Kajuru abre bastidores com Silvio Santos, 'ponta' em novela e diz que viu tudo em reality
Jornalista revisita a carreira, fala de PL que pode ajudar programação infantil e revela não ter imaginado que o meio da política fosse tão sórdido

Publicado em 13/06/2025 às 00:20,
atualizado em 13/06/2025 às 10:47
Atualmente senador da República, Jorge Kajuru acumula meio século de carreira na televisão. Além de apresentar programas esportivos, também tem um fato interessante em sua biografia. Comandou um reality show ao lado de Silvio Santos (1930-2024) entre 2005 e 2006, o Casamento à Moda Antiga. "Isso para mim foi um troféu", recorda.
As lembranças foram recordadas em uma longa entrevista ao NaTelinha publicada no YouTube (vídeo ao fim da matéria) e que também aparece aqui em formato de texto. Jorge Kajuru é o nono convidado de uma série de 20 entrevistas com personalidades que fizeram ou fazem a história da TV neste mês que marca as duas décadas do site.
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Kajuru abre os bastidores que viveu ao lado do Homem do Baú, revelando, aliás, uma regra instaurada por ele no SBT. O apresentador que atrasasse uma gravação, seria punido. "Ele ficava uma arara", diz, que detalhou também sua participação na novela Cortina de Vidro (1989). Sim! O jornalista foi o psicanalista de Herson Capri. Ele conta que almejava uma chance como ator. E conseguiu. "Mas não gostei. Preferi voltar ao futebol."
Questionado se pretende tentar a reeleição no ano que vem, adianta que o plano é apenas terminar o seu mandato. O assunto política não foi ignorado. O senador expôs sua relação com o atual presidente Lula. "Vou te dizer pela primeira vez, até porque esse assunto nenhum jornalista ainda me questionou. inclusive porque foi a primeira vez, é a primeira vez que eu estou falando sobre essa relação minha de hoje com ele, que está cada vez mais tensa, cada vez pior e que está aos 45 do segundo tempo num jogo sem acréscimos."
A seguir você confere a entrevista em texto, exatamente como o convidado pede. Sem filtro. Sem cortes. Absolutamente ipsis litteris.
NaTelinha - Vamos falar do PodK Liberados, que me lembra um pouco daquele Kajuru Liberado que você apresentava na TV Alphaville. Estava com saudade desse microfone?
Eu abro te dizendo que a política me entristeceu tanto. São traições diárias, muito difícil você ter amigo sincero na política. E aí falei: 'Gente, tenho que voltar para a televisão, para o rádio. Não sei quanto tempo vou durar aqui. Quanto tenho meu minha paciência vai ser de Jó'. Porque aqui a paciência é de Jó da Bíblia. Ou seja, Jó às vezes era afobado perto de mim. Eu não tenho sido mais Jó não, não tenho paciência mais não, pra ser sincero. E aí falei: 'Onde posso ter esse programa de entrevistas?'. Criei o programa, escolhi a apresentadora e entrevistadora pra trabalhar ao meu lado, a Leila do vôlei, que foi comentarista do Grupo Globo. Orientei bem a Leila porque não era de ser entrevistadora. Tivemos dois convites nacionais e aceitamos os dois. Um é da Rede Meio que nos faz chegar a 192 países e o outro que veio e me deixou feliz foi a da RedeTV! porque foi ela que me retornou à televisão nacional em 2000 com o Juca Kfouri, onde eu fazia mesa redonda dominical e programa diário de esportes. Por gratidão à RedeTV!, aceitei também a proposta dela e começamos a fazer entrevistas gerais. Passamos de 60 programas, graças a Deus, e estou voltando para a televisão porque certamente é nela que vou encerrar a minha vida.
NaTelinha - Como é que você consegue brecha na agenda, em meio a tantos compromissos, manter um programa de entrevistas? E onde você grava o programa?
Na RedeTV!, no estúdio dela, no meu gabinete também tem estúdio, mas eu prefiro na RedeTV! pela estrutura, naturalmente. E pela hora que eu tenho à minha disposição. Fizeram cenário exclusivo pra mim e me deixaram escolher o horário que eu quero. Então eu sempre faço depois das 19h. Por quê? Porque já acabou a sessão plenária. Eu e a Leila ficamos livres, e o convidado que normalmente é um senador, deputado ou deputada, como Tábata Amaral e tantos outros que entrevistamos, como o presidente Lula, vice-presidente Alckmin, agora estamos confirmando uma entrevista com o ex-presidente Jair Bolsonaro... Então, é um horário que estou livre, que não me prejudica nas comissões parlamentares, em CPIs que eu já fui até presidente com o Romário, da manipulação. E o comentário de 10, 15 minutos do rádio, eu faço na hora do almoço. Só tiro 15 minutos do meu almoço, entro ao vivo na BandNews, faço meu comentário e volto a trabalhar.
Portanto, não prejudica meu dia a dia, porque modéstia à parte, a verdade é essa, a Folha pode confirmar, o UOL pode confirmar, o NaTelinha pode confirmar, eu sou o senador que menos tenho faltas.
NaTelinha - Eu sei.
Tem senadores, Thiago, que em seis anos, faltaram 320 dias. Como alguém pode fazer isso com uma empresa?
NaTelinha - É um escárnio. É demitido, né? Bem antes.
Bem antes. Eu graças a Deus tenho tanta sorte, que as minhas faltas, que eu fui parar na UTI, a primeira com AVC e a segunda com Covid, eu fiquei no hospital, na UTI, sexta, sábado, domingo e segunda. Ou seja, os dias que não tem sessão, porque as seções são terça, quarta e quinta. Deus é tão bom pra mim, que terça, quarta e quinta eu nunca fui pra UTI. (risos)
NaTelinha - (risos) Mas, Kajuru, você disse na nossa última conversa que você vai continuar na política até o fim do seu mandato e não vai concorrer à reeleição. Você disse que queria sair da política e que seu mandato iria até 1º de janeiro de 2027. Você continua com essa ideia de não ser mais reeleito? Ou mudou na sua cabeça?
Não, não mudou. Até agora não. Pode até ser que mude, mas até agora não mudou. É isso que eu quero e vou acrescentar aqui em primeira mão pra você: só não saio hoje, renuncio hoje por dois motivos. Vou te contar pela primeira vez publicamente.
O meu amigo primeiro suplente era meu amigo de 30 anos, o Bézinho. Infelizmente ele morreu em 2020. No segundo ano de mandato meu. Se ele estivesse vivo, hoje ele já assumiria. Então, eu não tenho ele. O segundo suplente que foi escolhido pelo meu partido e não por mim, além de ser corrupto, ele tem outro problema grave. Ele tem raiva porque eu o critico sempre. Então ele fala que se assumir o meu lugar, ele demite toda a minha equipe. E a minha equipe é de confiança, de gente que está comigo no mínimo há 10 anos. E tem gente como a sua amiga, Simone Magalhães, que está comigo há 25 anos, trabalhando em todas as televisões comigo. Eu tenho uma equipe muito fechada de gente que eu não posso sair agora sabendo que amanhã eles seriam demitidos e perderiam dois anos de um bom emprego e teriam que procurar emprego, ficariam a princípio desempregados. Eu não vou fazer isso com os meus funcionários que, na maioria, são meus amigos, são pessoas que gostam de mim, que cuidam de mim. Então, eu não tenho caráter para isso, mas se eu tivesse o primeiro suplente vivo, o Bézinho, eu já não estaria aqui hoje conversando com você como senador, e sim como apresentador de televisão e comentarista esportivo de rádio.
NaTelinha - Então, o que te mantém preso ainda ao seu mandato é a lealdade para com os seus funcionários e não o temor que eles sejam demitidos, mas a certeza que seriam demitidos.
E além disso, Thiago, ele também, como suplente, ele poderia manchar a minha carreira. Porque eu falei que se eu saísse desse chiqueiro que é o Congresso Nacional, eu sairia dele sem levar nenhum cheiro. Eu nunca fui denúncia, nunca fui manchete negativa de Folha de São Paulo, de Jornal Nacional, de ninguém, nesses oito anos que eu estou na vida pública, seis como senador e dois como vereador. E esse cara poderia manchar o meu nome, porque você sabe como é a imprensa. Se amanhã esse cara entra no meu lugar e faz uma coisa errada, a imprensa vai dizer o quê? Suplente do senador Kajuru. Até porque o cara ninguém sabe nem quem é. Se ele torcer o tornozelo na Avenida Paulista ou na Avenida Goiás, em Goiânia, vai demorar uns 50 anos para identificar o corpo dele.
Então, a imprensa não ia falar o nome dele, que eu também nem vou falar aqui para você o nome dele. Mas Goiás inteiro está nos vendo, Goiás sabe quem ele é. Então, eu não posso cometer esse erro de forma alguma, infelizmente. Porque eu gostaria de estar hoje conversando com você, ao vivo, onde você estivesse, em São Paulo, em Ribeirão Preto, porque eu, parando com a política, eu vou ter que viver nessas três cidades especialmente, São Paulo, Rio e Brasília, para continuar tendo o programa semanal de entrevistas, para você conseguir grandes nomes. Não é só em Brasília que tem grandes nomes. São Paulo é São Paulo, não se discute. Então, essa é a realidade minha, nua e crua.
NaTelinha - Você já sabia que o mundo político seria bastante pantanoso, né? O da televisão você sempre disse que era meio sujo também. Mas te surpreendeu demais o mundo da política? Ele é mais sujo do que você pensava? Tão sujo quanto você pensava? Ou nem tão sujo assim como você pensava?
Não, eu não esperava, sinceramente, Thiago, eu falo aqui em nome de Deus, em nome da minha mãe, que ele fosse tão sórdido. Mas é muito, não é pouco. A televisão, jornal que eu trabalhei, fui cronista da Folha, como eu te falei. Rádio, trabalhei na Rádio Globo, na Rádio Bandeirantes. Trabalhei nas maiores rádios do Brasil, Rádio Itatiaia. Então, eu, com 50 anos de carreira que eu completei agora, nacional, no mundo do jornalismo, do rádio, do jornal, da televisão, existe sacanagem.
Existe aquela frase que eu gosto de falar, mas publicamente acho que ainda não tinha falado. Inveja é o único sentimento que ninguém confessa. Eu acho belíssima essa frase. Por quê? Porque o sujeito confessa a traição, confessa a opção sexual dele, mas a inveja ele não confessa. E ele a pratica diariamente, principalmente nos bastidores, nos plenários do Congresso Nacional. É uma coisa impressionante. E em governos, o que mais me entristeceu foi ver a traição de um governo que você apoia, que você é da base, que você o defende, e de repente você fica sabendo que um opositor do governo que você está defendendo, um opositor ferrenho, que chama o presidente até de ladrão, chega no final do ano, você vai ver as emendas, ele conseguiu mais emendas do que você, que é aliado, e no meu caso, que ainda sou vice-líder da base do governo.
