Raul Seixas: Eu Sou: Ravel Andrade brilha em série sem grandes apelos
Atuação do protagonista e personalidade do biografado garantem o interesse pela atração do Globoplay
Publicado em 11/07/2025 às 13:15
Raul Seixas: Eu Sou começa com uma narração em off. Mesmo o espectador mais atento pode acreditar tratar-se de uma gravação feita pelo personagem real, ícone da música brasileira que completaria 80 anos no fim de junho. Quem fala, entretanto, é Ravel Andrade, que encarna o roqueiro com perfeição na série biográfica produzida pela O2 Filmes e lançada pelo Globoplay.
Criada por Paulo Morelli, que divide a direção com o filho Pedro Morelli, Raul Seixas: Eu Sou é uma série sem grandes arroubos e de poucos apelos. Seu chamariz é mesmo a personalidade do biografado, que mantém o interesse da audiência quase 36 anos após sua morte, vítima de uma pancreatite agravada pela diabetes, em agosto de 1989.
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Oito episódios inteiramente dedicados à trajetória do maluco beleza, sem espaço para entrechos paralelos, resultam em uma narrativa um pouco arrastada. A duração, por outro lado, permite explorar sem atropelos cada fase da vida do artista.
Há boas sequências lúdicas e metafóricas – como a visão de um disco voador e os “encontros” com Dom Quixote, Lampião, Jesus Cristo e Elvis Presley em um elevador. É interessante como a atração explora e embaralha a cronologia dos acontecimentos para relacionar o início, o fim e o meio da história do pai do rock brasileiro.
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Outro acerto é mostrar o processo de concepção das letras mais marcantes do repertório do cantor com seus parceiros musicais Paulo Coelho e Claudio Roberto. O repertório é bem explorado para ilustrar dilemas e momentos de sua carreira e vida pessoal – A Maçã e Medo da Chuva, por exemplo, ajudam a traduzir os amores do protagonista.
Mas é mesmo a atuação de Ravel Andrade que faz a série valer a pena. Mais do que alcançar uma semelhança física com Raul Seixas, o ator surpreende justamente na voz – maior desafio de qualquer biografia audiovisual de um ícone da música e onde elas frequentemente escorregam.
Ravel não apenas dubla muito bem os números musicais como reproduz a voz de Raul com perfeição. O ator alcançou o mesmo sotaque, entonação e timbre, resultado de um estudo minucioso que também lhe permitiu interpretar com segurança cada momento e conflito do personagem.
A ótima atuação contorna o fato de Ravel aparentar ser mais jovem que Raul em suas fases mais maduras — detalhe que a caracterização, por vezes pouco convincente, não é capaz de remediar. Isso também vale para alguns outros atores, como João Pedro Zappa, bastante esforçado, mas levemente caricato na missão de interpretar Paulo Coelho.
A amizade conturbada e musicalmente prolífica entre os dois é outro ponto alto da atração. Os episódios narram essa e outras relações do protagonista, relembrando desde a infância na Bahia; a ascensão de produtor musical a cantor de sucesso; a utopia de uma sociedade alternativa; o declínio na carreira, associado ao consumo de drogas; e a morte aos 44 anos, em São Paulo.
Raul Seixas: Eu Sou narra a trajetória do artista e do homem, por vezes falho, com foco em sua busca por liberdade e ímpeto por desafiar convenções, o que o transformou em mito. A série é uma jornada contida, quase introspectiva, que contrasta com a figura exuberante e expansiva que busca retratar.
Assista ao trailer da série Raul Seixas: Eu Sou