Prisão de Crivella abre JN; Record destaca "perseguição"
Sobrinho de Edir Macedo foi afastado da Prefeitura do Rio de Janeiro
Publicado em 22/12/2020 às 21:22
A prisão de Marcelo Crivella, prefeito do Rio de Janeiro e sobrinho de Edir Macedo, recebeu tratamentos distintos no Jornal da Record e no Jornal Nacional. Enquanto o noticioso da emissora ligada à Igreja Universal ressaltou a inocência do bispo licenciado, o telejornal da Globo apresentou o político como chefe de quadrilha.
No JN, a prisão de Crivella foi a primeira notícia da escalada, como é chamada a abertura com as principais manchetes do dia, à frente inclusive da vacina contra o novo coronavírus. O telejornal dedicou 18 minutos ao tema, que ocupou apenas quatro minutos no Jornal da Record. Outra diferença está no crédito ao prefeito. A Globo o chamou de "afastado". Na Record, ele continua no cargo.
"O prefeito do Rio, Marcelo Crivella, do Republicanos, é preso em uma operação da Polícia Civil e do Ministério Público", disse Flávio Fachel. "Crivella é acusado de chefiar um suposto esquema de propina na Prefeitura, com movimentação de mais de R$ 50 milhões", prosseguiu Ana Paula Araújo. "Outras 25 pessoas são investigadas por organização criminosa, lavagem de dinheiro e corrupção ativa e passiva", continuou Fachel. "Cinco envolvidos também foram presos entre eles um delegado e um empresário", finalizou Ana Paula.
A reportagem completa só foi ao ar no segundo bloco. "O Rio de Janeiro amanheceu com o prefeito preso", disse a apresentadora ao anunciar o material. O repórter Paulo Renato Soares noticiou a detenção desde a chegada da polícia à casa de Crivella até detalhes da investigação que coloca o prefeito como líder do esquema de corrupção na Prefeitura.
Em uma segunda reportagem, Pedro Bassan resumiu os quatro anos do bispo à frente da Prefeitura, relembrou o caos na saúde pública e mencionou os "guardiões do Crivella", servidores públicos que atacavam jornalistas da Globo na porta dos hospitais.
"Para fugir das críticas, Crivella adotou uma solução nunca vista. Na porta dos hospitais, funcionários públicos que ganhavam para exercer outras funções, cumpriam escala e davam plantão para calar a imprensa e a população", disse o repórter.
A terceira reportagem sobre a prisão, assinada por Pedro Figueiredo, lembrou que o governador do Rio, Wilson Witzel, também está afastado do cargo. Em Brasília, Zileide Silva repercutiu a detenção do prefeito carioca no Congresso e no Planalto, com falas do vice-presidente da República, Hamilton Mourão, e do presidente da Câmara, Rodrigo Maia.
No Jornal da Record, Crivella é inocente
O Jornal da Record ignorou o tratamento de Crivella como chefe de quadrilha, como está na denúncia, e optou por destacar falas do prefeito do Rio e de seu advogado sobre sua inocência. Na escalada, foi o segundo assunto; entretanto a legenda suavizou a situação do sobrinho de Edir Macedo: “26 investigados” e “perseguição política” foram os títulos escolhidos pela emissora.
“Marcelo Crivella diz que é inocente e vítima de perseguição política”, informou Christina Lemos, apresentadora do Jornal da Record, na reportagem sobre a prisão, a quarta a ir ao ar no primeiro bloco do telejornal. Antes, foi ao ar a cobertura do coronavírus e uma reportagem sobre arrastões, um deles vitimando a finalista de A Fazenda 2020, Stéfani Bays.
O repórter Sylvestre Serrano apenas pontuou a denúncia contra o prefeito, que apareceu na reportagem com imagens cedidas pelo SBT. Em mais falas favorável a Crivella, Rodrigo Maia e um especialista se mostrou contrário à prisão. “Este advogado criminalista disse estranhar a prisão de uma pessoa que tem endereço fixo, não oferecia risco de fuga e sempre colaborou com a Justiça”, afirmou o jornalista.
Em seguida, a Record acionou o comentarista Augusto Nunes para defender o bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus. O jornalista atacou a imprensa pela “indignação seletiva” ao criticar detenções no âmbito da Operação Lava Jato e não fazê-lo na prisão de Crivella, insinuando com muita sutileza que o prefeito sofre perseguição religiosa.
“O Supremo Tribunal Federal decidiu que ninguém será considerado culpado antes do trânsito em julgado da sentença condenatória. Esse entendimento livrou da cadeia, por exemplo, o ex-presidente Lula, que aguarda em liberdade a tramitação dos processos que o envolvem, mas não tem impedido a prisão de cidadãos que não foram condenados em nenhuma instância”, concluiu Augusto Nunes, falando de Crivella sem citar seu nome.