Aí que é revoltante demais, né? Porque aí, eu já falei isso para o presidente Lula, falei: 'O senhor gosta mais de inimigo do que de aliado'.
NaTelinha - Você falou isso para ele?
Falei, falei, falei cara a cara. Ele fala que eu sou sincero, que eu tenho 35 anos de amizade com ele, só que a nossa amizade está igual ao casamento. Nosso casamento está para acabar. E é divórcio definitivo. A única diferença é que nesse casamento nosso não tem divisão financeira, não tem patrimônio, não tem nada. Cada um segue a sua vida. Falei claramente porque nem o presidente Bolsonaro, Jair Bolsonaro, fazia isso comigo. Eu era independente no governo dele, o defendia só quando ele tinha motivo para isso, mas o criticava também constantemente na tribuna. Ele nunca me perseguiu, eu consegui 500 milhões de recursos com ele, sem fazer parte, graças a Deus, e Deus sabe disso, eu nunca usei um centavo de orçamento secreto, que para mim era propina, eu batia todo dia na tribuna, quem duvidar pega a TV Senado, no arquivo dela lá, todo dia na tribuna eu falava que o presidente Bolsonaro estava pagando propina para ganhar voto, tanto na câmara como no senado, que era o famoso orçamento secreto. Mas, pelo menos em relação a mim, eu não tenho nenhuma queixa dele. Pelo contrário, me tratava bem, me tratava de forma correta, e eu não tinha essa decepção que logo no governo Lula, que eu imaginava que isso não fosse acontecer, é o que mais acontece. Não é só comigo, não.
Um Jaques Wagner, que é líder do governo Lula, na Bahia, ele é maltratado por uma empresa do governo, que é a Codevasf. É a empresa que te fornece maquinários, retroescavadeira, enfim, motoniveladora, trator, enfim, todos os maquinários. O Jaques tem lá dois adversários ferrenhos de Lula, que xingam Lula e que recebem mensalmente mais maquinários do que ele. Tem cabeça uma coisa dessa? Não tem.
NaTelinha - Mas, Kajuru, eu lembro que você, na época do SBT, inclusive no Fora do Ar, você batia muito forte no Lula, né? Você até fez uma entrevista, na época, com a Heloísa Helena, que ela deu declarações bombásticas pra caramba, você batia muito pesado. Eu assim, vendo de fora, eu acharia que você nunca se aproximaria mais do Lula. O que aconteceu nesse meio do caminho que vocês se reaproximaram, se é que a gente pode chamar assim, mas que obviamente, dentro de um espectro político, há que ter diálogo, invariavelmente.
Bom, a palavra reaproximação não cabe, Thiago, eu vou te dizer pela primeira vez porque, até porque esse assunto nenhum jornalista ainda me questionou. Inclusive porque foi a primeira vez, é a primeira vez que eu estou falando sobre essa relação minha de hoje com ele, que está cada vez mais tensa, cada vez mais pior e que está aos 45 do segundo tempo num jogo sem acréscimos.
NaTelinha - Por um fio?
É, exatamente, por um beiço de pulga, como se diz em Goiás. Qual foi a diferença? A diferença foi o seguinte: o Lula sempre me tratou muito bem, porque eu e o Datena conhecemos juntos o Lula, em Ribeirão Preto, no comício dele, em 1989. E nós subimos no comício dele. O Datena, inclusive, falou. A TV Globo, na época, nos demitiu da afiliada, tanto o Datena como eu. O Datena foi o primeiro a ser demitido, porque o Datena ainda falou no microfone no comício de Lula. Então, o Lula, nesse ponto, essa é uma diferença dele para os outros políticos, o Lula sabe ser grato. Então, ele nunca misturou. Ele sabia que eu era independente, tanto que até hoje, nas reuniões nossas, nesses dois anos e meio de governo dele, ele fala para os outros líderes: 'Gente, esse aqui eu conheço. Ele não vai me bajular, vai dizer na minha cara o que está acontecendo. E assim que eu gosto, é por isso que eu gosto dele. E olha que ele já me bateu'.
Eu batia no Lula principalmente por causa da relação dele com o mundo, que na verdade é o submundo do futebol, que você sabe tão bem ou melhor do que eu, que na época era o Ricardo Teixeira. E o Lula tinha uma amizade com o Ricardo Teixeira profunda. Tanto que teve a Copa do Mundo, teve a Olimpíada. Isso tudo foi Lula, perfeito? E o Lula, em todas essas vezes que eu fazia crítica a ele, ou que eu entrevistava alguém para criticá-lo, no caso da Heloísa Helena, foi difícil pra caramba, porque ela fez uma declaração bombástica, que a Hebe Camargo falou que foi a maior declaração dada a um jornalista na carreira dela, e ela meteu o pau no ar, e o Silvio Santos não tirou do ar.
Eu mandei a entrevista para o Silvio analisar e o Silvio falou: 'Deixa na íntegra'. A Heloísa Helena, naquela época, foi a época que eu estava em 2006 fazendo o talk-show Fora do Ar com a Hebe, com a Galisteu e com a Cacá Rosset, toda quarta-feira, 23h30, e ela disse simplesmente o seguinte, para relembrar que muita gente vai ficar aturdida porque não sabia dessa declaração da Heloísa. Eu perguntei para a Heloísa: 'Senadora, quem é pior, o presidente Lula ou o José Dirceu?'. Ela falou em um segundo, na bucha. Ela falou: 'Lula'. Falou assim: 'Kajuru, você conhece a estratégia de Billis? Eu falei, como é que é?'. Ela falou assim: 'O Lula, você abraça o Lula e alguém dele vem por trás e te esfaqueia. O José Dirceu, Kajuru, é diferente. Ele vem e fala na sua cara que vai te aniquilar, que você virou inimiga dele e que você se prepare'. Foi ou não uma declaração bombástica?
NaTelinha - Foi. Até hoje a gente está falando dela, né?
Exatamente. Aliás, é um absurdo uma mulher como a Helena não estar na vida pública. O que Alagoas fez de mal para ela é uma coisa impressionante. Então, a nossa relação, Lula e eu, nunca teve ódio. Isso não. Nos encontros havia o respeito, havia um bom papo, e quando ele assumiu o governo, ele fez questão de pedir ao Jaques Wagner que me colocasse como primeiro vice-líder e que eu participasse das reuniões com ele, porque eu iria dizer para ele, contar coisas para ele, que muita gente, mesmo sendo aliada a ele, teria cuidado de falar para ele.
E isso é uma verdade. Tanto que eu fui o primeiro, antes do advogado Kakay, 10 dias antes do meu amigo, o advogado Kakay, eu dei uma entrevista à Rádio Bandeirantes, tenho a disposição nas redes sociais, antes daquele artigo polêmico do advogado Kakay, eu, uma semana antes, na Rádio Bandeirantes, eu falei que a dona Janja, a primeira-dama, tem muito amor pelo Lula, amor sincero, se preocupa com ele, cuida dele, da saúde dele em especial, mas que ela estava prejudicando politicamente o Lula. E que ele poderia até perder uma eleição por causa dela, porque ela não aceitava o Lula receber ninguém na casa dele no Palácio. Então, acabaram as reuniões diárias com líderes, com deputados, com senadores. Os almoços da época de Lula da dona Marisa, todo sábado, em que ia jornalista da Folha de São Paulo, dos demais veículos, apresentadores de televisão, empresários da Faria Lima, empresários do agro, enfim, era um outro Lula, era o Lulinha paz e amor, porque ele fazia questão de se reunir com esses segmentos que são importantes e que se afastaram dele nesses dois anos e meio exclusivamente por causa da primeira-dama Janja, porque ela que não aceitava o Lula encontrar com ninguém e isolou o Lula, até que ela foi convencida que estava errada. E a partir do final de abril, o Lula voltou a abrir as suas portas para conversar com todo mundo, porque sentiu que ele seria prejudicado. E a única pessoa sincera que falou isso, e que falou publicamente, e que ele recebeu o vídeo, fui eu. 10 dias depois, um outro amigo dele, que foi advogado dele, inclusive o Kakay, escreveu a mesma coisa que eu falei, só que ele não falou da Janja.
Ele só falou que o Lula estava isolado. Eu não, eu fui o único a falar o completo, o tudo. Eu não editei nada. Eu falei que ele estava isolado e quem estava o isolando? Diferente do Kakay, que só falou que ele estava isolado. Então, modéstia à parte, eu fui mais duro e mais sincero, porque o Lula precisava dessa sinceridade e nem o líder, nem o vice-líder, ninguém tinha coragem de falar para ele. Tanto que eles falavam para mim. Em abril, quantos vieram falar para mim no começo do mês? 'Kajuru, é você, você que tem que falar com o presidente'. 'Kajuru, a gente não consegue falar com o ministro, a gente não consegue falar com o Lula mais. Ele não nos atende nem por telefone, nem pessoalmente, até porque ele não usa celular'.
Para chegar até ele, você tem que pedir para o ajudante de ordens morais. Então, eu sentindo isso, eu falei, gente, é meu papel, é minha obrigação trazer essa verdade ao presidente Lula. Trouxe, ele felizmente aceitou. A Janja também aceitou, mostrando o amor verdadeiro dela por ele, porque foi a primeira vez que ela ouviu. 'Meu marido pode perder a reeleição por minha culpa?'. Aí ela falou: 'Por favor, faça o que você quiser'. Aí ele passou a viajar mais sem parar toda semana, porque nem viajar ele estava viajando.
NaTelinha - Kajuru, a gente estava falando da entrevista da Heloísa Helena... Você falou que o Silvio pediu para que você não editasse nada e que colocasse tudo na íntegra mesmo. O Silvio não pediu que você editasse, mas os caras que cercavam o Silvio, os diretores, ficaram com medo dessa entrevista ir pro ar, ficaram te enchendo? Ele é famoso por não interferir, mas a gente sabe que às vezes os diretores tentam vetar algumas coisas. Isso aconteceu nesse caso?
Bom, é bom conversar com um jornalista inteligente que sabe perguntar, Thiago, porque eu já imaginava que essa sua pergunta viria. Só o Silvio Santos, que surpreendeu todo mundo e falou: 'Sem cortes. Coloca tudo no ar'. O restante da equipe estava morrendo de medo, de medo. Os diretores, então... 'Kajuru, pelo amor de Deus, por que você mandou entrevista para o Silvio?'. Porque eu surpreendi os diretores do SBT.
NaTelinha - Ninguém sabia?
