Vendedora de sonhos

Patrícia de Sabrit revela como virou corretora, abre bastidores em Hollywood e quer voltar à TV

Atriz alternou períodos no Brasil e fora, mas admite saudades de atuar. Patrícia de Sabrit recorda as produções que fez e conta como tudo começou em E.T. - O Extraterrestre (1982)


Patrícia de Sabrit em Malhação, atualmente e em Pérola Negra
Patrícia de Sabrit fez figuração em Hollywood; agora é corretora de imóveis mas não esqueceu o ofício de atriz - Foto: Montagem/NaTelinha

Patrícia de Sabrit está com saudade de fazer televisão. Longe da dramaturgia há sete anos, ela abraçou a profissão de corretora de imóveis. "Caiu no meu colo essa oportunidade. Eu sempre gostei de trabalhar. A verdade é essa", diz ela, que no início deste século, fez até ponta em Hollywood.

As afirmações foram feitas em uma longa entrevista ao NaTelinha publicada no YouTube (vídeo ao fim da matéria) e que também aparece aqui em formato de texto. Patrícia de Sabrit é a 15ª convidada de uma série de 20 entrevistas com personalidades que fizeram ou fazem a história da TV neste mês que marca as duas décadas do site.

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A atriz revela, por exemplo, que "adoraria" ter tido um convite da Record para integrar uma de suas superproduções bíblicas. Na sua vivência em Hollywood fazendo figuração, abriu o jogo sobre personalidades conhecidas. "Al Pacino, maravilhoso. Cameron Diaz, mais ou menos. Jamie Foxx, maravilhoso. James Woods, ok. Matthew Modine, chatérrimo", elenca.

Obviamente, Pérola Negra (1998) foi revisitada durante o bate-papo. "Pra mim, foi uma universidade", orgulha-se ela, que é uma noveleira raiz. Patrícia assiste Vale Tudo na televisão aberta e confessa estar gostando do remake de Manuela Dias. "Ela tá sendo comparada direto com a versão de 88. Não tem que comparar."

Confira:

NaTelinha - A gente já está sabendo que você, além de atriz, agora também é corretora de imóveis. E aí eu já começo perguntando como é que você foi parar nessa profissão, Patrícia?

Na verdade, meio que caiu no meu colo essa oportunidade, digamos assim. Eu sempre gostei de trabalhar. A verdade é essa. Eu sempre gostei de produzir. Eu sempre fui proativa. Então, a gente sabe que a carreira de atriz não necessariamente você está sempre na ativa, né? Então, e ainda mais eu que viajei. Primeiro, priorizei a vida particular, né? A vida em família. E eu tive que morar fora. Então, por causa disso, eu tive que deixar a carreira um pouquinho de lado em vários períodos da minha vida, às vezes eu conseguia voltar, às vezes nem tanto, e nesse instante eu achei que ter um plano B, digamos assim, ia ser muito bem-vindo.

E a história de corretora veio porque eu gosto muito de gente, enfim, eu adoro. Minha mãe é arquiteta de formação, ela não trabalhou com isso, mas, quer dizer, para a família ela fez um monte de coisa, mas ela não é. A carreira de corretora aconteceu porque eu tava procurando apartamento pra mim. E aí comentei: 'Nossa, esse trabalho deve ser tão interessante'. Aí ela falou: 'Patrícia, por que você não começa fazendo isso, para você conseguir fazer, de repente, as duas coisas, porque o fato de ser corretora não anula a sua carreira como atriz, você pode ser um pouco mestre do seu tempo'.

Por enquanto, eu ainda não sou mestre do meu tempo, não. Eu gosto de trabalhar e eu gosto de gente, eu gosto de ver coisas, eu gosto de, na verdade, eu queria me reinventar e eu achei essa forma e eu tô curtindo bastante.

NaTelinha - Você tá atuando em que mercado, exatamente?

Então, eu estou indo no mercado de luxo, eu estou numa imobiliária chamada AXPE, que é uma imobiliária da região de São Paulo. Ela trabalha um núcleo em São Paulo. E a gente tem um ticket médio relativamente alto e também um mercado de luxo-luxo. Então, é muito legal, assim. Não é fácil, mas é muito legal. E eles estão sendo muito maravilhosos comigo porque eu não tinha noção. Eu comecei do zero Eu não tinha noção. Tive que tirar o Creci.

E, obviamente, quando você não tem uma pressão, eu acho que as coisas acontecem melhor, né? Porque quando você se coloca com pressão, aí vem aquele nervosismo, então isso pode ser um problema. E não foi meu caso, eu tive sorte, eu diria que é quase como tirar uma carteira de motorista.

NaTelinha - O mercado de luxo atrai compradores em potencial ou mais curiosos? Ou os dois?

Eu diria que os dois. Ah, eu acho que como tudo na vida e sempre vai ter uma boa dose de curiosos. Agora, é assim... As pessoas que vão pela AXPE, por exemplo, não necessariamente vão me pegar como corretora. Então, se a pessoa for da curiosidade, porque quer me conhecer, porque quer estar comigo, não necessariamente vai conseguir, porque nós somos muitos corretores e tem uma questão de rodízio e tudo mais. Então, não vai ser assim que vai conseguir me conhecer, sabe? Então, isso não é ruim, porque, por um lado, corta um pouco com essa parte desses curiosos, digamos assim. Veja bem, eu não estou falando mal de quem gosta de mim, quem gosta do meu trabalho, quem quer me conhecer.

Imagina, longe disso. Mas para isso tem teatro. Um dia, se Deus quiser, vou voltar a fazer peças de teatro, sabe? Ou televisão, enfim. Aí é uma outra pegada. No lado de corretora, eu gostaria que as pessoas me procurassem pela necessidade de encontrar imóvel.

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NaTelinha - Mas tem imóveis que você já apresentou com gente que te conhece e disse: 'Só estou aqui por causa de você'. Ou você conversando com a pessoa, vê que daquele mato não vai sair coelho? Já teve isso?

Não, ainda não. É muito recente, né? Eu comecei em janeiro, então vai fazer quase o quê? Seis meses? É muito recente. Eu ainda estou muito naquele trabalho também de captação, de ir atrás de imóveis e tudo mais. Eu tenho uma sorte de conhecer muita gente. Então, muita gente me procura para vender os próprios imóveis. Então, isso também é muito legal. E isso, obviamente, gera lead. É uma coisa que puxa a outra, sabe?

NaTelinha - Mas você já está há sete anos sem atuar, você está há 14 já sem fazer uma novela. Você está com saudade de fazer televisão?

A gente sempre tem, né? Eu acho que assim, esse 'métier' de você poder se transformar em personagens e viver outras vidas é apaixonante. É apaixonante. Eu amo, eu amei todo e qualquer trabalho que eu fiz. O último que eu fiz foi Z4, foi uma participação pro canal Disney com o SBT, e feito por uma produtora independente, a Formata, e foi uma experiência super gostosa, o personagem era bem menor, enfim, eu fazia a mãe do protagonista, então também pra mim foi uma coisa diferente ser mãe de um cara de 18 anos. 'Ai meu Deus, vou sair daqui, vou pra terapia'.

NaTelinha - Foi pra terapia por causa disso?

Ah, meu Deus, eu achei que fosse ser mãe de um moleque de 13 e de repente me apresento um cara de 18. Eu falei, meu Deus: 'Onde estamos?'. A ficção é bom por causa disso, né? Dá pra brincar bem. Se bem que até seria possível. Meu filho vai fazer 18. Imagina.

NaTelinha - Seu filho já vai fazer 18?

