Da criação ao set de filmagem: Por que as novelas estão diferentes?
Dramaturgia brasileira passa por um período de transição
Publicado em 25/02/2024 às 08:00,
atualizado em 25/02/2024 às 08:06
Com o passar do tempo, tudo muda e se transforma. Com o avanço da tecnologia, muitas coisas foram extintas. O smartphone, por exemplo, substituiu uma série de aparelhos, como câmera fotográfica, relógio, calendário, rádio, TV e agenda. Ou seja, a substituição é inevitável.
Na dramaturgia, ao longo dos anos, as produções também passaram por várias mudanças. Hoje, muita gente reclama ou observa que as novelas estão diferentes. Essa mudança é perceptível na abertura, trilha sonora, elenco, texto e direção. Na minha opinião, dois fatores são especialmente importantes em uma obra audiovisual, e que são responsáveis por essa mudança percebida no gênero: o texto e a direção.
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O autor e o diretor são os dois pilares de uma obra. O roteirista está no topo dessa pirâmide, pois sem um bom texto, não há produto. Tudo começa com o texto. É o autor ou roteirista que trabalha primeiro, criando e escrevendo a história. Depois, o diretor transforma essa história em realidade.
É o diretor que regerá sua equipe e dá vida àquele texto, transformando palavras em imagens. Para que essa parceria tenha sucesso, é fundamental que haja sintonia e química entre autor e diretor.
As mudanças nas novelas da Globo
Na Globo, por exemplo, percebe-se algo diferente nas novelas. No entanto, o que poucos observaram, já que as pessoas não têm o hábito de ler os créditos, é que nos últimos anos houve uma total troca de equipe, principalmente de autores e diretores. Entre óbitos, aposentadorias e demissões, a emissora foi renovando gradualmente seu quadro de profissionais.
Na década de 1980, tínhamos como autores nos três horários Gilberto Braga, Aguinaldo Silva, Manoel Carlos, Cassiano Gabus Mendes, Janete Clair, Dias Gomes, Marcílio Moraes, Lauro César Muniz, Ivanir Ribeiro, Silvio de Abreu, Walter Negrão, Alcides Nogueira, Elizabeth Jhin que tinham suas novelas dirigidas, na maioria das vezes, por Walter Avancini, Roberto Talma, Paulo Ubiratan, Gonzaga Blota, Jorge Fernando, Daniel Filho, Dennis Carvalho, Wolf Maia, Pedro Vasconcellos, Jayme Matarazzo,Rogério Gomes, Denise Saraceni entre outros, todos esses nomes estão fora da emissora.
A equipe é nova e, naturalmente, colocará sua assinatura e estilo na concepção e produção da obra. O público sente essa estranheza nas novelas exatamente por esse motivo: novos autores e novos diretores.
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Para completar essa falta de familiaridade, nos deparamos também com a renovação do elenco. Aqueles rostos com os quais estávamos acostumados já não ocupam mais nossa telinha como antes. As emissoras estão sempre em busca de novos talentos, e até a vaga mais importante, a da protagonista, hoje tem sempre uma cara nova.
Por mais de trinta anos, tivemos os mesmos autores, diretores e atores. É natural que o novo cause estranheza, pelo menos por enquanto. É o curso natural da vida, mas nada que o tempo não resolva.