Publicado em 21/12/2020 às 05:02:01
O vídeo do governo do Ceará contra aglomerações durante as festas de fim de ano ainda repercute com o aumento de casos de coronavírus no Brasil (7.213.155 registros e 186.356 mortes até este domingo, segundo o Ministério da Saúde). O forte impacto nas redes sociais respingou também na protagonista da campanha, a atriz Stella Menegucci. Ao NaTelinha, ela revela ter sofrido ataques de negacionistas da pandemia.
Na peça estatal, a artista interpreta uma filha anunciando quem é o seu "amigo secreto". Conforme descreve a pessoa, começa a se emocionar, até revelar que trata-se de seu pai e que ele morreu por coronavírus após ser infectado pela filha. O vídeo termina com a personagem pedindo desculpas e jogando uma flor no caixão, enquanto um locutor alerta: "A pandemia não acabou. Cuidado com as confraternizações. Use máscara, evite aglomerações e cuide de quem você ama. Se for celebrar, não aglomere".
Lançada nos perfis do governo do Ceará na última terça-feira (15), a campanha ultrapassou 1,5 milhão de acessos e milhares de compartilhamentos, inclusive de políticos de partidos divergentes, como o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), e a ex-deputada federal Manuela d’Ávila (PCdoB-RS).
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A mensagem do vídeo ganhou mais força com dois casos que geraram revolta e tristeza entre o público no último domingo: a aglomeração provocada por Carlinhos Maia em uma festa de Natal com mais de 200 convidados e a morte da atriz Nicette Bruno, aos 87 anos, após ter contato com um familiar infectado com o vírus da Covid-19.
"Se evitarmos uma contaminação que seja, nosso papel está feito", torce Stella Menegucci em entrevista exclusiva. Embora tenha conquistado adesão em massa nas redes sociais, o vídeo também foi alvo de ataques de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que sempre minimizou as mortes por Covid-19 e, neste momento, se coloca contrário à vacinação, único tratamento cientificamente eficaz contra o coronavírus.
Entre as manifestações mais bizarras contra a campanha, o deputado estadual André Fernandes (Republicanos-CE) "acusou" o governo cearense de produzir "fake news" porque a mulher que chora pela morte do pai no vídeo é… uma atriz. O parlamentar ainda expôs as redes sociais e a vida particular de Stella Menegucci, como a morte de seu pai quando ela era criança.
"Sermos chamados de 'fake news' é no mínimo, surpreendente. Perdi meu pai precocemente em um acidente de carro, quem perdeu o pai por Covid-19 foi a personagem, da mesma maneira que Leonardo Di Caprio não morreu no naufrágio do Titanic nem Wagner Moura é o Capitão Nascimento. Faltou um pouco de interpretação para esse deputado, e seus seguidores, em uma cegueira e alucinação coletivas, perpetuaram suas falas 'non sense'", critica a atriz.
A artista de 34 anos, que já trabalhou em novelas do SBT e em dezenas de campanhas publicitárias, ainda conta ao NaTelinha os bastidores da gravação e admite ter ficado impactada com a mensagem contra aglomerações e pela proteção da família no Natal e no Réveillon.
NaTelinha: Como esta campanha chegou até você? Houve um convite ou fez testes para o papel?
Stella Menegucci: Foi tudo muito repentino. Sábado passado, dia 12, a produtora Ursa Maior, de Fortaleza, entrou em contato comigo dizendo que haviam me indicado para este trabalho e me pediram que gravasse um teste com meu próprio celular. Eu estava almoçando quando recebi o roteiro, me retirei da mesa e procurei um local tranquilo para gravar este depoimento tão forte. Enviei o vídeo e, em questão de 15 minutos, fui aprovada! Isso era mais ou menos 13h. Às 19h, embarquei para Fortaleza, onde gravaria no dia seguinte. O final de semana que havia planejado tomou rumos bem diferentes. Gosto de dizer que, muitas vezes, planos são feitos para serem desfeitos. O segredo da minha aprovação foram os dois chopes que havia bebido antes do teste (risos).
A campanha é muito forte e passa uma mensagem de alerta para a gravidade da pandemia de coronavírus. Quando você recebeu o texto e gravou, também sentiu este impacto?
Com certeza! Ao ler o roteiro pela primeira vez, arregalei os olhos e soltei um palavrão como interjeição. Fui impactada logo de cara e sabia que ali estava uma peça muito importante e muito forte. Meu desejo era que aquele trabalho fosse meu! Já quando gravamos, em um cemitério de Fortaleza, aquele texto se tornou ainda mais potente e as lágrimas não custaram muito a cair. O ano de 2020 ficará marcado na história do mundo por tantos medos, incertezas, tantas perdas, um ano em que muitos de nós paramos para repensar e reavaliar o sentido de tudo. Hoje, vejo que nossa campanha marcou, de jeitos tão diferentes, muitos telespectadores Brasil afora. Passamos nossa mensagem com força e apelo simplesmente porque não existe nada mais valioso do que a vida humana.
Como você se preparou para interpretar uma filha que se sente culpada pela morte do pai por coronavírus? Você teve familiares ou pessoas próximas infectadas ou mortas em decorrência da Covid-19?
