Publicado em 19/05/2022 às 18:55:01,
atualizado em 19/05/2022 às 19:55:52
Se em 1995 a Globo mostrou um pastor charlatão e chocou parte da audiência com Decadência, em 2008, com Duas Caras, a emissora mostrou uma caricatura que foi alvo de parte dos evangélicos do país. Mais de 25 anos depois da minissérie de Dias Gomes e 15 anos após Aguinaldo Silva investir no público, a emissora abraça os evangélicos e levará ao ar sua primeira novela gospel.
Vai na Fé, de Rosane Svartman, irá ao ar em 2023, substituindo Cara e Coragem, que estreia dia 30 de maio, no lugar de Quanto Mais Vida, Melhor, e será considerada um marco na história da emissora carioca. A mocinha da história será evangélica, pela primeira vez desde que a Globo exibe novelas em qualquer faixa, a personagem principal professará a fé protestante.
O NaTelinha apurou que a nova cúpula de dramaturgia, comandada por José Luiz Villamarim, já havia pedido para os autores projetos que abraçassem o público evangélico, por conta da crescente da religião nos últimos anos. Com isso, Rosane montou sua história estruturando a protagonista como uma advogada que também é evangélica.
A reportagem falou com uma pessoa que leu a sinopse e a mudança de perfil em relação ao que colocou no ar Aguinaldo Silva em 2008 será gritante. Nada de evangélicos expulsando demônios no meio da rua ou tendo premonições, nem muito menos charlatões. Dessa vez, a trama irá mostrar que os protestantes brasileiros estão em toda parte da sociedade e a religião virou uma espécie de catolicismo contemporâneo, e não é um impeditivo ou fator para dar medo em alguém.
A decisão da direção da Globo para investir nos evangélicos se dá por duas razões principais. O crescimento vertiginoso da religião nos últimos 25 anos. Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram que a religião tem 31% da parcela brasileira, o que equivale a 64 milhões de pessoas. Pesquisa interna da Globo revela que não é possível ignorar essa fatia importante da sociedade.
Um produtor revelou à reportagem que, em reunião os diretores verificaram que é preciso alcançar esse público, entregue completamente a Record neste momento. Com a crise da emissora paulista, podendo até encerrar as tramas bíblicas, há um espaço para este tipo de novelas. Não se trata da Globo ter um horário só para evangélicos, mas um teste em que, sendo bem aceito, várias tramas passarão a ter histórias de evangélicos, sejam coadjuvantes ou protagonistas.
Outro importante ponto analisado pela Globo é que, com os evangélicos crescendo, a resistência contra as novelas do canal estão em crescimento. Pastores popstars, como Silas Malafaia fazem campanha aberta pedindo que seus fiéis não assistam às tramas da emissora carioca e, a médio prazo isso pode impactar nos números de audiência, caso os evangélicos sigam crescendo.
Por isso, a direção quer mudar a narrativa de que "as novelas da Globo são contra a família". Além de seguir investindo em temas progressistas e defendendo minorias, como homossexualidade e direitos da mulher, as tramas irão apostar também em histórias evangélicas para atrair este público.
Mas essa relação tensa da emissora com evangélicos já foi muito mais leve. A Globo chegou a exibir por vários anos o Festival Promessas, um show só com os principais cantores evangélicos do país e que dava retorno de audiência e de publicidade.
Além disso, nomes como Ana Paula Valadão e Fernanda Brum já marcaram presença na programação do canal em programas como o Domingão. Aline Barros não é considerada porque sempre teve portas abertas e bom trânsito na Globo.
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