Publicado em 27/01/2022 às 04:33:00,
atualizado em 27/01/2022 às 10:32:18
As plataformas de streaming que estão no Brasil já começaram a observar de perto os movimentos das eleições, previstas para o mês de outubro. Embora nenhum serviço atue diretamente na área do jornalismo, todos são conscientes que o resultado das urnas poderá mudar os rumos do mercado nacional a partir do ano que vem. Para essas multinacionais, uma vitória de Lula, do PT e atual líder nas pesquisas, pode representar uma reviravolta na legislação atual.
O NaTelinha conversou com ao menos dois executivos de plataformas diferentes e a resposta foi a mesma. As empresas não irão se envolver diretamente na campanha de ninguém, mas acompanham de perto as movimentações e querem conversar com os candidatos para entender os projetos na área de produção de conteúdo. Vale ressaltar que, entre todas as plataformas gigantes no país, apenas o Globoplay é nacional.
Embora ninguém fale oficialmente por ser considerado um tema espinhoso, ao menos três plataformas preferem o atual governo de Jair Bolsonaro. Sem nenhum tipo de ideologia ou opinião referente a temas controversos e espinhosos, a alegação de bastidor é que o modelo de negócios da atual gestão, para o streaming, é melhor. Bolsonaro não fez nenhum movimento que "atrapalhasse" (entre aspas mesmo) os ganhos e dividendos dessas empresas, é a visão delas.
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A reportagem ouviu de uma executiva responsável pelo conteúdo de uma gigante do streaming que o mercado está confortável com o atual modelo e uma mudança poderia provocar marcas profundas no universo das produções nacionais. Ela afirmou ainda que, se houver uma grande reviravolta, é possível até que alguns desses serviços possam optar por não manter-se no Brasil por se tornar inviável.
O medo dos streamings, de uma possível gestão de Lula, é que aconteça com as plataformas o que ocorreu em outros governos do PT com canais de TV por assinatura. Uma nova legislação passou a exigir que cada empresa produzisse uma determinada quantidade de conteúdo nacional original para se manter instalado no país. A mudança foi muito criticada à época por multinacionais e elogiada por artistas e pelo setor audivisual em geral.
O NaTelinha conversou com representantes da área e todos foram unânimes ao dizer que este tipo de lei fortalece a cultura nacional, além de gerar empregos e receitas para o país. Mas existe resistência por parte das gigantes internacionais porque as obriga a montar uma estrutura própria por aqui. Por isso, parte do setor defende que, numa mudança desse tipo, o governo federal deveria passar a investir pesado em incentivos fiscais nos moldes da Lei Rouanet.
A Netflix tem seu segundo mercado no Brasil em número de assinantes, segundo relatórios internos da própria empresa, atrás apenas dos EUA. Mas o investimento nacional não figura nem no top 5, tanto em quantidade de produções, quanto em cifras. Isso porque, a lei brasileira ainda não toca nas plataformas quando o assunto é obrigatoriedade de conteúdo original.
A Coreia fez recentemente esse movimento e obrigou a gigante a investir milhões de dólares no país se quisesse continuar por lá. Séries como Round 6, sucesso mundial, só ganharam vida por conta dessa obrigatoriedade. Com isso, o audiovisual do país passou a ser cada vez mais conhecido, em caminho semelhante ao que pode acontecer com o país.
Os dois principais concorrentes ao posto de presidente para, a partir de 2023, têm visões antagônicas do assunto. Enquanto Bolsonaro não fez qualquer movimento para legislar sobre o tema e sequer mexeu no imposto dessas grandes plataformas, o PT pensa diferente. Quando esteve no poder, muitas leis de incentivo foram criadas, mas com contrapartidas bastantes rígidas.
Lula não se pronunciou oficialmente sobre a intenção de exigir horas de conteúdo original das plataformas, mas no núcleo duro do partido, todos acreditam que isso irá constar, inclusive, no programa de governo. Outros candidatos como Ciro Gomes também devem defender a pauta, já Sérgio Moro e João Doria possivelmente seguirão no caminho oposto.
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