Publicado em 15/04/2019 às 07:19:00
Quase quatro anos após o desfecho da malfadada temporada “Casa Cheia” (2013-14), a veterana Patrícia Moretzsohn retornou a “Malhação” com a incumbência de suceder a aclamada “Viva a Diferença”, assinada por Cao Hamburger e imensamente elogiada por público e crítica. Pelas chamadas, já se sabia que a missão era difícil e que dificilmente a nova história, intitulada “Vidas Brasileiras”, manteria a qualidade de sua antecessora. O que não se imaginaria é que a temporada que encerra nesta segunda-feira (15), para alívio do público, conseguiria retroceder tudo e mais um pouco.
"Malhação" vivia uma experimentação de inovações. Em “Viva a Diferença”, o autor rompeu com a centralização do eixo na figura do casal principal, voltando o foco para cinco diferentes garotas e suas vivências, dilemas e alegrias.
Agora, o novo formato chamava a atenção por ser baseado em uma história estrangeira (a canadense “30 Vies”, quatro vezes indicada ao Emmy Internacional) e ter como personagem central um tipo adulto – a professora Gabriela (Camila Morgado), do colégio Sapiência. Da série canadense, importou o formato de rodízio de protagonistas, onde, durante um período de duas semanas, cada jovem teria um foco diferente.
No entanto, o estranhamento começou já no primeiro capítulo – que parecia mais um episódio avulso do meio da temporada, onde todos faziam uma festa para a educadora. Ficou difícil comprar aquele amor todo dos alunos por ela e a correria diluiu as intenções do enredo. Até que veio o drama do primeiro jovem, Kavaco (Gabriel Contente), que despertava suspeitas de ser usuário de drogas enquanto seus pais se separavam. Tudo se resolveu magicamente, do nada, e – o mais constrangedor – as tais drogas eram verniz de barco, que ele aspirava ao trabalhar em um estaleiro. Só aí já dava pra ter uma ideia da vergonha alheia que viria a seguir.
E só piorou. Temas como intolerância religiosa, bulimia, assédio sexual, esclerose lateral amiotrófica e alcoolismo receberam abordagens que em nada acrescentavam ao já raso enredo. Em algumas, a autora simplesmente fez ao contrário do exemplo de “Viva a Diferença”, especialmente nos abusos contra Verena (Joana Borges), ginasta assediada pelo professor Breno (Marcelo Argenta). Na reta final da história, a autora simplesmente trouxe o personagem de volta para, do nada, fazer a garota reviver todo o trauma – e o mesmo se transformou em um psicopata doentio, a ponto de sequestrá-la e forjar um “casamento”. Sem lógica alguma.
A condução dos casais românticos foi outro grande erro. Nenhuma tentativa de par conseguiu agradar, beirando entre a falta de carisma e a irritação – especialmente o irritante triângulo amoroso inicial entre Pérola (Rayssa Bratillieri), Alex (Daniel Rangel) e Maria Alice (Alice Milagres), filha da empregada da mãe da patricinha, Isadora (Ana Beatriz Nogueira em curta participação). Nem mesmo o romance da garota com Márcio (André Luiz Frambach) conseguiu empolgar.
A atual temporada ainda chegou ao ponto de repetir situações já mostradas pelo enredo de Cao Hamburger, como o atentado a bomba armado por Fabiana (Giovanna Rangel) para se vingar após ser constrangida pela chegada da mãe Jaqueline (Ellen Rocche, também em participação especial). Porém, em “Viva a Diferença”, o atentado serviu para Benê (Daphne Bozaski) se reaproximar das amigas, após o afastamento. Aqui, serviu apenas para Pérola, que já estava namorando com Márcio, perder a memória e relembrar todo o imbróglio com Alex e Maria Alice.
Outra tentativa de semelhança com “Viva a Diferença” foi a entrada de Solange (Fernanda Paes Leme), a diretora maligna que inferniza a vida dos alunos e, inicialmente, conta com a ajuda de Fabiana. Se a ideia da autora era a de emular Malu (Daniela Galli), coordenadora do Colégio Grupo na história antecessora, na prática, falhou miseravelmente, pois, mesmo sendo o perfil mais maniqueísta daquela temporada, Malu era um perfil muito mais real, se aproximando de setores conservadores da sociedade atual, especialmente nos tempos de polarização provocados pela última eleição. Já Solange soa como uma vilã de desenho animado, o que não seria nenhum demérito se a história fosse projetada para isso – o que não é o caso.
Para piorar, nenhum nome do elenco chegou a ter alguma atuação considerada acima das expectativas, nem mesmo entre o grupo jovem, o que complica a situação da temporada, ainda mais que a função de “Malhação” é revelar novos talentos para os horários posteriores. Camila Morgado, apenas correta como Gabriela, nem de longe repete seus melhores momentos. E a trama ainda desperdiçou o talento de veteranos como Luiz Gustavo, que deixou a trama antes do final para cuidar de sua saúde, e Aracy Balabanian, que desde “Passione” não tem um grande papel.
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Ainda assim, alguns nomes já foram escalados para outras obras, como Guilhermina Libanio, que já está em “Órfãos da Terra” vivendo a feminista Cibele – e, nestes primeiros capítulos, teve bons momentos em embates com Camila, a patricinha preconceituosa vivida por Anaju Dorigon (revelada na elogiada “Malhação Sonhos”, de 2014-15).
Com um conjunto tão constrangedor, não foi nenhuma surpresa que “Malhação - Vidas Brasileiras” fosse tão severamente criticada. Ainda assim, a novela foi além: conseguiu ser a pior temporada da história da novelinha, superando outras edições também criticadas como “Casa Cheia” (da mesma autora em conjunto com sua mãe, Ana Maria Moretzsohn), “Seu Lugar no Mundo” (de Emanuel Jacobina, um dos criadores do formato) e a temporada de 2009.
Enredo, elenco, histórias e direção falharam feio na edição que se encerra – e o resultado se refletiu na audiência, derrubando 4 pontos de “Viva a Diferença” e fechando com 16 de média. Com toda certeza, “Vidas Brasileiras” já vai tarde.
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