Silvio Santos não pode sofrer cobranças para voltar aos estúdios do SBT
Coluna Especial assinada por James Ackel, jornalista, diretor e produtor de teatro e televisão
Publicado em 26/02/2023 às 08:00
O tempo não fica na porta, mesmo tarde vai entrante, o tempo assim se comporta tal qual vento galopante.
Vi Silvio Santos duas vezes na vida. A primeira em 1959, quando eu apresentava um programa infantil na TV Paulista (1952 - 1966), e em uma determinada noite, antes de sair do estúdio, assisti Silvio sendo garoto-propaganda de um refrigerante de nome Crush, que tinha uma tampinha de lata revestida de cortiça e se você raspasse a cortiça poderia ganhar um brinde.
A outra vez foi em 1992, quando eu fiz um jantar em homenagem ao governador da Bahia, Antônio Carlos Magalhães (1927-2007), e o Silvio Santos fez questão de comparecer.
Neste jantar eu entreguei o microfone para que ele falasse mesmo não estando programado sua fala, mas naquele evento eu não poderia deixar que o maior comunicador da história do país ficasse sem mostrar o seu talento para todos nós.
E da mesa onde ele estava sentado, Silvio Santos deu o show que esperávamos dele. Em 1963, quando ele começou seu programa de domingo na TV Paulista, eu estava na TV Record, onde fazia o seriado A Turma dos Sete.
E o sucesso de Silvio foi tão grande que um programa dele de duas horas, depois de poucos meses, foi transformado em um programa de oito horas de duração ao vivo.
E já naquele tempo eu amava ver o Silvio Santos aos domingos. E eu amava o futebol que a TV Tupi (1950-1980) e a TV Record passavam nas tardes de domingo, mas muitas vezes deixei de assistir meu time de futebol para ver o Silvio apresentar seu programa com um carisma que encantava.
Não apenas eu, mas todos se encantavam com aquele apresentador tão carismático que levava as pessoas ao choro com o seu Boa Noite Cinderela e, anos depois, com o emocionante Porta da Esperança.
Mas o tempo não fica na porta, mesmo tarde vai entrante, o tempo assim se comporta tal qual vento galopante.
Silvio Santos com todos os méritos passou a ser dono de sua emissora de TV. Com muitas dificuldades de logística e financeira, Silvio foi tocando o SBT e, a cada dia mais, se tornando o maior comunicador da história da televisão.
James Ackel
Ele passou a ter uma tranquilidade financeira quando vendeu sua parte da TV Record para o bispo Edir Macedo e quando sua Tele Sena passou a ser um sucesso de vendas no país todo e lhe deu grande lucro, o bastante para bancar os inúmeros prejuízos que sua TV lhe deu em muitas vezes.
Eu gostava mesmo de assistir o Silvio Santos há alguns anos, das 11h da noite em diante. Ele ali no palco, com todo seu carisma, fazendo o Ibope superar a Globo. Silvio fazia o verdadeiro artesanato da TV.
Neste ano, o Programa Silvio Santos, que começou em 1963 na TV Paulista em um estúdio acanhado que era na verdade a garagem de um imóvel, passando de 2 a 8 horas de trabalho dominical, completa 60 anos.
Não existe ninguém no país ou em qualquer outro lugar do mundo que tenha comandado um show por 60 anos. Silvio Santos é o único em muitas coisas e em tempo de TV também.
Vi esta semana uma foto de Silvio nos Estados Unidos em sua casa, cabelos penteados para trás, muitos fios brancos, de óculos lendo alguma coisa. A foto de um homem que deu alegrias todas as semanas para todas as pessoas durante 60 anos.
A foto de um homem realizado financeiramente e pessoalmente e que é a grande base de toda sua família. Um homem que trabalhou a vida toda acreditando que o bem vence o mal e que se não fosse assim não teria razão de viver.
Silvio Santos merece descansar sem que lhe cobrem a esta altura da vida a sua presença no palco. O homem que recebeu de Deus o dom da comunicação e o dom de levar a felicidade para tantas pessoas. E assim se fez.
O tempo não fica na porta, mesmo tarde vai entrante, o tempo assim se comporta e a vida vai avante.
James Ackel é jornalista, diretor e produtor de teatro e televisão. Dirigiu e produziu o Especial Hebe na Band em dezembro de 2020.