Vale Tudo tem estreia promissora, com estilo próprio e respeito à primeira versão
Primeiro capítulo do remake focou no drama, e teor político ficou em segundo plano; atriz foi destaque

Publicado em 31/03/2025 às 23:30,
atualizado em 01/04/2025 às 10:10
Cercada de expectativas tanto quanto de desconfianças, a nova versão de Vale Tudo estreou nesta segunda-feira (31) na Globo. Principal projeto em meio às comemorações dos 60 anos da emissora, a novela teve um começo promissor, unindo um estilo próprio com o devido respeito à obra original.
Vale Tudo, o clássico de 1988, foi “a novela das novelas”, como a própria Globo vem afirmando desde que anunciou o remake. A definição permite dimensionar a oportunidade – ou problema? – entregue nas mãos de Manuela Dias, responsável pela adaptação da trama para os dias atuais.
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A julgar pela estreia, a autora optou por um bom caminho. Diante da ousadia de mexer em um projeto que chegou tão próximo da perfeição, a nova novela não caiu na armadilha de se prender ao que já foi feito, como uma mera imitação. Há, ao mesmo tempo, certo frescor e também a essência da primeira versão.
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O remake tem diálogos mais longos, que externalizam emoções e sentimentos dos personagens. Agora, a intenção parece ser deixar mais claras as intenções de cada um deles, ainda que a opção de, por vezes, deixá-los subentendidos fosse eficiente no original e soasse até mais interessante.
Ao optar por longas conversas entre os personagens, Manuela abriu mão das falas rápidas, mordazes e de cortes bruscos, estilo característico do autor principal da novela, Gilberto Braga (1945-2021) – que criou Vale Tudo em parceria com Aguinaldo Silva e Leonor Bassères (1926-2004).
É certo que a intenção da Globo, ao escalar uma autora consolidada, de estilo próprio, era garantir que a nova Vale Tudo não fosse apenas uma atualização ou refilmagem do roteiro original. Há a evidente intenção de levar ao ar um projeto com algum grau de novidade.
Discussão sobre honestidade deixa de ser mote e vira pano de fundo
A nova Vale Tudo enfoca os dramas e os conflitos entre os personagens e abranda o teor político, marca principal da novela de 1988. Está mais sutil a discussão sobre ética e honestidade, antes o grande mote da trama e agora uma espécie de pano de fundo para contar aquelas histórias.
Nessa mudança de tom, Ivan (Renato Góes) parece mais um sujeito azarado do que propriamente o retrato de um brasileiro envolto nos problemas econômicos do país – algo muito mais evidente da outra vez, quando o papel coube a Antonio Fagundes.
Por outro lado, a agenda social de 2025 não é ignorada. Houve uma excelente adaptação da briga entre Raquel (Regina Duarte) e Rubinho (Júlio Andrade): desta vez, a heroína que antes apenas apanhava revidou uma agressão e expôs que a violência contra a mulher não pode ser tratada como banalidade.
A direção de Paulo Silvestrini está atenta aos desejos da audiência. As cenas são essencialmente dinâmicas e mais coloridas que de costume. Não há aquela iluminação escura a que a Globo aderiu nos últimos anos, afastando a “cara de novela”, o que vem motivando reclamações recorrentes.
Elenco tem atuação instável de Bella Campos e ótima composição de Taís Araujo
Não apenas a autora, mas também o elenco enfrenta uma prova de fogo ao encarnar personagens que entraram para a história da TV com atuações marcantes. No front, está Bella Campos, cujos trabalhos apresentados até aqui contrastam com a missão de pegar uma personagem que foi de Gloria Pires.
No primeiro capítulo, o saldo de Bella foi positivo. O momento mais problemático foi a discussão de Maria de Fátima com o avô, Salvador (Antônio Pitanga). Foi o sinal de que se a jovem atriz segura a onda nas cenas mais corriqueiras, poderá comprometer aquelas que lhe exigirem mais força dramática.
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Como as chamadas já antecipavam, Taís Araujo está ótima como Raquel. É uma composição oposta àquela feita por Regina Duarte, mais histriônica. Um caminho tão diferente, mas que encontra o mesmo resultado: a entrega de uma personagem que comove o público de imediato.
Sabe-se que o grande fantasma a ser enfrentado pelo remake de Vale Tudo é justamente a novela que o originou. É uma guerra que já começa praticamente perdida, e a solução, sabiamente encontrada pelos envolvidos, não é superar, mas se unir a esse “inimigo”, passando para o lado dele.
Quando tocam os primeiros acordes de Isto Aqui O Que É?, tema marcante da primeira versão, percebe-se o casamento entre releitura e homenagem, dosados com boa medida. Se seguir esse caminho, talvez o remake da “novela das novelas” tenha mesmo sua razão de existir.
Assista à abertura do remake de Vale Tudo: