Autor relembra "Xica da Silva" e resistência da Manchete com protagonista negra
Publicado em 26/11/2017 às 17:01
Mais de 20 anos após o fim de "Xica da Silva", um dos grandes sucessos da Manchete, Walcyr Carrasco relembrou a produção em que assinou com o pseudônimo de Adamo Angel em seu Instagram para falar sobre racismo.
Walcyr lembrou que, na época em que "Xica da Silva" estava em pré-produção, houve resistência por parte da Manchete em aceitar uma protagonista negra. "A ideia inicial da emissora era botar uma branca que tomasse muito sol", relembrou.
O autor, junto ao diretor Walter Avancini, falecido em 2001, após muito custo conseguiram convencer a direção da casa de que a história, que fala sobre uma heroína negra, fosse, de fato, protagonizada por uma negra. "Vencemos. Taís Araújo foi a primeira negra, no mundo, em um papel-título de novela. Interpretou maravilhosamente. Um sucesso, tornou-se uma estrela", pontuou.
Logo após "Xica da Silva", Taís migrou para a Globo, onde atuou em "Anjo Mau", e de lá não saiu mais, ainda que não tenha voltado a trabalhar com Walcyr novamente.
Walcyr completou reconhecendo que, ao longo dos últimos 20 anos, houve avanço do movimento negro, mas pontuou dizendo que isso não significou o fim do racismo: "A sociedade finge não ter preconceito. Na prática, tem".
Após citações a Machado de Assis e outras referências voltadas ao combate ao racismo, como as cotas nas universidades, Walcyr concluiu falando de Erika Januza, intérprete da Raquel em "O Outro Lado do Paraíso". "Na novela, haverá uma grande reviravolta da Raquel, personagem da @erikajanuza. Espero que na sociedade também aconteça o mesmo", concluiu.
Na novela das nove, Raquel, que foi empregada doméstica de Nádia (Eliane Giardini) mas foi demitida e humilhada por conta de sua pele e pelo relacionamento com Bruno (Caio Paduan), filho da patroa, voltará após dez anos como uma juíza recém aprovada em primeiro lugar em um concurso público para a comarca de Palmas, no Tocantins.