Enésimo The Voice expõe carência de bons talent shows na Globo
Considerando versões para crianças, adultos e idosos, programa já teve 21 edições em 11 anos
Publicado em 07/04/2023 às 05:17
A Globo coloca no ar, a partir de domingo (9), mais uma temporada do The Voice. A nova edição Kids, cujos participantes são crianças e pré-adolescentes, entra no ar pouco mais de três meses após o fim da temporada voltada para adultos, que a emissora finalizou em 29 de dezembro, no horário nobre. A aposta em sucessivas temporadas do programa expõe a carência da emissora por bons talent shows.
No ar desde 2012, o The Voice Brasil já teve 11 temporadas com participantes adultos. A versão sênior, lançada em 2021, voltou ao ar em 2022, ambas exibidas nas tardes de domingo. Já o Kids, que estreou em 2016, chega à sua oitava temporada. Somando todas essas vertentes, a Globo produziu, em 11 anos, 21 edições do programa.
É algo parecido com o que a Band faz com seu MasterChef. Além de lançar uma temporada seguida da outra, o reality show culinário também já ganhou versão com crianças, idosos e com profissionais já gabaritados da gastronomia. Foram tantas edições que o programa, lançado no Brasil com grande repercussão em 2014, saturou rápido e já não tem, hoje, o alcance de outrora.
Só que, mesmo explorado à exaustão, o MasterChef ainda mantém uma parcela de fãs. Ainda é um bom programa, capaz de segurar o telespectador. O mesmo não se pode dizer das apostas da Globo no mesmo filão. O Mestre do Sabor, por exemplo, começou em 2019 e, após uma insistência do canal em emplacá-lo, finalmente saiu do ar de vez no ano passado, sem deixar saudade.
Globo aposta em linha "chapa branca" e mata seus talent shows
Faltou tempero no Mestre do Sabor, mesmo problema enfrentado pelo Minha Mãe Cozinha Melhor que a Sua, finalizado na semana passada. Para impulsionar essa atração, a Globo tirou da Band a chef Paola Carosella. Conhecida pelo jeito durão no MasterChef – e estava aí grande parte de seu carisma –, ela apareceu no novo programa sem aquele charme, bem boazinha com os competidores da vez.
Está aí o grande problema compartilhado por todos os talent shows da Globo. Não haveria problema em sucessivas temporadas do The Voice se a atração ainda despertasse algum interesse e não parecesse, a cada edição, uma repetição do que já foi ao ar. Não há surpresas e sobressaltos; apenas bons cantores que mostram seu talento e, logo depois, voltam para o anonimato.
Isso porque a emissora aposta em uma linha “chapa branca”. É raro ver um técnico criticando um calouro no The Voice, como sempre acontece em programas do tipo – vide Ídolos, Astros e outras atrações da concorrência. Isso se repete nos programas culinários e até em competições mais criativas, como o The Masked Singer – único dessa leva a alcançar alguma repercussão, baseada no mistério da identidade dos participantes.
É como se, do último ao primeiro lugar, todos os participantes selecionados pela Globo fossem bons demais, enquanto que boa parte da graça de um talent show é ver os deslizes de quem não manda tão bem assim. Mesmo os eliminados costumam ser vastamente elogiados pelos técnicos. Não há críticos, conflitos, nada.
Esse jamais poderia ser o foco do The Voice Kids, é claro – ninguém ia querer ver criancinhas tendo seus sonhos destruídos na TV. Por outro lado, talvez essa linha apática adotada pela emissora explique por que quase nenhum talent show de sua grade alcança grande repercussão – o que, fatalmente, leva até mesmo os respectivos campeões ao ostracismo.