Não, até porque eu errei. Eu devia passar primeiro para o vice-presidente na época, inclusive o Guilherme Stoliar. Mas eu já tinha certeza da opinião deles. Eu falei, é melhor chegar primeiro até o Silvio, e com o amigo do Silvio eu consegui que a entrevista chegasse até ele, que na época era o Orlando Macrini, amigo dele. Então, ao ver, ele avisou o seu sobrinho, o Guilherme Stoliar, que é um cara fantástico, que eu devo tudo a ele, a minha carreira nacional, se não fosse ele, ela não teria existido. Mas o Guilherme tinha medo dessa entrevista trazer problemas para a emissora e para tudo. E tinha muito apresentador no SBT que era Lula, não por ideologia, por grana, porque fazia um merchandising do governo Lula. Entendeu? Então, era grana. Então, eles não queriam que uma entrevista dessa queria deixar o Lula numa saia justa, de uma mulher que conviveu com o Lula, como a senadora Heloísa Helena, dizer isso. E eu achei a melhor estratégia. Até porque quem manda na emissora é o Silvio, se ele falar que não, não. O não eu já tenho. E se de repente eu tiver o sim? Tive o sim, foi pro ar. Bombou no Brasil inteiro, a Folha de São Paulo repercutiu, até o Le Monde da França repercutiu a entrevista. Então, graças a Deus, eu acho que às vezes a gente erra na estratégia, mas essa eu acertei.
NaTelinha - Mas trouxe consequência ou só a repercussão da entrevista?
O SBT teve uma redução brava na sua relação de patrocinadores estatais. Ou seja, na sua relação comercial, o SBT teve uma queda, teve uma redução, que teve a reação. Toda ação tem reação. E na política é assim. A imprensa sabe. Se a imprensa estiver batendo no governo, ela pode ter certeza que o faturamento dela vai cair ou vai até acabar. Você lembra o caso do Bolsonaro, o que ele fez com a Globo. Ele dava privilégio às outras emissoras que faturavam uma fortuna, enquanto a Globo ficou quatro anos só vivendo de iniciativa privada e do patrimônio grande que ela tem, porque se ela não tivesse, ela teria ido à falência, na verdade, nua e crua.
NaTelinha - É verdade que você teve um convite para voltar para o SBT recentemente?
Tive, tive dois convites, desde que eu entrei na política. Tenho uma ótima relação com toda a direção do SBT, com os funcionários, com os apresentadores, mas eu optei pela RedeTV! porque eu vi que na RedeTV! era a opinião unânime de todos. No SBT, a minha volta, ela não era bem vista por alguns, especialmente apresentadores.
NaTelinha - Tipo quem?
Não quero falar, Thiago, é chato, mas os apresentadores que nós sabemos que estão lá e que tem publicidade do governo, entendeu o que eu quis dizer, né? Então eu sei que não. O SBT quis o Datena de forma unânime. Então eu falei pro Datena, que o Datena queria que eu voltasse. Eu falei: 'Irmão, nós somos amigos há 50 anos. Você está sendo muitíssimo bem recebido'. Eu teria alguém contra. Ou alguns contra. Então eu prefiro ir para a RedeTV!. Pronto, acabou. O salário é o mesmo. Não tem diferença nenhuma. Eu sei que a audiência do SBT é maior. Mas eu vou fazer um programa bem feito. E tenho certeza que o meu programa vai ter uma boa audiência.
NaTelinha - Mas o projeto era o mesmo?
Era igual. Seria domingo depois da Patrícia Abravanel.
NaTelinha - Um baita horário, né?
Mas só que seria mais tarde, né? Ele ia entrar no ar 23h30, na RedeTV! às 22h30.
NaTelinha - Mas no SBT você não apresentou seu programa esportivo, Kajuru. Falamos na nossa última entrevista sobre o Casamento à Moda Antiga, que completa 20 anos também. Como é olhar duas décadas depois e falar: 'Caramba, apresentei um reality show com o Silvio Santos'? A edição principal era dele, mas você comandou o diário. Você olha pra esse projeto com um carinho diferente?
É porque tem o lado negativo, que fala assim: 'Poxa vida, eu fiz nove Copas do Mundo presencialmente, seis Olimpíadas, mais de 20 Taças Libertadores da América, mais de oito Mundiais de Clubes'. Enfim, o tempo inteiro no ar fazendo coisas com conteúdo, com qualidade, agora eu vou apresentar um reality show? Mas não. O problema não foi esse. O problema foi o Silvio Santos, pela primeira vez na sua carreira, aceitar dividir o palco com alguém. Porque nem a Hebe dividiu o palco com o Silvio. E o Silvio me colocou para apresentar junto com ele. Porque eu não apresentava só de segunda a sábado sozinho e ele o titular no domingo. Eu, de vez em quando, fazia junto com ele. Tanto que as últimas edições do Casamento à Moda Antiga, e eu ficava no estúdio junto com o Silvio. Então, isso para mim foi um troféu. Isso é igual você ser colunista, como eu fui, da Folha de São Paulo. É um diploma que você ganha na sua carreira. Não tem como você esquecer isso. Então, o lado positivo era maior.
Era esse privilégio de você estar com o maior comunicador do mundo, Silvio Santos. E eu tive essa honra de ficar com ele durante um ano e meio nesse programa. Ele ainda me deu um privilégio que você, Thiago, e vocês aí do outro lado, nossos únicos patrões, podem refletir a importância. O Silvio me convidou depois que eu fui demitido da Band ao vivo, por causa do Aécio Neves, em 2004, no mês de junho, no dia 4 de junho, não dá para esquecer. O Silvio Santos, Thiago, ele me convidou não para falar que será apresentador de um programa só no SBT. Ele me convidou para dirigir a Hebe Camargo. Olha o privilégio, você ser diretor de programa de uma Hebe Camargo, você fazer a pauta para ela, discutir antes do programa ir para o ar com ela cada assunto, e ela aceitou eu ser o diretor dela.
E, além disso, ser o âncora do programa, desse talk-show que tinha, Hebe, Galisteu, eu e Cacá Rosset. De ser apresentador, âncora, editor e diretor responsável pelo programa. E depois o Silvio ainda me deu mais um programa esportivo aos domingos, 12h30, que era o Jogo Duro. Então, peraí, por favor.
NaTelinha - Mas no caso do Casamento à Moda Antiga, você tinha que ver os caras dentro da casa na convivência. Você fazia aquilo lá com uma curiosidade mesmo, para ver o que eles estavam fazendo? Estava se interessando pelo que estava acontecendo ali, ou às vezes você falava: 'Putz, eu só estou aqui pelo Silvio mesmo, que é um privilégio inenarrável estar aqui, mas isso aqui para mim não tem a menor graça, isso aqui não é a minha praia'? Que visão que você tinha ali ao fazer diariamente e ter que acompanhar os casais, porque você tinha que assistir de alguma maneira, né?
É, não, eu tinha que ficar de olho em tudo o dia inteiro, né? Era uma função terrível, tanto que o Silvio me pagava muito bem. Ele me fez uma proposta. Eu falei para ele assim: 'Silvio, é muito pouco. Porque, chefe, eu vou ficar o dia todo. Vou me dedicar'. Ele falou? 'Quanto você quer, então?'. Aí eu chutei. Eu tive uma sorte danada. Eu falei, eu quero 120 mil. Ele tinha oferecido 60. 120 mil reais naquele ano. Era muito dinheiro. 2005. Era muito dinheiro. E na época a televisão pagava bem, graças a Deus. Hoje paga mais ou menos.
Acontece que o privilégio de ser o apresentador a dividir o programa com o Silvio era maior do que a chatice do dia a dia, mas aos poucos eu fui me relaxando porque eu me divertia, eu ria muito, porque eu via cada detalhe que, evidente, eu não poderia botar no ar, mas eu via. Você entendeu, né? Eu vi aqueles detalhes.
NaTelinha - Eu quero saber disso. O que você via lá que não ia pro ar? Porque eu queria muito ver esses bastidores... Então eu imagino que um reality de confinamento de casais, eu queria ser uma mosquinha... E você era essa mosquinha.
Eu era essa mosquinha. Não aquela do Raul Seixas, né? Mas assim, eu ficava quietinho, né? O câmera quieto, mas também louco para bisbilhotar os momentos íntimos, que viviam mulheres inteligentes no programa, eu as conheci, lembro até de uma delas, a mais bela de todas e a mais competente de todas, se formou até na Medicina, era muito inteligente. Porque eu sempre, antes de chamar uma mulher de linda, eu quero ver se ela é inteligente, se ela é competente. Se ela for inteligente e competente, eu primeiro a chamo de inteligente e competente. E depois vou falar da beleza dela. Eu sempre fiz assim, é uma questão de respeito à mulher. Porque tem muita mulher que não gosta de ser chamada logo de cara de bonita, linda, espetáculo. A mulher tem outros valores, evidente, várias delas. Cada vez mais a gente está vendo no mundo a evolução das mulheres em quaisquer segmentos. Portanto, eu via com carinho.
Porque eu tinha relacionamento com elas. Mas como era minha obrigação ver e editar o que eu queria colocar no ar...
NaTelinha - Você que editava?
Eu editava. Eu que editava. O Silvio tinha tanta confiança em mim... O Silvio tinha tanta confiança em mim que ele falava: 'Você pode editar'. Por isso que depois ele me chamou para ser diretor da Hebe Camargo. Porque além de tudo, eu editava o programa da Hebe. Porque a Hebe xingava o Lula. Foi na época do Mensalão. A Hebe xingava o Lula todo dia, mas dos nomes maiores que se puder. Eu tinha que, às vezes, editar a Hebe e ligar para ela, né? 'Madrinha, essa parte aqui ficou pesada demais, é melhor a gente retirar, mas não vai tirar o conteúdo da sua opinião'. Ela falava: 'Faz o que você quiser'. De jeito que você quiser, você faz. Pronto. Eu já falei mesmo, pronto, acabou. A Hebe era assim, direto, né? E eu sempre a tive como minha madrinha, como minha referência. A gente jantava junto, todo o programa, depois do programa. Ficava até 4h bebendo, conversando, batendo papo. E eu chegava mais tarde no jantar porque eu tinha que editar. A gravação acabava 20h eu ficava até 21h, 21h30 editando e depois ia para o encontro nosso, o jantar nosso, dos quatro amigos e apresentadores do Fora do Ar. Então, assim, eu também não comentava com ninguém do SBT os detalhes íntimos, né? Eu via, né? De tudo que você imaginar. Ou seja, eu via sexo ao vivo mesmo, ok?
NaTelinha - Você via? Sem edredom?
Sem edredom. Pelo contrário. O edredom, só quando eles iam dormir. Agora, só que eu nunca mostrei. É a primeira vez na vida que eu falo disso. Só que isso é uma coisa normal. Você vai me dizer que o Bial e o Tiago Leifert nunca viram detalhes? Como esses que eu estou contando, só que eles não têm o estilo Kajuru, né? Não tem nada demais nisso. Eu não estou dizendo que as meninas e os meninos do programa reality show estavam roubando, fazendo coisa errada, não. Qual o problema que tem ali? Pessoas solteiras, livres, que estavam se conhecendo, alguns e algumas se apaixonavam, e evidentemente que à noite, no escurinho do quarto, rolava. E eles e elas, integrantes do reality show, confiavam na emissora e em mim.
