Opinião

Disney enfrenta crise na TV brasileira e faz Mickey ficar longe dos pobres

Conglomerado de mídia se afastou da televisão aberta e perde interesse do telespectador brasileiro


Montagem com Mickey Mouse e o símbolo da Globo e SBT
Mickey Mouse é o símbolo da Disney - Foto: Montagem/NaTelinha

Com a chegada da plataforma Disney+ ao Brasil em novembro de 2020, um dos maiores grupos de mídia do mundo encerrou canais na TV por assinatura e afastou seus personagens clássicos da televisão aberta para concentrar todo o seu portfólio premium no aplicativo. Três anos depois da estratégia, o serviço de streaming do Mickey Mouse tornou-se um fracasso no país, provocou uma crise de identidade dos seus personagens no mercado brasileiro e fez a Disney se distanciar do público mais pobre.

De acordo com a Kantar Ibope Media, em janeiro de 2024, o vídeo online abocanhou o consumo de 30,8% do público em todos os dispositivos – TV, celular, tablet, etc. – nas 15 principais praças do país.

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Desse total, minguados 0,3% foi a participação do Disney+. O outro aplicativo dos estúdios da The Walt Disney Company, o Star+, correspondeu também a 0,3 dessa audiência. Péssimos resultados. No segmento, o YouTube liderou com 18,2% de participação, seguido da Netflix (4,9%) e do TikTok (4%).

No início deste mês, pelo pífio desempenho do Star+, a Disney anunciou a fusão do app no dia 30 junho na plataforma principal do grupo.

Canal infantil da Disney passa vexame na TV paga

Outro resultado ruim é o desempenho do canal infantil Disney Channel, que sempre foi o carro-chefe na televisão por assinatura e sofreu esvaziamento de conteúdo para privilegiar o Disney+. Em 2020, ficava entre os 20 canais mais sintonizados no universo da televisão a cabo. Agora o cenário mudou. De acordo com números medidos pelo Ibope, obtidos pelo NaTelinha por terceiros, em fevereiro, nem aparece entre os 70 canais mais assistidos.

Esse afastamento do público brasileiro na busca pelo consumo dos produtos Disney na televisão coincide com a pouca vitrine que passaram a ter seus principais personagens. Desde 2018, Mickey, Pato Donald e Pateta não tiveram mais seus desenhos exibidos na TV linear aberta do Brasil. Na época, o grupo encerrou seu contrato com o SBT e tirou do ar o Mundo Disney, que era um horário comprado.

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Segundo a Kantar Ibope Media, 4 pontos de uma emissora no Painel Nacional de Televisão (PNT) significam que o produto foi assistido por quase 3 milhões de pessoas no país. É muito mais do que o portfólio com mais visualizações no Disney+. 

A crise da Disney na televisão do Brasil aconteceu porque o grupo americano traça estratégias iguais para a América Latina, mas esquece das características brasileiras. Diferentemente dos outros países da região, aqui, a TV por assinatura não é uma realidade da maioria, mas na Argentina já chegou a 85%, por exemplo.  A Disney tem o olhar americano para o Brasil.

Nos Estados Unidos, segundo o instituto Nielsen, que mede a audiência no país, os serviços de streaming são os mais preferidos nas residências dos americanos, com cerca de 34,0%. Em seguida, vêm a TV por assinatura, com 31,5%, e as emissoras abertas, com 23,1%. No Brasil, a realidade é outra. A TV aberta continua sendo o principal meio de entretenimento do grande público com 61,3%, segundo a Kantar Ibope Media.

Esse cenário mostra que a companhia multinacional de mídia teve uma estratégia equivocada ao tentar crescer no mercado de streaming no Brasil sem o apoio da TV aberta.  

Por outro lado, a Disney continua com forte referência no cinema. Em 2023, das cinco maiores bilheterias brasileiras, dois eram do conglomerado americano: Avatar e Guardiões da Galáxia 3. Na TV aberta, os filmes são exibidas com exclusividade pela Globo, através de uma parceria com detalhes sigilosos, mas seus seriados e desenhos animados sumiram do público de massa e se tornaram um produto de consumo fora da realidade dos mais pobres. 

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