Reprise de O Cravo e a Rosa expõe erro estratégico da Globo
Direção pretende reservar novelas das 18h e 19h para o início da tarde, mesmo precisando de títulos fortes no Vale a Pena Ver de Novo para impulsionar grade noturna
Publicado em 24/08/2022 às 05:33,
atualizado em 24/08/2022 às 09:26
Exibida originalmente entre 2000 e 2001 e reapresentada nas tardes da Globo desde dezembro do ano passado, O Cravo e a Rosa voltou ao ar inaugurando uma nova faixa de reprises, no início da tarde, a princípio dedicado exclusivamente a tramas das 18h e das 19h. Já as da 21h ficam para o Vale a Pena Ver de Novo. Só que a boa audiência da novela de Catarina (Adriana Esteves) e Petruchio (Eduardo Moscovis) está expondo um erro estratégico da emissora.
Não são raras as vezes em que a comédia romântica assinada por Walcyr Carrasco e Mário Teixeira desbanca em audiência A Favorita, em cartaz no Vale a Pena Ver de Novo, no fim da tarde. A trama de Flora (Patrícia Pillar) e Donatela (Claudia Raia), por sua vez, ocupa um horário mais favorável, tradicionalmente com maior público.
Na maior parte dos dias, as duas novelas têm números semelhantes. Na última segunda-feira (22), por exemplo, a primeira teve 16,3 pontos na Grande São Paulo, ante 16,5 da segunda. Só que até a proximidade dos números conta a favor de O Cravo, já que esta é exibida em um horário com menos telespectadores sintonizados na TV.
Há nove meses no ar, O Cravo e a Rosa acumula uma média de 13,7 pontos, de acordo com os dados do Kantar Ibope. Começou com apenas 10, em dezembro de 2021, mas se estabilizou acima dos 15 e já chegou a dar 18. Já A Favorita tem média, até o momento, de 15,2, e o recorde é de 17 pontos.
O maior feito de O Cravo e a Rosa foi ter garantido o primeiro lugar de volta para a Globo. Nos últimos anos, a emissora se desdobrou para fazer frente à Hora da Venenosa, da Record. O Vídeo Show saiu de cena por isso e, pelo mesmo motivo, a emissora carioca lançou o Se Joga, sem sucesso. Só mesmo o folhetim de época foi capaz de trazer a liderança de volta.
Novela exibida originalmente às 18h foi o maior sucesso recente do Vale a Pena Ver de Novo
A Globo ainda não informa oficialmente quais serão as reprises substitutas de O Cravo e a Rosa e de A Favorita, mas, por ora, sabe-se que a emissora pretende manter a estratégia divulgada no ano passado: no início da tarde, novelas mais leves, das seis e das sete; no Vale a Pena Ver de Novo, fechando a grade vespertina, tramas das oito e das nove.
Para aproveitar os bons índices de O Cravo, a Globo deve escolher uma produção semelhante – e Chocolate com Pimenta (2003), do mesmo autor, parece ser a escolha mais óbvia. Caberá à direção da emissora também investir em um bom título para o fim de tarde, já que o Vale a Pena Ver de Novo agora entrega diretamente para a faixa das 18h e serve para impulsionar a grade noturna da programação.
Se por um lado o sucesso de O Cravo e a Rosa mostra que a Globo acertou em cheio ao investir em uma nova faixa de reprises, por outro, há um erro estratégico em reservar o Vale a Pena Ver de Novo só para novelas mais “adultas”. Se a história Catarina e Petruchio passasse às 17h, afinal, os índices provavelmente seriam ainda mais expressivos.
É o que fica claro se lembrarmos que o maior sucesso recente do Vale a Pena foi Êta Mundo Bom (2016), também de Walcyr Carrasco. Exibida no auge da pandemia da Covid-19 – o que pode ter contribuído para o sucesso –, a novela de Candinho (Sérgio Guizé) deu média 21,7 pontos, à frente, inclusive, de várias tramas inéditas das 18h.
Originalmente veiculada às seis, Êta Mundo Bom desbancou clássicos como Avenida Brasil (2012), Laços de Família (2000) e O Clone (2001), também reapresentadas recentemente com médias de 18,8, 18,8 e 15,4, respectivamente. É outra prova de que tramas mais leves não necessariamente têm menos apelo com o público.
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