Por que O Agente Secreto é diferente de todos os filmes sobre a ditadura militar
Apesar de ambientado durante o regime, novo longa com Wagner Moura pouco tem a ver com Ainda Estou Aqui
Publicado em 07/11/2025 às 06:11
Mais um filme sobre a ditadura? A crítica precipitada feita a O Agente Secreto não se sustenta após se assistir ao novo filme de Kleber Mendonça Filho, com Wagner Moura no papel principal. Escolhido do Brasil para representar o país no Oscar 2026, o longa que chegou às salas nacionais nesta semana em muito se difere de outros títulos sobre o período do regime militar.
É inevitável uma comparação com Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, também ambientado nos anos 1970 e grande acontecimento do cinema nacional nos últimos tempos – e responsável pelo Oscar de melhor filme internacional neste ano. Entretanto, além desses fatores, os dois filmes em pouco se parecem.
+ O Agente Secreto faz ode ao cinema e ao Recife em um filme de subtextos
Em Ainda Estou Aqui, a ditadura é tratada de forma mais explícita. É a grande vilã da história de Eunice (Fernanda Torres) e Rubens Paiva (Selton Mello). Não é menos importante em O Agente Secreto, mas é tratada de forma mais implícita, que atravessa a história quase como um pano de fundo.
Também é uma história totalmente de ficção, com apenas passagens inspiradas na vida real, sem presença de personagens históricos. Assim, difere-se do filme do ano passado e também de outros títulos como O que é Isso, Companheiro? (1997), Batismo de Sangue (2006), Zuzu Angel (2006) e Marighella (2019).
Por optar pela ficção, aproxima-se mais de Pra Frente, Brasil (1982), O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias (2006) e Tatuagem (2013), entre outros. Ainda assim, o desenvolvimento da premissa se distancia de cada um desses títulos, seguindo um caminho próprio.
O Agente Secreto mistura gêneros como ação, suspense e terror
O Agente Secreto também mistura e brinca com gêneros como suspense, ação e terror, em vez de focar apenas no drama, mais habitual em filmes sobre o regime militar. Há ainda espaço para elementos fantásticos e simbólicos, com uma tendência para o sobrenatural.
+ De Tubarão a Profecia: Veja quais filmes aparecem em O Agente Secreto e onde assistir
As locações também diferem o novo filme de anteriores. O contexto do Recife, terra do diretor e recorrente em seus trabalhos, tem grande importância. O tubarão que surge na praia, a lenda urbana da “perna cabeluda” e a reconstituição da capital pernambucana nos anos 1970 têm destaque.
Em filmes sobre a ditadura, a trilha sonora costuma apostar em nomes da MPB da época que sofreram com a repressão. Ainda Estou Aqui subverteu essa tendência ao investir na Jovem Guarda – movimento mais apartidário, por não abordar a política do período – e trouxe como tema principal É Preciso Dar um Jeito, Meu Amigo, com Erasmo Carlos (1941-2022).
Já em O Agente Secreto, as músicas são mais regionais. Há gravações de Lula Côrtes (1949-2011), Zé Ramalho, Ângela Maria (1929-2018), Waldick Soriano (1933-2008), Orquestra Nelson Ferreira e a Banda de Pífanos de Caruaru, entre outros nomes.
Assista ao trailer de O Agente Secreto, em cartaz nos cinemas: