Por que série sobre a morte de Daniella Perez se chama Pacto Brutal?
Muitas evidências do assassinato da atriz indicam que tudo foi um ritual satânico
Publicado em 26/07/2022 às 06:53,
atualizado em 26/07/2022 às 07:57
Pacto Brutal: O Assassinato de Daniella Perez estreou na HBO Max na última quinta-feira (21) e está no topo dos conteúdos mais assistidos da plataforma de streaming. A série documental que fala sobre o crime que chocou o Brasil em dezembro de 1992 recebeu esse nome porque, apesar dos assassinos, Guilherme de Pádua e Paula Thomaz, tentarem emplacar a versão de que não foi algo premeditado, legistas que analisaram o caso encontraram diversas evidências de que a atriz foi morta em um ritual satânico.
Apesar da tese não ter sido comprovada, os advogados da família de Daniella defenderam essa hipótese e a própria Gloria Perez, mãe da jovem e autora da novela De Corpo e Alma, acreditava na possibilidade de um rito macabro. No site que reúne os arquivos sobre a morte de Daniella existe uma sessão que explica os motivos de a polícia ter falado em magia negra. "Os indícios impressionaram peritos e policiais, e ganharam as manchetes do noticiário", diz trecho do texto, que cita manchetes dos jornais da época, que trouxeram o assunto à tona.
Um dos indícios apontados é o local onde o corpo foi encontrado: um círculo queimado. No interior dele, a queimada era mais antiga; nas bordas, era recente. Ela também estava ao pé de uma árvore. Segundo os especialistas, todo sacrifício humano acontece ao pé de uma árvore. Além disso, o crime aconteceu na última segunda-feira do ano, em noite de lua nova, a lua dos sacrifícios.
Na palma da mão direita da atriz havia uma mancha avermelhada que a perícia não conseguiu detectar de que substância era, mas descartou a possibilidade de qualquer substância conhecida, incluindo sangue. O tronco da árvore também estava manchado com a mesma substância, assim como alguns sacos de ensacar laranjas, encharcados dela.
O laudo pericial diz que a causa mortis foi anemia aguda (perda de sangue). No entanto, não havia uma única gota de sangue no local, e o sangue que estava no carro dos assassinos e foi lavado pelos funcionários do posto de gasolina não era em quantidade suficiente para justificar isso. As informações são de que eles estancaram o sangue com um lençol. De acordo com uma reportagem do jornal O Dia, feita na época, um porteiro do prédio onde Guilherme e Paula moravam disse que os viu jogando um lençol ensanguentado fora.
Na versão do assassino, a arma do crime teria sido uma tesoura, mas essa hipótese foi derrubada pelo laudo pericial. Os legistas chegaram a conclusão de que eles usaram um punhal, arma utilizada em sacrifícios dessa natureza. O primeiro golpe atravessou a traqueia. Segundo especialistas, em todo sacrifício, o primeiro golpe atravessa a traqueia. Os outros golpes foram dados formando um círculo em torno do coração.
Caso Daniella Perez: Assassinos tinham ligação com cultos e rituais de magia negra
Aos elementos identificados pela perícia, somou-se a conhecida ligação de Guilherme de Pádua e Paula Thomaz a rituais de magia negra. Quando se identificou à polícia, o assassino se declarou espírita, mas seu comportamento não corresponde aos costumes dessa religião, nem aos de nenhuma outra conhecida. Em depoimento que consta no processo, o policial Valdir, que fez parte da equipe de policiais que conduziu Paula para a delegacia, conta que, ao chegar, tentaram impedir que os policiais falassem com ela a pretexto de que "estava dormindo". Lá havia um homem que se apresentou como pastor da Igreja Mística, e a teria feito dormir "sob rezas". Este pastor, de acordo com o policial, relatou o que sentiu.
"No entender dele, o casamento do casal, Paula e Guilherme, não duraria seis meses tendo em vista que o local era um centro de espíritos maus", contou Valdir. No quarto do casal, havia a imagem, com a "forma" de um preto velho, onde era alimentada. Apesar da entidade não ser ligada à magia negra, a do casal foi feita sob encomenda, porque eles queriam pôr algo dentro dela. O que a perícia encontrou dentro dessa imagem não tem absolutamente nada a ver com o preto velho da umbanda.
Quando Guilherme de Pádua atuava, a imagem ia ao teatro dentro de uma sacola levada por Paula Thomaz. E era retirada para assistir o espetáculo, causando constrangimento e medo aos atores, no palco e nos camarins. A empregada, Luzinete, disse em depoimento que a imagem ficava no quarto do casal, e que ali depositavam comida, acendiam velas e faziam outras práticas. Essa imagem foi quebrada pela mãe de Guilherme de Pádua. Consta do processo que, ao saber que a polícia estava a caminho da casa, ela atirou a imagem no chão dizendo "isso vai prejudicar Guilherme ainda mais".
Havia um pacto entre o casal de assassinos, selado, inclusive, com tatuagens nos órgãos genitais de um e outro. O tatuador Helio Tatoo prestou depoimento e mostrou-se impressionado com a frieza de Paula Thomaz, que fez a tatuagem na região crural, dentro da virilha, sem anestesia.
Em entrevista à revista Astral em dezembro de 1992, Guilherme afirmou que tinha um mentor espiritual. Depois, descobriu-se que o bruxo chamava-se Chico Preto e era um feiticeiro de magia negra muito famoso em Montes Claros, no estado de Minas Gerais, onde tinha fama de "matador". O assassino o visitava frequentemente e participava de suas cerimônias.
Por fim, as cores dos dois eram vermelho e branco. Ambos usavam fitas vermelho e brancas presas no corpo, se casaram vestindo trajes dessas cores e a casa que estavam montando também tinha todos os cômodos em vermelho e branco. No dia do crime, Guilherme de Pádua usou uma camisa vermelha. Não se sabe com que cor estava Paula Thomaz, porque suas roupas nem sequer chegaram ao IML.
Especialistas dizem que os rituais de sacrifício na magia negra são de natureza bem diferente daqueles feitos pelas religiões africanas, quando paga-se ao santo depois que se recebe a graça. No pacto demoníaco, é o contrário: paga-se primeiro. Segue-se um período de grande tumulto e, depois disso, vem o tempo de colher a recompensa prometida.