Sabiam que eu jamais iria cometer um crime, né? E outra coisa, a emissora sofreria punições terríveis. O programa iria ser tirado do ar. Então é claro que eu apenas coloquei no ar aquilo que merecia ir para o ar. E fiz certo, tanto que o Silvio nunca me tirou do programa. Muita gente queria tomar meu lugar.
NaTelinha - É? Dentro do SBT?
Hoje eu posso falar isso. Ixi, muita gente queria tomar meu lugar. No SBT o Raul Gil queria tomar meu lugar, Ratinho queria, Galisteu queria, Celso Portiolli queria. Todo mundo queria ser o apresentador do programa, não por causa do programa, para ter o privilégio de ficar ao lado do Silvio no auditório, entendeu? No palco. Você divide palco com o monstro.
NaTelinha - E será que alguns desses casais que a gente está falando, que cometeram todas essas coisas normais que casais fazem, estão juntos até hoje? Você tem uma notícia? Se tem gente junta 20 anos depois desse programa?
Tem dois que me parece que estão juntos até hoje. No ano passado estavam. Dois casais. Só para você ver que não era sacanagem. É porque houve um sentimento, rolou um clima de sentimento. E como é que faz? Eles iam ficar ali 24 horas, durante meses, sem nada? Só com um beijinho de selinho na boca? Não, claro que não. Óbvio que não. Isso tem, tem mesmo. Tanto que depois desse programa, outras edições do Big Brother, não sei se você chegou a ver, Thiago, e você do outro lado, aqui no NaTelinha, nesses 20 anos desse veículo extraordinário e independente, nós vimos cenas fortíssimas.
NaTelinha - Muito.
Fortíssimas. E daqui para frente pode até piorar. Não sei.
NaTelinha - Tem como piorar, será? Ah, tem... Nada é tão ruim que não possa piorar. (risos)
Se eu fosse convidado para ganhar R$ 2 milhões por mês para apresentar um reality show, eu não aceitaria.
NaTelinha - Você não apresentaria?
Hoje não tem mais o Silvio Santos. Que privilégio profissional eu teria? Para dividir palco com quem? Com quem da TV Globo? Eu não tenho medo de nenhum profissional da TV Globo. Desculpa a modéstia. Eu sou melhor do que eles em televisão. Tanto que o Silvio Santos falava: 'Você é o melhor comunicador do Brasil. Você é o único que não usa TP, teleprompter, você fala tudo de improviso. Você não erra gravação nenhuma, Kajuru. É um, dois, ou no último top três e pronto'.
E eu realmente nunca errava. O cara que errava irritava o Silvio. Então, eu não tenho medo de competir com ninguém. Quem da Globo quer melhor do que eu em televisão para apresentar programa de esportes, para entrevistar personalidades, pode botar qualquer um que eu boto no chinelo.
NaTelinha - E você foi jurado do Silvio também, né, Kajuru? O que veio primeiro, o Fora do Ar ou Gente que Brilha? O que puxou uma outra coisa a outra?
Não, agora tem uma novidade para você que você esqueceu. Eu vou te mandar o vídeo, inclusive. É pequeno o vídeo. Vídeo de 30 segundos. Eu fui ator também no SBT.
NaTelinha - Eu quero falar disso também. Você fez Cortina de Vidro.
É, e Cortina de Vidro contracenando com um craque: Herson Capri. Eu era o psicanalista dele. Lembra? Eu com cigarro na boca. Eu era o psicanalista dele. Eu fui ator no SBT.
NaTelinha - Isso foi muito aleatório.
Eu fui jurado do Silvio Santos. Por quê? Porque o Silvio recebeu da TV Itacolomi de Minas Gerais, hoje TV Alterosa, afiliada do SBT, emissora que eu trabalhei, que eu comecei a minha carreira e devo muita gratidão a ela. A TV Alterosa mandou para o Silvio uma fita em que eu, com 17 anos de idade, eu era jurado, sabe de quem? Flávio Cavalcanti, o gênio da televisão. Porque ele foi para São Paulo, ele saiu de São Paulo por censura e foi trabalhar com o programa dele em Belo Horizonte, na antiga TV Itacolomi, que virou TV Alterosa.
Eu dividia o quadro de jurados com um amigo meu até hoje, que está aí vivíssimo, graças a Deus, que é o Conrado, casado com o Andréa Sovertão, da Xuxa, o Conrado cantou. Então, éramos dois juvenis, chamava... Dois jurados juvenis, adolescentes. E os outros, só craque. Érlon Chaves, Sérgio Bittencourt, Márcia de Windsor. Só craque. Só craque. E tínhamos nós dois, Conrado e eu, cada um com 17 anos de idade. Então o Silvio viu. E ele falou assim: 'Eu quero o Kajuru agora como meu jurado'. Aí eu fui. Aí depois de mim, o Silvio chamou a Hebe, chamou a Galisteu e chamou o Cacá. No programa de calouros. Ao invés de se chamar Show de Calouros, o nome era Gente que Brilha.
E o Silvio gostou tanto de nós quatro como jurados, que foi daí que ele deu o programa Saia Justa para nós, que era o Fora do Ar, tipo o Saia Justa da GNT, numa ideia que seja justo, que seja honesto, e eu sou, numa ideia da Adriane Galisteu, que teve a coragem de ir no Silvio e falar: 'Dê esse programa para a gente!. A gente vai fazer, se você está gostando da gente aqui no júri, imagine a gente fazendo um talk-show tipo Saia Justa?'. E o Silvio autorizou o programa através desse pedido feito pela Adriane Galisteu.
NaTelinha - E por que não era ao vivo, Kajuru? Vocês não cogitaram a ideia de fazer o Fora do Ar ao vivo? Ou realmente não tinha como, tanto pelo horário, mas pelo conteúdo que às vezes poderia sair do controle um pouquinho?
Bom, você mais uma vez soube tirar de mim a verdade na forma que perguntou. Eu queria fazer o programa ao vivo. Ao vivo, a direção colocou um obstáculo: o custo. Porque entrava no ar 23h30. Disputava com o Jô Soares. E no Ibope era pau a pau. 10 x 11, 11 x 10, 11 x 9. Era pau a pau a disputa de audiência com o Jô. O programa era muito bom mesmo. Não por mim. Você tinha uma Hebe Camargo livre falando de tudo. Só de ter uma Hebe livre falando de tudo que ela queria, já era audiência certa. E o programa acabou tendo um entrosamento de nós quatro no ar. Aí eu aceitei, então, gravar, porque também eu tinha medo no ao vivo de o programa no outro dia sair do ar.
E o medo era por causa da Hebe. A Galisteu não. A Galisteu não fazia mal a ninguém. A Galisteu sempre foi de divertir, de bater papo. Ela nunca foi chegada à leitura, à literatura, então ela não tinha muita cultura política, por exemplo, ela não gostava de política. Já o Cacá tinha. O Cacá também era duro, era implacável nas críticas. Agora, o problema era a Hebe. Segurar a Hebe, meu amigo, era uma coisa, e eu repito, foi no tempo do Mensalão. O que ela falava de Lula, de José Dirceu, de Palocci, desse pessoal tudo do PT, você não tem noção. Eu tinha que editar, mas sem tirar o conteúdo, porque senão ela me demitia, não era o Silvio. Ela no dia seguinte iria me demitir.
Então eu fazia com todo cuidado e terminava a edição e ia para a cantina do Lellis para a gente jantar junto, toda quarta-feira. E ao chegar, a primeira pergunta qual era para mim? 'E aí, Kajuru, conta, como é que foi a edição? O que você tirou?'. Eu falei: 'Ó, eu tirei isso aqui, isso aqui, isso aqui'. Ele falou: 'Madrinha, eu tirei porque daria problema'. Eu falei: 'Não, tudo bem, não tem problema não. No próximo programa eu falo de novo'.
NaTelinha - E o Silvio assistia esse programa, Kajuru? Dizem que ele dormia religiosamente às 22 horas, então ele não estaria acordado, ele teria que assistir no dia seguinte. Ele alguma vez deu sinais de que assistiu o programa? Você ficava sabendo se ele via, se ele não via?
Eu posso te garantir, te garantir, e as filhas dele estão vivas aí hoje para desmentirem, que o programa que ele mais viu no SBT foi o Fora do Ar, no outro dia de manhã, que o programa era entregue para ele, na manhã do café da manhã dele, depois da academia dele. Ele nunca ficou uma semana sem ver o programa. Ele via, se divertia e nunca censurou nada. O programa durou seis meses, só saiu do ar por causa de um atrito da Galisteu com o Silvio. Aí a Hebe não quis continuar com o programa, porque o Silvio pediu para a Hebe colocar uma pessoa no lugar da Galisteu para o programa não sair do ar, porque ele não queria que o programa saísse do ar.
A Hebe falou: 'Não, o programa não vai continuar, porque quem conseguiu o programa, quem teve a ideia, foi a Galisteu. E nem eu, nem o Kajuru e nem o Cacá, vamos ser sacanas com ela, Silvio. Então pode tirar o programa fora do ar pronto e acabou. Aí literalmente ficou fora do ar mesmo. E eu, o Silvio não me demitiu. O Silvio só demitiu o Cacá. E eu continuei fazendo a mesa redonda de todo domingo, 12h30. Portanto, eu continuei empregado. E a Hebe, inclusive, também me ajudou muito, pediu pro Silvio: 'Ó não é justo o Kajuru que perdeu um emprego da forma cruel, que foi demitido ao vivo na Band, por defender cadeirantes no Mineirão. Então, Silvio, mantém o Kajuru'. Ele falou: 'Não, o Kajuru vai continuar fazendo o programa de domingo de esportes'.
Eu fiz um trato com ele. Até agora ele está cumprindo. Qual que era o trato? Eu não podia perder para a Record. Eu tinha que ser segundo lugar. Todo domingo, 12h30. Eu não só fui segundo lugar todo domingo, enquanto estive com o programa no ar, por oito meses, como também ganhei da Globo em 2006, depois do jogo Brasil e França, na Copa do Mundo da Alemanha, em que o Brasil foi eliminado, e eu levando o Nasi, da Banda Ira, e o Sócrates, o gênio Sócrates, do Corinthians, da seleção brasileira, nós três ficamos em primeiro lugar, 38 minutos, com 17 pontos de audiência. O Silvio triplicou o meu salário naquele mês. Eu fiquei surpreso, por três vezes o Silvio me surpreendeu, no final do mês.
