Publicado em 30/05/2023 às 04:45:00,
atualizado em 30/05/2023 às 09:49:03
Não é exagero dizer que a internet ficou indignada na última semana, após a Netflix anunciar que irá cobrar R$ 12,90 adicionais dos assinantes que compartilharem a conta. Não demorou para que as redes sociais fossem inundadas de relatos de usuários afirmando que vão cancelar a assinatura.
Ainda que não tenha amostragem científica, a enquete que lancei no LinkedIn é um exemplo: entre os mais de 1.700 participantes até aqui, 59% dizem que vão abandonar a plataforma de streaming.
Acontece que a Netflix sabe desse movimento. E mais: eles dobram a aposta, acreditando que a maioria vai voltar em um futuro próximo.
Eu explico.
A cobrança adicional faz parte de um movimento do mercado de streaming. Antes, investidores queriam que esses serviços aumentassem a sua base vertiginosamente, sem se importar com o dinheiro. Por anos, a pioneira desse mercado lançou filmes e séries em escala industrial, enquanto estimulava o seu uso a baixo custo para minar a concorrência.
No entanto, o jogo mudou. Os investidores agora exigem um crescimento responsável, diminuindo gastos e aumentando a receita média por assinante. É por isso que a Netflix quer tirar um trocado com quem, hoje, pega emprestada a conta do amigo, parente...
A empresa acredita que, no mundo, são 100 milhões de “caronas”. A base pagante é, atualmente, de 232 milhões de assinaturas. Ou seja, tem mais uns 45% na “pindura”. Contudo, de que adianta cobrar a mais se as pessoas vão cancelar?
É aí que está o “dobrar a aposta”.
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“É muito parecido com o aumento de preço: nós vemos uma reação inicial de cancelamentos. E então construímos a partir disso, tanto em termos de assinaturas quanto de receita, à medida que os caronas se inscrevem em suas próprias contas do Netflix e os membros existentes compram essa facilidade adicional de compartilhamento”, explicou Greg Peters, co-CEO da companhia, na última conferência com investidores.
Resumindo: eles sabem que você ficou irritado. Porém, a empresa acredita que um próximo grande lançamento - seja a nova temporada de um hit como Wednesday ou Stranger Things, ou um novo sucesso criado do zero - poderá criar aquele efeito positivo que trará esses usuários de volta.
“No longo prazo, o compartilhamento pago garantirá uma base de receita maior a partir da qual poderemos crescer à medida que melhoramos nosso serviço”, afirmou a companhia norte-americana em seu balanço mais recente, do primeiro trimestre de 2023.
A questão que fica é: será o próximo efeito manada de um grande sucesso o suficiente para que essas pessoas se esqueçam de todo o rancor que agora carregam em seus corações?
É bom ressaltar que de nada adianta migrar para o concorrente. Grupos como Disney, Warner Bros. Discovery, NBCUniversal e outros estão de olho nos resultados dessas mudanças no principal concorrente. Afinal, todos eles sofrem as mesmas pressões que a Netflix - e copiá-la, caso dê certo, é algo bem óbvio a ser feito.
Há também outra variável nesta equação: a publicidade.
Por décadas, a Netflix se orgulhou de não ter qualquer anúncio em sua plataforma. A necessidade de ampliar receitas a fez repensar essa estratégia. Isso mudou.
Desde o final do ano passado é possível assinar um plano com propagandas, que no Brasil custa R$ 18,90.
“Quem gosta de ver publicidade?”, você deve estar se perguntando. Bom, a realidade é que estamos acostumados a isso desde sempre, o formato é a base de nossa televisão. O problema é que o conteúdo e a forma de uso da plataforma não foram pensadas dentro desse modelo. Mas esse é um outro papo.
A questão aqui é que, apesar de ainda inicial, o projeto está dando certo. Nos Estados Unidos, um mercado mais maduro, a empresa já ganha mais por usuário que vê anúncios do que aquele que paga o preço “cheio”. A diferença é “inteirada” pelos anunciantes.
É por isso que, por lá, sai mais caro dividir a Netflix do que assinar o pacote padrão com propagandas: US$ 7,99 contra US$ 6,99.
O motivo é claro: eles querem que os caronas partam para contas próprias, onde vão ver anúncios e render ainda mais dinheiro para o streaming - que precisa, neste momento, aumentar o número de pessoas nessa faixa de assinatura.
A empresa foi mais comedida no Brasil: por aqui o plano básico com anúncios custa R$ 18,90, seis reais a mais do que a opção de compartilhar senhas. Diria que, em parte, é porque o nosso mercado publicitário não é tão forte quanto o norte-americano.
Seja como for, a diferença de preços não é tão grande assim.
Uma das grandes vantagens dos serviços de vídeo online é a facilidade em cancelar. Diferentemente da velha TV paga, a ação se resolve em poucos cliques.
Por isso existe a figura do “surfista de streamings”: quem pula de uma plataforma para outra de acordo com o sucesso do momento, com aquilo que quer ver. É aquele que vai de onda em onda.
O formato da Netflix ajuda: a empresa lança temporadas de uma só vez, para serem maratonadas. É diferente de HBO Max, Apple TV+ e concorrentes, que trabalham com episódios semanais - e podem prender o usuário por mais meses.
Com mais um custo adicional, é provável que a pioneira veja uma intensificação desse comportamento. Aí de nada adianta ter um hit para fazer com que os irritados retornem: eles vão abandonar o serviço mais uma vez no mês seguinte.
A Netflix também sabe disso.
Por isso, prepare-se: a era das maratonas pode estar acabando, ao menos da forma como conhecemos. Mais temporadas, como a quarta de Stranger Things, serão lançadas em partes.
Como você pode ver, a era de assistir a filmes e séries por pouco dinheiro (ou até de graça), legalmente, acabou.
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