Vai fazer 18. Então, assim, eu gosto muito de atuar. É que realmente eu priorizei a vida particular. Eu priorizei a maternidade. Eu sempre quis ser mãe. Meus grandes sonhos eram a maternidade. Sempre foi. E eu sempre disse pra mim mesma que o dia que eu fosse mãe eu ia me dedicar 100% integralmente. Foi o que eu fiz. Não me arrependo, meu filho é meu parceiro, é meu companheirão, para o que há de bom, para o que há de ruim, mas ele realmente é um cara genial, é um menino formidável. Então, assim, eu acho que muito disso é porque eu estive muito presente e nunca coloquei isso para ele como por causa da maternidade, deixei de atuar. Foi uma decisão 100% minha e com absoluta consciência, sabe?

Então, eu não tive dúvidas com relação a isso. Eu sei que tem muitas mães que têm dúvida e muitas mães que não podem optar por isso, né? tem que trabalhar para pagar o sustento, sustento da própria cria, enfim. Então, eu sei disso, eu tenho absoluta consciência, eu tenho a maior empatia por essas mulheres e eu acho elas impressionantemente incríveis, porque, eu vou te falar, ser mãe não é fácil, a gente sabe disso, requer muito, muito tempo, muita atenção, ainda mais hoje em dia, com tudo que está se passando com a internet, enfim, a gente sabe dessas séries de adolescência e companhia. Então, realmente, não tá fácil. Mas, por outro lado, o fato de eu ter tido a chance de estar presente, eu acho que conheço ele muito bem, sabe?

NaTelinha - E você começou com 18 anos, né? Fazendo as contas, eu acho que você começou com 18 anos ou aproximadamente 18 anos em Olho no Olho, se não me falha a memória. É isso ou não?

Você não vai acreditar, eu tinha 17.

NaTelinha - Você tinha 17?

Eu não tinha carteira de motorista ainda, eu andava de ônibus, da Barão do Triunfo. Eu morava na Almirante Guilhem, no Rio de Janeiro, eu ia a pé até a Barão do Triunfo, pegava o ônibus na Barão, ia até a Pacheco Leão, ali na região da Globo, porque na época ainda não tinha o Projac, a gente que estava gravando na Tycoon. O Projac estava começando a ficar pronto. A gente ainda fez muita coisa na Tycoon. E eu ia de ônibus.

NaTelinha - O ônibus funcionava bem naquela época, Patrícia?

Funcionava. Eu vou te falar que foi uma época gloriosa. Eu amei morar lá. Foi muito especial.

NaTelinha - Não era tão perigoso como hoje?

Pois é. A gente fica numa tristeza profunda, né? Vira e mexe, eu ouço histórias. Eu ainda tenho família lá, né? Tenho primas que moram por lá e tudo mais. Que, graças a Deus, vivem super bem. Mas é uma pena. É uma pena que tá meio a Deus-dará aquilo ali, né?

NaTelinha - Sem dúvida. E depois de Olho no Olho, você foi pra Malhação. Você fez a temporada de número 1, que foi em 95.

Peguei o primeiro ano de Malhação, exatamente. Mas eu fiz uma personagem menor. A princípio eu ia fazer uma personagem do elenco fixo. Inclusive tinha saído até no Globo na época e tudo mais. Mas de última hora eles resolveram trocar. Então uma outra atriz pegou o papel. Faz parte. Isso já me aconteceu também. Já aconteceu até a favor. Já aconteceu contra. Enfim, é normal. Mas aí eu não fiz a temporada inteira. Eu fiz uma participação. onde eu fiz a minha primeira vilãzinha. Foi simpático.

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NaTelinha - Você lembra se naquela época já existia uma conversa de fazer uma Malhação uma novela tipo 'infinita'? Porque ainda durou muito tempo. Acabou em 2020, ou seja, ficou 25 anos no ar, é muita coisa.

Não, de jeito nenhum. Acho que nem eles imaginavam que ia ser isso. Talvez uns dois, três anos, sim. A ideia talvez fosse essa. Acho que sim, mas não acho, posso estar errada, mas a princípio, pelo menos para a gente, não chegava essa conversa.

NaTelinha - Você acha que Malhação faz falta? Porque muitos ali começaram em Malhação, na Globo, a pandemia talvez tenha abreviado um pouco a novela, mas a Globo acabou perdendo esse celeiro também, de pessoas que começavam ali, e hoje tem gente começando em novela mais importante, com mais audiência. Não existe mais esse laboratório.

Eu acho que a história do streaming mudou muita coisa. Tem muita oferta, tem muita coisa para esse público. Então eu não sei se faz tanta falta, eu acho assim, nesse quesito de criação, quer dizer, dos atores começarem a entender como funciona esse meio de televisão, hoje eles têm muitos cursos. Tem inclusive grandes autores, diretores que dão cursos até fora da Rede Globo, a Rede Globo também fez a oficina. Inclusive muita gente se formou lá e eu não tive a chance de fazer, quer dizer, na verdade a novela meio que caiu no meu colo antes da hora e vou te falar, eu teria adorado ter tido um pouquinho mais de know-how e noção, porque assim, eu tenho certeza absoluta que o Selton Mello, que fazia meu namorado no primeiro momento, que era aquele ator, que é esse ator magnífico que eu amo, eu sou fã... Nossa, eu acho ele espetacular como pessoa, inclusive. Eu tenho certeza que para ele não foi fácil, sabe?

Era um cara que já tinha absoluta noção, que pega essa novata, a paulistinha, que veste bem o carro no seu colo e que não tem noção de nada, não tinha noção de nada, não tinha noção de como me posicionar, mesmo dificuldade para decorar texto, porque eu também não tinha tido nenhuma, a única experiência que eu tinha tido antes dessa foi teatro, mas são mecânicas completamente diferentes, né? Então, pra mim, eu realmente poderia ter me queimado feio. A minha sorte é que eu tinha um certo, acho que minha personagem caiu no gosto público. Ela tinha um certo carisma, não sei. Ou eu consegui imprimir isso pra Cacau. E isso me ajudou, sem sombra de dúvida. Mas, como interpretação, quando eu vejo assim, eu falo, meu Deus, como eu era fraca.

NaTelinha - Você acha? Você tem essa visão tanto tempo, 30 anos depois?

Sim, eu tive logo, inclusive. Eu tive alguns anos depois. Eu vou te falar bem a verdade. Eu acho que quando eu comecei a fazer outras novelas, Colégio Brasil, com o Roberto Talma, porque foi ele que me deu... Quer dizer, meu contrato acabou, aí ele me levou pra São Paulo pra fazer Colégio Brasil com ele, porque ele que dirigia a Malhação naquele instante. Então, assim, eu percebi nitidamente que faltava muito estofo ainda, muito, muito. E aí, quando eu cheguei em Pérola Negra, eu já tava bem mais segura.

E aí a Pérola me caiu como uma luva, porque eu me apaixonei pela personagem, me apaixonei pela novela, a equipe era espetacular, apesar de ser, na época era produção SBT e uma produção menos rica que é hoje em dia, tenho certeza que hoje eles guardam um orçamento importante para novelas, na época não, na época eles estavam meio que caminhando. Pérola Negra foi gravada um pouco antes de começarem a gravar Chiquititas.

NaTelinha - Vocês estrearam com a novela toda gravada já.

Exato, exatamente. Então, tinha tudo isso. Mas isso não impediu de eu amar. Eu amei a novela, amei. Meu par romântico, Dalton Vigh, foi um gentleman. A gente se deu super bem, tinha muita química, isso também funciona muito em novelas, e, enfim, foi uma experiência incrível.

E ali, eu vou te falar que ali eu comecei a me sentir mais segura, comecei a ouvir elogios que eu nunca tinha ouvido, eu só tinha ouvido críticas até então.

NaTelinha - Mas internamente você fala? 

Não, na própria mídia.

