Record 'quebra' promessa de guerra com a Globo e empurra futebol para mais tarde
Estaduais mais importantes do país chegam a final, e com horários ainda mais tardios
Publicado em 30/03/2022 às 04:00,
atualizado em 30/03/2022 às 09:33
Sonho antigo da Record, os campeonatos estaduais mais importantes do país terão a primeira partida da grande final exibida a partir das 21h40 nesta quarta-feira (30) na emissora. Horário bem diferente daquele prometido para arrematar o Campeonato Brasileiro há mais de uma década, quando as partidas começavam até às 22h e revoltavam os torcedores, que precisavam se deslocar até os estádios, ficando sujeitos a perderem o transporte coletivo para irem embora.
Claro que estamos falando de mais de 10 anos de diferença. Em 2010, a Record tentava, bem como outras emissoras, tirar o Brasileirão da Globo no triênio 2012-2014 e fez uma série de promessas para o então Clube dos 13, que não demorou muito para ser implodido.
Naquele ano, conforme relatou a Folha de S.Paulo em reportagem de outubro de 2010, a Record prometia cobrir o valor oferecido pela Globo, negociar adiantamentos com os clubes, mas a mudança mais drástica seria nos horários dos jogos. A "promessa de campanha" era que as partidas que aconteciam às 22h, passassem para às 20h30 ou no máximo às 21h. O que será que aconteceu?
Quando teve a oportunidade, Record fez ainda pior
Desde o ano passado com o Carioca nas mãos e a partir de 2022 também com o Paulista, a Record teve - e ainda tem -, a possibilidade de fazer diferente, pensar nos torcedores, coisa que ela parecia fazer, pelo menos até antes de ser a dona da bola.
Crítica ferrenha da Globo por adotar a práticas de jogos tão tarde em outros tempos, a Record conseguiu empurrar as partidas para mais tarde, às 21h40. Na Globo, já há alguns anos, é padrão que as pelejas se iniciem às 21h30, desde que a Conmebol instituiu esse horário como padrão em 2018 na Libertadores e Sul-Americana. A partir dali, a Globo padronizou em outras competições.
O atraso para começar a final fez até com que o presidente do São Paulo, Júlio César Casares - por sinal, um ex-executivo da própria Record -, protocolasse um pedido para o Governo do Estado e a Prefeitura para viabilizar uma operação especial nos trens e metrô nesta quarta. A estação São Paulo-Morumbi fecha por volta da meia-noite. O mandatário tricolor anunciou acordo para que a linha amarela funcione em esquema especial (horário estendido).
Pergunto: hipocrisia da Record ou ela simplesmente percebeu que é preciso pensar na programação e na valorização do produto que ela exibe? Uma pena, no entanto - repito -,que tenha empurrado para mais tarde. 10 minutos fazem toda a diferença, vide a movimentação da diretoria tricolor para fazer o transporte funcionar em um horário que ele deveria estar fechando. Ou fechado.
Desejo é quebrar o monopólio ou somente que ele mude de mãos?
Há 10 anos, quando a Record era dona dos direitos exclusivos das Olimpíadas de Londres, houve casos parecidos que logo atestaram que a emissora da Barra Funda nunca quis quebrar o tal "monopólio da Globo". Apenas queria o monopólio para ela.
Prova disso é que muitos veículos reclamaram naquelas Olimpíadas. A Record regulava liberação de imagens e replays e entrou em atrito também com o SporTV por locações lotadas e falta de câmeras exclusivas.
Uma década se passou. E prevalece a máxima de que é fácil criticar até quando as coisas mudam, e quem tem o poder é você.
Thiago Forato é jornalista, assina a coluna Enfoque NT desde 2011, além de matérias e reportagens especiais no NaTelinha. Forato também é autor do blog https://parlandodepalmeiras.com.br. Converse com ele pelo e-mail thiagoforato@natelinha.com.br ou no Twitter, @tforatto