A carga emocional que usei na cena, na verdade, vem se construindo desde março deste ano, quando nos foi pedido para ficarmos em casa e o mundo "parou". Li e escutei tantas histórias, tristes e felizes, nesses meses todos que posso dizer que foi fácil sentir a emoção necessária para a cena. A culpa da personagem, na verdade, é o medo que temos de infectar nossos queridos, é a dualidade entre fazermos nossos afazeres mas temermos pelo próximo. Na minha família, tivemos poucos casos, apenas minha madrinha e meu tio, sem grandes complicações. Muitos amigos, e seus familiares, também ficaram doentes, e soube de algumas perdas próximas. Os casos estão se aproximando cada vez mais, por isso a importância de alertarmos sobre o perigo das aglomerações nas comemorações de final de ano. Meu subtexto era: uma jovem que foi para uma festa e sem querer, obviamente, levou o vírus para dentro de casa e contaminou seu maior companheiro, seu pai. E isso poderia ter sido evitado. O roteiro diz: "Se for comemorar, não aglomere". Isso podemos, sim, evitar. É uma mensagem importante para mim, para você, para o Brasil inteiro.
A repercussão da campanha foi imediata. Acredita que o teor da peça possa conscientizar a população de que aglomerar nas festas de fim de ano pode ser arriscado?
Esse foi nosso único objetivo! Esperamos que, mesmo com tanta polêmica e politicagem envolvidas, a mensagem da importância de cuidarmos dos nossos queridos seja ouvida. Se evitarmos uma contaminação que seja, nosso papel está feito. Claro que desejamos juntar todos nossos familiares e nossas turmas de amigos, somos seres tão sociais e esta época é tão propícia a reuniões e abraços, mas o perigo ainda é latente. Não podemos nos esquecer. Para que todos estejamos bem no próximo Natal, abrir mão das aglomerações talvez seja a melhor ideia agora.
Apoiadores do presidente Jair Bolsonaro não gostaram da campanha dizendo que ela quer amedrontar a população. Você chegou a ser alvo de ataques e ameaças após a divulgação?
Eu vivi uma jornada muito maluca desde que o vídeo começou a rodar nos grupos de mensagens. Sabíamos que iria impactar a população cearense, e este foi exatamente nosso intuito. Precisávamos chocar para sermos ouvidos! A mensagem da personagem é forte, difícil mas necessária. Mas acabaram confundindo dramatização com realidade e a polêmica virou "Fla-Flu" Brasil afora. Conseguimos politizar um vírus. Recebi uma enxurrada de insultos descabidos nas redes sociais e sobrou até para meu pai, falecido já há muito tempo, tadinho. Também recebi muito apoio e carinho, ouvi relatos de histórias semelhantes à do filme, agradecimentos e parabenizações. De repente estávamos sendo compartilhados por grandes nomes, estávamos nos jornais e o debate se alastrou. Mas se acharam que aquele era um depoimento real e doeu no peito de cada um, acho que cumprimos com êxito nossos papéis, tanto eu como atriz, quanto a produtora, o diretor e o idealizador do filme.
O deputado estadual André Fernandes (Republicanos-CE) chegou a "denunciar" que você, na verdade, era uma atriz, que não perdeu o pai por Covid e expôs suas redes sociais. Como você interpreta esta "denúncia"?
Eu ri. Sou atriz já há 12 anos e ser "denunciada" que era uma atriz, na realidade, faz nenhum sentido. É uma campanha de conscientização. Publicidade. Uma dramatização em cima de uma história que acontece, sim, mundo afora. Não é jornalismo. Sermos chamados de "fake news" é, no mínimo, surpreendente. Perdi meu pai precocemente em um acidente de carro, quem perdeu o pai por Covid-19 foi a personagem. Da mesma maneira que a atriz no comercial de remédio para dor de cabeça não está com enxaqueca. Como Leonardo Di Caprio não morreu no naufrágio do Titanic nem Wagner Moura é o Capitão Nascimento. Acho que faltou um pouco de interpretação para esse deputado, e seus seguidores, em uma cegueira e alucinação coletivas, perpetuaram suas falas "non sense".
Pretende tomar alguma medida judicial contra este ataque?
Não tomarei ações judiciais, apenas desejo luz e discernimento para quem destila o ódio na vida e nas redes sociais. Tristes tempos em que temos que explicar o óbvio... Pasmem: uma atriz atua (risos).
Já que bolsonaristas descobriram que você é uma atriz, gostaria que você se apresentasse a eles e ao público. Há quanto tempo é atriz e de quais trabalhos participou na TV?
Senta que lá vem história... Comecei no teatro em Ribeirão Preto (SP), quando cursava o último ano de Relações Internacionais na Unesp, em Franca. Ao pegar o meu diploma, guardei-o na gaveta e mudei para São Paulo, "onde tudo acontece", em busca do sonho que tinha desde criança de ser atriz. Nesse meio tempo, tornei-me também apresentadora e somo já 12 anos de trabalho com muita luta e muita coisa bacana no meu currículo. Comerciais tenho aos montes, vídeos de treinamento, institucionais, videoaulas, trabalhos como mestre de cerimônias, apresentação de lives. Estou agora com um programa na Band, Qual Imóvel, aos sábados, às 9h30. Também fiz participações no SBT, nas novelas As Aventuras De Poliana (2018), Carinha de Anjo (2016) e Cúmplices de um Resgate (2015), e chamadas para a Record.
Trabalhei com grandes nomes como Fábio Porchat, quem muito admiro, Cauã Reymond, Malvino Salvador, Paola Carosella, Léo Chaves, Solange Almeida e Xand, Daniel, Hortência, Murilo Rosa, Rodrigo Faro, Thais Fersoza... Participei também de um curta produzido pela TNT e tive a honra de ser assistida por Rubens Ewald Filho (1945-2019) na pre-estreia. Já gravei no Grammy Latino em Las Vegas com as Irmãs Galvão... Olha, muita coisa! Eu amo o que faço e agradeço a Deus pela coragem que tive de bater no peito apenas aos 21 anos e dizer: "eu vou conseguir". Não é uma carreira fácil, as críticas são muitas - cá estamos. Mas valeu sempre muito a pena!
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