Mortes, aposentadorias e demissões: Os donos das novelas da Globo
Coluna Especial assinada pelo escritor e roteirista Silvio Cerceau
Publicado em 12/04/2023 às 07:35,
atualizado em 12/04/2023 às 10:20
Novela sempre foi e será líder de audiência, mesmo com toda evolução da tecnologia. É o horário mais caro para o anunciante e um produto lucrativo para a Globo. Grandes nomes estão por trás dessa façanha de prender o público: os autores.
Desde a década de 90 que o cenário da dramaturgia vem passando por mudanças significativas, com mortes, aposentadorias, demissões e renovações de roteiristas. E essas mudanças impactaram na audiência e na dificuldade de cativar os noveleiros de plantão.
Ainda na década de 80, em 1983, a Globo perdeu a grande dramaturga Janete Clair (1928- 1983), autora de grandes sucessos até aquela ocasião. Na década seguinte perdeu os autores Dias Gomes (1922-1999), Ivani Ribeiro (1922-1995) e Cassiano Gabus Mendes (1929-1993),três ícones da dramaturgia. A partir daí a emissora seguiu seu curso com autores que ficaram anos no ar.
Carlos Lombardi se tornou a marca de novela das sete. O autor dominava o horário com suas histórias que alcançavam bons números de audiência. Lombardi deixou a emissora em 2012 e nunca mais voltou, depois de 31 anos de jornada.
Silvio de Abreu também fez história no canal e tornou uma marca expressiva em novelas das sete e das nove, com uma pegada policial e de suspense. Fez grandes folhetins como Guerra dos Sexos (1984), A Próxima Vítima (1995), Torre de Babel (1998) e Belíssima (2006). Migrou para a chefia de teledramaturgia da Globo em 2014, onde revelou novos autores, porém deixou o canal em 2020.
Elizabeth Jhin era a nova Ivani Ribeiro. Escrevia com sabedoria sobre os mesmos temas e foi responsável por vários sucessos no horário das seis, mas simplesmente não teve seu contrato renovado em 2021, deixando uma lacuna na teledramaturgia. Ficou na Globo por mais de 30 anos.
Alcydes Nogueira foi outro autor que deixou em luto muitos noveleiros ao ter sua saída da emissora anunciada em 2022, após 40 anos de parceria. Autor de grandes sucessos, vencedor do Emmy com o remake da novela O Astro (2011). Seu último trabalho foi a novela Tempo de Amar(2018).
Maria Adelaide Amaral, autora de trabalhos expressivos entre novelas e minisséries, após 32 anos também deixou a Globo, inesperadamente. Miguel Falabella faz falta no humor e nas novelas, criador de sucessos como Sai de Baixo, Toma Lá, Dá Cá e Pé na Cova, também teve trabalhos expressivos na teledramaturgia, mas em 2020 foi demitido, após 39 anos da casa.
Silvio Cerceau
As novelas de Manoel Carlos fazem falta na tela da Globo
Ana Maria Moretzsohn, uma autora versátil que colaborou com vários autores em diversas novelas de sucesso, entre idas e vindas, deixou a emissora definitivamente em 2019. Walther Negrão também saiu em 2020. Responsável por sucessos, cito Fera Radical (1988) e Sol Nascente (2017), sua última novela na Globo.
Antônio Calmon, Lauro César Muniz, João Ximenes Braga, Marcílio Moraes, Bosco Brasil, Euclydes Marinho, Aguinaldo Silva, Patrícia Moretzsohn, Ângela Chaves, Paulo Halm e Daniel Adjafre também deixaram repentinamente a platinada no decorrer dos últimos anos.
Além dessas demissões, tivemos a aposentadoria de Manoel Carlos, a passagem de bastão de Benedito Ruy Barbosa para seu neto e filhas e a perda do grande Gilberto Braga. Tudo isso deixou um buraco bem fundo nas novelas da Globo. O costume de seguir a história contada por autores que já estavam familiarizados com o público.
Silvio Cerceau
Manoel Carlos e suas Helenas; Gilberto Braga (1945-2021) retratando a burguesia; a comédia romântica de Miguel Falabella; o ruralismo impecável de Benedito Ruy Barbosa; o suspense de Silvio de Abreu... Tudo isso faz muita falta. A história contada com as peculiaridades de cada autor.
Muitos desses profissionais fazem muita falta na televisão. O interessante é que praticamente todos estão fora do mercado, mesmo com a intenção dos streamings em produzir novelas, eles ainda não foram absorvidos pelo segmento.
Atualmente temos uma boa safra de grandes novelistas. Os veteranos Gloria Perez, Walcyr Carrasco e João Emanoel Carneiro, que entregam excelentes folhetins, e o mais novos Lícia Manzo, Alessandra Poggi, Alessandro Marson, Gustavo Reiz, Manuela Dias, Cláudia Souto, Izabel Oliveira, Paula Amaral, Thelma Guedes, Daniel Ortiz, Duca Rachid, Maria Helena Nascimento, Mauro Wilson, Emanoel Jacobina, Rosane Svartman, Ricardo Linhares, e alguns que ainda estão na função de colaboradores, mas em breve virarão titulares, certamente.
Essa nova safra tem uma missão: continuar mantendo as novelas em evidência. Cabe a eles criarem e contarem boas histórias, assim alimentar a teledramaturgia e manter a Globo como líder de audiência.
Que venham boas histórias como as de antigamente.
Silvio Cerceau é escritor, roteirista e tem 13 livros publicados.
Instagram @silviocerceau