Opinião

Série do Globoplay resgata polêmicas de Collor e fala de política com cara de novela

Caçador de Marajás mostra período da História do Brasil que parece saído da mais alucinada ficção


Série documental Caçador de Marajás, do Globoplay
Caçador de Marajás narra ascensão e queda de Fernando Collor de Mello na presidência da República - Foto: Reprodução/Globoplay
Por Walter Felix

Publicado em 24/10/2025 às 06:11,
atualizado em 24/10/2025 às 16:04

A série documental Caçador de Marajás, do Globoplay, disseca em sete episódios as polêmicas de Fernando Collor de Mello, de sua ascensão à presidência da República até a queda, em 1992. A atração dá ainda mais cara de novela a um período da História que parece saído da mais alucinada ficção.

São narrados os antecedentes que levaram Collor à presidência, desde a origem de sua família em Alagoas e a infância nos anos 1950; a polêmica campanha de 1989, enfrentando Lula; o controverso e ininteligível Plano Collor, de confisco das poupanças; e as denúncias feitas pelo irmão Pedro Collor (1952-1994), que culminaram no impeachment.

Com doc Caçador de Marajás, Globoplay produz o 2º impeachment de Collor

A direção é de Charly Braun, que assina o roteiro com Bruno Passeri, Guilherme Schwartsmann e Miguel Antunes Ramos. A produção é da Boutique Filmes e da Waking Up Films.

A Globo não se exime de culpa e confirma, na nova produção, a parcialidade e o já reconhecido favorecimento dado a Collor no último debate com Lula em 1989. Fica de fora, entretanto, a relação da emissora com a TV Gazeta de Alagoas, da família de Collor, que deixou recentemente de ser uma de suas afiliadas.

O primeiro episódio subverte a cronologia dos acontecimentos, mas o decorrer da série passa a seguir o trilho do tempo. Foi uma decisão arriscada, que poderia deixar a narrativa confusa, mas manteve-se a coerência e, ao mesmo tempo, o interesse do espectador, explorando algumas das principais polêmicas logo de cara.

A série combina uma impressionante pesquisa de imagens de arquivo, com achados preciosos, a depoimentos inéditos. Foram entrevistadas pessoas envolvidas diretamente no Governo Collor, incluindo familiares, amigos e funcionários, e também jornalistas e estudiosos.

É mostrado como o jornalismo operava na época, justificando sua alcunha de Quarto Poder. Reportagens e denúncias feitas principalmente pelas revistas Veja e IstoÉ influenciaram e modificaram o dia a dia da política nacional.

Rosane, Zélia e Thereza na série documental Caçador de Marajás, do Globoplay
Rosane, a primeira-dama; Zélia, a ministra da economia; e Thereza, a musa do impeachment - Fotos: Reprodução/Globoplay

A presença feminina é destaque, em especial a de Thereza Collor, viúva de Pedro Collor. Outras figuras centrais são a ex-primeira-dama Rosane Collor, de quem o político se separou em 2005, e a ex-ministra da economia Zélia Cardoso de Mello, que não gravaram depoimentos.

A trilha sonora é excepcional. Um acerto a escolha dos primeiros acordes de Pense em Mim, de Leandro e Leonardo, para a abertura – grande parte dos sertanejos, afinal, apoiaram Collor na época. A inserção de canções como Caça e Caçador, de Fábio Jr., e Morango do Nordeste , com Lairton e seus Teclados, reforçam o apelo folhetinesco do enredo.

Do romance entre Collor e Rosane aos conflitos familiares de todas as ordens, é como se estivéssemos assistindo ao melhor dos melodrama. Há espaço para rivalidade feminina, disputas por poder e brigas familiares, geradas pela suposta preferência da matriarca por algum dos filhos.

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Ainda que não fossem o foco da produção, resta certa curiosidade sobre que fim levou Zélia Cardoso de Mello; os últimos anos de Pedro Collor até morrer de câncer em 1994; e detalhes do misterioso assassinato de PC Farias (1945-1996) – personagens independentes que mereciam documentários à parte.

Caçador de Marajás reconstitui um dos capítulos mais turbulentos da política brasileira. Há tanto para contar que, ao final, sete episódios parecem pouco. A TV bem sabe que dramas familiares, esquemas de corrupção e até o famoso “quem matou?” costumam render mais de 200 capítulos.

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