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NaTelinha - Ah, da própria mídia. Bom, mas demorou para a novela ir para o ar, né? Vocês foram gravando, gravando, gravando, a novela não estreava, não estreava, não estreava, não tinha feedback nenhum do público. Como é que era? Gravar, gravar, gravar, não tem nenhum retorno do SBT? 'Quando é que a novela vai estrear? Quando é que não vai?'. Tinha essa certa apreensão de vocês naquela época?

A gente tinha um receio, inclusive, de ela ficar engavetada de Ad aeternum, e a gente não tem noção quando ela ia ser colocada no ar. Pra gente, naquele instante, isso era um problema, porque muitas vezes a Globo não gostava de contratar atores que tivessem novelas inéditas engavetadas, que era o nosso caso. Então, pra gente, não era algo positivo. E logo depois, quando acabou Pérola Negra, não sei se você lembra dessa história, me chamaram pra fazer Fascinação. Eu ia fazer a Ana Clara, eu ia fazer a personagem que a Regiane Alves fez.

Eu ia fazer essa personagem de Walcyr Carrasco, mal conhecia o Walter Carrasco. Eu estava muito cansada, porque eu gravava uma média de 35 cenas por dia. Eu cheguei a gravar 43 cenas por dia em Pérola Negra. Às vezes eu tinha três, quatro páginas de texto, só eu. A Pérola Negra era altamente prolixa. Então eu tava num cansaço violento. E quando me chamaram pra fazer Fascinação, apesar de eu ter me sentido hiper lisonjeada, porque o Silvio Santos também tinha dado o aval e tudo mais, também não sabíamos se ela ia entrar no ar ou não. Então tiveram algumas coisinhas que me fizeram questionar. 'Caramba, será que eu faço? Será que eu não faço?'. E realmente eu estava muito cansada. E meu empresário na época, Sérgio D'Antino, que faleceu, que era meu querido, o Sérgio não deixou muito eu fazer também, porque ele tinha pedido um aumento, porque eu estava realmente... Eu ia trabalhar de novo muito.

Então, a gente não acertou com o SBT. E foi uma tristeza, porque o Walcyr Carrasco ficou muito chateado, eu sei disso, porque eu estive na estreia de O Cravo e a Rosa. Eu fui na pré-estreia. Na casa da fazenda, nunca vou me esquecer, em São Paulo. E o Walcyr tava lá e o Walcyr veio falar comigo. E chateado, ele falou assim: 'Olha, só queria te dizer que você podia estar aqui comigo'.

NaTelinha - Caramba, tudo porque você não fez a novela dele anos antes no SBT?

Acontece, né? Ele não sabia a história.

NaTelinha - Mas você contou pra ele depois?

Não, nunca consegui.

NaTelinha - Agora ele vai saber. Porque agora a gente vai contar essa história, né? Tomara que chegue nele.

As colunas dele, sei que ele ama bichos, quer dizer, eu sou super fã, então pra mim realmente foi, se você me perguntar, a grande frustração na minha carreira foi essa, foi não ter ficado em bons termos com ele, de não ter feito uma super novela como Fascinação. Fascinação foi linda, agora a Regiane fez brilhantemente bem, vendo ela, eu não consigo me ver fazendo a personagem, porque aí ela já vestiu, acho que ela fez lindamente, enfim, então, são coisas que acontecem, que a gente não tem que ficar também, sei lá, lamentando muito. Mas são aqueles percalços na carreira.

NaTelinha - É que Perola Negra não tinha nem 20 atores no elenco regular, né? Eu imagino você tentando decorar aquele monte de páginas. É uma curiosidade que eu tenho. Tinha alguma técnica para decorar tanto texto, tantas páginas?

Eu acho assim, eu descobri isso durante Pérola Negra, não sabia disso antes. Eu tenho memória fotográfica. Eu leio duas, três vezes e eu praticamente estou decorada.

NaTelinha - Nossa, isso é uma facilidade...

Isso realmente é uma facilidade. Mas eu descobri em Pérola Negra. Por que eu descobri em Pérola Negra? Porque eu estava num belo dia, eu tinha, sei lá, 29 cenas naquele dia e eu tinha pulado no roteiro uma das cenas. Sem querer. Então eu não decorei. E o fato de eu não ter decorado, da hora que estavam chamando para fazer a cena, me chamando, eu falei: 'Gente, mas que cena é essa? Eu não decorei essa cena'. 'Como não decorou? É só você que fala. E o elenco inteiro está em cena'. Nossa. Me deu um pavor, mas um pavor... E aí o diretor Henrique Martins virou pra mim e falou assim: 'Você vai me dizer que você não decorou a cena?'. Aí eu falei: 'Eu pulei, eu não sei o que eu fiz, eu não,  eu não sei'. Então ele ficou bravo, então 'vou ter que dar café pra equipe inteira logo no começo do dia'. Eu falei: 'Não... Vamos fazer!'.

Eu não sei o que me deu. E aí a Lia de Aguiar, eu nunca vou me esquecer, a Lia de Aguiar é maravilhosa, linda, que fazia a Branca na novela. A Lia virou pra mim e falou assim: 'Patrícia, não, é muita fala, você fala muito, você tem quatro páginas de texto, não vai dar'. Falei: 'Lia, deixa eu tentar, deixa eu tentar'. O Henrique também foi malaco, foi maravilhoso, ele começou a dirigir todo mundo, 'você fica aqui, você fica ali', e eu tava ali decorando. Enquanto ele tava fazendo, eu tava super concentrada no ensaio, eu falei pra ele: 'Eu vou ensaiar com um roteiro'. Tudo bem. Eu já tava praticamente decorada, Thiago, foi uma coisa de Deus, não tô brincando... Assim...

NaTelinha - Que isso, isso é um negócio sobrenatural, nunca vi.

Foi espetacular, aí eu, na hora de gravar, ele falou: 'Estamos prontos pra gravar? Vamos conseguir fazer?'. Eu falei: 'Vamos'. Aí ele brincou: 'De prima?' Eu falei: 'De prima'.

NaTelinha - Você fez de primeira?

De primeira. O elenco aplaudiu.

NaTelinha - Meu Deus, mas isso não é técnica, isso é dom, não é?

É, eu acho que isso é sorte, é dom. Acho que isso é dom. É dom. Tem muitas técnicas, isso não é técnica.

NaTelinha - Não, isso não é técnica.

Isso é dom e outra coisa, eu acho que como eu estava muito apaixonada pela personagem, então o texto, ele vinha fácil, sabe? Isso também é muito incrível, muito impressionante. Quando um personagem é mais difícil, mais complexo e tudo mais. Porque a Pérola tinha uma vantagem. A Pérola tinha essa coisa meio prolixa, meio 'riqueta'. Falava umas bobagens. Então, assim, eu sei, por exemplo, que quando eu fiz o texto, eu percebi que eu pulei um pedaço do texto, mas aí eu botei ele no meio. Tipo, eu consegui só inverter a ordem e não atrapalhou. Porque era quase que um monólogo a cena. Inclusive, acho que eu tinha que até achar essa cena. É uma cena que eu falava umas barbaridades.

NaTelinha - Mas você não chegou a assistir a novela quando ela passou a primeira vez, né?

Eu tava morando nos Estados Unidos, fazendo faculdade.

NaTelinha - Caramba, que pena que você não conseguiu ver na época. Mas você ficou sabendo do sucesso que ela fez aqui no Brasil? Você tinha notícia?

