Opinião

Mulheres Apaixonadas expõe o quão pouco mudamos em 20 anos

Temas como violência contra mulher e homofobia ainda denunciam o Brasil de 2023


Helena Ranaldi, Vanessa Gerbelli, Paula Picarelli e Alinne Moraes em cenas de Mulheres Apaixonadas
Violência doméstica, violência urbana e homofobia foram temas abordados em Mulheres Apaixonadas, tão urgentes em 2003 quanto em 2023 - Foto: Reprodução/Globo
Por Walter Felix

Publicado em 24/11/2023 às 04:44,
atualizado em 24/11/2023 às 13:20

Mulheres Apaixonadas, que chega ao fim no Vale a Pena Ver de Novo na próxima sexta-feira (1º), pode parecer datada em alguns entrechos. A trama de Manoel Carlos tem texto carregado de elitismo e machismo, entre outras problemáticas pouco questionadas em 2003, quando foi produzida e exibida pela primeira vez. Por outro lado, a novela aborda temas sociais que permanecem atualíssimos, levando à conclusão de que mudamos muito pouco nesses 20 anos.

A violência contra a mulher parece a abordagem mais sintomática para o Brasil de 2023. Nunca a teledramaturgia tratou desse tema de forma tão intensa quanto nas cenas entre Marcos (Dan Stulbach) e Raquel (Helena Ranaldi). Mesmo editadas para passar à tarde, as sequências entre os personagens seguiram com força dramática e comoveram as redes sociais.

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Três anos após a novela, em 2006, foi sancionada a Lei Maria da Penha, um grande passo na luta contra a violência doméstica. O problema, contudo, ainda está longe de ser erradicado, passadas duas décadas. É o que fica evidente no mês em que a famosa apresentadora Ana Hickmann relatou ter sido vítima de um crime que, em 2022, foi praticado contra 35 mulheres por minuto no Brasil.

A violência, em si, perpassa toda a novela. O caos urbano no Rio de Janeiro foi denunciado com a morte de Fernanda (Vanessa Gerbelli). Em 20 anos, o estado de calamidade da cidade só parece ter se acentuado. Casos como o da personagem da ficção nunca saíram de cena no noticiário carioca.

Questões controversas e sensíveis vieram à tona em 2023

O folhetim também abordou a violência doméstica contra idosos, mostrada na história mais de forma verbal do que física. O núcleo de Flora (Carmen Silva) e Leopoldo (Oswaldo Louzada) contribuiu diretamente para a promulgação do Estatuto do Idoso, em outubro de 2003, com a presença de atores da trama no Senado Federal.

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Curioso, porém, que a novela tenha caído em uma grande armadilha. O castigo da vilã Dóris (Regiane Alves), que maltratava os avós, foi apanhar do pai, Carlão (Marcos Caruso), no último capítulo. Era mais uma sequência de violência contra a mulher, mas na forma de uma terrível lição moralizante. Desses deslizes pouco notados em 2003, mas que já não podem ser ignorados em 2023.

Outros plots causaram estranheza ao público de hoje, sinal de que há um olhar atento a algumas questões sensíveis, como o romance entre Raquel, uma professora, e o aluno Fred (Pedro Furtado), de 17 anos. Há ainda Heloísa (Giulia Gam) e Sérgio (Marcello Antony), em uma relação abusiva muito associada ao temperamento da mulher, mas pouco lembrada pelo comportamento tóxico do homem.

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Novelas abrandaram voz firme contra homofobia

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Por outro lado, parecemos regredir em alguns temas. É o que nos mostra o casal Clara (Alinne Moraes) e Rafaela (Paula Picarelli). Cresceram os discursos conversadores como o da mãe homofóbica da primeira, Margareth (Laura Lustosa), que não aceita a relação da filha. Preconceituosos já existiam há 20 anos, é claro, e a personagem era a representação disso, mas parece que eles têm mais espaço nos dias de hoje.

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E a Globo dá sinais de que cedeu aos intolerantes. Não à toa, os beijos homoafetivos, que já pareciam ser tabu superado nas novelas, voltaram a ser vetados. Não será surpresa se, no último capítulo da reprise, na próxima semana, for cortado o beijo entre Clara e Rafaela, dado em uma encenação de Romeu e Julieta nas últimas cenas.

No caso dos direitos homoafetivos, não houve qualquer avanço legislativo nessas duas décadas. O que se caminhou foi pela via judicial: por exemplo, o CNJ (Conselho Nacional de Justiça) permitiu o casamento gay em 2013; e o STF (Supremo Tribunal Federal) votou para equipar atos de homotransfobia ao crime de racismo em 2019.

Frequentemente, olhar para o passado da TV nos traz uma imagem do que já fomos. Reprises, como essa de Mulheres Apaixonadas, têm a capacidade de fazer o telespectador refletir sobre o passado e os tempos atuais, sobre aquilo que evoluímos, estacionamos ou mesmo regredimos. Que, nessa última situação, os passos atrás dados recentemente sejam sinal de que daremos dois adiante, quem sabe num futuro próximo.

A reprise de Mulheres Apaixonadas no Vale a Pena Ver de Novo chega ao fim na próxima sexta-feira, 1º de dezembro. Nesta segunda-feira, 27 de novembro, Paraíso Tropical volta ao ar no fim de tarde. As novelas dividem a programação vespertina por uma semana.

Assista à abertura de Mulheres Apaixonadas:

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