Entrevista exclusiva

Fora da TV, Boris Casoy rejeita aposentadoria: "Para mim, significa desistir de viver"

Jornalista de 82 anos, que diz ter "muita lenha pra queimar", comenta onda de demissões de veteranos e acusação de etarismo


Boris Casoy
"Jornalismo é jornalismo em qualquer plataforma", diz Boris Casoy, que não teve dificuldade em migrar para a web - Foto: Izabelle Andrade/Divulgação
Por Walter Felix

Publicado em 07/06/2023 às 04:15,
atualizado em 07/06/2023 às 09:30

Aos 82 anos de idade e mais de 60 de jornalismo, Boris Casoy não quer saber de se aposentar. Fora do ar desde o ano passado, ele pertence a um grupo de veteranos que, mesmo com décadas de carreira, rejeitam a ideia de parar de trabalhar. Praticamente todas as vítimas da onda de demissões que tomou a TV nos últimos anos têm buscado se reinventar, em novas empresas ou com um trabalho autônomo na web.

“Olho para o meu próprio caso. Aos 82 anos, ainda tenho muita lenha pra queimar. Além do fator financeiro, aposentar-se tem para mim o significado de desistir de viver”, reflete Boris Casoy, em entrevista exclusiva ao NaTelinha.

Fora da TV desde o ano passado, quando saiu da CNN Brasil, ele se dedica ao trabalho nas redes sociais. “Atualmente só faço o Jornal do Boris, mas não afasto outros projetos jornalísticos que possam aparecer. Tenho condições físicas e mentais e gosto muito da minha profissão.”

Depois de uma carreira dedicada a veículos tradicionais na televisão e na mídia impressa, o veterano migrou sem percalços para a internet. “Não vejo grandes dificuldades. Jornalismo é jornalismo em qualquer plataforma. As técnicas a gente adquire. Sempre consegui me adaptar. Fiz rádio, assessoria de imprensa, jornalismo impresso, TV, e agora navego no digital.”

“As TVs não se preocupam com a idade de seus jornalistas”

Uma nova onda de demissões na Globo, nos últimos meses, atingiu veteranos como Cléber Machado, Giuliana Morrone e Fábio Turci. Em abril, a Federação Nacional de Jornalistas (FENAJ) condenou as demissões e apontou etarismo, ou seja, preconceito de idade.

Casoy discorda: “Acho que essas demissões estão ligadas à crise econômica e não ao etarismo. As TVs brasileiras não se preocupam com a idade de seus atores, jornalistas etc. O que interessa é o faturamento, audiência e prestígio que eles possam trazer”.

“No caso do jornalismo, penso que essas demissões são danosas para a qualidade da informação e rompem um fator importante nas redações que são as correias de transmissão. A convivência na redação, a troca de ideias e experiência entre mais velhos e jovens são propulsoras da qualidade.”

Boris Casoy

“Não há esforços no meio político para reduzir a polarização no Brasil”

Boris Casoy
O Jornal do Boris vai ao ar de segunda a sexta-feira, às 8h, no YouTube e em outras plataformas digitais - Foto: Reprodução

O mercado tem sido tensionado com a polarização política e com a proliferação de notícias falsas. “A meu ver, a grande imprensa brasileira procura enfrentar o problema com todas as armas. Trata-se de um fenômeno mundial, muito agudizado pelo mau uso das redes sociais.”

“Não vejo solução próxima. Não há esforços significativos no meio político para reduzir essa polarização no Brasil. Pelo contrário, noto uma exacerbação cada vez maior, com atitudes que revelam a pequenez política de que o Brasil é vítima.”

Boris Casoy

Ele pontua: “Tendo a acreditar que esse é um fenômeno mundial, basicamente produto das transformações que estamos assistindo. No meio do furacão fica difícil diagnosticar e combater a polarização com eficiência”.

“A internet ainda não atinge grande parte da população”

Depois de passar pelos principais canais de TV no Brasil, ele avalia a importância do veículo nos hábitos do brasileiro em 2023. “A televisão vive uma enorme transformação no Brasil. É uma das vítimas da situação econômica do país e da concorrência da internet.”

“Mesmo assim, ainda é um veículo importantíssimo em termos de informação e lazer, O governo, com suas gigantescas verbas, se esmera em tentar controlar as redes de TV, porque sabe que a internet ainda não atinge grande parte da população”, destaca o veterano.

O destino dessa competição é imprevisível, segundo Casoy. “Com o advento da inteligência artificial, surge mais um fator a favor da internet. Neste momento, fica difícil fazer qualquer previsão sobre os destinos da TV brasileira”, conclui o jornalista.

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