, quando você voltou para a Record em 2020, lembro que você chegou a manifestar uma vontade de ter um programa de entrevista. Você ainda almeja isso?

Talvez não fosse exatamente um programa para TV aberta, mas eu gosto de ter a liberdade de entrevistar todo tipo de personalidade. Eu gosto muito de entrevistar. E talvez isso ainda aconteça. Eu tinha também um projeto para criar um programa de biografia. Eu gosto muito de escrever biografias e produzir biografias. Mas, atualmente, eu estou no principal produto da emissora, que é o Domingo Espetacular, que me toma um tempo total. E esses projetos ficam para um outro momento.

NaTelinha - Tem algum bastidor que você não tenha falado ainda sobre a entrevista que você fez com o Joe Jackson, com o pai do Michael Jackson. Ele também já faleceu e tudo mais. Mas como é que um jornalista brasileiro sair daqui do Brasil para poder convencer ele a falar? Como um programa brasileiro, coisa que nem a televisão americana às vezes conseguia fazer, vocês conseguiram fazer. Como é que convence um cara desse a dar uma entrevista para uma televisão do Brasil?

Principalmente a presença do Michael Jackson no Brasil, quando ele produziu aquele vídeo (They Don't Care About Us), foi algo que tocou o coração dele e ele se convenceu que era importante falar conosco.

NaTelinha - Simples assim?

Foi basicamente o cerne da questão. E reagir rapidamente, falar com o contato interno. Basicamente isso. Foi o trabalho de toda a minha equipe. Eu até estava no Nordeste fazendo matéria investigativa quando me ligaram. E ela já estava bastante avançada. Não fui eu... Muitas vezes eu participo. É muito comum eu participar da obtenção de grandes exclusivas. Outras vezes a gente contou com as pessoas da minha equipe, mas nesse caso já era uma equipe americana que tinha conseguido isso, e eu só cheguei lá basicamente e fiz a entrevista.

NaTelinha - Se você pudesse entrevistar duas pessoas, uma viva e uma que já tenha ido. Quem seriam essas pessoas e por que você teria esses nomes?

Olha, eu tive a oportunidade de fazer entrevistas sérias, com muita gente, mas uma entrevista que não foi possível fazer foi com o Saddan Hussein, por exemplo. E também tentei, estive perto de conseguir fazer a entrevista com o Fidel Castro, acabou não dando certo, e num determinado momento a gente tinha pistas muito boas, porque eu fiz muitas coberturas do Oriente Médio, eu acredito que a gente tinha pistas muito boas para chegar até o Osama Bin Laden. A gente tinha contatos muito bons. Num determinado instante eu achei que era uma entrevista possível, porque era do interesse geopolítico deles falar com uma televisão brasileira. Fui levado a acreditar nisso por intermediários. Acabou não dando certo, né?

A história do jornalismo, do jornalismo investigativo mais ainda, é a história de pautas que não dão certo, né? Para cada pauta que dá certo, tem outras nove que não deram certo. Mas faz parte, tem muita coisa que não deu certo, mas aquelas que deram certo me dão muito orgulho de ouvir. O jornalismo vale a pena quando você consegue, através dele, o jornalismo investigativo, combater injustiças. A grande missão, o grande objetivo do jornalismo investigativo é combater injustiças. Jornalismo investigativo que não combate injustiças é irrelevante.

NaTelinha - Mas eu queria saber o que é que você perguntaria para o Fidel Castro e para o Saddam Hussein?

O Fidel Castro é um dos pensadores mais importantes, um dos homens que mais fizeram as sociedades no mundo todo refletido, para o bem e para o mal. Acho que a grande pergunta que tinha que ser feita para ele é se esse sonho dele de uma sociedade comunista não ia, com o tempo, virar uma grande utopia, como acabou virando. Nós temos Cuba em uma transição bem importante para um outro tipo de sociedade, exatamente porque o sistema em que ele implantou se tornou um dinossauro. Mas, ao mesmo tempo, ele remete a um momento poético e romântico da sociedade humana. Essa é a realidade.

Para o Saddam Hussein, eu consegui fazer uma imagem que foi um grande desafio, que era a primeira, a principal pergunta que eu ia fazer por ele. O Saddam Hussein desmentiu a existência de soldados que tinham as orelhas cortadas porque não queriam servir à força o exército de Saddam. Ele dizia que isso era invenção da imprensa americana. E nós conseguimos prova disso. Da mesma forma que eu consegui também uma prova do quanto as cidades do norte do Iraque foram afetadas pelas armas químicas de Saddam Hussein. Embora o ataque tenha sido anos antes, a água continuava contaminada.

E essas seriam as duas principais perguntas a terem feitas aí. Primeiro, provar que ele de fato mandou cortar a orelha de soldados que não queriam seguir as ordens dele. E também mostrar que muito tempo depois do ataque com armas químicas em Halabja, pessoas inocentes, crianças, sofreram as consequências de uma água contaminada.

NaTelinha - E tem alguém vivo que você ainda gostaria de entrevistar, mas não conseguiu falar por alguma razão?

Ah, muita gente, muita gente. Mas estamos em tratativas, não vou revelar, entendeu? A discrição é um dos princípios mais importantes do mundo, mas a gente tem aqui, eu e a minha equipe, estamos aqui em tratativas com muitas entrevistas importantes e sempre entrevistas que sejam significativas para a sociedade, que a gente considere importante que a sociedade conheça a perspectiva desses personagens.

