Enfoque NT

Versátil e marcante, Eva Wilma tinha talento para despertar amor e ódio

Atriz morreu aos 87 anos, em São Paulo, após um mês internada

Maria Altiva, de A Indomada (1997), foi uma das personagens mais marcantes de Eva Wilma na TV - Foto: Acervo Globo/Jorge Baumann
Por Thiago Forato

Publicado em 16/05/2021 às 14:25:00,
atualizado em 18/05/2021 às 13:49:29

Eva Wilma nos deixou na noite deste sábado (15) depois enfrentar um câncer de ovário. Aos 87 anos, ela estava internada em São Paulo desde o dia 15 de abril e deixa a imagem de uma atriz talentosa, multifacetada, versátil, marcante e com característica de despertar amor e ódio em suas personagens.

Existem atores que passam a vida inteira marcados por um único personagem. Outros, conseguem fazer com que cada um seja marcante. Eva tinha o dom de passear por diferentes nuances sem que o público à associe somente a um tipo. Seus últimos papéis na TV comprovam isso.

Nos últimos 10 anos, esteve em três diferentes histórias. A primeira, em um folhetim de bastante sucesso e que reprisou recentemente diante da pandemia do novo coronavírus (Covid-19): Fina Estampa (2011-12), onde interpretou a Tia Íris, que mesclava a canalhice com uma veia cômica. Depois, encarnou uma alcoólatra em Verdades Secretas (2015) e por fim, a Doutora Petra de O Tempo Não Para (2018-19), seu último papel. Na história, nos fez acreditar na criogenia e que era possível uma família ter sobrevivido ao ficarem presos em um iceberg por mais de um século.

VEJA TAMBÉM

Conhecida também por ter interpretado a Altiva de A Indomada (1997), Eva Wilma acreditava que para viver um mau-caráter, era preciso ser bom. Há 24 anos, aliás, prometia que aquela seria sua última personagem fixa em novelas. "Não pretendo pendurar as chuteiras, mas daqui por diante só farei participações especiais. Em O Rei do Gado (1996), por exemplo, tivemos três meses para realizar sete capítulo. Quero trabalhar nesse filão", prometeu ela à revista Veja em agosto de 1997.

Férias interrompidas de Eva Wilma

O descanso da atriz foi interrompido por um convite irrecusável: fazer cinema em televisão na série Mulher. "É complicadinho sair de um personagem e entrar em outro. Me baseio nas autorias, na direção e nas minhas ferramentas de atriz, que são a imaginação e a criatividade", revelou ela ao O Globo em abril de 1998.

Àquela altura, Eva tinha acabado de sair da festejada Indomada. Seu talento e sucesso na obra, aliás, era motivo de disputa entre Aguinaldo Silva e Ricardo Linhares. O motivo? Escrever os textos de sua personagem. Eva conseguiu encontrar a poesia do universo nordestino e apesar de suas maldades, fora dos padrões convencionais. Fugindo do soturno, apostou no extremo humor para cativar.

Sem falsa modéstia, admitiu que desempenhava bem sua função ao O Globo em junho de 1997. "Os vilões dão margem a grandes vôos quando bem dirigidos e interpretados. O que seria da história de Chapéuzinho Vermelho se não fosse o Lobo?", refletiu ela, que não interpretava uma vilã desde Mulheres de Areia (1974).

Atriz também tinha preocupação com o país

Uma das características que sempre chamaram a atenção em Eva Wilma era sua lucidez. Nunca concordou em "dar besteira ao público" e sempre preferiu trabalhar com humor. E inteligente. "Acho que hoje não há mais muita preocupação com o nível do que oferecemos", lamentou à Folha de São Paulo em outubro de 2009.

Em 2018, foi até às ruas protestar contra um projeto da prefeitura de São Paulo, que previa a construção de um prédio de 25 andares no lugar de uma escola municipal. "Temos que vigiar os políticos de perto", alertava ela, que orava para que Deus salvasse o "Brasil do caos". "Rezo para conquistarmos um governo digno", completara ela na oportunidade, ao periódico O Globo.

Consagrada na profissão, também já alertou quem escolhia a atuação para virar celebridade. "Aí vira nada. Copio o percentual do Paulo Autran: para fazer uma carreira artística são 10% de talento, inspiração e vocação; 85% de trabalho, perseverança, esforço e estudo; e 5% de sorte", elencou.

Eva Wilma deixa paixão à profissão. Na carreira, se transformou em exemplo, referência e soube exatamente que lugar ocupou. Lúcida e autocrítica, fazia leituras precisas do que acontecia ao seu redor em vários âmbitos. Também se posicionava quando preciso, mas ao contrário de grande parte da geração atual, dava exemplo e hipocrisia não fazia parte do seu dicionário.



TAGS:
NOTÍCIAS RELACIONADAS
MAIS NOTÍCIAS