Essa em que ele triplicou o meu salário, e em outras duas vezes naquela Copa do Mundo, porque eu não aceitava fazer merchandising, não aceitava ser garoto-propaganda, mas o Silvio falou assim para o Orlando Macrini e para o Guilherme Stoliar: 'Falem para o Kajuru, para ele só falar 'torpedo TIM', só isso'. Eu falei: 'Topo, mas não quero receber nada'. 'Ok, Kajuru, ok'. E eu só falava isso: torpedo TIM. Quando chegou no final do primeiro mês, o que aconteceu com o meu salário? Meu salário tinha sido dobrado. Eu fui falar, por quê? 'O Silvio mandou pagar, porque você aceitou falar o torpedo TIM'. Então esse era o Silvio Santos e patrão igual nunca mais o mundo vai ver.
NaTelinha - Kajuru, você disse que o Silvio era sempre muito liberal. Mas por que você acha que os diretores tinham tanto medo das coisas que iam para o ar? Porque os diretores tinham medo? Por exemplo, você falou que o Silvio se divertia vendo Fora do Ar. Mas eu tenho certeza que os diretores não se divertiam tanto. Eles ficavam com muito mais medo do que o Silvio, que aparentava não ter medo nenhum. Se ele assistia, gostava, dava risada, elogiava, por que os diretores ficavam com tanto medo assim?
Acontece que trabalhar com o Silvio Santos, sabendo da competência acima da média, do fenômeno que ele era, todo mundo tinha medo, até na hora de gravar, porque o Silvio mandava avisar que não admitia o apresentador errar a gravação e ter que começar tudo de novo. Por quê? Algo que nunca ninguém soube. Vou falar pela primeira vez aqui para você, Thiago, aqui no NaTelinha. O Silvio teve um tempo que, por causa de tantos programas gravados, ele estabeleceu a seguinte regra para todos nós.
O apresentador que atrasar uma gravação e vai ser punido. Tinha uma punição. Tinha a segunda, a terceira demissão. E alguns atrasavam muito tempo. Ele ficava uma arara. Então, ser diretor dele dava medo por quê? Porque a bomba explodia na mão primeiro de quem? Do diretor. Porque o Silvio dava essa ordem aos seus diretores. Não aceitem atraso em gravação e não aceitem apresentador falar: 'Opa, errei, vamos começar tudo de novo'. Perfeito. Por quê? Porque tinha muito apresentador, cada programa tinha uma hora, então, se começasse a ter muito atraso, o Silvio tinha que pagar hora extra, ou seja, ele ia ter prejuízo numa folha de pagamento, e ele não queria isso. Então, isso fazia cada diretor de programa trabalhar tenso e chegar na apresentadora ou no apresentador e pedir, pelo amor de Deus, não erre.
E, por favor, vamos começar no horário certo. 14 horas são 14 horas. O Silvio tinha um pouco de Boni, aquele negócio de Jornal Nacional, 8 da noite, novela das 7 era 7, novela das 9 era 9, pronto, acabou. Jornal Nacional era as 8 e tal, Boni... E o Silvio mais gênio que o Boni ainda. E olha que o Boni é um gênio indiscutível e absolutamente fenômeno de televisão. Então, esse era o medo. E eu, graças a Deus, você pode perguntar lá nos corredores do SBT, eu, graças a Deus, fui o único apresentador dele que nunca errei e nunca atrasei em um minuto as minhas gravações. Nunca. Tanto que teve uma reunião com todos os apresentadores, todos juntos, o Silvio falou assim: 'Por que vocês não fazem como o Kajuru? O que é que vocês tanto erram, tanto tem que começar toda hora de novo a gravação. E por que vocês tanto atrasam? Tem gente aqui que chega meia hora de atrasar'. Então, eu ouvi isso dele, para mim também foi um troféu, porque eu fazia questão de ser exemplo para o Silvio. 'Alguém vai te falar, Silvio'. O diretor do programa seu, que você escolheu o diretor, porque ele que normalmente escolhe os diretores de cada programa, o diretor vai te falar. 'Patrão, o Silvio, o Kajuru, de novo, não errou e começou no horário combinado'. Era 12h30 a gravação? 12h30. Era 23h? 23h. E até hoje eu sou assim.
Você pode perguntar lá, liga na RedeTV!, pergunta para a direção da Rede TV, para uma craque de jornalismo, que é diretora nacional, a Stephanie, que trabalhou também no SBT, na Jovem Pan. A Stephanie é uma craque em jornalismo. Ela fica admirada. Ela fala que 'não é possível, você não erra nenhuma vez'. Eu falei para ela, porque eu trabalhei com o Silvio Santos. E eu aprendi com ele. Então eu não vou errar. Esquece que eu não vou falar: 'Atenção, para, para, para, vamos começar de novo'. Isso eu nunca fiz.
NaTelinha - E você presenciou algum lado cruel do Silvio, Kajuru? Por que eu estou te perguntando isso? Porque o jornalista Ricardo Valladares promete expor numa biografia uma espécie de 'lado B' do Silvio. Você chegou a ver algo assim?
Primeiro eu quero dizer para você aqui, do jeito que é o Kajuru, do estilo Kajuru, que eu tenho nojo desse cara, esse Ricardo Valladares. Nojo dele. Esse cara não vale nada. Então, não tenham nenhuma expectativa pelo que ele vai escrever, porque ele vai escrever um monte de mentira, um monte de bobagem. Porque ele foi demitido, ele foi contratado pelo Silvio e demitido pelo Silvio, porque ele me demitiu por telefone. Data 14 de agosto de 2006. Eu fui demitido por telefone numa segunda-feira, 8h30 da manhã. Eu estava com a minha mulher em Ribeirão Preto, no flat Araucária, quando ele me demitiu por telefone. Eu fiz questão de pedir para o sobrinho do Silvio Santos, o Maurício Abravanel, que avisasse o Silvio, se o Silvio tinha consciência disso.
Tanto que o Silvio não tinha consciência que ele me mandou voltar a fazer programa diário de esportes no SBT com o sobrinho dele, o Maurício Abravanel. Entendeu? Então, essa é a memória que eu tenho desse cara. Desse cara que, eu repito, eu tenho nojo dele. Nojo. Portanto, eu não acredito que ele vai escrever nada de conteúdo e principalmente de verdade. Ele vai fazer o que ele fazia na revista Veja, naquela coluna de fofoca dele. Ele não tinha o nível do NaTelinha, a lisura do NaTelinha, jamais. Tanto que ele nunca trabalhou na Folha de São Paulo, no grupo Folha. Trabalhou na Veja e o Silvio cometeu esse erro, talvez o único na carreira dele, de colocar um cara que era colunista da Veja para ser diretor de programação do SBT.
Foi um erro grave do Silvio Santos. Eu amo o Silvio, só falo bem dele. Mas esse, para mim, foi o único erro grave da vida dele. Porque não tinha nada a ver o Ricardo Valladares ser diretor artístico. A Hebe ficava uma arara. Tipo assim, peraí, 'eu vou ouvir ideia desse cara? Esse cara que vai dirigir?'. O Ratinho. Ninguém, nenhum de nós, os principais apresentadores do SBT, a gente sequer conversava com ele.
NaTelinha - Mas vocês recebiam orientações ou ordens do Ricardo Valladares por intermédio de outras pessoas para seguir, embora não houvesse contato ou não?
Recebia, mas não cumpria. Eu, Ratinho, por exemplo, não cumpriam. Nós não cumprimos de jeito nenhum. Porque o Ratinho também é um baita comunicador. É fenômeno também. E eu também sou, desculpe. Eu vou ouvir a ideia de Ricardo Valladares? Que mal sabia escrever na revista Veja, e no tempo sórdido da revista Veja, que não é hoje assim, que naquele tempo a revista Veja fazia capa de sacanagem contra as pessoas, fazia contra Silvio Santos, fazia contra empresário, tanto que eu vi várias vezes o Datena e o Ratinho, e eu também fiz isso já, ao vivo, a gente rasgava a revista Veja, mostrava o que ela estava, a gente rasgava no ar, rasgava no ar ao vivo. E no SBT a gente fazia isso e o Silvio nunca chamou a nossa atenção por fazer isso. O Datena fazia isso na Record e na Band. Rasgar a revista Veja. E graças a Deus a gente nunca teve problema. O Silvio aceitava a gente do jeito que a gente era.
E o Silvio sabia que a gente não ia com a cara desse sujeito. Não por questão pessoal, nunca. Por questão profissional. Porque ele era ruim de serviço e ruim de caráter.
NaTelinha - Antes no SBT, Kajuru, você estava falando de Cortina de Vidro. Eu ia falar disso com você. Você sonhou em ser ator já? Ali em Cortina de Vidro é você mesmo, né? Não é inteligência artificial, não? (risos)
Sou eu mesmo, claro. Não tem como fazer o que faz hoje. Inteligência artificial. Naquela época, eu poderia desmentir e falar, esse não é o Kajuru. Era Kajuru mesmo, porque quando menino, eu comecei com 12 anos de idade a já fazer programa de rádio. Com 15, eu já fazia televisão. Eu comecei com o Datena, em Ribeirão Preto, em rádio, e depois o Datena também voou alto, foi um fenômeno tanto no esporte como no jornalismo, e é até hoje, para mim, o maior deles, o Datena. E ali eu trabalhei com um monte de craque. Ribeirão Preto era um celeiro. Ribeirão Preto tinha Heraldo Pereira, Marília Gabriela, José Roberto Bournier, Renata Ceribelli, Walker Blas, voz padrão da HBO, Paulo Henrique Viana Leitão de Carvalho, voz padrão do canal Discovery. Então era um celeiro Ribeirão Preto. E em Ribeirão Preto eu tive a honra, de conhecer pessoalmente um ator, para mim, assim, acima de todas as médias, os dois maiores para mim são este que eu conheci, o Tony Ramos e o Antonio Fagundes. Esses dois eu amo.
É igual o filme do Al Pacino. Se está escrito que o filme é do Al Pacino, eu vejo e pronto, acabou. E não quero nem saber do conteúdo, do roteiro. É Al Pacino? É Robert De Niro? É. Eu vou. É Andy Garcia? Eu vou. É Marlon Brando? Eu vou. Então, Tony Ramos. Eu tinha, não é inveja, graças a Deus, que isso é um sentimento que eu nunca tive na minha vida. Aos 64 anos de idade eu posso falar isso. Mas eu tinha tanta admiração pelo Tony, pelo Antonio Fagundes, pelo Sebastião Vasconcelos, que é pouco famoso, diferentemente do Tony e do Fagundes, do Carlos Zara, da Eva Vilma. Isso é o menino. na novela que eu mais amei na minha vida, Mulheres de Areia, a primeira, que tinha o Carlos Zara, tinha a Eva Wilma, e tinha aquele menino de ouro, aquele ator de ouro, que eu amo o circo, o Frota.
