De "Filhote da ditadura" a Xuxa: Os barracos nos debates eleitorais
Debates eleitorais já provocaram verdadeira erupção na TV
Publicado em 18/10/2020 às 05:35
Praticamente todas as emissoras de TV aberta anunciaram o cancelamento dos famosos debates eleitorais para as eleições 2020, alegando impossibilidade de manter o protocolo sanitário contra o coronavírus em meio a tantos postulantes pelas prefeituras Brasil afora. Mas se Globo, SBT, Record e até CNN optaram por não fazer o confronto dos candidatos, Band e Cultura mantiveram o evento, que se tornou icônico na história da TV brasileira por conta das brigas épicas que marcaram o evento, com direito até a citação de Xuxa e menção à Ditadura Militar.
Nomes tradicionais da política brasileira, como Maluf, Lula, Aécio Neves, Dilma e até Mário Covas (1930-2001) já se engalfinharam pela atenção do telespectador provocando memes que são lembrados até hoje por causa de brigas, gritos e frases de efeito, que se tornaram icônicas.
Relembre os barracos em debates eleitorais
Cala a Boca Maluf (2000)
O ano era 2000 e o debate acontecia na Band, uma das mais tradicionais emissoras para a realização desse tipo de confronto. Em cena, Maluf e Marta Suplicy tentavam convencer o eleitorado sobre em quem deveria votar. O ex-prefeito falava, quando acabou sendo interrompida pela petista e os dois protagonizaram o que viria a ser um dos maiores - senão o maior - barraco da história dos debates.
"E a senhora por favor respeite. Eu estou falando, respeite o telespectador. A senhora fique quietinha e pare de dar palpite", disse ele enquanto era interrompido pela adversária. Foi neste momento que Marta perdeu a paciência e começou a gritar, mesmo com o microfone desligado. "Cala a boca, Maluf. Cala a boca" e sem paciência ele rapidamente respondeu. "Cale a boca a senhora".
Filhote da Ditadura (1989)
Em 1989 os brasileiros iriam eleger o primeiro presidente depois dos anos de Ditadura Militar e candidatos não faltavam. Num dos debates, novamente na Band, houve uma briga ferrenha entre Maluf (ele de novo) e Leonel Brizola (1922-2004) com direito até a acusação e zombaria entre os dois adversários, que viriam ser derrotados ainda no primeiro turno.
Maluf falava sobre um tema do debate, quando foi interrompido por Brizola. "Aparte", pediu o candidato, que era um jeito de poder falar quando citado. "Não lhe dou o aparte. Não lhe dou o aparte", disse em tom enérgico Maluf. "Não dá porque não pode", zombou Brizola, irritando o concorrente, que passou a gritar para ele parar de falar. "Filhote de ditadura", bradou o candidato do PDT ouvindo a resposta "O senhor tenha respeito. Desequilibrado".
Mais honesto que Jesus Cristo (1998)
Na Globo, Maluf e Mário Covas debatiam para ver quem seria o governador de São Paulo e tentavam garantir a simpatia do eleitorado. Os dois, já muito conhecidos por participarem de outros debates, não chegaram a elevar o tom de voz, mas não deixaram de se provocar e partiram para as ofensas quando perceberam que era o caminho para vencer a discussão.
"O senhor disse, numa evidente heresia, quase num sacrilégio, que é mais honesto que Jesus Cristo", comentou Mario Covas sem chegar a falar a fonte de informação. Zombeteiro, Maluf preferiu não responder sobre a afirmação e partiu para a ofensa contra o concorrente. "Eu vim aqui pra discutir Plano de Governo. Agora, Mário Covas quer discutir porque o palanque dele caiu, a minha vida, sabe? Já começa com alguns sinais, desculpe, não vai ficar bravo comigo. Desculpe, não vá rir, mas como sinais de velhice", cravou o outro.
Beijinho Beijinho, Tchau Tchau (1989)
Lula e Collor protagonizaram debates memoráveis em 1989, com direito até a acusação de suposta manipulação da Globo para favorecer o candidato que seria eleito dias depois. Mas num dos momentos mais engraçados, o candidato do PT fez referência a uma das apresentadoras mais importantes da época, Xuxa Meneghel, ao falar de seu adversário nas eleições.
"Alguns candidatos fazem como aquele nicho do Programa da Xuxa. Perto das eleições é beijinho, beijinho. Depois das eleições é tchau, tchau", brincou Lula. Mas ele acabou tendo a resposta devida em outro momento, quando Collor provocou a falta de instrução do candidato. "Veja que é um grande pinóquio. Até porque, não sabia, o Pinóquio pelo menos lia, eu não sei se ele sabe ler", finalizou.
Duas Caras (1989)
Ainda em 1989, que foi recheada de acontecimentos e barracos nos debates eleitorais, a Band viu outra briga, dessa vez envolvendo os candidatos Mário Covas e Guilherme Afif. Os adversários acabaram não tendo votação expressiva, mas se transformaram em memes por conta da resposta que o candidato do PSDB deu ao adversário quando foi provocado.
"Com qual das duas caras você vai se apresentar nesta eleição?", perguntou Afif claramente chamando o adversário de falso, mas Covas tirou de letra e não perdeu a oportunidade de dar uma resposta a altura. "Eu acho que eu tenho uma única cara, mas certamente se eu tivesse várias, todas elas teriam vergonha", cravou.