Sim, porque eu vinha bastante. Porque você não vai acreditar, nessa época eu tava correndo de carro. Eu fazia faculdade nos Estados Unidos, mas eu fui contratada pela Marilena Fittipaldi na época. Ela montou uma equipe de mulheres, feminina. E aí me convidou pra fazer, porque eu sempre amei carros. Eu tenho um irmão homem, então eu sou apaixonada por carro, até hoje. E ela me convidou pra participar, então eu fiz curso com Beto Manzini, que é um super piloto, professor de automobilismo. E aí eu fiz esse curso, consegui minha carteirinha de piloto.

E aí, quando eu vinha, eu percebia no aeroporto.

NaTelinha - No aeroporto, talvez seja um dos melhores lugares, né? Para ter esse feedback. Mas te assustou ou não? Porque, caramba, 'o trabalho que eu gravei, sei lá quanto tempo', meu Deus...

Mas eu ainda estava, apesar do tempo ter passado, mas eu ainda tinha ela muito fresca dentro de mim, assim, então. Não deixa de ser estranho, sem sombra de dúvida. Eu falava: 'Gente, as pessoas ficavam de novo me olhando muito e tudo mais'. E muitas vezes não vinham falar comigo por timidez, enfim.

Então eu não sabia, eu não realizei no primeiro instante. Depois, quando começaram a me chamar de Pérola... Aí eu falei: 'Ah bom, é a Pérola'.

NaTelinha - Mas na primeira reprise da novela, em 2004, a novela também fez bastante sucesso. Aí eu não sei se você já estava no Brasil ou não estava, porque de novo ela explodiu de audiência, mas em outra faixa.

Foi muito legal e vou te falar mais, essa reprise de 2004 foi muito linda, porque além de eu estar presente, eu tava morando no Brasil nesse momento, eu tinha fãs novos que não me conheciam, que eram muito jovens, ou nem tinham nascido ainda em Olho no Olho e tudo mais. Então, quando assistiram Pérola, na segunda reprise, então, passaram a me conhecer. E isso, pra mim, foi muito incrível. Mais tempo ainda deu ter gravado a novela. Foi uma estranheza, mas ao mesmo tempo foi muito gostoso. Como diria meu filho, 'muito satisfatório'. Muito satisfatório.

NaTelinha - E depois a novela passou até mais vezes também, ou seja, eu acho que não faltou oportunidade pra você desfrutar da novela do começo ao fim. Você já deve ter visto e revisto algumas vezes.

Você sabe que eu não assisti? Não assisti.

NaTelinha - Você não assistiu? Não sei se tá no streaming do SBT...

É porque, na verdade, eu não sei se pode, porque uma questão de trabalho, ela é argentina, né? Mas está no YouTube.

NaTelinha - Ah, não sei se a qualidade tá muito boa no YouTube, né?

Eu acho que tem alguém que digitalizou. Eu tenho fãs maravilhosos, né? Eu tenho gente, eu tenho maravilhosos, são incríveis. Então eles me mandam umas cenas, até cenas que eles põem no TikTok, e as cenas estão de muita boa qualidade.

NaTelinha - Mas antes de Pérola, Patrícia, você fez um trabalho na Record que produziu um meme seu que roda na internet, você provavelmente sabe, que é aquela Filha do Demônio, que tem várias montagens suas, enfim, você deve saber exatamente do que eu tô falando, né? Não é nem de longe as produções da Record de hoje bíblicas...

Acho que foi a primeira incursão, desde que a Igreja Universal comprou a TV Record. Acho que foi a primeira incursão na dramaturgia, foi a Filha do Demônio. Então eles não tinham, assim, não tinha dinheiro, não tinha. A gente não tinha cenário, a gente gravou tudo em locações. Obviamente, aí a gente fica um pouco refém da qualidade, porque aí você tem barulho, aí você tem interferência, você não tá em um estúdio, né? Com som vedado e tudo mais, com microfones. Então, foi 'sui generis', eu diria, sabe? Mas adorei fazer. Adorei. Ela era uma louca. Ela era ruim. Ruim, ruim, ruim.

Quando eu li o script, na verdade, quando eu li o roteiro, vou te falar que eu fiquei bem mal, passei mal. Cheguei a passar mal. Fiquei ruim. Fiquei enjoada. Tive palpitações. E eu falei, gente, eu não posso, eu não vou decorar isso agora à noite. Vou decorar amanhã de manhã.

Patrícia de Sabrit revela como virou corretora, abre bastidores em Hollywood e quer voltar à TV

NaTelinha - Decora rápido, né? É fácil, né?

É, na verdade, e aí as cenas eram melhores. Melhores que eu digo assim, eu falava um pouco menos também, né? Mas eu lembro que eu tive que aprender a fumar, porque eu nunca fumei, não fumo cigarro, nada. Então, eu tive que aprender a fumar. Teve uns lances bem, bem bem legais, assim, agora, eu diria que é uma coisa meio trash. Assim, o tema já não era fácil, mas foi legal. Mas eu vou te falar, eu sempre gostei de trabalhar.

Eu gosto de trabalhar. Eu gosto de produzir, eu gosto de me sentir útil. Sabe, de acordar de manhã cedo e falar, 'nossa, hoje eu tenho gravação'. Sei lá. Vidas Cruzadas, por exemplo. Vidas Cruzadas foi uma loucura, porque Vidas Cruzadas a gente gravava estúdio, aí já tinha mais dinheiro. Aí já era uma outra coisa. Mas aí a gente gravava no estúdio em São Paulo e todo externo no Recife. A gente gravava às vezes até às 18h na Barra Funda, ia para o aeroporto em Guarulhos para pegar o avião, passava a noite, mais ou menos, a madrugada no avião, chegava lá, dormia um pouquinho, acordava super cedo para começar a gravar.

NaTelinha - Mas o ator sabe, por exemplo, que está fazendo uma produção trash? Vocês conversavam entre si sobre isso? Tem essa conversa de vocês saberem exatamente o que vocês estão fazendo e onde vocês estão entrando? Ou não sei se naquela época vocês não tinham esse pensamento...

Eu acho que em A Filha do Demônio, principalmente, a gente foi uma gravação de oito dias, né? Foi bem curto. E a gente mal se conhecia, então a gente não fazia comentários do gênero, não. Agora, por exemplo, teve uma cena minha de overdose, onde eu tive que vomitar uma mistura de farinha com aquelas coisas bizarras, e a cena era uma cena muito difícil de fazer, e eu tenho certeza que foi difícil de assistir. Então, assim, eu diria que ali eu acho que a gente fez algum comentário. E fora as cenas também com as minhocas que pode mexer. E aí, a primeira cena pra mim foi dantesca, que foi assim, foi a que me deixou muito mal, que abria, inclusive, a série, não sei se você lembra, onde a menininha, era eu pequena, tinha matado o cachorro da família. Quando eu vi porque eu tava lá, o dia que foi gravado, quando eu vi eles pintando aquele cachorro, botando sangue... Aquilo me fez um mal...

Ali, assim, a Patrícia foi mais forte do que personagem. E vou te dizer, quem diz que não fica mal é hipocrisia, assim. Eu não acho, eu, por exemplo, não consigo me desvencilhar de muitas coisas, assim, entre a personagem e eu mesma. Eu acho que eu coloco as minhas emoções, as minhas vivências, as minhas experiências, sabe? Por exemplo, a cena do estupro, isso tá no YouTube, inclusive. Amor e Revolução. Aquela cena brava. Eu não consegui parar de chorar. Se confunde a arte com a realidade, né? Não tem jeito. Ali eu acho que foi uma coisa do tipo, tanta mulher passa por isso. Eu juro, não tô brincando. Eu acho que tem uma dose de empatia gigantesca.

