Após "boom", realities terminam 2022 com claros sinais de desgaste
Gênero teve explosão de público ao longo da pandemia, mas agora chegou a realidade
Publicado em 27/08/2022 às 07:15
Ainda faltam quatro meses para o ano terminar, mas não é preciso esperar até dezembro para constatar que o gênero reality show mostra sinais notórios de esgotamento. Depois de um "boom" entre 2020 e 2021 com a pandemia de Covid-19, 2022 mostra que a produção de todos esses programas que tiveram seus auges no período, vão ter que rebolar se quiserem ter vida longa na televisão. O espectador já fez sua escolha: a de não assistir esse tipo de conteúdo.
A começar pelo Big Brother Brasil, que renasceu há dois anos depois de uma temporada criticada e apagada em 2019. Provas que determinavam o novo Líder ou faziam os participantes escapar de maneira emocionante no Bate e Volta eram comemoradas como gols do Brasil na Copa do Mundo. Em 2021, quando ainda estávamos confinados e atingindo um grande número de mortes com a doença, o reality também foi bem, mas sob o comando de Tadeu Schmidt, a realidade bateu na porta.
O BBB 22 passou muito longe de ser um fracasso, mas é fato que não repetiu o desempenho do 21. Teve uma queda de quase 20% no Ibope na Grande SP (de 28 para 23), mas esse não foi um problema exclusivo do Grande Irmão. O No Limite, da mesma emissora, ainda que tivesse tido uma volta criticada depois de 12 anos, também teve queda neste ano. Ninguém passou ileso.
Às vésperas de mais uma temporada, A Fazenda já gera preocupação na Record. A luta será para conter a fuga do público em relação à temporada que consagrou Rico Melquiades como campeão. A de Jojo Todynho, em 2020, produzida no auge da crise sanitária, é um ponto fora da curva por todo o contexto. Índices que não eram vistos há uma década foram batidos.
TV fechada e streaming também sofrem com baixa de realities
Outras atrações da Record como o Ilha, atualmente no ar e Power Couple Brasil, também sofreram com os recordes negativos de público. A emissora tenta lutar contra a maré produzindo um tipo de conteúdo que vem sofrendo forte rejeição. Ainda não se fala em cancelamento para 2023, mas é óbvio que ao final desta temporada, terão que pensar em mudanças substanciais.
Na televisão por assinatura não é diferente. O De Férias com o Ex, carro-chefe da MTV, passou praticamente batido com a temporada transmitida no último verão e gravada no Caribe, misturando brasileiros e falantes do castelhano. Uma nova leva de episódios nesses moldes estreia ainda em 2022. O formato também teve um pico gigante de audiência entre 2021 e 2022. O Rio Shore, franquia famosa que desembarcou por aqui recentemente, muita gente não sabe sequer o que é.
Soltos em Floripa que gerou um burburinho nas redes sociais em 2020, no início da pandemia, também teve uma segunda temporada esquecível. A próxima será em Salvador e a Amazon Prime Video vai ter que se reinventar se quiser dar uma sobrevida ao reality.
E embora o gênero esteja voltando aos patamares de 2019 o SBT quer embarcar nisso em 2023 e produzir um novo reality show de confinamento. É claro que tudo pode acontecer até lá, mas o bonde passou e a emissora "moscou" demais. Chegou dois anos atrasado.
Com exceção do BBB, em viés de baixa até 2019 e de A Fazenda, trunfo da Record no último semestre do ano há tempos, todos esses outros precisarão passar por estudos se quiserem continuar adiante. São produtos caros e que podem mergulhar numa crise ainda mais forte no próximo ano. No mais grave dos casos, podem ser cancelados pelo mesmo público que os brindou com a alta audiência e engajamento ao longo da pandemia.
Thiago Forato é jornalista, assina a coluna Enfoque NT desde 2011, além de matérias e reportagens especiais no NaTelinha. Forato também é autor do blog https://parlandodepalmeiras.com.br. Converse com ele pelo e-mail thiagoforato@natelinha.com.br ou no Twitter, @tforatto