Com Silvio Santos, Globo expõe a histórica amizade entre os donos com o SBT
Globo homenageará Silvio Santos (1930-2024) no Melhores do Ano neste domingo, com PatrIcia Abravanel ao vivo no palco
Publicado em 15/12/2024 às 08:00,
atualizado em 15/12/2024 às 08:42
A Globo homenageará o apresentador Silvio Santos (1930-2024) no Melhores do Ano, comandado por Luciano Huck, neste domingo (15). Patricia Abravanel irá ao palco da emissora e esse trecho da atração, que será ao vivo, terá transmissão simultânea pelo SBT. Essa situação incomum no mundo entre canais concorrentes reflete uma amizade entre donos de TVs que se iniciou em 1965, quando Silvio Santos alugava os domingos do canal fundado pelo jornalista Roberto Marinho (1904-2003).
Mesmo após o apresentador ter deixado a Globo em 1976 para se tornar um empresário de comunicação, Silvio Santos e Roberto Marinho continuaram a trocar telefonemas, presentes e telegramas. Como mostrou a reportagem do Jornal O Globo, em agosto deste ano.
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“Meu querido Roberto, eu sempre fico contente quando me telefona e trata de qualquer assunto comigo. Sua atenção e gentileza fazem crescer a minha admiração pelo chefe de ontem e amigo de hoje”, escreveu o apresentador em uma carta enviada no final de 1980.
Embora as disputas pela audiência na televisão se intensificassem, nos bastidores, a relação entre os dois empresários era cordial.
Em 1987, o dono do SBT enviou fitas de David Copperfield ao dono da Globo, sabendo de sua admiração pelo mágico americano. Em agradecimento, Roberto Marinho convidou Silvio Santos para um almoço no Rio de Janeiro.
Em 22 de setembro de 1989, o jornalista enviou um telegrama a Silvio Santos em solidariedade pela morte de sua mãe, Rebecca Caro: “Absorvido por uma anormal sobrecarga de trabalho, só hoje soube do falecimento da senhora sua mãe. Quero que aceite meus pêsames com a expressão do maior sentimento e carinho deste seu amigo”.
Quando Roberto Marinho faleceu em agosto de 2003, Silvio Santos ordenou ao SBT que exibisse, durante sua programação, um texto de um minuto lido por Hermano Henning em homenagem ao antigo chefe.
“A televisão brasileira, hoje, reconhecida como uma das melhores do mundo, deve à tenacidade, ao espírito desbravador, ao respeito à ética e aos princípios de moralidade que o Dr. Roberto sempre procurou aplicar”, dizia um trecho do comunicado.
Morte de Silvio Santos na Globo
Em agosto, a morte de Silvio Santos na Globo recebeu um dos maiores espaços dedicados a uma personalidade na história do Jornal Nacional. A emissora interrompeu sua programação e realizou um plantão do JN, entrevistando ao longo do dia artistas lançados pelo SBT, como Mara Maravilha, e seu biógrafo, Fernando Morgado.
Além disso, a emissora exibiu um Globo Repórter especial e, ao longo da programação, colocou no ar uma vinheta com imagens do apresentador, tendo ao fundo o instrumental da música "Silvio Santos Vem Aí", que se encerrou com a formação do logotipo da emissora e o famoso "plim-plim". Uma homenagem inédita na Globo.
Outro ponto importante que evidencia a relação próxima entre os empresários das duas emissoras foi a presença de Paulo Marinho, diretor-presidente da TV Globo e neto de Roberto Marinho, e de Roberto Irineu Marinho, filho do fundador da Globo, no velório de Silvio Santos em São Paulo. Eles estavam entre as poucas pessoas presentes fora da família do artista.
São raras as presenças dos donos da Globo em ocasiões públicas.
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A nota publicada pelo Grupo Globo, lamentando a morte de Silvio Santos, foi assinada por João Roberto Marinho, presidente do Grupo, e não pela empresa, como é comum em notas institucionais de pesar. Isso tem simbolismo.
A participação de Patricia Abravanel no Melhores do Ano no Domingão e a transmissão simultânea entre Globo e SBT foram antecipadas com exclusividade pelo NaTelinha na última sexta-feira (13).
Essa homenagem a Silvio Santos reflete que a relação entre a emissora dos Marinho e dos Abravanel transcende o institucional. Nos bastidores, fala-se de aspectos políticos, pois para a Globo, um SBT fortalecido é mais interessante que a Record. Além disso, a emissora precisará de aliados na disputa contra as big techs.