Ou eu sofri isso numa vida passada. Pra quem acredita nessas coisas. Ou realmente foi empatia pura. Porque eu levei 40 minutos pra ficar em ordem. 40 minutos! Nosso diretor na época teve que dar um café gigante. Porque as outras cenas todas contavam comigo. E eu tava com um olho, ainda mais, eu tava com um olho desse tamanho, né? De tanto chorar. Aí é, 'vamos botar gelo, saquinho de gelo, pra dar uma diminuída'. Maquiadoras, maquiadores maravilhosos, lindos, queridos. Botando pra diminuir, pra diminuir.

NaTelinha - E essa é outra técnica que eu queria saber de você, Patrícia. Como é que faz para chorar? 'Ação... Chora!'. Faz o quê? O que você pensa?

Eu sou extremamente emotiva. Então, assim, eu sempre tive uma certa facilidade pra chorar. Que a gente sempre usa esse exemplo... Em comercial de margarina, a gente chora. Hoje, pouco menos, obviamente, com a idade, a gente fica um pouquinho mais fria, digamos assim. Mas sempre fui muito emotiva e muito suscetível ao que eu estou recebendo. Então, a minha técnica para chorar é estar dentro da cena. Quando a cena não é uma cena fácil, é uma cena difícil, é uma cena que não te diz nada emocionalmente, falando que você tem que chorar... Aí você tem que usar outra técnica, que é a técnica Stanislavski, que você tem que pensar em alguma coisa.

Você pensa em alguma coisa que te remete, que seja o seu cachorrinho que faleceu, que seja alguém que te fez um certo mal, alguma decepção. Você usa isso na personagem, sabe? Você não usa tanto a pena. Porque a técnica é uma coisa. Eu acho que nem todos conseguem aplicar exatamente essa técnica, né? Eu acho que cada um é cada um. Eu acho que tem mil técnicas. E eu acho que as pessoas percebem. Outra coisa que em Pérola Negra também aprendi. Pérola Negra pra mim foi uma universidade. Porque eu aprendi que quando eu dormia pouco, porque na Pérola eu dormia muito pouco, porque eu gravava. Tinha que decorar. Alguma coisa eu tinha que decorar em casa. Não é que eu decorava tudo no estúdio no dia seguinte.

Não é assim. Alguma coisa eu decorava em casa. Então eu deixava metade pra casa, metade pra fazer na hora. Nossa. E eu descobri que o cansaço também me deixa extremamente sensível. Então eu atinjo a emoção muito mais rápido. Isso é uma técnica incrível. Eu descobri no dia a dia. E na vida real também, porque às vezes eu estou num cansaço tão extremo que eu fico mais sensível. Então, se alguém me fala alguma coisa, sabe, que normalmente não me machucaria, ou normalmente não me diria absolutamente nada, pode ser que me peguem, sabe?

NaTelinha - E uma outra dúvida que eu tenho, Patrícia, você fez... A gente estava falando dessa produção bíblica que você fez e a Record engrandeceu muito as suas produções bíblicas nos últimos anos. Você nunca foi convidada para fazer nenhuma novela bíblica ou já foi convidada e você, por eventualidade, não pôde aceitar?

Sendo bem honesta, não fui convidada porque eu estava morando fora quando eles começaram com essas produções. O diretor de elenco sabia disso. Mas eu vou te falar bem a verdade, eu teria amado fazer. Com certeza.

NaTelinha - Tem muito dinheiro rolando, né? Aí é muito bom.

Não, e eu vou te falar, eu acho que são produções lindas, e eu amo assistir a série The Chosen, eu sou católica de formação, mas eu amo todas as religiões, o lado bom das religiões, eu tenho minhas críticas também um pouco, algumas coisas da Igreja Católica, mas eu acho que fé é uma coisa que a gente necessita, a gente tem que ter fé, seja ela qual for.

E fazer uma novela onde você mexe com isso, você mexe com a história da humanidade, pra mim isso seria incrível.

NaTelinha - Bom, dá tempo ainda, porque a Record não desativou o seu departamento de novelas. Quem sabe?

Adoraria.

NaTelinha - E nos anos 2000 você foi para os Estados Unidos, você fez ponta em Hollywood. Eu queria que você relembrasse esse período que você fez, que deve ter sido sensacional. Quanto ganha um figurante em Hollywood? Como é que eles pagam? Como é que é fazer? Como é que foi essa experiência para você, Patrícia?

Você sabe que eu fui fazer faculdade de cinema lá, né? Então, a faculdade de cinema é em Miami. E os testes, na verdade, eu fui para lá com uma mão na frente e outra atrás, no sentido de que eu fui para estudar mesmo, mas aí eu fui na época quando o dólar estava 1 para 1. Você lembra que show que era?

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NaTelinha - Putz! Essa geração de agora nunca vai saber o que é isso. Eu tenho certeza.

Eu fui com 1 para 1. Então eu fui com o meu saláriozinho da Pérola, com tudo que eu tinha feito até então, que eu tinha guardado com amor e carinho. E aí eu falei: 'Não, eu vou me dar isso, eu vou me pagar isso'. Então eu fui lindamente 1 para 1. Só que aí de repente 2 para 1, de repente 3 para 1.

NaTelinha - Imagina hoje.

Exato. E aí eu falei... E agora, né? Então eu tinha que me virar, preciso fazer alguma coisa pra ganhar um dinheirinho, o dinheiro só tá indo embora. E aí eu fui com um book embaixo do braço, na época ainda era book. Hoje é tudo no telefone, tudo é digital. Eu fui com um book embaixo do braço nas agências. E a minha história tem uma história muito bonitinha. Quando eu fui na Ilumina, que é uma puta de uma agência, porque é mais agência de modelos, é a agência que cuidava da Charlize Theron, só pra você ter uma ideia. Quando eu apareci lá, eles me olharam com maior desdém, porque eles só pegavam mulheres altas, grandes e coisa assim, e de repente cheguei eu lá com meu 1,60m, nem isso, mas assim, aí eles me olharam tipo: 'O que você tá fazendo?'.

A minha sorte, o meu timing, como as coisas acontecem, Thiago, é que apareceu uma brasileira que trabalhava na agência, que me reconheceu, falou, gente: 'Vocês não sabem, ela é conhecida no Brasil, ela é super conhecida, ela é atriz no Brasil, já fez um monte de coisa'. Meu, abriram... Só faltaram colocar o tapete vermelho pra mim, por causa dela.

NaTelinha - Quem é o nome da abençoada? Tem que fazer as honras, né?

Pois é, tinha que fazer, porque ela, se ela me assistir, por favor, me procura, porque assim, ela foi a coisa mais linda do mundo. E aí me mandaram para um monte de testes, inclusive esses testes de figuração para Hollywood. E aí um dos filmes foi Um Domingo Qualquer, do Oliver Stone. Ele gravou durante 15 dias em Miami, depois eles foram para o Texas, e nesses 15 dias em Miami eles estavam contratando gente. Então eu fui fazer o teste, foram me ver, enfim, e me chamaram. A princípio eu ia fazer parte só da arquibancada, ou seja, eu e mais a torcida do Corinthians, de verdade, porque era muita gente. Aí eu resolvi andar um pouco... Não pode, mas eu resolvi andar um pouquinho pra conhecer. Ninguém me impediu. Aí quando eu fui conhecer, aquelas coisas, tudo time imperfeito, sabe? Aí a pessoa me viu, falou assim, 'você é figurante?'. Falei: 'Sou'.

Ela falou: 'De que agência você é?'. Falei: 'Sou da Ilumina'. 'Ah, você é atriz?'. 'Falei: Sou'. 'Ah, então vem aqui'. Ela me catou pra eu fazer a coach, né? Quer dizer, a treinadora das cheerleaders. Porque o filme se trata de futebol americano, né? E aí, então eu tive um, eles me fizeram uma polaroide, botaram meu nome na polaroide, que coisa que não fazem quando é muita gente, e aumentaram o meu cachê, e eu usava um figurino. Não, juro... E aí eu gravei, fiquei com eles gravando uma semana. E aí o Dennis Quaid foi um encanto maravilhoso. Na época, aí eu tava sentada, até meu pai foi me visitar na gravação. Aí eu tava com o meu pai e ele veio falar comigo. Maravilhoso.