O Marcos Frota. O Marcos Frota, que também é um baita ator, é gênio também, e ele fazia o papel de gado na novela Mulheres de Areia. Lembra? Só que o primeiro a fazer esse papel, Foi o Gianfrancesco Guarnieri. Lembra dele? Craque, craque. Aí eu falei: 'Gente, eu quero um dia ter chance de ser ator'. Eis que o SBT, em 1989, me deu essa chance. Eu fui chamado, fui convidado para fazer o papel de psicanalista e o meu cliente, o meu paciente, no caso, não se fala cliente com psicanálise, o meu paciente. Era nada mais, nada menos, um dos maiores atores do Brasil, o Herson Capri. Imagina o medo que eu tinha de gravar com o Herson Capri. Porque o Herson Capri é igual o Antonio Fagundes.
Pouca gente sabe disso. O Antonio Fagundes, Thiago, não aceita você errar com ele. Se você errar com ele, só no outro dia vai gravar de novo. Porque ele não erra. O Antonio Fagundes não tem chance de ele errar. E ele pega o texto meia hora antes de gravar. Ele não fica toda noite lendo para decorar o texto, não. Ele chega, meia hora antes ele pega e fala, estou pronto, vamos lá. E nunca errou. Comercial que ele vai gravar, eu já vi. Ele chegar e falava, tudo pronto, gente? Vou contar até 30 segundos o comercial. Por favor, eu não erro, então eu não gravo de novo. Não tem segunda vez comigo. O povo morria de medo. E ele nunca errou. Antonio Fagundes, gênio. Então eu falei: 'Gente, eu quero ter a chance'.
E tive. Mas não gostei. Preferi voltar ao futebol. Não, não. Eu não conseguia ficar fora do futebol, né, Thiago? Porque aí nessa época eu já era apresentador de programa esportivo. Eu não era apenas produtor, repórter de campo. Porque repórter de campo é um sofrimento, né? Chuva, sol, enfim. Você ter que correr atrás de um jogador de futebol. E, de repente, eu virei apresentador e comentarista. E aí a paixão era maior.
NaTelinha - Mas na novela você não errou?
Eu parei. Porque se eu quisesse, eu teria continuado
NaTelinha - Mas a cena que você teve, você não errou. Gravou de primeira, então?
Se eu errasse, o Herson Capri a falar igual o Antonio Fagundes. 'Amanhã a gente grava de novo, Kajuru. Amanhã a gente grava de novo. Amanhã talvez, Kajuru'.
NaTelinha - Bom, no ano passado, Kajuru, eu estava vendo um projeto de lei no Senado que ajudaria as televisões na volta da publicidade infantil. Eu queria saber em que pé está essa a PL2628/2022
Bom, primeiro, o mundo da televisão no Brasil, os diretores, desde João Roberto Marinho na Globo, a família Abravanel no SBT, o Silvio, infelizmente, já não estava vivo quando dessa discussão, desse assunto no Congresso Nacional, desse projeto, o pessoal da Record, eu recebi telefonema, almocei com toda a direção, só o bispo Edir Macedo que não me ligou.
Mas todo mundo me ligou me agradecendo porque eu fui escolhido para ser o relator, ou seja, para ter o voto decisivo nesse projeto em que, voltando os programas infantis, volta-se também a publicidade, que acabou sendo proibida, e daí o fim dos programas, o fim de Xuxa, de Angélica, de Mara Maravilha e de tantos outros e outras, porque não podia ter comercial. Isso é um absurdo, na minha opinião. Isso é igual querer acabar com a publicidade das casas de apostas. A gente tem que legalizar as casas de apostas, fiscalizar quais estão pagando os impostos devidamente, como começou a pagar em janeiro. Agora, tirar do ar as publicidades que mais são feitas hoje, porque hoje a televisão não tem no intervalo, Thiago, como tinha antes, todo o intervalo, tinha quatro mulheres de biquíni, das mais bem escolhidas, fazendo comercial de uma cerveja, porque tinham cinco cervejas em cada intervalo de televisão.
As cinco viraram um monopólio da Ambev. Portanto, hoje, cerveja não precisa patrocinar mais. E não tem mais, em intervalo de televisão, quase você não vê cerveja, assim como também banco. Antes, eu sou daquele tempo, você é mais novo do que eu, do tempo em que todo intervalo tinha Bradesco, tinha Itaú, tinha Unibanco, tinha Santander, enfim, tinha comercial de banco, patrocínio de banco, para tudo quanto é lado, nas camisas dos times de futebol. Hoje não existe isso mais. Então como é que você vai acabar, no caso hoje, com casas de aposta? Você vai provocar um desemprego geral. Na imprensa brasileira, nos jornais, nas rádios, nas emissoras de televisão, a única que aguentaria, nos dois anos, ficar sem a publicidade seria a Rede Globo. As outras, para mim, iriam à falência.
Isso não tem cabimento. Então, eu sou o relator e tenho certeza que até agosto, é a previsão, até agosto vai para o plenário e vai passar, porque eu converso com os senadores, não sei na câmara, porque na câmara eu não sei. Eu evito até passar perto. Não por causa de todos. Lá tem deputadas e deputados extraordinários, extraordinárias. Mas tem gente também que é pior do que o lixo. É um lixo não reciclável. Trabalha em chiqueiro e não em plenário. Então, na Câmara eu não sei como é que vai ser. Agora, no senado vai passar e eu acho que é algo absolutamente justo.
NaTelinha - Você acha que a falta de programas infantis já está causando um reflexo agora? Não sei se você tem acompanhado televisão, mas os números de audiência estão desabando já faz um tempo e não há qualquer sinal que isso vá melhorar, principalmente agora com os novos adventos de internet, streaming, etc. Mas a formação de novos telespectadores, quer dizer, você pegar a criança nos primeiros anos de vida, ela não assiste mais televisão. Você acha que isso já está se refletindo na televisão de agora?
Acho que a sua pergunta é absolutamente oportuníssima, porque você entrou na ferida. As televisões precisam de programas infantis até para o bem das crianças, porque as crianças, os pais, vão mudar o hábito delas. Vão dizer para elas: 'Olha que programa gostoso de se ver'. Eu não gosto da Xuxa, principalmente como pessoa, mas profissionalmente ela, né? Ela agradou. Porque realmente ela era boa de serviço.
A Angélica, também não sou amigo dela, mas ela também era uma craque. A Mara Maravilha, também craque. E tantos outros e outras. Então, é a chance que a televisão tem de recuperar uma audiência perdida para algo que faz mal às crianças, que se chama rede social. Se você tivesse uma filha de 7 anos, ela com o celular na mão, na hora que acabar o nosso programa aqui, você entra no TikTok e vai vendo os vídeos. Tem vídeo que ensina como se faz sexo. Que fala até do tamanho do órgão. E que mostra qual que é o ideal pra mulher. Você imagina uma criança de 7 anos vendo isso? E se mostra, não só se orienta. Com inteligência artificial, com fake news. Então, o que é melhor hoje? Um celular na mão de uma criança ou um bom programa educativo?
NaTelinha - Essa geração que está crescendo agora, ela nunca consumiu televisão aberta. Então, as pessoas nem conhecem mais apresentador, artista, ator, atriz e tudo mais. Conhece se for tiktoker, se for youtuber. Você acha que dá para pinçar essa moçada com bom conteúdo na televisão aberta e não voltar a fazer com que elas assistam, mas que elas assistam pela primeira vez? Porque muitas crianças e jovens nunca consumiram o veículo...
Essa sua pergunta é mais uma vez oportuna, porque a gente não pode mentir. Hoje, uma criança prefere o celular do que qualquer outra coisa, principalmente televisão. Criança de 5 de idade já está com o celular na mão. Hoje você vai em um restaurante e analise os casais. Eles nem se falam. Cada um fica no seu celular, no seu zap. Ou traindo a companheira ou o companheiro, ou conversando sobre futebol, sobre outro assunto, mas não conversa com a mulher. Ou seja, não há mais diálogo entre os casais. Diálogo que é o mais importante. A conversa é aquilo que vai restar lá no final de um grande amor. Então, precisa ter conversa, até para haver admiração entre um casal. Admiração é o principal sentimento de um grande amor, para ele sobreviver, para o casal ter filhos, formar família e tudo mais, e serem fiéis e serem realmente verdadeiros no amor. Então, na verdade, voltando aos programas infantis, com o devido patrocínio, o que as televisões vão tentar com os pais é mudar o hábito dessas crianças.
E aquelas que ainda não tiveram acesso a celular, se Deus quiser, o primeiro instrumento que elas vão ter para ver vai ser a TV. E não um aparelho de celular.
NaTelinha - E você como experiente jornalista, Kajuru, falando em internet, como é que você está avaliando essa nova geração de jornalistas que estão surgindo aí pelo YouTube, por rede social, para comentar isso? Pode ter alguns até que estão indo para a televisão aberta, o caso do Fred Bruno no Globo Esporte de São Paulo, não sei se você chegou a ver. Mas como é que você avalia esse novo surgimento de mídia e essa moçada que está surgindo, mas agora na internet e fazendo até o caminho de ir para a televisão aberta. A televisão aberta às vezes recorre a quem faz internet. Como é que você avalia esse movimento de mercado?
Bom, outra boa pergunta, Thiago. Eu vejo com bons olhos. Tem muito colega meu na faixa da minha idade e no tempo que eu tenho de televisão, 50 anos que eu faço televisão, 50 anos de carreira, tem muito colega que mete o pau. Tudo estúpido, é tudo burro. Não tem cultura nenhuma, nunca leu gibi. Isso é verdade. Tem muito youtuber que nunca leu O Pequeno Príncipe. Ou seja, que é totalmente analfabeto e que não sabe falar, que não junta três palavras, que não consegue falar 'eu te amo'. Ou eu falo 'eu amo' ou 'te amo'. Eu te amo não dá conta. Mas também tem revelações. Esse menino que você falou do Globo Esporte... Esse menino é de ouro.
E me desculpa, eu não o conheço, mas ele me segue. Porque quem criou esse tipo de apresentação, desculpem, perguntem aos mais velhos da televisão. Fui eu na Band no Esporte Total. Eu que pegava o ponto do ouvido, chutava o ponto, brigava com o produtor do ponto, o chamava de comentarista eletrônico, chutava, brincava. Eu que sentava no chão. estava de pé no programa, de repente eu sentava no chão para fazer um comentário. O Tiago Leifert foi craque porque ele se baseou muito em mim. Se ele for minimamente honesto, como eu sei que ele é, ele vai dizer, 'realmente eu via o Kajuru'. E ele entrou nessa linha e obteve sucesso extraordinário. Ele é um craque, um fenômeno de televisão. Mas que ele me copiou, ele me copiou. Não tem jeito.
Esse menino aí, de repente viu um vídeo meu no YouTube. Então, tem revelações que você não pode discutir. Tem gente que não gosta daquele colunista que está no SBT, como é que ele chama mesmo? Léo?
NaTelinha - Léo Dias?
