Publicado em 16/06/2020 às 05:35:00
“Omitir dados de mortes por Covid-19 diminui impacto da doença?”. Esta foi uma das questões levantadas pela CNN Brasil em seu quadro de debate, tão famoso quanto controverso. Da mesma fonte bebe um programa aparentemente distante do renomado canal de notícias, mas próximo pelo gosto por arranca-rabos, o Triturando, do SBT.
Dos sensacionalistas Quem Tem Medo da Verdade? (Record) e O Povo na TV (Tupi e SBT) aos embates entre políticos que marcaram a redemocratização do país, os debates sempre estiveram presentes na televisão. Ver duas ou mais pessoas se engalfinhando verbalmente para defenderem suas opiniões se transformou em um catalisador de audiência fácil. Qualquer entrelaçamento de vozes em tom irritado prende o telespectador (o que explica o sucesso das mesas-redondas de futebol até durante a paralisação dos campeonatos; afinal, por que não debater qual o melhor momento para o retorno dos jogos?).
O Triturando nasceu da vontade de Silvio Santos de ter um debate aleatório no meio da tarde. Ele espremeu o extinto Fofocando, resgatou relíquias do SBT como Décio Piccinini, Mara Maravilha e Flor, e rebatizou a atração para Fofocalizando. Por fim, insatisfeito ao ver o programa virar notícia pelo clima péssimo dos bastidores, tirou a carcaça jornalística do programa e escancarou sua única vontade: forçar o elenco a opinar sobre qualquer assunto.
Quando falamos “qualquer assunto”, é qualquer assunto mesmo! De músicas dos anos 40 a “imagens impressionantes”, Silvio acredita atrair audiência para os dois lados de um debate: quem concorda e quem discorda do tema. Dois exemplos: “O que você prefere: comunismo, socialismo ou democracia?”; “O que você prefere: morrer esfaqueado, com tiro de revólver ou envenenado?”. Isso saiu do Triturando.
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Criatividade ou falta de escrúpulos? Este poderia ser tema de um debate sobre o Triturando ou seu “gêmeo” jornalístico: O Grande Debate. "O quadro é um grande sucesso na CNN americana e um novo modelo no nosso país. Nosso objetivo é sempre apresentar temas relevantes, com visões diferentes sobre um mesmo assunto, para que você construa sua opinião”, apresenta Monalisa Perrone na edição noturna do programa.
Na prática, a gênese do debate da CNN Brasil não está nos Estados Unidos, mas no velho modelo visto na nossa TV há mais de cinco décadas, da qual sua fórmula consiste em discutir temas absurdos com comentaristas ainda mais absurdos.
Como encarar com seriedade uma entrevista com Eduardo Fauzi, autor do atentado contra a sede do Porta dos Fundos? Como ver naturalidade a opinião do deputado negacionista Osmar Terra, que menospreza até hoje a letalidade do coronavírus?
Desde a estreia da CNN, O Grande Debate cumpre a mesma função do Triturando no SBT: oferecer minutos de entretenimento. Ver o bacharel em direito Caio Coppolla sendo “jantado” pela advogada (e "professora" de Anitta) Gabriela Prioli foi a principal diversão do brasileiro no início da pandemia.
Como o Triturando, O Grande Debate vira assunto pelo elenco, quando Reinaldo Gottino interrompeu Prioli e foi criticado. Dois meses depois, ele voltou para a Record. O quadro da CNN repercute não pela troca sadia de opiniões tecnicamente bem fundamentadas, mas pelo que sugere discutir, pelo argumento vazio de um dos debateres e pela forma como este argumento é destroçado ( ou “triturado”, como dizem no SBT).
Programas como Triturando e O Grande Debate se mostram tão eficazes para atrair público quanto um telecatch. É o bate-boca pelo bate-boca, a desconstrução da equação “tese + antítese = síntese”. A diferença: a atração do SBT não tem a máscara jornalística do quadro do canal pago. Silvio Santos não tem nada a perder. Já a CNN...
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