Opinião

Os Outros: 2ª temporada tentou manter suspense, mas só fez rir

Cenas constrangedoras e sucessão de absurdos geraram humor involuntário na desastrosa continuação da série do Globoplay


Eduardo Sterblitch na 2ª temporada da série Os Outros, disponível no Globoplay
Eduardo Sterblitch na segunda temporada de Os Outros: miliciano Sérgio tem fim previsível - Foto: Reprodução/Globoplay
Por Walter Felix

Publicado em 13/09/2024 às 11:30,
atualizado em 13/09/2024 às 12:11

Se os novos episódios de Os Outros são capazes de gerar algum tipo de reação no telespectador, está longe de ser aquela inquietação típica dos bons suspenses, como despertou a primeira temporada, lançada no ano passado. Ao contrário, a continuação só fez rir, mesmo que essa não tenha sido a intenção dos envolvidos.

A segunda temporada da série do Globoplay terminou nesta semana depois de virar um verdadeiro pastiche policial, com direito a “quem matou?” e a todos os lugares-comuns a que tinha direito. O texto a seguir contém revelações sobre os seis últimos episódios – a crítica dos seis anteriores, você confere clicando aqui.

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A nova história começou com a busca de Cibele (Adriana Esteves) pelo filho sumido, Marcinho (Antonio Haddad). O rapaz, surpreendentemente, alia-se a seu algoz, Sérgio (Eduardo Sterblitch), agora vereador e instalado em um condomínio de luxo, onde o bandido entra em diversos conflitos os moradores de classe alta.

Do início ao fim, os entrechos não tiveram a menor lógica. Maria (Mariana Nunes), por exemplo, revelou que queria se vingar porque o marido dela morreu (acidentalmente!) ao tentar salvar Paulo (Sérgio Guizé) de um afogamento. Depois de enrolar bastante, ela repentinamente resolve agir e faz vários reféns, em uma sequência repleta de momentos constrangedores. O imbróglio perdura um episódio inteiro e se resolve em segundos, em um completo anticlímax.

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No geral, os personagens agem sem muita coesão, apenas para gerar reviravoltas vazias, que levam a lugar nenhum. Por que, no final, Raquel (Letícia Colin), grávida, assume um crime que não cometeu e cumpre pena só para livrar a cara de terceiros? A justificativa é tola: a religiosa havia feito a promessa de proteger alguém que acabou de conhecer. A quem isso convence?!

Como nas novelas, a reta final apelou para o misterioso assassinato de um vilão que infernizou a vida de todos. À moda dos folhetins, muitos tinham motivos para matar Sérgio, e novos conflitos são forçados a fim de aumentar a lista de suspeitos.

A sequência em que o miliciano é assassinado é das piores e mais previsíveis. Há uma chuva com trovoadas e falta luz na casa, além de outros clichês saídos de produções trash, de baixo orçamento. Não há tensão e muito menos terror. O grito que Joana (Kênia Bárbara) dá ao encontrar o cadáver é o auge da comédia.

Segunda temporada de Os Outros desperdiça melhor personagem

Crítica de Os Outros: 2ª temporada tentou manter suspense, mas só fez rir

Pelo menos, o enfadonho mistério dura apenas um episódio – e é solucionado sem qualquer surpresa. Só que o show de horrores ainda não terminou. Quando a ótima Walderez de Barros (Regina), que já havia aparecido em uma participação, entra em cena de vez como “a avó do morto”, não há tempo de se desenvolver aquela que poderia ser a melhor figura da temporada. E o desfecho da personagem é mais uma grande bobagem, entre tantas que a série apresenta.

Adriana Esteves consegue levar sua Cibele com certa dignidade, ainda que não tenha a chance de dar um baile como no ano passado. Eduardo Sterblitch e Letícia Colin, apesar dos exageros, conseguiram alcançar um saldo positivo com suas performances. Kênia Bárbara e Gi Fernandes (Lorraine) foram gratas surpresas.

Em contrapartida, outros atores de talento, como Luís Lobianco (Seu Durval), Marina Nunes e Sérgio Guizé, ofereceram fraquíssimas atuações. Isso indica que o problema talvez não tenha sido individual e exclusivo de cada ator, mas também da direção, que não soube tirar o melhor de seu elenco; ou quem sabe do texto, sem muito a se salvar.

O criador Lucas Paraizo e a diretora artística Luísa Lima fizeram um arremedo do que mostraram, com brilhantismo, na temporada inaugural, e a série virou uma caricatura de si mesma. Até a trilha sonora, antes um ponto alto, parece buscar desesperadamente uma ligação com episódios anteriores – e dá-lhe João e Maria e clássicos como Clair de Lune repetidos à exaustão.

O fracasso no suspense e no terror garante ao segundo ano de Os Outros certo humor involuntário. Até nos prende a atenção, ainda que seja para saber qual será o próximo absurdo do roteiro. Só há um momento em que consegue de fato provocar calafrios: quando sugere, com um gancho no último episódio, que ainda haverá uma nova temporada.

Assista ao trailer da 2ª temporada de Os Outros:

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