É, o Léo. Você pode não concordar com ele em algum comentário da maneira como ele faz, mas que ele sabe comunicar, ele sabe. É um tipo de programa que eu não gosto. Eu não gosto de saber da vida de ninguém, isso não me interessa. Mas que o cara sabe fazer, que o cara é uma revelação, é. A própria Fabíola, que fez programas na Record, tem muita gente que nunca viu televisão na vida, só via como telespectador, e que hoje está na televisão aberta, vindo das redes sociais.
Eu não posso ignorar que há talentos, indiscutivelmente. Agora, há um monte de merda também.
NaTelinha - Mas isso você não vê, né?
Eu não vejo nem os bons, nem os bons, porque eu não tenho tempo.
NaTelinha - Você chegava a dizer, Kajuru, de que não existia liberdade de imprensa no Brasil, mas só de empresa. Você continua com essa mesma opinião? De que só a empresa te dá liberdade e na imprensa você não tem liberdade de fato?
Continuo. Não muda a minha opinião. O único veículo de comunicação dos 26 que eu trabalhei em 50 anos de carreira, que nunca retirou uma palavra do meu artigo, da minha coluna, foi a Folha de São Paulo. Eu era o substituto do Tostão. Olha que privilégio. Tostão, que para mim é o melhor disparado colunista. Eu era o substituto dele. E durante todos os anos que eu trabalhei na Folha, nunca se retirou uma palavra. E eu batia pesado. Teve até uma coluna, que você pode pegar, de 17 de julho de 2002, em que eu bati no Lula, mas batia assim, para valer mesmo. A coluna se chama 'Até Tu, Lula'. É só você entrar no UOL e buscar lá no arquivo. E batia em todo mundo, não só em Lula. E pesado. Na época, o presidente da Federação Paulista de Futebol era o Eduardo Farah. Eu escrevi uma coluna na Folha com o artigo 'O Lado Faraônico', em que eu destruí o Farah. A TV Globo, por exemplo, não me contratou em fevereiro de 2003, porque ela apresentou a mim uma censura. Ela apresentou uma lista de quem eu não podia falar.
NaTelinha - Pelo menos já avisou antes.
É isso que eu ia falar. O elogio que eu faço à Globo é que ela foi honesta de me avisar antes e não depois de dois meses me tirar do ar. Porque, na minha opinião, eu não duraria um dia na Globo. Um dia. Segundo dia eu seria demitido. Porque eu vi o Galvão Bueno, que foi intermediário. O Galvão está aí vivo, pode perguntar para ele. O Galvão, que me queria na Globo. O Galvão, inclusive, escreveu no livro dele, no livro dele ele conta esse episódio, que ele queria o Kajuru e não o Renato Maurício Prado. E o Marco Mora, que era o diretor de esportes da Globo em São Paulo, ele queria o Kajuru fazendo o Globo Esporte diariamente, uma mesa redonda no Esporte Espetacular, domingo, com o público, nas ruas, e um quadro que tinha até nome, A Bela e a Fera, após as rodadas de domingo e quarta.
Ou seja, segunda e quinta, no Jornal da Globo, com a Ana Paula Padrão, que era a apresentadora. Então, em fevereiro de 2003, eu fui convidado para trabalhar na Rede Globo. Estava sempre na reunião o Marco Mora, o Galvão Bueno, nas cinco, que foram jantares, três no restaurante Jardim de Nápoles e dois no restaurante Rascal. Na época, todo dia saía na coluna da coluna ilustrada da Folha de São Paulo, com o Daniel Castro, e na coluna do Caderno 2 do Jornal Globo, da Patrícia Kogut. Tudo informando, mais um jantar de Kajuru com a Globo. E a primeira reunião não deu certo, a segunda não deu, a terceira não deu, a quarta não deu, a quinta, que foi a última, foi quando veio o Luiz Fernando Lima, o gaúcho, que era o diretor nacional de esportes, e ele apresentou a lista do que eu não podia falar e de quem eu não poderia falar para ter esse contrato na TV Globo.
Vamos lá... Presidente da Federação Paulista, eu não podia falar nada dele. Presidente da CBF, Ricardo Teixeira, eu não podia falar um A contra ele. Presidente da Federação Carioca, Caixa d'Água (Eduardo Augusto Viana da Silva), eu não poderia falar um A contra ele. Corrupção no futebol não era assunto meu, eu não tinha que falar. E o último na lista, quinta. Eu não poderia criticar o horário de jogo, que na época estava sendo 22h. Eu achava um absurdo. E na outra emissora que eu estava trabalhando, a RedeTV!, quando eu recebi o convite da Globo, em fevereiro de 2003, eu podia falar tudo. Eu podia criticar o horário de 22h. Por quê? Porque em São Paulo tinha torcedor que chegava em casa 1h30 da madrugada. Ele tinha que acordar às 3h30 para pegar o seu ônibus e ir para o trabalho. Então não tinha cabimento. E o Luiz Fernando Lima falou para mim, que eu juro, 'isso é assunto comercial, não é assunto jornalístico, portanto você não pode falar disso'. Falei: 'Então acabou aqui a nossa conversa, muito obrigado pela sinceridade, eu nunca vou meter o pau na Globo, porque vocês foram'. Como você mesmo falou antes, Thiago, honestos em me avisarem antes, porque diante disso aqui, eu seria demitido depois de amanhã. Então é melhor a gente continuar amigo, pronto. E o Datena me liga e fala: 'Acabei de fechar com a Band, e a Band quer você também'. O Marcelo Parada era o vice-presidente da Band na época.
Cheguei a brigar com ele, mas não tenho nada contra o Marcelo Parada. Gosto dele até porque tenho gratidão por ele. E eu e o Datena fomos para a Band, ganhando um salário astronômico, que eu não sabia nem o que fazer com o dinheiro, a não ser gastar com as namoradas, que é isso que é bom na vida, e com namoradas do bem, tanto que todas elas são minhas amigas até hoje. E não me arrependi não, Thiago. 'Ah, Kajuru, você teve uma chance de ouro de ir para a Rede Globo, você ia ser um dos maiores nomes da emissora e tal'. Eu falei, não, gente, a Globo foi honesta comigo, ela apresentou cinco itens que alimentavam o meu dia a dia.
Eu tinha audiência fazendo programa de esportes na televisão, tanto que fui para a Band e ganhava do Globo Esporte quase toda semana, fazendo o Esporte Total, de 12h às 13h, porque eu falava tudo isso. Eu falava mal de dirigente, eu falava de corrupção no futebol, eu falava de horário do jogo. Então, se eles tirassem esses elementos, do meu conteúdo como apresentador e como comentarista esportivo, eu viraria um fracasso na televisão. Não seria o que eu diria.
NaTelinha - Mas você acha que a Globo segue a mesma? As políticas seguem as mesmas?
Rigorosamente as mesmas. Não mudou nada. É só você me dizer. Me diga qual foi o dia, que Esse menino que faz o Globo Esporte, que é muito bom. Esse menino de ouro. Tipo o Tiago Leifert. Me aponte um dia que ele criticou o presidente da CBF. Um dia. Se ele entrar no ar e fizer uma crítica dura ao presidente da CBF, eu renuncio o meu mandato de senador, renuncio a minha carreira na televisão brasileira e vou me aposentar.
NaTelinha - Esse risco você não corre, Kajuru.
Não dá, não dá, não dá.
NaTelinha - Eu queria saber da sua carreira, Kajuru. Você teve algumas desavenças públicas, outras talvez ficou só no privado, mas eu queria saber se você já recebeu algum pedido de desculpas que te surpreendeu bastante, ou alguns pedidos de desculpa que tenham te surpreendido bastante. Alguém já pegou a mão no telefone, ou te mandou uma mensagem, ou te fez uma ligação mesmo? 'Me desculpa por aquilo que eu falei de você, ou o que eu fiz com você um dia'.
Vários. Nesses meus 50 anos de carreira, eu não posso ter queixas. O principal deles gravou um vídeo na praia da Barra da Tijuca, que chegou até mim, que foi uma surpresa. Aquele lutador de boxe que brigou ao vivo comigo na banca, lembra?
NaTelinha - Sim, sim, sim. O Marinho.
Que queria me dar um soco na cara, e no intervalo ele me deu um soco, e só o soco não foi alcançado no meu rosto, porque o Silvio Luiz e o o zagueiro do Palmeiras, o Leonardo, seguraram no braço dele. Porque aquele soco dele se pegasse no meu rosto seria como um telefonema. Eu ficaria desligado dois anos dando sinal de ocupado. Imagina um soco do Marinho na época.
E ele gravou um vídeo dizendo que não tinha nada contra mim, que gostava de mim, que estava me elogiando pelas críticas que eu fazia ao ministro Gilmar Mendes do STF. As críticas que eu fazia na política e tal, que ele gostava de mim e que aquilo já tinha acabado, que era uma bobagem o que aconteceu conosco. Foi uma coisa legal por parte dele, me surpreendeu, porque, para mim, aquele ódio dele ia ficar para sempre. Onde eu o encontrasse, iria ter briga, evidentemente, e eu iria apanhar, naturalmente. E outros também que fizeram críticas em colunas, em artigos, em redes sociais. E, da mesma forma, eu pedi desculpa para vários. Eu pedi desculpas para a Luciana Gimenez, porque realmente eu exagerei com ela, eu mereci a condenação dela, porque ela foi até legal comigo, que pediu para pagar cestas, para dar dinheiro para instituições, dividiu o valor de 30 mil reais nas parcelas do jeito que eu queria, porque eu errei com ela, eu perdi totalmente a noção.
Passei da segunda página. Eu pedi desculpas para o Boris Casoy, quem mais? Eu pedi desculpas para o Milton Neves. Voltamos a ter amizade, falamos por telefone constantemente. E ele foi num programa da TV Esporte Interativo, a TNT Esportes, encheu a minha bola, falou que eu sou o maior comunicador do Brasil, que eu sou o único que empato com ele.
NaTelinha - Ele já me falou isso mesmo, viu? O Milton Neves já me falou isso.
Então, falou para você e falou para o André Henning na TNT Esportes. Então, da mesma forma, eu pedi desculpa para muita gente. Só teve um pedido de desculpas que eu me arrependo, porque o sujeito não cumpriu a palavra comigo. Foi o Marconi Perillo, o ex-governador de Goiás. Esse eu nunca mais quero vê-lo na minha vida.
NaTelinha - Você quer falar o que ele não cumpriu?
Ele não cumpriu porque ele combinou comigo o seguinte: 'Vamos parar com essa briga boba nossa?'. 'Vamos'. O advogado dele, o doutor Tibúrcio, mandava as mensagens para mim. Aí eu recebia lá. E eu as tenho até hoje, não sou bobo. Eu tenho que ter isso como prova. Aí ele falava: Kajuru, o Marconi então vai retirar os processos contra você, você também retira os seus contra ele, e vamos acabar com essa briga?'. Falei: 'Vamos'. Uma briga que já passou da hora, até porque na época eu defendi. Eu briguei com ele para defender uma mulher que nem está mais comigo e que nunca mais telefonou nem para saber da minha saúde. E olha que eu tive várias vezes com a saúde e com todos os riscos.