Ele falou: 'Vem jantar com a gente'. Um encanto. Que sorte! E o Al Pacino, maravilhoso. A Cameron Diaz, mais ou menos.

NaTelinha - Mais ou menos? Por quê?

Eu tava nervosa. Acho que estava concentrada. Ela não queria saber muito da gente. A figuração é peanuts, assim. Jamie Foxx, maravilhoso. James Woods, ok. Matthew Modine, chatérrimo. Então, assim, eu tive alguns voos. Eu conheci um monte de gente.

NaTelinha - E quanto que paga? Quanto é que você recebeu? Você lembra de cachê? Era de quanto e foi pra quanto? 

Eu acho que lembro. A gente ganhava acho que 18 ou 19. Não era nem 20 dólares por hora, mas como eram muitas horas, a gente ganhava direitinho, tá? Como figuração, figuração. E depois, quando eu virei a cheerleader, aí eles me deram uma espécie de um cachê fechado. Por aquela semana, eu ganhei acho que 2200 dólares.

NaTelinha - Nossa, era muito dinheiro na época, né? Ainda é, claro.

Exato. Pra mim era um dinheirão. Fiquei: 'Vou poder pagar o mês da minha faculdade'.

NaTelinha - Tudo por causa daquela abençoada.

Exatamente. Eu fiz um monte de coisa lá. Eu danço, eu amo dançar. Eu já dancei mais, obviamente. Mas eu amo dançar e eu fazia muito clipe. E um dos clipes foi com o Ricky Martin.

NaTelinha - E o Ricky Martin é gente boa, te tratou bem?

É maravilhoso. Apaixonante, educadíssimo, queridíssimo. Aí eu falei pra ele que eu era brasileira. Aí ele me tratou melhor ainda. Aí eu falei que eu morava numa região de São Paulo. Ele falou: 'Eu morei lá! Quando eu era Menudo, a gente morou um ano lá'. Aí a gente bateu. Aí ele começou a falar português comigo, porque ele fala fluentemente, né? Mas eu sou fãzoca. E aí o meu primo que é comandante daquele A380, sabe? Da Etihad ou da Emirates, eu não lembro qual das duas agora, acho que é da Emirates. E aí o Ricky Martin tava lá na primeira classe. E aí ele foi falar com o Ricky Martin e mostrou a minha foto pro Ricky Martin.

NaTelinha - Obviamente lembrou de você.

E aí ele foi em canto, falou, mandou um beijo. Educadíssimo.

NaTelinha - Ser brasileiro abre portas em vários países do mundo, né, Patrícia? Você já deve ter percebido muito isso, né? 'Brasil, amo o Brasil! Futebol, Pelé, Neymar, Ronaldinho'. É isso daí pra cima, não é?

Eu acho que não tem como a gente, né? Modéstia à parte.

NaTelinha - E nesse período todo, de você de Hollywood até você voltar e fazer Amor e Revolução, não teve nenhum convite que te fez balançar e voltar a fazer novela aqui no Brasil? Teve, não teve?

Depois eu tenho ido morar na Bélgica. Eu sempre tive isso, eu gosto do mundo, eu amo viajar, eu amo conhecer outras culturas. Eu morei em Londres também por um período, então em 200. Então, assim, depois eu fui para Paris fazer artes e francês, para melhorar meu francês, porque meu pai é francês, então eu sempre ouvia a língua em casa, mas eu não falava. E aí eu fui pra lá pra ficar um tempo lá. Depois fui morar na Bélgica enfim, fui pulando e por isso que também a minha carreira foi ficando aqui meio em segundo plano. Aí me chamaram pra fazer Amor e Revolução. Eu tava na Bélgica. Foi engraçado... Me chamaram pra fazer Amor e Revolução mas era só uma participação pequena. Ela ficou um pouco maior e depois eu morri e voltei. Uma irmã gêmea dela, que até mudou o visual, cortou o cabelo curto. Não sei se você lembra disso. Cabelo bem curto.

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NaTelinha - Sim, claro. Doeu ou não?

Pintei de preto. Não, nesse ponto eu sou muito desapegada. Até sugerindo de botar peruca, mas como era uma novela com muita ação, falei: 'Gente, vou botar um taco, vou ficar com medo de perder a peruca e aí eu não vou me entregar. Ou eu vou me entregar e a minha peruca vai parar no lugar'. Falei: 'Vamos, vamos cortar, pintar'. E fiquei feliz, achei bacana até. Eu me gostei, vou te falar. Por um período eu me gostei, depois eu comecei a ter crise de identidade. Meu filho começou a ter crise de identidade comigo, foi engraçado.

NaTelinha - Ah, não te reconhecia?

Não, porque ele ainda era pequeno, né? Ele me olhava. Tipo, acho que ele falava, essa não é minha mãe, 'impostora'. Crise, crise, crise. Total, total. E aí eu falei, não, peraí, temos que voltar a ser o que eu era antes.

NaTelinha - Você acha que essa novela seria produzida hoje, Patrícia? Com o mundo que hoje a gente está vivendo super polarizado, política efervescente. Nem faz tanto tempo assim, Amor e Revolução, mas 14 anos depois, você acha que essa novela, alguém teria coragem de produzir em TV aberta?

Eu acho que não, porque ela ia ser cancelada.

NaTelinha - É, ia ser cancelada, né?

Eu acho. As pessoas estão muito cheias de mimimi. A história da internet está dando voz a todo mundo. Tem um lado bom, obviamente, mas tem um lado muito ruim. Fica duro para uma emissora aberta fazer algo. Talvez streaming, sim. Streaming faria sem problema nenhum. Uma série. Não novela, mas uma série. A respeito disso, o filme O Ainda Estou Aqui não deixa de abordar essa história. Claro, sob uma outra ótica. Uma ótica muito mais talvez romântica no sentido de dramática, mas não tinha, o principal não eram as cenas de ação e de guerra, enfim, que aliás o filme é magnífico, eu achei o Oscar de A a Z, e ela também teria merecido o Oscar de longe, não entendi qual foi a escolha desse ano, assisti Anora, achei Sessão da Tarde. Não entendi, não entendi. É bom, é um bom filme, mas longe para o que ganhou. E ela, a melhor atriz, ótima atriz.

Não estou aqui desmerecendo o trabalho dela, mas eu acho que a Fernanda é de milhão.

NaTelinha - Pena que a Academia, infelizmente, não achou, né?

A gente não tem muitas coisas, eu vou te falar. Acho que tem muito de política também, né?

NaTelinha - Mas em Amor e Revolução, você chegou a hesitar para aceitar o convite pela temática, alguma coisa assim? Ou você? Tocou o telefone, te apresentaram e 'vou correndo'?

Achei bacanérrimo. Eu vou te falar, eu achei bacanérrimo por duas razões. Primeiro, porque era uma personagem completamente diferente do que eu já tinha feito até então. Só isso já me, digamos que já me atraiu muito, né? E a outra coisa que tinha a ver com história. É o que eu te falei, quer dizer, eu faria uma história bíblica, a história de ter feito a história do Brasil.

Eu amo filmes baseados em fatos reais. Amo. Como espectadora. Então, assim, não amaria fazer algo assim. Então, Amor e Revolução foi isso. A gente teve workshop com essas pessoas que passaram por isso mesmo, essas torturas, essas coisas horrendas. A gente assistiu, a gente fez aula física e corporal com polícia de verdade, com os dublês, pra poder mexer em armas. As armas eram reais. Então, isso tudo foi de uma riqueza absurda. Eu amei, amei.

