Escolha de A Vida da Gente mostra novo perfil da cúpula de dramaturgia da Globo
Trama no lugar de Flor do Caribe apresenta as escolhas da direção
Publicado em 31/01/2021 às 06:38
Quando a Globo anunciou a volta de A Vida da Gente para o lugar de Flor do Caribe na última quinta-feira (28), muito se falou da necessidade de uma nova reprise por conta da pandemia do novo coronavírus. O que foi pouco observado é que a escolha da trama de 2011 escrita por Lícia Manzo foi um cartão de visitas do novo modelo da cúpula de dramaturgia do canal, que assumiu o posto recentemente.
O novo diretor de entretenimento da Globo, Ricardo Waddington, escolheu José Luiz Villamarim para o posto de chefe de dramaturgia, cargo ocupado por Sílvio de Abreu durante muitos anos, e a primeira grande decisão da dupla que comanda a área foi no caminho oposto dos antigos titulares da cadeira de executivo.
Enquanto Sílvio de Abreu tinha um objetivo claro de priorizar audiência em detrimento de tramas mais profundas, complexas e reflexivas, Villamarim e Waddington parecem dispostos a seguir uma linha antagônica, como já havia antecipado o NaTelinha.
A reportagem pouco depois do anúncio dos novos cargos lembrava que a nova cúpula não pretendia seguir a longa fila de novelas nos três horários e herdada de Sílvio de Abreu. Enquanto as tramas inéditas não retornam, o carimbo que confirma os novos ares na dramaturgia da Globo acabou sendo mesmo a primeira reprise escolhida por Villamarim e com o apoio de Waddington.
Por que A Vida da Gente foi escolhida
Se para aprovar uma nova novela, os autores agora precisam passar pela nova chefe de conteúdo, Edna Palatinik, que deve extinguir o modelo antigo de Fórum, estabelecido por Sílvio de Abreu. Ninguém esperava a necessidade de outra reprise e tudo estava esquematizado para o retorno de folhetins inéditos, já que os Estúdios Globo estão funcionando a pleno vapor, mesmo com a pandemia.
Acontece que a próxima novela das 18h, Nos Tempos do Imperador, enfrentou um impeditivo que não houve solução, por mais que a equipe tivesse tentado resolver. A reportagem apurou que há muitas cenas, a partir do capítulo 30, que estão sem gravar por uma série de fatores, mas o principal é porque os atores mais velhos ainda não retornaram por serem do grupo de risco.
Além disso, pro ser uma trama de época, a produção tem tido um ritmo muito mais lento de gravações para conseguir cumprir o protocolos sanitários. Enquanto uma novela normalmente grava de cinco a seis capítulos toda semana, a narrativa de Alessandro Marson e Thereza Falcão não ultrapassam a marca de três, e ainda com cenas para trás.
Como a Globo chegou em A Vida da Gente
Em conversa com diferentes fontes da Globo, o NaTelinha ouviu que, ao ser informado que não teria como colocar Nos Tempos do Imperador no ar em março, Ricardo Waddington convocou José Luiz Villamarim para decidirem qual trama iria assumir a faixa a partir de 1º de março.
E diferente de Silvio de Abreu, que sempre optou por narrativas mais leves e sem grande necessidade de compreensão, Villamarim argumentou que era hora de uma produção mais densa e chegaram a conclusão de que duas novelas poderiam assumir a faixa: A Vida da Gente ou Lado a Lado.
Pesou a favor de A Vida da Gente a fotografia, muito quente e que chama a atenção como se fosse uma história solar - o que passa longe. Mas a decisão ocorreu porque A Vida da Gente é unânime entre a crítica, mesmo que não tenha atingido grandes índices de audiência em sua primeira exibição, quando terminou com 21,8 pontos.
O recado com A Vida da Gente
E quem pensa que a escolha foi apenas do ponto de vista reflexiva, se engana. Internamente, a avaliação que todos têm é de que Villamarim e Waddington mandam um recado com A Vida da Gente para o autores. A partir de agora, a prioridade será para tramas diferentes, com histórias atrativas e, principalmente, mais aprofundadas.
Isso não significa que a dupla irá fugir de produções leves e divertidas, ao contrário. Não é um estilo de novela que será priorizado, mas um acabamento, tanto em roteiro, quanto em direção e até em interpretação, que deverá ser feito a partir de agora.