Tive AVC no plenário do Senado Federal. Então eu falei, por que eu vou ficar brigado com esse cara para defender uma pessoa que nem telefonar para mim, nunca mais telefonou, ao contrário de todas as outras minhas ex-mulheres. De 12. Essa é a única que nunca mais falou comigo. As outras 11 são minhas amigas pessoais e os maridos delas também são. Então eu falei, 'vamos parar com essa briga'. Só que ele não cumpriu a parte dele, não retirou o processo nenhum e continuou descontando do meu salário até o meu último dia de mandato, pasme, R$ 10.931. Todo mês eu tenho um bloqueio no meu salário de R$ 10.931 por causa desse sujeito. Então você acha que eu vou? Você acha que eu vou falar bem dele?
NaTelinha - Kajuru, para fechar, você falou da sua saúde, que era o que eu queria falar realmente. Como é que o Jorge Kajuru está de saúde? Você está se sentindo bem? Que tipo de problema você tem? Você está fazendo visitas periódicas a médicos? Como é que está a sua saúde? O check-up do Jorge Kajuru, como está?
Bom. É difícil, Thiago. Eu tenho que me segurar, porque eu tenho chorado todo dia. Não está fácil, porque eu fui avisado de forma clara e definitiva, depois de dois anos sendo cuidado pelos melhores médicos oftalmos do Brasil, um deles está entre os melhores do mundo, eu vou perder a visão. Eu estou com glaucoma, na fase aguda, eu tenho apenas 3% de visão nesse olho aqui, e esse aqui é prótese.
Esse, por causa do diabetes, eu tive o descolamento de retina, 100%. Perdi a visão, tive que usar uma prótese alemã muito boa. Tanto que muita gente acha que o meu olho verdadeiro é esse aqui. Não, esse aqui, se você fechar, ele parece que é um olho verdadeiro.
NaTelinha - Parece mesmo.
É uma prótese alemã barata, custa 900 reais. Tem gente que acha que custa uma fortuna. Isso só tem em São Paulo, na Avenida Rio Branco. Aí é uma informação boa. Ela vem da Alemanha, na Avenida Rio Branco. Quem quiser, liga para mim que eu dou o endereço com o maior prazer. E aqui foi só piorando, piorando. No Senado Federal, na tribuna, onde eu uso todo dia o microfone para falar, eu hoje tenho que ler tamanho 52, 54, tamanho da letra.
Então, um discurso de 10 minutos, eu preciso de ter 100 folhas, porque o tamanho da letra, 52, 54, marca texto amarelo, caixa alto negrito. Quem trabalha comigo é o Roberto Gonçalves, que trabalhou na Folha, inclusive, jornalista.
NaTelinha - E me ajudou com essa entrevista com você, inclusive. Um abraço para ele.
Você sabe quem é. Trabalhou no SBT, na Band, enfim. Um craque, que é meu assessor de comunicação. E ele fica preocupado, porque ele foi vendo a piora em dois anos. Então, em dois anos, eu passei de letra 18, Para 52, 54. Então, nesse momento aqui que você quer fechar a entrevista, eu vou seguir o conselho do Silvio Santos. O Silvio falava: 'Kajuru, nunca chore no ar. Não exponha o seu sentimento no ar. Não chore no ar. E nunca fale para ninguém que você está mal. Fala que você está bem. Fala que você está feliz'. Mas essa questão da visão, eu não consigo esconder a minha tristeza, porque eu amo a literatura, eu li mais do que eu vivi. Você sabe, já te contei uma vez, fora do ar, que com oito anos de idade, a minha mãe me leu Trótski para ler. Com 9, Dostoyevsky. Com 10, eu li em uma semana O Capital. Tem condição? Li Marx, li tudo. Li Engels, li Homero, li Neruda, li Fernando Pessoa. Li Osho, Li Machado de Assis, Guimarães Rosa, Clarice Lispector, que eu amava, principalmente por causa de uma frase dela, que ela diz o seguinte: 'Eu sei exatamente o meu tamanho, nem para menos, nem para mais. Exatamente o meu tamanho'. Isso é lindo.
NaTelinha - Ô, Kajuru, desculpa a minha ignorância do que eu vou te perguntar, mas não há nenhuma tecnologia disponível no mundo capaz de reverter esse processo?
Infelizmente, Thiago, a sua pergunta não é ignorante, pelo contrário. Não tivemos nos Estados Unidos ainda, Estados Unidos! Ainda... O tal chip que faria com que eu voltasse a ter 25% do olho que perdi por descolamento de retina. Isso já seria um milagre de Santa Luzia, de Deus. Mas tentaram esse chip, não obtiveram êxito. Portanto, até agora, nem Alemanha, nem Estados Unidos, nenhum lugar do mundo conseguiu recuperar a sua visão quando você a perde pelo descolamento da retina.
NaTelinha - Ah, entendi. Então, esse é o motivo técnico. Quando a pessoa perde por descolamento, não é possível restaurá-la. É isso.
É porque não existe. Entendi. Perfeito. Da retina, não. Teve o descolamento, um abraço. E aqui foi um tratamento de retina, que foi feito por dois anos, repito, com craques, que tentaram de tudo manter a minha visão nos 25% de dois anos atrás. E ela foi caindo assustadoramente. E agora eu recebi o aviso. Foi recente. É a primeira vez que falo isso publicamente. E a informação dolorosa é essa. 'Kajuru não tem jeito. Vá para a psicanálise. Eu sei o tanto que você está sofrendo, mas você vai ter que conviver com isso'. E graças a Deus, eu sou tão forte que eu vou te falar em primeira mão aqui o que anteontem à noite eu comecei a fazer antes do aniversário do NaTelinha.
Anteontem à noite, eu voltei a ler o argentino Jorge Luis Borges. Aquele escritor fantástico que enfrentava os peronistas e, quando o viam nas ruas de Buenos Aires, gritavam: 'Morra Borges, morra Borges, morra Borges'. Ele respondia: 'Calma, gente, eu sou imortal'. Então, ele era bem-humorado, além de um escritor extraordinário que me ensinou talvez a melhor frase de todas. E a melhor definição de todas para o mundo de hoje que vivemos, que diz o seguinte: 'O contrário do amor não é o ódio, é a indiferença, é o desprezo, e o esquecimento é a única vingança e o único perdão'. Isso está no livro Elogios da Sombra, do Borges. E ele escreveu esse livro, Thiago, na altura da cegueira dele, aos 60 e poucos anos de idade, assim como eu. Ele ficou cego, perdeu a visão. E foi o momento que ele mais foi criativo e mais escreveu livros.
Então, de repente, é isso que vai acontecer comigo. Eu já escrevi quatro livros. Vou agora para o quinto, o Perfume de Homem. Dores e Amores, vai ser o título. Já tenho as duas companheiras que vão escrever comigo, um livro de poesias, poemas, feitos por mim e pelos meus ídolos. E as mulheres vão escrever a parte de Dores e Amores, o sofrimento das mulheres. A violência e os amores que elas viveram. Vai ser um livro legal, tenho certeza disso. Os outros meus, eu tive um livro com 1,216 milhão de exemplares vendidos em todo o país, que foi o Condenado a Falar.
NaTelinha - Eu tenho esse livro.
Foi até a matéria da Folha de São Paulo. Você tem o livro, o Condenado a Falar. Então, graças a Deus, eu posso escrever num livro não tendo visão, tendo uma pessoa de minha confiança comigo, tipo um Roberto Gonçalves, por exemplo, em que eu vou falando e ele vai escrevendo. Dois, três meses, a gente conclui o livro. Então, eu comecei a ficar mais feliz nessas últimas 48 horas. Mas se essa entrevista fosse uma semana atrás, eu estaria derrubadíssimo.
NaTelinha - Kajuru, quero te agradecer demais pela entrevista concedida, pelo seu tempo disposto, dessa mais de uma hora e meia, porque o que a gente tem de mais precioso é o tempo também. Então, agradeço demais por você ter colaborado aqui com o NaTelinha nesses nossos 20 anos e te desejar felicidades, te desejar, acima de tudo, muita saúde para que você continue cumprindo o seu mandato e também produzindo o seu programa semanalmente de entrevistas. Precisamos do Kajuru inteiro no ar, vivo, sobreutudo vivo pra fazer o que sempre faz.
Bom, Thiago, primeiro, pode ter certeza absoluta de que o Kajuru, para falar uma hora e meia com alguém na imprensa brasileira, esse alguém não pode ser alguém. Ele tem que ser fenomenal, tem que ser acima da média, e eu preciso ter confiança nele. Ele não vai editar minha entrevista, não vai me fazer sacanagem. Então, é um privilégio para qualquer homem público, seja na política, seja na televisão, no rádio, dar entrevista para o Thiago do NaTelinha, dar entrevista, ser notícia NaTelinha, porque é diferente de tudo que a gente tem visto ultimamente na imprensa brasileira, e principalmente, mais do que na imprensa, nas redes sociais, com pessoas que são mortas, com vídeos editados, com velório, todo dia tem um morto na rede social, todo dia tem uma maldade, uma notícia mentirosa, uma honra totalmente desqualificada por um jornalista. Aí o jornalista esquece que, se você for sacana com uma pessoa, você está provocando nela uma morte social, porque ela tem pai, tem mãe, tem esposa ou tem esposo, tem filho, tem filha. Então, não faça isso com uma pessoa.
NaTelinha - Sim, sem dúvida. Tem que ser responsável.
Denuncie com provas irrefutáveis, cabais, porque aí não tem jeito, aí é batom na cueca. Agora, você inventar algo com uma pessoa, com uma pessoa pública, é profundamente lamentável. E eu tenho 50 anos de carreira e, graças a Deus, eu nunca fiz isso, tanto que de todos os quase 200 processos que eu recebi, o único que eu fui condenado foi esse da Luciana Gimenez, em que eu realmente errei, já pedi desculpas a ela, e em nenhum outro eu fui condenado. E no caso dela, não porque eu a desonrei, eu não fiz uma denúncia inventada contra ela, eu usei um adjetivo, desagradável e profundamente errado com ela. Portanto, eu não fui maldoso, eu não inventei nada dela, correto? Então, é isso que me causa orgulho. Muito obrigado mesmo, de coração, e desejo a toda a família, NaTelinha, Deus e saúde, e especialmente a vocês que nos acompanharam até agora, que são as minhas únicas vossas excelências e meus únicos patrões.
Essa entrevista é para você guardar para o resto da sua vida e eu vou viver muito tempo ainda. Aqueles que ainda desejam a minha morte, tomem cuidado, porque Deus é tão apaixonado por mim que se você deseja a minha morte, eu vou te enterrar primeiro, canalha.