Partidos estão de olho em Datena e não descartam tirá-lo do ar na Band
Apresentador garantiu que será candidato a presidente
Publicado em 05/08/2021 às 04:30,
atualizado em 05/08/2021 às 18:05
Datena confirmou no Brasil Urgente da última terça-feira (03), na Band, que será candidato a presidente da República nas eleições 2022 e o anúncio provocou um efeito cascata. Internamente, muitos partidos enxergaram a afirmação do jornalista como um recado e, por isso, passaram a observar o comportamento dele como o fazem com outros políticos, não descartando irem à Justiça para tirá-lo do ar.
Segundo apurou o NaTelinha, quando Datena disse categoricamente que será candidato e descartou ser vice de Ciro Gomes ou mesmo do próprio Jair Bolsonaro, ele teria dado um aviso para siglas partidárias pararem de cavar lugares e usarem o nome dele. Mas isso provocou um efeito reverso que pode virar um tiro no pé, já que agora há uma espécie de lupa diante do Brasil Urgente e cada comentário do apresentador será analisado por diversos partidos.
A intenção, segundo duas siglas consultados pela reportagem, é avaliar se o jornalista não estaria usando o fato de ter um programa diário na TV para realizar propaganda antecipada, o que é vetado pela lei eleitoral. A partir de agora, Datena terá que lidar todos os dias com partidários, militantes e advogados observando cada comentário para verificar se há algum tipo de deslize a fim de levá-lo aos tribunais.
Na versão dessas siglas políticas, enquanto ele era um nome aventado, todos os partidos queriam namorar o titular do Brasil Urgente por seu carisma com o público e com bom acesso entre políticos de esquerda e de direita. Mas como ele se posicionou como um adversário nas eleições 2022, os líderes desses grupos entenderem que é hora de tratá-lo como se trata qualquer outro candidato no meio da guerra que é a política. Ele se filiou ao PSL, partido que elegeu Jair Bolsonaro em 2018, e o nome dele é aventado para presidente, governador de SP e também ao Senado.
Vira e mexe Datena faz comentário em tom jocoso sobre nomes da política brasileira, seja com Bolsonaro, com quem ele vive entre tapas e beijos ou mesmo com o governador João Dória, tendo tido problemas de todos os tipos com o apresentador da Band. O problema é que, até então, ele era visto como um jornalista questionando políticos, agora, é um concorrente usando uma concessão pública para detonar rivais, o que não é permitido.
O NaTelinha apurou que Datena teve acesso à informação de uma pesquisa interna de um partido, que não foi realizada para divulgação, onde ele aparece em terceiro lugar. O resultado colaborou na sua decisão de anunciar o próprio nome como candidato.
Datena pode ser afastado
Duas fontes ligadas a partidos diferentes explicaram ao NaTelinha que, num cenário menos provável, o apresentador pode até ser afastado, caso fique configurado que ele esteja usando a concessão pública para fazer campanha antecipada. A campanha não é necessariamente pedir votos, mas politizar o ambiente eleitoral antes da hora, como no exemplo dado anteriormente ou mesmo ficar repetindo que será candidato.
Segundo o advogado Carlos Augusto da Silva, no entanto, o cenário mais provável é que, tanto a Band quanto Datena sejam obrigados a pagar multa, se a propaganda antecipada for caracterizada. "Até o momento não houve propaganda porque anunciar que vai ser candidato não pode ser visto assim", explica ele. "Se ele falar mal de um adversário, no papel de jornalista, também dificilmente se configuraria crime, a menos que seja apontado isso como um recurso repetido várias vezes porque aí seria uma estratégia".
Datena e a lei eleitoral
Segundo a lei eleitoral, Datena não precisa ser afastado do Brasil Urgente. O titular do jornalístico da Band tem um longo prazo pela frente até decidir-se pelo afastamento, já que a legislação brasileira é muito clara em relação ao tema.
O prazo para o afastamento de um profissional de TV e rádio de seu programa para se lançar candidato é de 90 dias. Em 2020, por exemplo, como as eleições foram apenas em 15 de novembro, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) definiu o dia 11 de agosto como limite para o afastamento. Para o ano que vem, a votação deverá voltar para o dia 02 de outubro, o que significa um afastamento aproximadamente em 30 de junho. Até lá, Datena terá de decidir se é ou não candidato a presidente e, se for, o Brasil Urgente sequer poderá citar o nome dele no período eleitoral.