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Glória Perez mostra força e lucidez indescritíveis em doc da HBO Max

Pacto Brutal: O Assassinato de Daniella Perez tem cinco episódios disponíveis


Glória Perez falando em foto montagem com a filha Daniella Perez
Glória Perez revisitou crime que vitimou filha há 30 anos - Foto: Reprodução/HBO Max

Com todos os cinco episódios disponíveis desde a última quinta-feira (28) pela HBO Max, o documentário Pacto Brutal: O Assassinato de Daniella Perez mostra uma Glória Perez dona de uma força e lucidez realmente impressionantes. Indescritíveis. Revisitar a chocante morte da própria filha e recordar detalhes nos faz pensar como público: de que maneira ela conseguiu suportar tudo isso, assistindo o sensacionalismo da imprensa, tendo que terminar uma novela e ainda fazer o papel da polícia lá em 1992?

Confesso que pouco sabia acerca do crime que vitimou Daniella Perez antes do material da HBO Max ser lançado. Sabia, claro, que Guilherme de Pádua havia sido o autor do assassinato e Paula Thomaz, a coautora, mas sempre ficava com uma pulga atrás da orelha sobre qual teria sido a motivação do crime.

Assistindo aos episódios, a dúvida persiste. Se para mim é incompreensível um assassinato por conta de uma "diminuição de importância" de um papel na novela das oito, imagina para a mãe da vítima? Ao longo de toda a série, vemos uma Glória combativa, que parece não ter tido tempo para viver o luto de uma perda desse tamanho.

A série é chocante do começo ao fim. Primeiro, por mostrar fotos que são um soco no estômago logo de cara: Daniella Perez morta e estirada no chão, de vários ângulos diferentes, vítima de uma emboscada covarde, doente e que ninguém consegue entender como alguém pode fazer tamanha crueldade.

Me peguei imaginando como a dupla acreditou que esse crime poderia ser uma "ideia brilhante" ou a resolução de todos os problemas. Quem teve a ideia de que matar uma menina de 22 anos de idade poderia ser algo que lhes ajudassem em alguma coisa? Pacto Brutal também impacta ao apresentar evidências dos motivos que levaram a série ter esse título.

Guilherme de Pádua e Paula Thomaz planejaram uma morte com um ritual bizarro de macabro. Um "sacrifício" que envolvia elementos místicos como lua cheia, tatuagem, círculo de fogo e devoção a divindades. Uma psicopatia absolutamente sem precedentes.

Glória Perez teve força para lutar por mudança de lei

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A autora da Globo tirou forças sabe-se lá de onde para conseguir uma mudança na Lei de Crimes Hediondos, depois de recolher, entre 1993 e 1994, mais de um milhão de assinaturas. Isso ao passo que convencia os frentistas de um posto de gasolina a darem seus depoimentos depois de saber que viram Guilherme agredindo Daniella. Ficou por horas esperando ser atendida, tomou chuva, implorou e investigou como a própria polícia não foi capaz de fazer.

Nem depois que a filha morreu, Glória teve paz. Não faltaram tentativas de roubo nos restos mortais da protagonista da novela De Corpo e Alma. Como a autora bem destacou, foram tentativas de continuar matando sua filha. Diariamente, Daniella morria.

Com uma clareza, repito, impressionante, ela também chegou a dizer que sabia que as punhaladas que mataram Daniella, na verdade, tinham outro endereço: ela mesma.

Glória também dá declarações reflexivas. Não há como antever quando viveremos o último momento com quem amamos. Depois daquele que pode ser o dia mais triste de nossas vidas, tudo continua igual no mundo. As pessoas saem para trabalhar, comer e passear.

Tudo pode mudar em fração de segundos e numa naturalidade bastante triste, afirmou que vive com uma "felicidade possível". Perdeu a felicidade em sua plenitude com a morte de Daniella, e que nunca mais voltará a se sentir feliz como até a data de 28 de dezembro de 1992.

A capacidade de Glória em verbalizar sentimentos certamente a ajudou a ser a novelista que é. Revisitar o assassinato de Daniella Perez não é só colocar um ponto final no caso, mas também um alerta para quem assistiu: viva a vida que quer levar, ame e faça o que sentir vontade e adie o menos possível seus planos. Faça o que sua intuição diz.

Difícil não cair no jargão de que a vida é um sopro. Mas, infelizmente, ela é mesmo.


Thiago Forato é jornalista, assina a coluna Enfoque NT desde 2011, além de matérias e reportagens especiais no NaTelinha. Forato também é autor do blog https://parlandodepalmeiras.com.br. Converse com ele pelo e-mail thiagoforato@natelinha.com.br ou no Twitter, @tforatto 

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