Opinião

Silvio Santos não pode sofrer cobranças para voltar aos estúdios do SBT

Coluna Especial assinada por James Ackel, jornalista, diretor e produtor de teatro e televisão


Silvio Santos no palco do seu programa do SBT em montagem do NaTelinha
Programa Silvio Santos completou 60 anos em 2023 - Foto: Divulgação SBT/Montagem NaTelinha

O tempo não fica na porta, mesmo tarde vai entrante, o tempo assim se comporta tal qual vento galopante.

Vi Silvio Santos duas vezes na vida. A primeira em 1959, quando eu apresentava um programa infantil na TV Paulista (1952 - 1966), e em uma determinada noite, antes de sair do estúdio, assisti Silvio sendo garoto-propaganda de um refrigerante de nome Crush, que tinha uma tampinha de lata revestida de cortiça e se você raspasse a cortiça poderia ganhar um brinde.

A outra vez foi em 1992, quando eu fiz um jantar em homenagem ao governador da Bahia, Antônio Carlos Magalhães (1927-2007), e o Silvio Santos fez questão de comparecer.

Neste jantar eu entreguei o microfone para que ele falasse mesmo não estando programado sua fala, mas naquele evento eu não poderia deixar que o maior comunicador da história do país ficasse sem mostrar o seu talento para todos nós.

E da mesa onde ele estava sentado, Silvio Santos deu o show que esperávamos dele. Em 1963, quando ele começou seu programa de domingo na TV Paulista, eu estava na TV Record, onde fazia o seriado A Turma dos Sete.

E o sucesso de Silvio foi tão grande que um programa dele de duas horas, depois de poucos meses, foi transformado em um programa de oito horas de duração ao vivo.

E já naquele tempo eu amava ver o Silvio Santos aos domingos. E eu amava o futebol que a TV Tupi (1950-1980) e a TV Record passavam nas tardes de domingo, mas muitas vezes deixei de assistir meu time de futebol para ver o Silvio apresentar seu programa com um carisma que encantava.

Não apenas eu, mas todos se encantavam com aquele apresentador tão carismático que levava as pessoas ao choro com o seu Boa Noite Cinderela e, anos depois, com o emocionante Porta da Esperança.

Mas o tempo não fica na porta, mesmo tarde vai entrante, o tempo assim se comporta tal qual vento galopante.

Silvio Santos com todos os méritos passou a ser dono de sua emissora de TV. Com muitas dificuldades de logística e financeira, Silvio foi tocando o SBT e, a cada dia mais, se tornando o maior comunicador da história da televisão.

James Ackel

Ele passou a ter uma tranquilidade financeira quando vendeu sua parte da TV Record para o bispo Edir Macedo e quando sua Tele Sena passou a ser um sucesso de vendas no país todo e lhe deu grande lucro, o bastante para bancar os inúmeros prejuízos que sua TV lhe deu em muitas vezes.

Eu gostava mesmo de assistir o Silvio Santos há alguns anos, das 11h da noite em diante. Ele ali no palco, com todo seu carisma, fazendo o Ibope superar a Globo. Silvio fazia o verdadeiro artesanato da TV.

Neste ano, o Programa Silvio Santos, que começou em 1963 na TV Paulista em um estúdio acanhado que era na verdade a garagem de um imóvel, passando de 2 a 8 horas de trabalho dominical, completa 60 anos.

Silvio Santos não pode sofrer cobranças para voltar aos estúdios do SBT

Não existe ninguém no país ou em qualquer outro lugar do mundo que tenha comandado um show por 60 anos. Silvio Santos é o único em muitas coisas e em tempo de TV também.

Vi esta semana uma foto de Silvio nos Estados Unidos em sua casa, cabelos penteados para trás, muitos fios brancos, de óculos lendo alguma coisa. A foto de um homem que deu alegrias todas as semanas para todas as pessoas durante 60 anos.

A foto de um homem realizado financeiramente e pessoalmente e que é a grande base de toda sua família. Um homem que trabalhou a vida toda acreditando que o bem vence o mal e que se não fosse assim não teria razão de viver.

Silvio Santos merece descansar sem que lhe cobrem a esta altura da vida a sua presença no palco. O homem que recebeu de Deus o dom da comunicação e o dom de levar a felicidade para tantas pessoas. E assim se fez.

O tempo não fica na porta, mesmo tarde vai entrante, o tempo assim se comporta e a vida vai avante.


James Ackel é jornalista, diretor e produtor de teatro e televisão. Dirigiu e produziu o Especial Hebe na Band em dezembro de 2020.

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