NaTelinha - Já vai fazer um semestre que você está à frente do Domingo Espetacular. Quando é que você ficou sabendo que você seria a âncora do Domingo Espetacular? De quem partiu o convite?

Foi o vice-presidente de jornalismo, Antonio Guerreiro, dizendo que ele queria uma nova concepção do Domingo Espetacular, um programa ainda mais ousado jornalisticamente, um programa que tivesse a pegada jornalística que eu represento. Eu, nesse tempo que eu estou na Record, já há quatro anos, as minhas reportagens sempre foram muito significativa para a audiência do programa, para a reprodução do programa. Então, a minha participação na Grande Reportagem, como ele foi chefe, e como repórter, apresentador, repórter-apresentador da Grande Reportagem, sempre foi muito importante.

Então, eu já estava muito integrado, mas além da Grande Reportagem, eu fazia também o Câmera Record. A minha principal audiência era a Grande Reportagem. No domingo, eu estive lá. Sempre foi a minha prioridade. O Câmara Record vinha depois. A gente se dedicava também. Então, eu já tinha uma integração muito grande. Me tornar do âncora significa uma filosofia jornalística, uma imagem que a gente toda quer passar, de valorização do jornalismo, das eleições americanas, do terremoto na Turquia, da morte da rainha Elizabeth.

Enfim, a gente já ancorava e já apresentava. Então, essas ancoragens que foram extremamente bem-sucedidas e que foram divisidores de água, inspiravam ainda mais a dar esse passo na emissora e, da minha perspectiva, de aceitar. A de que a gente queria uma cobertura ainda mais voltada para o jornalismo daquele que, de fato, vai lá e faz a reportagem. Grandes repórteres da televisão mundial, da televisão americana, da televisão europeia, grandes âncoras vieram da reportagem. Então, praticamente, é uma tendência mundial. O repórter, aquele que teve uma experiência importante na rua, um dia possa ser levado a essa posição de âncora. Como âncora, eu me vi, antes de tudo, como repórter, entendeu?

Eu acho que é um repórter ancorando, levando a minha experiência, os anos e mais de quatro décadas na reportagem, sempre com muito entusiasmo, sempre tentando levar uma busca pela imparcialidade. Eu costumo dizer que a imparcialidade total não existe, porque a gente tem nossos princípios muitas vezes inimitíveis. Mas o que faz essa nossa atividade algo nobre? É a busca pela imparcialidade. Mesmo que ela jamais seja totalmente alcançável, mas é a busca dela que faz da nossa atividade algo que muda a história de países.

Cabrini detalha estratégias no Domingo Espetacular e revela o que falou para fugir de fuzilamento

NaTelinha - E o quão ligado você fica no seu principal concorrente, Cabrini, que é o Fantástico? O Domingo Espetacular vai ao ar no mesmo horário. Até que ponto você fica observando a concorrência, o tipo de reportagem que eles vão colocando no jornalístico deles para poder fazer um Domingo Espetacular, de certa forma, combativo. Até que ponto o que o Fantástico está fazendo mexe com o que o Domingo Espetacular está fazendo?

Claro, porque é uma referência, assim, como eu sei que eu também sou uma referência para eles. Eu sei que muitas vezes eles conversam: 'O que o Cabrini está fazendo? O que o Domingo Espetacular está fazendo?'. Isso é absolutamente normal. Eu conheço muito bem como funciona o Fantástico, conheço as prioridades, conheço a redação e respeito. Eu respeito muito bem muitos os nossos concorrentes e eu acho que essa busca pela perfeição, do lado deles e do nosso lado, é o que faz o público ter melhores opções. Respeitar o concorrente é absolutamente fundamental, sempre com muita ética, com muita correção.

NaTelinha - Mas te envaidece o fato de incomodá-los ou, às vezes, até ultrapassá-los em audiência? Até que ponto te envaidece?

A gente já conseguiu isso recentemente e é um marco. Com toda certeza. Sabemos da dificuldade, sabemos da dificuldade que eles têm, sabemos o que representa o Fantástico na cultura nacional, mas é através de um grande adversário que a gente eleva a nossa própria qualidade. E eu vejo um momento enorme de entusiasmo na nossa equipe. E sei também, por amigos que tenho lá, o quanto respeitam o que a gente faz também.

Quando a gente vai melhor numa cobertura, eles não se conformam. Assim como a gente também não gosta se eles vão melhor que a gente, é normal. Mas ninguém ganha sempre, ninguém perde sempre, né? Mas o Fantástico, que tem grandes profissionais, é uma grande referência, com certeza. A gente fica depois analisando o que eles fizeram, deixaram de fazer, mas sempre com muita ênfase.

NaTelinha - E o que é que você percebe que o público do Domingo Espetacular mais gosta de ver no Domingo Espetacular? Tem algum conteúdo que você percebe um bom desempenho e te surpreende: 'Nossa, mas o pessoal gosta de ver isso?'?

É fundamental que a gente esteja em sintonia com as mudanças da sociedade. O que é verdade hoje, daqui a pouco, isso pode não ser mais verdade. Existem momentos onde existe uma demanda grande por matérias mais leves. Outros, por matérias mais investigativas, mais tensas. Nesse momento, a gente observa uma resposta muito boa, muito positiva, pelas coberturas do grande assunto do momento, a agilidade em jornalismo, e pelas matérias investigativas. É o que está dando, nesse instante, grandes respostas para nós. Mas isso pode mudar, daqui a pouco pode mudar.

A gente tem que, todo dia, estar conversando, sempre procurando uma sintonia com aquilo que o público deseja, mas partimos sempre do princípio do bom jornalismo.

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