Netflix e Globo costuram acordo para produção de "novela mais cara da história"
Empresas costuram parceria para uma novela mundial
Publicado em 29/03/2021 às 06:05,
atualizado em 30/03/2021 às 15:33
A Netflix quer que sua primeira novela brasileira seja grandiosa e global. Para isso, a plataforma de streaming pretende investir a bagatela de US 50 milhões para o primeiro trabalho neste tipo de produção, além de ter aberto negociações para uma parceria envolvendo a Globo e as conversas já estão adiantadas. Os direitos mundiais do folhetim pertenceriam a Netflix e o Globoplay exibiria em primeira janela no Brasil.
Segundo apurou o NaTelinha, a ideia da primeira novela brasileira ser uma megaprodução global partiu diretamente da Netflix americana, que vê como possibilidade de aumentar a gama de lucro da plataforma se este formato funcionar dentro do catálogo de conteúdo original. E o primeiro passo para este investimento foi com o desligamento da diretora de dramaturgia da empresa no Brasil, Maria Ângela de Jesus, que era contra a produção de novelas.
Em entrevista exclusiva ao site, o vice-presidente de conteúdo da Netflix para a América Latina, Francisco Ramos, já havia confirmado o interesse em produzir novelas num futuro próximo, mas não chegou a abrir o jogo sobre os planos neste sentido. Fontes ouvidas pela reportagem afirmaram que os estudos estão avançados e a primeira novela com o selo Netflix no Brasil deve sair já em 2022.
Segundo profissionais da empresa, no orçamento da plataforma americana - e não no Brasil - será destinado US$ 50 milhões para o projeto, que não passará pelo crivo de nenhum funcionário brasileiro e está sendo conduzido por Francisco, ao lado dos executivos dos EUA, que enxergam no projeto a possibilidade de se fazer muito dinheiro. Como a produção acontecerá toda por aqui, o investimento é aproximado de R$ 288 milhões, pelo preço do dólar hoje.
A novela mais cara da história
Para se ter uma ideia do tamanho da ousadia do projeto da Netflix, como a intenção é realizar uma produção de, no máximo, 60 capítulos, a plataforma pensa em fazer o que poderá ser chamada de a novela brasileira mais cara da história, com um investimento de R$ 4,8 milhões por capítulo, algo muito maior que os R$ 800 mil que a Globo investe em uma produção das 21h, por exemplo.
Mesmo que seja considerada muito cara para os padrões brasileiros, a novela, se sair do papel, não vai representar dos maiores investimentos da Netflix. A mais recente temporada de The Crown, custou a bagatela de U$ 125 milhões, para apenas 10 episódios, ou seja, o equivalente a mais de R$ 72 milhões por episódio, dezoito vezes mais que o que será investido na produção brasileira.
Mesmo assim, em termos de Brasil, os números são muitos altos, já que a Netflix vem investindo entre R$ 10 e R$ 20 milhões em suas produções brasileiras e nenhuma série nacional chegou a números tão expressivos por capítulo.
Questionada, uma fonte explicou que as razões são muito claras: se a novela for um sucesso, há espaço para muitas obras de merchandising e publicidade, o que pode converter para um lucro impensável numa série. Além disso, nos últimos anos a plataforma vem crescendo em países considerados periféricos e que têm na novela seu principal produto de dramaturgia. Além do Brasil, a empresa ganha público em Portugal, na Angola e em diversos países da América Latina.
Netflix e Globo
Mas a plataforma já enxergou que não é capaz de produzir sozinha sua primeira novela de forma tão ambiciosa e também que as produtoras parceiras de séries nacional não têm expertise para levar a cabo uma ideia deste porte. Por isso, já há negociações avançadas entre Netflix e Globo para um acordo para a produção da primeira novela do streaming brasileiro neste porte.
As negociações ocorrem em sigilo nos Estados Unidos e o NaTelinha apurou que vem sendo tocadas pelo CEO da Netflix, Reed Hastings, e pelo diretor do Globoplay, Erick Brêtas. No projeto que vem sendo desenhado, a empresa americana contrataria a Globo para ser a produtora da obra e o Globoplay teria os direitos da primeira janela no Brasil, ou seja, iria ao ar primeiro na plataforma do Grupo Globo e, só depois de um tempo, entraria no catálogo da Netflix.
E caberia à gigante americana os direitos mundiais da obra, ou seja, somente ela poderia exibir em qualquer outro país, fora do Brasil, a novela. Além disso, todo o lucro do projeto iria para os cofres da Netflix, já que a brasileira receberia todo o montante do investimento para pôr o produto no ar. A princípio, o acordo foi bem aceito pelas duas partes e a ideia é que a novela seja gravada dentro dos Estúdios Globo por um elenco e autor contratados da emissora carioca. Ainda não há história sendo pensada e nenhum nome para o projeto, que é tido como secreto e embrionário nos bastidores da Globo.
Procurada pela reportagem, a assessoria da Netflix Brasil disse que a informação não procede. Já a Globo enviou a seguinte nota: "Não procede nenhuma das especulações contidas nessa matéria, assim como são fantasiosas as reiteradas elucubrações assinadas por esse jornalista a respeito de supostos planos futuros do Globoplay e dos Estúdios Globo".