NaTelinha - Como é que foi o workshop, Patrícia? Se você puder relembrar um pouco dessa experiência com pessoas que viveram aquele tempo. Você lembra como é que foi o contato de você e do elenco com essas pessoas que vivem?

Foi que a gente assistiu palestras, cada um falou da sua vivência no período, do seu sofrimento, das suas torturas, do que passaram, enfim. E vou te falar que nós éramos um elenco relativamente grande, Amor e Revolução, e assim, todo mundo ficou num silêncio absurdo, ouvindo, e você notava que conforme os relatos iam acontecendo, a gente ia ficando completamente desestruturado, angustiado. A gente ficava, como é que pode essas pessoas terem passado por isso? E o outro lado era também a preocupação da responsabilidade de fazer personagens que pudessem honrar, digamos assim, e se aproximar daquilo que eles tinham vivido na vida real. Então, bateu uma insegurança generalizada, porque a gente ia fazer personagens reais, né? A gente sabia que as pessoas tinham passado por isso. É um pouco como aquela cena que eu te falei do estupro. Quer dizer, no fundo, você sabe que essas pessoas vivenciaram isso. Você fala: 'meu Deus, como é que pode?'. Se a gente acabava de gravar a cena, a gente falava: 'Gente, como é que essas pessoas sobreviveram a isso?'. E é uma coisa assim, dessas síndromes que dão depois de traumas e coisas assim, né? De soldados, muitos soldados têm, é um pouco isso, e no fundo eram pessoas absolutamente normais que estavam ali falando com a gente, e de uma generosidade absurda, porque falar nessas histórias, inclusive duas delas falaram, a gente nunca conseguiu verbalizar como a gente está verbalizando hoje.

Foi um divisor de águas ali, eu acho. E foi de extrema importância para a gente saber a responsabilidade que a gente tinha ao fazer uma novela do gênero, sabe? Não era só decorar um texto e ir lá e fazer. Tinha que lembrar de tudo que tinha se passado com essas pessoas. E que fosse com os nossos pais, nossos tios, enfim, né?

NaTelinha - E você conseguiu assistir a novela no ar? Você viu o produto?

Porque essa novela entrou no ar enquanto a gente gravava. Era difícil. E vou te falar, não é nem que a gente estivesse gravando, porque o horário era tarde, acho que ela entrava quase 23h. Mas é que aí a gente já estava muito cansado. A gente chegava em casa, o que a gente queria era tomar um banho, decorar o texto do dia seguinte. Comigo, Amor e Revolução foi mais difícil.

NaTelinha - Pela densidade do texto, você acha?

Sim, sim, sim. Sem dúvida.

NaTelinha - O Tiago é um bom autor, né?

Excelente autor, excelente. E realmente era bem mais difícil de decorar. Então, assim, eu ainda tenho a história até hoje, eu ainda tenho essa facilidade da fotografia, da memória fotográfica, mas como era um texto mais denso, não tão, porque a Pérola era uma coisinha assim, né? Vidas Cruzadas também era relativamente fácil.

NaTelinha - Mais solar, né?

É, é meu dia a dia, quer dizer, não é o que a gente costuma falar, então era mais orgânico. Já em Amor e Revolução, não, eu tive que falar como guerrilheira, eu tinha que falar como uma sofredora que estava sendo torturada pelo próprio marido, no caso da novela. E tudo era mais pesado, então era mais difícil de decorar. Por isso que aí a gente não conseguia assistir.

NaTelinha - E nesse meio tempo de Amor e Revolução até Z4, você nesse hiato também não teve nada que te seduziu?

Já nem lembro mais qual época. É tanta coisa. Eu acho que, na verdade, eu viajei de novo. É do mundo, né? Não paro quieta. É do mundo, é do mundo, tá vendo? Não paro quieta. Aí eu acho que foi isso, eu acho que foi bem por aí, assim, fui morar fora de novo, aí voltei. Meu filho já tava um pouquinho maior, ainda me dedicando 100% à maternidade. Aquela história que eu te contei, quer dizer, Amor e Eevolução, eu topei porque era um personagem pequeno, a princípio, e eu só topei fazer a volta da personagem, porque filhote já estava curtindo também, ele foi comigo para o estúdio.

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NaTelinha - Eu ia te perguntar se o seu filho sabe das novelas que você fez, se ele já assistiu cenas que você fez, se ele sabe de Pérola Negra, se ele tem consciência do que foi a novela, ele tem essa noção ou não?

Eu acho que hoje em dia ele já tem, porque ele percebe que até hoje as pessoas ficam muito, você nota nitidamente que Pérola pegou as pessoas de uma forma absurda, assim, porque as pessoas me tratam com o maior carinho. Meu filho tem consciência e tem o maior orgulho. É muito bonitinho.

NaTelinha - E ele pede para você: 'Mae, volta a fazer novela, mãe. Volta para a televisão'?

Na verdade, ele não cobra, mas ele diz que ele adoraria. Se eu fizesse, ele me daria a maior força. Ele curte, sim. Eu tive esses momentos com ele. A primeira vez que ele me viu na televisão como personagem foi justamente uma das reprises da Pérola Negra, ele tinha de 2 para 3 anos anos, e aí ele falou: 'Eu gosto dos dois mamães'. Deu um chabu na cabecinha dele, ele era bem pequenininho. E Amor e Revolução, ele já tinha só 5 aninhos

E eu levei ele pra fazer um teste.

NaTelinha - Ah, ele é aspirante a ator? Ou ele já é ator?

Não, quando ele era criança, ele queria entender um pouco aquilo. E aí eu pedi, na época, pra ver se ele podia fazer um teste. Acho que era pra Poliana. Acho que era pra Poliana. Só que quando ele foi fazer o teste, eu falei com ele, eu falei: 'Olha, primeiro que ele não tem experiência nenhuma, segundo que eu não ajudei ele a decorar texto. Ele fez por conta própria. E terceiro, que eu não quero que ele faça isso. Porque ele tá na escola'. Então eu já dei a letra. E ele não, realmente ele não tinha experiência nenhuma, enfim.

NaTelinha - Mas foi bem no teste?

Você acredita que ele fez direitinho? É, decorou o texto, muito bonitinho, e aí a primeira cena foi ruim, porque ele fez muito mecânico, e aí ela dirigiu, falou: 'Max, você tem que respirar, olha pra fora, você tá falando da chuva, você tá vendo a chuva'. Ele absorveu aquilo tudo, ele fez tão bonitinho, que eu falei: 'Gente, como é que esse menino tem jeito?'. Só que não, ele não quer isso.

NaTelinha - Ah, ele não quer, ele decidiu que ele não quer?

Não, eu acho que ele vai pra coisa, ele ama ciências, ele ama, ele é muito mais inteligente que a mãe dele. Eu acho, acredito piormente, por isso que eu digo, e eu falo com orgulho disso, eu falo que ele é mais inteligente que eu, porque assim, ele é mais interessado, ele é mais curioso, ele ama ciências. Ele fala de assuntos que eu jamais falaria na idade dele, estou te falando agora, ele está com 18, são outros 500, mas quando ele tinha 10, 11 anos, ele citava assuntos que, imagina... É que também tem muito de, essa juventude de hoje está muito esperta, né? O acesso à informação deles é tão mais fácil do que na nossa época, acho que isso faz com que eles sejam mais atentos, mais espertos mesmo, sabe?

NaTelinha - Você consome televisão? Você assiste televisão hoje em dia? O que te faz ligar a televisão?

