Opinião

Politicamente correto atrapalha novos programas de humor na TV

Atrações humorísticas fazem falta na grade das emissoras


Montagem com Toma lá, Dá Cá e A Praça é Nossa do NaTelinha
Toma lá, Dá Cá e A Praça é Nossa são sucessos da Globo e SBT - Foto: Montagem/NaTelinha
Por Silvio Cerceau

Publicado em 27/09/2023 às 07:45,
atualizado em 27/09/2023 às 11:26

Humor também é dramaturgia. Desde a década de 60, o humor ganhou o público na TV. Mas em 1971 o programa Faça Humor, Não Faça Guerra (1971 -1973), na Globo, foi o pioneiro a explorar criativamente as possibilidades da linguagem da televisão, quando estreou no horário antes ocupado por Dercy de Verdade (1967-1970).

De lá para cá, foram muitos programas de sucesso que ficaram décadas no ar. Destaque para Os Trapalhões (1974 - 1995), Escolinha do Professor Raimundo (1990 - 1995), Chico Anysio Show (1982 - 1990), Viva o Gordo (1981 - 1987), Sai de Baixo (1996 - 2002), Toma lá, Dá Cá (2007 - 2009), A Grande Família (2001 - 2014), Zorra Total (1999 - 2015), A Diarista (2007 - 2004), Programa do Didi (1998 - 2010), Os Normais (2001 - 2003), entre muitos outros.

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No entanto, A Praça é Nossa (1987) sobreviveu ao tempo e continua no ar no SBT, fazendo o bom e velho humor, mantendo a antiga receita e acrescentando os novos ingredientes que nosso tempo exige. Não posso deixar de citar Pé na Cova (2013-2016), uma mistura perfeita de humor e melodrama, um dos melhores programas na minha opinião.

TV precisa de programa de humor

Politicamente correto atrapalha novos programas de humor na TV

O humor faz tanta falta. O canal Viva é abastecido pelo gênero. A Grande Família é um exemplo dessa saudade, pois, ao finalizar a reprise da última temporada, já volta a exibir a primeira sem interrupção.

No canal Multishow, o humor reina praticamente durante toda a programação, e em outros canais pagos sempre tem a exibição de algum programa do gênero. Destaco Um Maluco no Pedaço e Todo Mundo Odeia o Chris.

Os streamings disponibilizam bons produtos do gênero, mesmo sendo antigos, e muitos filmes de comédia que fazem grande sucesso, principalmente os besteiróis. Cito As Branquelas (2004) e a franquia American Pie. Temos as franquias nacionais que fizeram muito sucesso entre elas Minha Mãe é uma Peça, De Pernas pro Ar e Até que a Sorte nos Separe.

Silvio Cerceau

Atualmente, a Globo leva ao ar programas já exibidos nos seus canais pagos, Vai que Cola e Família Paraíso, deixando o público carente de algo inédito, de um produto mais leve que os faça sair da realidade e descontrair um pouco.

Mas por que será que a TV aberta não investe mais nessa inesgotável fórmula? Confesso que escrever humor se tornou meio complicado por causa do politicamente correto. Mesmo assim, há outros recursos e outras linguagens para se fazer um humor de qualidade e não pejorativo.

À coluna, o humorista Gustavo Mendes, protagonista dos programas Xilindro e Treme Treme exibidos no Multishow entre 2015 e 2020, deu sua opinião sobre o tema: “Eu não acho que o politicamente correto atrapalhe a televisão brasileira, nem que colabore com a televisão brasileira. Eu acredito que o que realmente contribui seja o bom senso. Talvez o que mais atrapalhe seja a restrição da criatividade por meio da ‘cultura cancelamento’. A cultura do cancelamento desenfreada e sem critérios é prejudicial para toda a comunidade criativa”.

“Às vezes, tenho a impressão de que uma pessoa que comete um crime grave pode cumprir sua pena, ser libertada e eventualmente ser perdoada, mas alguém que é cancelado por algum equívoco, erro ou falta de informação nunca mais parece encontrar redenção. A cultura do cancelamento é grave e séria, restringindo a criatividade. É importante também exercer o bom senso, compreender o que é realmente crime e perceber que as normas sociais mudam com o tempo. As pessoas mudam ao longo do tempo, e a sociedade também evolui. Devemos estar atentos e não nos apegar ao passado ao tentar criar algo novo. Na verdade, precisamos aprender com o passado para evitar cometer os mesmos erros no futuro."

Gustavo Mendes - humorista

Um sucesso mundial que faz falta na TV é o seriado Chaves (1973 -1980), pois mesmo com episódios decorados pelo público, ainda assim tinha boa audiência e arrancava boas gargalhadas. Um exemplo a ser seguido: humor rasgado, bobo e interessante. O público merece novos programas assim, merece rir um pouco das coisas da vida. Precisamos de humor urgente.

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