Publicado em 14/10/2018 às 10:03:11
No ar há mais de três décadas pelo SBT, "Chaves" e "Chapolin" conquistaram infinitas gerações de público no Brasil. Inicialmente massacradas pela crítica pelos roteiros e cenários, tidos como bobos e toscos, as séries criadas pelo dramaturgo Roberto Gómez Bolaños, também chamado Chespirito, logo se tornaram ícone da cultura pop latina e mundial, conquistando o merecido reconhecimento ao longo do tempo.
Até que, em 2018, uma surpresa geral chegou ao público cativo das séries: o Multishow, canal a cabo do Grupo Globo, anunciou a compra dos direitos de exibição das séries na TV fechada.
Para tanto, a emissora se reuniu com grupos de fãs dos seriados, para discutir detalhes como dublagem, horários e organização dos episódios. Em grande maioria, foi preservada a dublagem original realizada pela Maga (companhia de dublagem de Marcelo Gastaldi, dublador oficial de Bolaños, falecido em 1995). Para outros capítulos inéditos, que não possuíam o áudio com o elenco oficial – e, em alguns casos, por questões judiciais – a dublagem inédita foi encomendada ao estúdio carioca Som de Vera Cruz.
E o esforço do canal se viu logo na escolha do elenco: o Multishow conseguiu reunir o máximo possível de vozes originais e chamou atenção logo ao anunciar a volta dos talentosos Nelson Machado e Carlos Seidl, vozes oficiais de Carlos Villagrán (Quico) e Ramón Valdés (Seu Madruga), que não participaram da dublagem dos episódios inéditos exibidos pelo SBT em 2014, por problemas com a TV de Silvio Santos em decorrência de direitos autorais – na época, foram substituídos por Vinícius Souza e Marco Moreira. Também do elenco original, participam Marta Volpiani (Florinda Meza – Dona Florinda e Pópis), Sandra Mara Azevedo e Cecília Lemes, que voltam a se revezar nas vozes de Maria Antonieta de Las Nieves (Chiquinha e Dona Neves).
Para substituir os dubladores já falecidos, foram escolhidos Daniel Muller, para as vozes de Bolaños, como Chaves e Chapolin; Gustavo Berriel, que já interpretava os personagens de Edgar Vivar (como Seu Barriga e Nhonho) em projetos anteriores; Alexandre Marconatto para a voz de Horácio Bolaños (Godinez); Isaura Gomes, responsável pela nova voz de Angelines Fernandez (Dona Clotilde, Bruxa do 71); e Mauro Ramos, experiente dublador carioca, que faz a nova voz do Professor Girafales (Rubén Aguirre) e sucede Osmiro Campos, falecido em 2015.
O cuidado tomado pelo Multishow se refletiu na boa divulgação das séries e especialmente no formato de exibição. Exibindo um episódio por dia de cada série, às 23h e de forma seguida ("Chaves" primeiro, "Chapolin" depois), a emissora vem respeitando fielmente a ordem cronológica dos episódios a partir do primeiro capítulo da temporada de 1973, quando ambas viraram produtos independentes – anteriormente, eram esquetes do programa "Los Supergenios de La Mesa Cuadrada" – e estas foram reprisadas durante a temporada de 1973 pela Televisa, em ordem também seguida pelo Multishow.
Este trabalho feito pelo canal merece elogios, uma vez que a exibição organizada das duas séries era uma antiga reclamação feita ao SBT, que pouco se importava com os critérios de exibição das mesmas, inclusive a ponto de deixar "Chapolin" fora do ar por muito tempo, além de exibir quase sempre os mesmos episódios de "Chaves" em sessões de até duas horas, podendo causar saturação. Agora, com um episódio por dia de cada série, o Multishow proporciona uma forma mais organizada de ver as séries.
E, mais recentemente, uma surpresa positiva foi ao ar nesta última semana. O episódio “Um Festival de Vizinhos”, segunda parte da clássica saga do "Festival da Boa Vizinhança" e que era tido como possivelmente não veiculado pela emissora da Globosat por se tratar de um capítulo perdido mundialmente (ou seja, não mais vendido pela Televisa) – mas que o SBT exibia normalmente – foi ao ar na última quarta-feira (10).
O Multishow conseguiu uma cópia, ainda que sem o áudio original – contando apenas com a dublagem da Maga – e, desta forma, pôde ser transmitida completa uma das sagas mais aclamadas pelos fãs da série. Na sexta (12), foi ao ar a última parte da história, que era inédita no Brasil e já havia sido veiculada pelo SBT em 2014, na leva de episódios inéditos dublados pela Riosound.
O único deslize cometido pelo canal carioca foi a troca de uma piadinha na dublagem de um episódio de "Chapolin". Na adaptação do texto, uma conhecida piada insinuando sobre a homossexualidade dos heróis Batman e Robin foi trocada na redublagem, causando merecidas críticas. O canal alegou que o fez em virtude de ter uma linha de programação voltada para exaltar a representatividade, o que é compreensível, mas não justifica que se alterem produções de épocas antigas, onde não havia essa preocupação. Tanto que reconheceu o erro e, felizmente, não o repetiu (até agora).
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A intenção desta coluna não é desmerecer o SBT de nenhuma forma. Muito pelo contrário, somos sempre gratos à emissora de Sílvio Santos por ter aberto as portas para os trabalhos de Roberto Gómez Bolaños no país e possibilitado a conquista de toda uma geração.
No entanto, deve-se também exaltar o bom trabalho que o Multishow vem fazendo, proporcionando uma exibição organizada das duas séries, em especial de "Chapolin", que há muito tempo estava fora do ar.
No SBT ou no Multishow, o público sempre agradece.
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