Coluna do Sandro

Sambódromo do Rio tem pista branca à pedido da TV Manchete

Emissora do Grupo Bloch teve participação importante na transmissão dos desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro


Escolas de samba mangueira em montagem do NaTelinha
Escolas de samba do Rio desfilam entre domingo (19) e segunda (20) de carnaval - Foto: Divulgação/agência Brasil

Os desfiles das escolas de samba do Rio iniciam neste domingo (19) com transmissão exclusiva pela Globo e Globoplay. As agremiações atravessam o sambódromo da Marquês de Sapucaí numa pista pintada, anualmente, de branco. Isso ocorre desde que os técnicos da extinta TV Manchete (1983-1999), também detentora dos direitos de transmissão dos desfiles entre as décadas de 80 e 90, alertaram que a cor seria a melhor opção para a TV.

Procurado pelo NaTelinha, Fernando Morgado, consultor de empresas de mídia, professor e autor dos livros Comunicadores S.A. e Silvio Santos - A Trajetória do Mito, falou sobre a importância da Manchete na transmissão do Carnaval na televisão.

“Quando nasceu, a Rede Manchete era conhecida por sua qualidade técnica. Havia, portanto, uma preocupação estética muito forte. Por exemplo: foram os técnicos da Manchete que recomendaram a pintura da pista com tinta branca. Assim, as luzes dos carros refletiriam muito mais do que no asfalto. E essa prática continua até os dias atuais”.

E continua: "A TV Manchete herdou a tradição da revista Manchete (1952-2000). Um grande hábito carioca era correr para a banca e comprar a edição especial que saía na Quarta-Feira de Cinzas, cheia de belas fotos dos bailes, concursos de fantasia e desfiles".

A Manchete, que pertencia ao Grupo Bloch, transmitiu os desfiles do Carnaval do Rio pela primeira vez em 1984, ano que inaugurou o sambódromo carioca. Antes, as escolas de samba desfilavam no centro da cidade, na Avenida Rio Branco, com exibição da Globo e, eventualmente, pela Band e TV Educativa.

Em 1984, TV Manchete furou a Globo nos desfiles das escolas de samba

Ainda em 84, a Manchete furou a Globo, transmitiu o Carnaval com exclusividade e virou líder de audiência na folia da TV naquele ano. A situação acabou melando a relação de Adolfo Bloch (1908-1995) e Roberto Marinho (1904 -2003) que, segundo o Livro do Boni, escrito pelo ex-todo poderoso da Globo, existia nos bastidores um acordo para repassar os direitos da escolas de samba do Rio para a líder de Ibope.

“O governo, com o sambódromo na mão, assumiu a negociação dos direitos. A coisa foi engrossando e, pressionado, achei uma saída: combinei com o Moysés Weltman, da Manchete, que ele compraria o Carnaval sozinho e depois repassaria a minha parte. Esse compromisso foi assumido pedra e cal, depois dele ter consultado o Adolfo Bloch. Uma vez assinado o contrato, no entanto, o Weltman não me atendia mais, e o Bloch não respondia nenhum telefonema do dr. Roberto Marinho, que declarou guerra ao Adolpho Bloch. Ficamos fora do Carnaval".

Livro do Boni

A qualidade da Manchete na transmissão dos desfiles das escolas de samba do Rio acabou melhorando a cobertura da Globo. Uma dessas consequências foi a criação do conceito Globeleza, em 1991, que acabou se tornado um case de sucesso.

Por fim, ao NaTelinha, Fernando Morgado destacou  as apostas da Manchete na transmissão do Carnaval: "O volume de cobertura da Manchete não tinha paralelo. Eram dezenas de horas ininterruptas no ar. Uma sequência de desfiles ao vivo do Rio e de São Paulo, blocos no Nordeste, bailes, concursos de fantasia, reprises de desfiles, telejornais e especiais musicais. Era a melhor opção para quem gostava da folia, mas não pretendia sair de casa”.

Confira a chamada do Carnaval da Manchete em 1990:

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