Esqueça tudo o que você acha que é TV. Ignore tudo o que você já leu e ouviu sobre a definição de televisão. Os 75 anos de história que a TV completa neste mês de setembro valem muito pouco, quase nada, para explicar o que a televisão passou a ser a partir do momento em que o presidente Lula assinou o Decreto nº 12.595/2025, o qual dispõe sobre a nova geração do Sistema Brasileiro de Televisão Digital Terrestre, mais conhecida como TV 3.0.
Não estou exagerando. Em primeiro lugar, acaba a guerra de mercado com a internet, porque, na prática, a TV come a web. Basta ler o que consta no art. 5º do decreto, que permite aos canais abertos, por exemplo, a “recepção fixa, móvel e portátil” (inciso II), a “integração entre conteúdo transmitido pelo serviço de radiodifusão e pela internet, com a interação entre diferentes dispositivos digitais” (inciso III), a “segmentação de conteúdo de acordo com localização geográfica dos telespectadores” (inciso V), a “personalização de conteúdo de acordo com as preferências dos telespectadores” (inciso VI) e a “transmissão de dados como serviço de valor adicionado” (inciso X).
Como bem pontuou Samuel Possebon em seu artigo na Tela Viva, a TV aberta vira “uma nova camada de acesso à internet, como são hoje as redes de banda larga fixa ou os serviços móveis”.
Com isso, não faz mais sentido olhar para os dados do Cenp-Meios comparando a fatia da TV separada daquilo que hoje se entende por internet no bolo publicitário, já que a web é parte da televisão e vice-versa. Torna-se mais correto observar o investimento na TV aberta junto das outras cinco formas de mídia existentes na internet: áudio, busca, display, social e vídeo.
continua depois da publicidade
Em outras palavras, com a TV 3.0, televisão e web deixam de ser meios distantes e estanques para se transformarem em formatos de mídia que coexistem em uma mesma base tecnológica.
Uma das possibilidades mais fabulosas dessa união está na interatividade. Os canais abertos finalmente poderão incorporar as mensagens e os comandos enviados pelo público através de qualquer aparelho, do smartphone à smart TV. A resposta que hoje se dá, em grande medida, através das redes sociais poderá ser dada diretamente às emissoras, com a gratuidade que caracteriza o sinal aberto. Ou seja, as redes de TV aberta passam a operar como plataformas em um terreno que, hoje, é dominado pelas big techs e pelos streamings.
continua depois da publicidade
Por isso, proponho que a televisão deixe de ser vista como um meio ponto-massa e passe a ser um meio ponto-massa-ponto, já que a fusão com a internet permite a consolidação definitiva do canal de retorno por parte da massa, ou seja, da audiência, que tem a chance de responder aos conteúdos que recebe do ponto, no caso, a emissora; que, por sua vez, adapta seus conteúdos conforme essas respostas, construindo um ciclo que se retroalimenta.
A bola agora está com as redes de TV, os fabricantes de equipamentos e os órgãos reguladores. A depender da ação desses agentes, a TV 3.0 será uma revolução tanto para o povo — que continua preferindo a TV aberta nacional diante de todas as outras plataformas estrangeiras de conteúdo — quanto para o mercado anunciante — que insiste em errar ao não chamar a TV de mídia digital como ela, de fato, é há mais de 15 anos. Ao mesmo tempo, representará um tiro de morte nos cavaleiros do Apocalipse comunicacional.
continua depois da publicidade
Fernando Morgado é consultor e palestrante com mais de 15 anos de experiência nas áreas de mídia e inteligência de negócios. É Top Voice no LinkedIn e tem livros publicados no Brasil e no exterior, incluindo o best-seller Silvio Santos – A Trajetória do Mito. Foi coordenador adjunto do Núcleo de Estudos de Rádio da UFRGS. Mestre em Gestão da Economia Criativa e especialista em Gestão Empresarial e Marketing pela ESPM. Acesse o perfil de Fernando Morgado aqui.
Utilizamos cookies essenciais e tecnologias semelhantes de acordo com a nossa Política de Privacidade e, ao continuar navegando, você concorda com estas condições.