Além de Terra e Paixão: Lésbicas já morreram em novela da Globo para agradar homofóbicos
Assim como Mara e Menah, casal de trama exibida há 25 anos teve que “sumir” por conta do preconceito
Publicado em 23/11/2023 às 04:15,
atualizado em 23/11/2023 às 15:50
O casal lésbico de Terra e Paixão, Mara e Menah, vai perder o pouco espaço que tinha na novela das 21h da Globo. Foi o que revelou a atriz Renata Gaspar, em desabafo nas redes sociais nesta semana. Não é a primeira vez que isso acontece: outro par formado por mulheres foi apagado de uma trama exibida no horário nobre, há exatos 25 anos.
Foi em Torre de Babel (1998), com as personagens Leila (Silvia Pfeifer) e Rafaela (Christiane Torloni). O preconceito de parte do público com foi apontado como um dos fatores para a baixa audiência da novela, escrita por Silvio de Abreu e dirigida por Jorge Fernando (1955-2019). Resultado: as lésbicas tiveram que sair de cena.
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Leila e Rafaela morreram na explosão de um shopping, que marcou a virada na história. O crime, já previsto na sinopse, serviu para que o autor tirasse de cena os personagens que afugentavam a audiência, como também o usuário de drogas Guilherme (Marcello Antony) e o violento Agenor (Juca de Oliveira).
O entrecho acabou por revelar, à época, a intolerância de uma expressiva parcela dos telespectadores às lésbicas do horário nobre. Após um episódio de discriminação, Rafaela crava, na cena que antecede a tragédia: “Uma coisa como essa tem explicação? Tem sim… Só pode ser esse maldito preconceito!”.
Em 2020, em entrevista exclusiva ao NaTelinha, Silvia Pfeifer relembrou o caso. “Como houve a dificuldade de aceitação do casal, decidiram não seguir com o envolvimento da Leila. Por respeito a mim e à própria história da personagem, e com o desejo de criar algo realmente interessante e forte, decidiram matar Leila e Rafaela juntas”, disse. A princípio, apenas a primeira morreria, enquanto a segunda viveria um romance com outra mulher.
O que vai acontecer com Mara e Menah em Terra e Paixão?
Na terça-feira (21), Renata Gaspar, a Mara de Terra e Paixão, desabafou nas redes sociais sobre o rumo do casal formado com Menah, papel de Camilla Damião. Segundo a atriz, as personagens, que já tinham pouco destaque dentro da história, “não terão mais trama”.
“Acho que quando tudo acabar falaremos mais do que passamos. Mas é isso, viramos as tias, que ficam de fundo na festa e ninguém pergunta sobre sua história pois não querem saber. ‘É aquela tia que vive com a amiga dela’”, lamentou a artista em publicação no X/Twitter.
Renata ainda acrescentou: “Obrigada pelo carinho e vamos até o fim naturalizar da forma que pudermos pois amamos as personagens e esse encontro. E sabemos o quão importante e representativo isso é pra todo Brasil. Podem desistir mas nós jamais desistiremos”.
O autor Walcyr Carrasco se pronunciou, por meio de nota enviada pela assessoria de imprensa da Globo. O autor ressaltou que o foco, nas últimas semanas, tem sido dado aos personagens Antônio (Tony Ramos), Irene (Gloria Pires) e Agatha (Eliane Giardini), e desconversou sobre o “apagamento” do casal lésbico:
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“Não houve nenhum pedido da TV Globo neste sentido. Eu tenho liberdade total para escrever. E é com esta liberdade total que, até o final da novela, criarei o desfecho para todos os personagens. E este desfecho está apenas na minha cabeça. Nem a direção da Globo nem os atores sabem. Aguardem os próximos capítulos!”
Walcyr Carrasco
Após avanço, Globo voltou a vetar beijos gays em novelas
A Globo enfrentou uma grande polêmica neste ano depois que cenas de beijo entre Clara (Regiane Alves) e Helena (Priscila Sztejnman) foram cortadas em Vai na Fé. As sequências de intimidade entre elas só começaram a ir ao ar na novela das 19h depois de uma comoção sobre o assunto nas redes sociais.
Beijos entre casais homoafetivos seguem sendo vetados nas novelas da emissora. É assim nas cenas entre Mara e Menah e também nas sequências de Kelvin (Diego Martins) e Ramiro (Amaury Lorenzo), mesmo este casal tendo mais destaque em Terra e Paixão e fazendo sucesso com o público.
O tabu já parecia ter sido superado desde Amor à Vida (2013), também de Walcyr Carrasco, que fez história com o beijo entre Félix (Mateus Solano) e Niko (Thiago Fragoso). Depois dela, várias tramas tiveram cenas de afeto entre personagens LGBTQIAPN+, como Império (2014), Babilônia (2015), A Força do Querer (2017), Orgulho e Paixão (2018), entre outras.
