Maio, Antes que Você me Esqueça: Peça que trata do Alzheimer com realismo chega ao Rio
Montagem fica em cartaz até 16 de junho no Teatro Fashion Mall
Publicado em 17/05/2024 às 08:28
O teatro leva arte e aproxima as pessoas. Viver a experiência de assistir a um bom espetáculo é única e profunda. Nesta semana, entra em cartaz no Rio de Janeiro a peça Maio, Antes que Você me Esqueça. Na minha opinião, é o melhor espetáculo de teatro que já vi. O tema, doença de Alzheimer, é tratado com tanto realismo, porém com delicadeza. A entrega dos atores é algo surpreendente, parece que estamos de frente com a realidade dos dias que assolam as pessoas que têm na família alguém passando por essa ocorrência.
Com uma leve pitada de humor para quebrar a tão dramática situação, a peça conta a história de uma vivência em um final de semana de um pai acometido pelo Alzheimer e seu filho que há tempo estava distante, devido a algumas mágoas colecionadas no convívio passado. É um momento difícil e de acertos de contas, onde ambos tentam reatar os laços afetivos.
Conversei com os protagonistas dessa peça, Ilvio Amaral e Maurício Canguçu, e com o grande mentor disso tudo, o autor Jair Raso.
Confira a entrevista exclusiva com a equipe de Maio, Antes que Você me Esqueça:
Ilvio, como você se preparou para viver o personagem Hélio, já que, devido à doença, é um personagem bem complexo de compor? E qual a importância de abordar um tema tão delicado em uma peça de teatro?
Ilvio Amaral - Realmente, foi difícil e é bem complexo viver um personagem com a doença do Alzheimer. Meu pai, quando estava mais idoso, foi acometido pela doença. Então, eu convivi com ele tendo dificuldade de locomoção. Era muito delicado ver o olhar perdido, ver a teimosia, ver as dificuldades de reconhecer as pessoas. E quando eu fui embarcar no trabalho, minha memória afetiva foi muito importante. A experiência de ter convivido com ele foi fundamental.
A importância de levar este espetáculo para o palco é muito grande e tem que ser entendido como necessário. Não pode se dizer que é uma comédia. Não pode se dizer que é um drama. Acho que criamos mais um novo gênero teatral. A peça não fala apenas da doença do Alzheimer, mas fala da relação familiar, fala de amor, do afeto, do entendimento e da forma que não só o doente precisa ser cuidado, mas também dos cuidados que é necessário ter com as pessoas que convivem com o doente. Não é doença só de um, é de todos que convivem com o doente.
Você é um ator com muitos anos de carreira, nos conta um pouco sobre sua trajetória.
Ilvio Amaral - Comecei fazendo teatro ainda criança e ali mesmo descobri que era o que queria para minha vida. Quando vi minha primeira peça profissional, fiquei enlouquecido. Era Sonho de uma Noite de Verão de Shakespeare. Dali para a frente, fui fazer o curso de teatro da UFMG e nunca mais saí do palco. Já fiz e faço sempre televisão, quando sou convidado, cinema e tive a sorte de ser dirigido por grandes diretores do teatro brasileiro. Bibi Ferreira, Marília Pera, Ary Coslov, Guilherme Leme, João Bittencourt, Benvindo Sequeira, Cininha de Paula, Suely Franco, Fred Mayrink, entre tantos outros. Afinal, são quase 50 anos de carreira.
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Maurício, você e o Ilvio são parceiros de vida e de trabalho, como é atuar ao lado dele?
Maurício Canguçu - É uma alegria ter como parceiro de cena alguém que a gente admira, é um prazer enorme, aliás, acho que esse é o grande segredo para tantos anos juntos: admiração e aprendizado. Ilvio é um dos maiores atores que já vi em cena. Tem domínio da comédia, do drama com mesmo talento.
A doença de Alzheimer é tão temida e, infelizmente, tem aumentado nos últimos anos. Como se deu a escolha desse tema para vocês produzirem e atuarem?
Maurício Canguçu - Vimos próximos desse assunto na medida em que minha mãe foi diagnosticada com a doença. Ilvio e eu sempre estamos à procura de novos textos e que tenham algo a dizer, seja no drama ou na comédia, então encomendamos esse texto ao Jair Raso. Juntou ao tema do Alzheimer, o falecimento do pai do Ilvio, passamos o mote ao Jair e ele desenvolveu essa “pérola” para a gente.
O espetáculo teve várias sessões em Belo Horizonte, cidade natal de vocês, por onde mais vocês já apresentaram essa peça e quais as cidades que irão futuramente?
Maurício Canguçu - Estreamos em Fortaleza e fizemos muitas temporadas em Belo Horizonte e no interior de Minas e ainda vamos fazer São Paulo e outras capitais. Acho muito importante percorrer com a peça e levar esse tema tão atual a todas as pessoas.
Como o Ilvio Amaral, você também tem uma longa trajetória na arte de atuar, nos conta um pouco sobre essa caminhada.
Maurício Canguçu - Eu comecei fazendo teatro na minha cidade natal, Felizburgo, depois fui pra BH e daí não parei mais. São mais de trinta peças como ator e em torno de dez peças como diretor, além de uma novela e A Praça é Nossa, onde ficamos por três anos.
Jair Raso, autor da peça, é escritor, diretor, membro da Academia Mineira de Medicina, é médico neurocirurgião, e com essa experiência conseguiu escrever com segurança sobre o tema.
“Sobre Maio, Antes que Você me Esqueça, a ideia era falar do relacionamento conturbado entre um filho e seu pai, tendo como pano de fundo a Doença de Alzheimer. Para além dos conhecidos efeitos sobre a saúde, uma doença crônica, como o Alzheimer, afeta as relações familiares. Por outro lado, fragiliza as armaduras, podendo facilitar a aproximação entre o filho e seu pai, criando a oportunidade para resgate do amor outrora esquecido.”
Jair Raso, autor da peça
Maio, Antes que Você me Esqueça, estreia nesta sexta (16) e a temporada vai até 16 de junho, sempre às sextas, sábados e domingos no Teatro Fashion Mall no Shopping Fashion Mall.
O espetáculo é imperdível e eu recomendo muito. Você viverá uma experiência emocionante entre risos e lágrimas.