Publicado em 30/06/2023 às 04:30:00,
atualizado em 30/06/2023 às 09:34:35
Abelardo Barbosa, popularmente conhecido como Chacrinha, morria há exatos 35 anos depois de uma batalha contra um câncer no pulmão. Seus programas que faziam o público ficar vidrado na TV nas tardes de sábado eram um deleite àqueles ávidos por um gênero de programa de auditório que não existe mais.
A morte do Velho Guerreiro marcava também o fim de um ciclo de um daqueles comunicadores insubstituíveis. Pioneiro no ramo, ele foi responsável desde lançar vários artistas no mercado, criar bordões inesquecíveis e fazer com que outros programas de TV bebessem da sua fonte até hoje, mas sem o mesmo charme e apelo.
Chacrinha morreu relativamente jovem para os padrões atuais. Tinha 70 anos de idade quando nos deixou. Se estivesse vivo, estaria às vésperas de completar 105 e dificilmente ainda teria vida na TV aberta, sobretudo depois de uma pandemia e obviamente pelos três dígitos que alcançaria. Claro, em uma situação completamente hipotética.
Se apresentasse programas até a mesma idade que Silvio Santos apresentou (embora oficialmente não esteja aposentado), Chacrinha poderia ter ido ao ar até o fim dos anos 2000, quando teria seus 90 anos. Onde teria terminado sua carreira? Como ele perduraria na TV?
Duvido que ficasse na Globo por todo o tempo. Certamente teria saído como fizeram com Faustão e Jô Soares (1938-2022), por exemplo. Mas o que mais chama a atenção ao falar de Chacrinha, relembrar seus programas e olhar para o cenário atual, é constatar que os programas de auditório praticamente chegaram ao fim.
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O gênero na TV naqueles anos 80, mesmo até o início deste século, sempre prezaram pela bagunça (des)organizada e improviso. Hoje, os programas de auditório, em suma, são reféns de formatos e pouco abrem espaço para o inusitado. Em alguns casos, a presença da plateia é até dispensável, servindo apenas como enfeite para alguns takes de câmera.
Isso vale para absolutamente todas as emissoras. A essência daqueles programas de auditório não existe mais. Talvez porque o próprio público não compre mais aquele produto. Talvez porque não há interesse dos próprios canais em fazer. Ou talvez porque tenha sido uma natural evolução (ou involução?) mercadológica.
Um programa aberto com participação direta do auditório se perdeu ao passo que os grandes nomes nos deixaram ou envelheceram. Aquela sensação de: "o que será que vai acontecer?" também pouco existe. Algumas raríssimas exceções até existem, é claro.
Hoje, o gênero ficou engessadinho, quadradinho e bonitinho. Isso quando um programa não se transforma em uma colcha de retalhos e o espectador logo percebe todas essas "picotadas".
Mas nada é tão ruim que não possa piorar. Para os órfãos e entusiastas dos programas de auditório, a má notícia é que os poucos bons comunicadores que restam e que já fizeram algo parecido com isso um dia, não parecem ter substitutos.
Sem a renovação de mercado, a tendência é que os formatos ganhem cada vez mais espaço e os programa de auditórios como conhecemos se torne apenas uma doce lembrança. Como já vem sendo.
Thiago Forato é jornalista, assina a coluna Enfoque NT desde 2011, além de matérias e reportagens especiais no NaTelinha. Forato também é autor do blog https://parlandodepalmeiras.com.br e do podcast que leva o mesmo nome. Converse com ele pelo e-mail thiagoforato@natelinha.com.br ou no Twitter, @tforatto
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