Eu vou te falar que eu amo televisão. Eu amo aparelho de televisão. Eu assisto tudo na televisão. Filmes que eu sei que depois vão entrar no streaming, eu assisto no cinema. Quer dizer, nesse ponto eu sou bem caretinha, assim. E eu amo televisão e eu assisto novela ainda.

NaTelinha - Você assiste novela?

Tô assistindo Vale Tudo.

NaTelinha - O que você tá achando de Vale Tudo? 

Posso te falar que eu tô adorando? Tem muita gente detonando a novela por aí. Ela tá sendo comparada direto com a versão de 88. Não tem que comparar. Eu li um tempo atrás, a Renata Sorrah falou uma coisa muito linda. A Renata falou: 'Gente, vocês têm que se desprender do passado. Deixa essa Vale Tudo caminhar sozinha'. No fundo, é isso. Eu acho que você não tem que comparar. É o mesmo produto? É e não é. Porque é uma outra época. A Manuela faz maravilhosa. tá fazendo, tá sendo muito fiel ao que foi, mas tá colocando coisas de hoje pra ficar uma novela atual. Os atores, eu acho que foram extremamente bem escolhidos. Eu vou te falar, e eu não tô falando isso só pra puxar saco, nada disso, porque quando eu tenho que criticar, eu critico.

Eu acho que tem novelas muito fracas, assim, eu acho que às vezes eles pecam, e aí eu deixo de assistir, vou ser bem honesta. Mas essa eu tô assistindo e tô fiel, viu?

NaTelinha - Você assistiu a versão de 88, não?

Assisti.

NaTelinha - Mas já era noveleira, então.

Já, sempre fui. Adorava. Sempre gostei, sempre gostei de cinema. O meu primeiro momento de vislumbrar e fazer essa carreira, e seguir essa carreira, foi quando eu tinha 7 aninhos, quando eu fui assistir E.T. no cinema, com a minha mãe e meu irmão. E eu chorava copiosamente. E eu saí do cinema que minha mãe falou: 'Meu Deus do céu, as pessoas vão achar que eu te bati. Para de chorar, pelo amor de Deus'.

E aí, ali eu verbalizei pela primeira vez na vida, eu falei: 'Mãe, queria ser a Drew Barrymore'. Porque a gente tinha a mesma idade, né? Então, assim, pra mim, eu me identifiquei com ela, com o personagem dela, né? Irmãzinha, menina e tudo mais. E vou te falar, minha mãe me levou sete vezes para assistir E.T.

NaTelinha - Você decorou o texto do filme, o roteiro do filme já.

E toda vez eu chorava como se fosse a primeira vez. Meu irmão, obviamente, não quis ir mais, né? Ele foi uma vez e estava ótimo. Mas aí eu fiz com que ele me levasse.

NaTelinha - Vale Tudo você assiste na TV Globo, na TV linear, ou você deixa para assistir no Globoplay? Pesquisa importante para saber...

Você vai acreditar? Na TV linear.

NaTelinha - Isso é um comportamento que está em extinção, você sabe, né?

Super extinção, super extinção. Mas eu vou te falar por quê, porque se eu deixo para assistir depois, é mais difícil, sabe? De eu pegar e assistir depois. Até tem o Globoplay e tudo, mas eu sei que aí eu vou deixar de ver. Mas aí tudo bem, novela. Aí eu assisto daqui uma semana e eu vou pegar provavelmente o que estava acontecendo naquele ínterim. Mas assim, eu ainda sou daquelas telespectadoras.

NaTelinha - Tem mais algo que te faça ligar a TV?

Eu gosto muito de programas de auditório, eu gosto muito de assistir como os apresentadores se comportam. Então, assim, eu adoro assistir. Aí eu não assisto o programa inteiro, tá? Eu vejo só alguns pedaços, mas, por exemplo, eu gosto muito de assistir o Luciano. O programa dele é no domingo, o próprio Caldeirão com o Mion eu também acho muito bom, tem coisas muito boas dentro desses programas, eles arrasam em algumas coisas que eu acho bacana, pra elevar um pouco o nível da televisão brasileira, porque morando fora, morando na França, gente, a televisão aberta é de uma cultura, é um banho de cultura, é um banho de educação, sabe?

NaTelinha - Mas é uma TV chata a televisão francesa?

Nada, nada. Tem de tudo. Não, é espetacular. Você pode assistir desde uma série tipo CSI, incrível, atores maravilhosos, como você pode assistir teatro na televisão, isso tinha muito, eu assistia. E muita cultura. Tem um programa lá que eu amo que é um, o Stefano é um cara acho que foi professor, doutor, sabe tudo de história, e aí ele vai nos castelos, ele vai nos locais e ele explica em detalhes as histórias de determinados personagens. Então, ele fala de Napoleão, ele fala de personagens importantes da história francesa, sabe? E você vê, é de uma produção riquíssima, é brilhante. Então, nesse caso, a TV aberta no Brasil, acho que deixa bem a desejar, eu acho uma pena. Vou te falar, era um excelente canal, literalmente, para mostrar para o povo como você pode ter mais acesso às coisas, à cultura em geral.

Isso me dá um pouco de pena, sabe?

NaTelinha - E você morou na Bélgica também? Televisão belga é tão atraente quanto a francesa? Você lembra? Você assistia também ou não?

Sim, eu assistia. E vou te falar mais. O cinema belga eu acho muito bom, muito importante. Os irmãos Dardenne, por exemplo, moravam perto da cidade onde eu morava. E eu era louca pra conhecer eles, pra falar que era outra mulher que eu não sei. É que aí eu engravidei. Então, assim, né? Quer dizer, eu tava mais ou menos esperando engravidar, eu queria, eu tava nesse período, mas eu não, mas eu tinha essa vontade de conhecer os irmãos Dardenne, que são super cultos, fazem o cinema um pouco mais experimental, enfim, mas é, são bárbaros, e não, a televisão deles também é excelente, excelente, é que eu morava na fronteira com a Alemanha, então, por incrível que pareça, eu pegava mais a televisão alemã.

NaTelinha - Você entendeu alguma coisa da TV alemã?

Eu falo alemão. Mas aí é de família, eu tive sorte. É porque aí meus avós, meus bisavós vieram da Alemanha e meus avós continuaram falando alemão. Eu estudei num colégio alemão, meu filho tá num colégio alemão. Então, assim, a gente fala alemão. E aí eu tive, por coincidência, fui parar na fronteira com a Alemanha. Então se falava mais alemão do que francês.

NaTelinha - E a TV inglesa, que você também esteve lá, aí a gente já conhece um pouco mais, tem um pouco mais de contato, né?

Também, excelente. BBC, gente. Ah, você perguntou o que eu assisto em televisão aberta, eu assisto muito jornal. Muito, amo, mas aí eu acabo assistindo mais os telejornais em TV. Eu vejo mais Band News, a própria Record, eu vejo os canais fechados, digamos assim... Na própria Globo.

NaTelinha - E nos Estados Unidos? Obviamente, a gente também tem um contato maior ainda com a cultura americana. Televisão aberta nos Estados Unidos é até acessível, qualquer um consegue assistir. Então, você assistia bastante também.

Sim, na época ainda era a época onde a televisão era o mais comum.

NaTelinha - Hoje você está como corretora de imóveis, mas só pra deixar claro. Se pintar o convite, você volta?

Sim, inclusive eu tenho esse combinado com a imobiliária. Eles brincam comigo que eu sou a 'corretriz'. Eu tenho sempre que dar um jeito de fazer as duas coisas, mas nessa imobiliária, eu tenho muita parceria.

Se eu perceber que estou muito ocupada com teatro ou televisão, que seja, eu posso delegar. Os outros corretores ajudariam. Meus clientes não ficariam desassistidos.

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