Crítica

Série Máscaras de Oxigênio fala de HIV/Aids com graça e originalidade

Atração da HBO Max é diferenciada ao traçar um retrato histórico que, por si só, já é suficientemente dramático


Johnny Massaro e Bruna Linzmeyer na minissérie Máscaras de Oxigênio Não Cairão Automaticamente, da HBO Max
Johnny Massaro e Bruna Linzmeyer na minissérie Máscaras de Oxigênio Não Cairão Automaticamente; os cinco episódios já estão disponíveis no streaming - Foto: Divulgação/HBO Max

Nova minissérie brasileira da HBO Max, Máscaras de Oxigênio Não Cairão Automaticamente aborda a proliferação de HIV/Aids no Brasil na década de 1980. O título longo causa estranhamento, mas antecipa que a produção usa um quinhão de graça e originalidade para traçar um retrato histórico, por si só, suficientemente dramático. Os cinco episódios já estão disponíveis na plataforma de streaming.

O comissário de bordo Nando (Johnny Massaro) ignora a epidemia da Aids enquanto vive o glamour dos voos internacionais. Ao descobrir que tem HIV e que o principal remédio, AZT, é proibido no Brasil, em um contexto de total desinformação, ele decide contrabandear o medicamento com a ajuda da aeromoça Lea (Bruna Linzmeyer).

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Raul (Ícaro Silva), que trabalha na Boate Paradise, voltada para o público LGBT+, traz outras perspectivas, evidenciando as desigualdades sociais e o descaso do poder público em meio ao avanço da doença. Na época, não havia tratamento acessível, e o HIV e a Aids eram tratados pela mídia como “peste gay”, por vitimar principalmente essa parcela da população.

A transgressão ao tradicional aviso das companhias aéreas não é mera referência à profissão de dois dos protagonistas – trabalho este diretamente ligado ao desenrolar da história. A explicação fica clara logo no primeiro episódio: em um momento de emergência, os personagens, sem ajuda automática ou imediata, precisam perseguir a própria salvação.

Ícaro Silva na série Máscaras de Oxigênio Não Cairão Automaticamente
Ícaro Silva em Máscaras de Oxigênio Não Cairão Automaticamente - Foto: Divulgação/HBO Max

Idealizada por Thiago Pimentel e roteirizada por Patrícia Corso e Leonardo Moreira, a minissérie não faz concessões ao expor um contexto cruel, marcado por variadas formas de preconceito. A direção de Marcelo Gomes e Carol Minêm tem um olhar inquieto, com passagens quase psicodélicas, próprias à estética dos anos 1980.

O foco é o contexto específico do Brasil. Personalidades reais que falaram abertamente sobre o vírus, como Cazuza (1958-1990) e Sandra Bréa (1952-2000), inspiram personagens fictícios com pouco tempo de tela, mas que em muito e de diferentes maneiras agregam à produção. Há também bonitas homenagens ao escritor Caio Fernando Abreu (1948-1996) e ao artista plástico Leonilson (1957-1993).

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É criado um amplo panorama dos principais grupos vítimas da doença no início da epidemia, o que abrange casais heterossexuais e usuários de drogas injetáveis. O roteiro é bem amarrado e nenhum personagem está ali gratuitamente.

O texto foge de um viés moralista, mas não escapa de certo didatismo. Há momentos de grande inspiração – como a carta aberta escrita por Nando ao final do quarto episódio e a analogia feita entre os voos e a vida. O desfecho dado ao personagem, aliás, é um acerto: honesto e distante do lugar comum.

Johnny Massaro em Máscaras de Oxigênio Não Cairão Automaticamente
Johnny Massaro em Máscaras de Oxigênio Não Cairão Automaticamente - Foto: Divulgação/HBO Max

O trio principal é talentoso e tem química. Johnny Massaro, em especial, faz um trabalho tocante. O elenco secundário também tem boas performances. Os atores garantem que a atração se mantenha sempre colorida e solar, por mais paradoxal que isso possa parecer e apesar da tensão crescente ao longo dos episódios.

A trilha sonora, além da ótima seleção musical, conta com composições incidentais que remetem à década de 1980 e contribuem para o clima de suspense. A reconstituição de época, em cenografia, figurino e direção de arte, também é esmerada.

Máscaras de Oxigênio une o drama imprescindível a um tom provocativo, crítico e esperançoso. A minissérie presta um tributo às primeiras vítimas da Aids e surge como um sinal de alerta do passado para ecoar nos dias de hoje. É memória atrelada a informação, além de um produto artístico de alto nível.

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