Entrevista exclusiva

Ator de 7 Prisioneiros conta que a mãe sofreu com trabalho escravo: “Vinguei a história dela”

Bruno Rocha falou sobre o crescimento do streaming, a desigualdade racial na arte e o desgoverno

Bruno Rocha está em 7 Prisioneiros da - Foto: Bruna Massarelli
Por Taty Bruzzi

Publicado em 13/12/2021 às 05:30:06,
atualizado em 13/12/2021 às 11:18:32

Lançado em setembro no Festival de Cinema de Veneza, e em novembro na Netflix, 7 Prisioneiros conta a história de um grupo de jovens que cai em uma rede de trabalho escravo. Intérprete do Samuel, Bruno Rocha revelou com exclusividade ao NaTelinha que teve uma conexão muito forte com a personagem cuja história se assemelha a da sua mãe, e que ele só descobriu isso durante as filmagens.

“Ela veio do interior para São Paulo com proposta de emprego para trabalhar de faxineira na casa de uma mulher que a trancava, não pagava o combinado, a fazia trabalhar por horas sem parar. Ela viveu esse terror e, de alguma forma, eu consegui vingar a história dela ali”, relata.

“Ela se reergueu, construiu sua família e, hoje, é realizada. O Samuel, por outro lado, perde as esperanças e continua vivendo aquele pesadelo da escravidão, assim como muitas pessoas que não conseguem sair dessa situação. Espero, de verdade, que isso mude. E que a igualdade seja, de fato, uma realidade”, acrescenta.

O ator destaca a importância do tema abordado na produção que tem, ainda, Rodrigo Santoro no papel de um traficante de pessoas. “7 Prisioneiros é um filme denúncia.

Apesar de ser ficcional, ele tem um caráter quase documental. As pessoas se identificam e criam empatia com as personagens. E isso é muito importante, porque quem assiste consegue refletir o enredo na realidade em que vivem”, avalia.

“Recebi muitas mensagens de pessoas dizendo que nem sabiam que ainda existia o trabalho análogo a escravidão nos dias atuais, e que iriam ficar ‘atentas’. A arte tem esse propósito, né? De trazer à tona questões que são esquecidas, ou por vezes apagadas, mas que estão ao nosso redor e não conseguimos enxergar”, analisa.

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Ator critica o descaso do governo com a nossa cultura

Bruno Rocha se diz feliz com o crescimento das plataformas de streaming aqui no Brasil, aquecendo o mercado audiovisual e abrindo portas para os profissionais da área, que não são poucos.

“Eu acho incrível a forma como os streamings cresceram no Brasil. Grandes produções, com grandes artistas sendo produzidas. Temos muita gente talentosa no audiovisual brasileiro: autores, diretores, roteiristas, atores e atrizes que só precisam da famosa ‘oportunidade’”, fala.

“Esse incentivo das plataformas é essencial! Mas dobraria as produções se nosso governo desse atenção para a cultura também. Imagina que sonho a nossa cultura sendo movimentada o tempo todo. Mas muita coisa tem que mudar para isso acontecer. Tenho esperança que em 2022 as coisas melhorem”, torce.

O ator concorda que a cultura foi fundamental para nossa saúde mental durante a fase mais crítica da pandemia. No entanto, tem dúvidas de que a sonhada valorização do artista virá após essa fase. “Eu prefiro acreditar que sim, que a cultura ainda vai ganhar seu devido valor. Mas pensando nesse atual governo e da forma como ele lida com a cultura, acho difícil”, lamenta.

“Não dá mais pra ter pessoas no governo que desvalorizam nossa educação, nossa arte e nossa cultura. São pilares importantíssimos para construir um senso crítico social, para gerar renda e trabalho, para tirar pessoas de situações precárias”, dispara.

“Já entendemos que a cultura é importante. E, agora, quando vamos entender que votar em candidatos que prezam os direitos mínimos das pessoas também é?”, questiona.

Bruno finaliza a conversa chamando a atenção para a diferença de papéis destinados a atores pretos e brancos, e dando a dica do que fazer para que esse cenário mude um dia.

“Vamos mudar esse cenário dessa desigualdade racial na arte ouvindo as pessoas pretas. Nos deixando contar nossas histórias de verdade. Falar sobre nosso mundo, nossas vivências e experiências. E quando digo isso não é só pra falar de racismo e sofrimento”, desabafa.

“A gente casa, tem filhos, somos ricos, somos pobres, sofremos por amor, temos amigos e somos reais. Acredito que quanto mais entenderem que não somos estereótipos de uma sociedade inventada, mais ocuparemos lugares de personagens complexos e verossímeis”, conclui.

 

 

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