Autor de Amor Perfeito, Júlio Fischer fala do sucesso da novela das seis
Amor Perfeito terá seu último capítulo exibido na sexta-feira (22)
Publicado em 20/09/2023 às 04:45,
atualizado em 20/09/2023 às 10:17
Infelizmente, chegará ao fim nesta sexta-feira (22) uma das melhores novelas das seis dos últimos anos: Amor Perfeito. Desde que o folhetim foi anunciado, eu já previa que seria um sucesso, tendo em vista os elementos principais da trama que sempre funcionam e ganham o público. Texto impecável, direção bem pensada, trilha sonora bem escolhida e elenco afiado. Não tinha como dar errado. Até o sotaque estava no ponto certo, sou mineiro e garanto que estava como é falado nas cidades do interior de Minas Gerais.
A trama central, baseada livremente na história de Marcelino Pão e Vinho, encantou e emocionou o público. Conheço pessoas que há anos não assistiam a uma novela das seis, porém voltaram ao hábito ao se encantar pela história de sofrimento de Marê, afinal, perfeita interpretação de Camila Queiroz, que entregou tudo e se doou de corpo e alma à personagem, vítima da implacável vilã Gilda, na pele da maravilhosa Mariana Ximenes, que fez, como eu havia dito na estreia, a personagem entrar para o hall das grandes vilãs.
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O elenco brilhou na Globo. Seria até injusto citar apenas alguns nomes. Todos foram demais. Duca Rachid, Júlio Fischer e Elísio Lopes Jr. tiveram uma sintonia admirável. Os autores cumpriram bem a missão de contar uma bela história e agora, faltando apenas três capítulos para o fim, quase toda a trama já está finalizada.
Destaco que todos os núcleos e personagens foram bem aproveitados. Histórias com começo, meio e fim. Isso é muito importante dentro de uma novela que muitas vezes alguns personagens ficam esquecidos, mas em Amor Perfeito tudo se resolveu.
Dois momentos importantes: o acerto de contas de Orlando e Leonel, onde o pai de Marê reconhece seu erro e pede perdão. E o auge da trama, o mais esperado na minha opinião, certamente emocionou a todos, a descoberta de Marê de que Marcelino é o seu filho, quanta sensibilidade naquele abraço que esperamos durante toda a novela. Pena que ficou muito para o final.
Silvio Cerceau
Eu conversei com o coautor da obra, Júlio Fischer, que falou sobre a parceria com Duca e Elísio, sobre sua carreira e, claro, sobre o final da novela. Assim como eu, ele garante que Amor Perfeito vai deixar saudades. Confira abaixo:
Entrevista exclusiva com Júlio Fischer, autor de Amor Perfeito
Júlio, como surgiu essa parceria com Duca Rachid?
Júlio Fischer - Duca e eu nos conhecemos em 2003quando ambos fizemos parte da equipe de roteiristas do “Sítio do Picapau Amarelo”. Na sequência, assumimos a autoria do programa, juntamente com o Alessandro Marson, e seguimos trabalhando juntos a longo dos anos. Posteriormente, fui colaborador dela e da Thelma Guedes em várias novelas e juntos, Duca e eu, escrevemos uma peça de teatro, “As Brasas”, uma adaptação do romance homônimo de Sándor Márai.
Como você vê, é uma parceria longa, sedimentada por uma amizade e um afeto profundos, que só vêm se consolidando ao longo dos anos. Duca, para mim, é daqueles encontros definitivos da vida. O mesmo acontece agora com o Elísio, trazido pela Duca para o nosso time, e que já se tornou alguém imprescindível. Esse, aliás, é um dos traços que admiro demais na Duca, esse espírito gregário, de promover encontros, buscar se cercar de pessoas que, no entendimento dela, podem contribuir, com seus pontos de vista diferentes (e até mesmo conflitantes), para que o resultado de um projeto seja o melhor possível. É essa busca pela excelência, e não de algum possível brilho individual, que faz dela uma autora tão bem-sucedida e um ser humano único.
Júlio Fischer
Como foi a rotina da criação dessa bela história?
Júlio Fischer - Na etapa da sinopse, Duca e eu nos reuníamos diariamente, debatíamos o enredo ponto por ponto até constatarmos que já tínhamos uma história sólida e com fôlego potencial para 161 capítulos. Posteriormente, já com a (imprescindível) presença do Elísio, também nos reuníamos diariamente, desde a manhã até o final da tarde, para elaborarmos as escaletas de cada capítulo.
O ritmo de produção era de uma escaleta por dia. Uma vez concluídas as escaletas, elas eram enviadas para a nossa equipe de roteiristas – Dora Castellar, Duba Elia e Mariani Ferreira – e nosso pesquisador, Leandro Esteves, que imediatamente municiava as roteiristas das informações necessárias para a escrita da cena (por exemplo, termos jurídicos, procedimentos médicos, etc.).
Na sequência, as colaboradoras nos enviavam as cenas para que nós fizéssemos a redação final e, uma vez fechado o capítulo, o mesmo voltava para a equipe para que cada um apontasse algum erro ou inconsistência, para que nós os corrigíssemos para, só então, enviar para a produção.
Amor Perfeito entra nos últimos capítulos cumprindo o papel de ser uma boa novela. Qual o balanço que você faz?
Júlio Fischer - O fato de cumprirmos o objetivo primeiro de qualquer telenovela, que é entreter o espectador, obviamente é muito gratificante. Mas, no caso de “Amor Perfeito”, foi de extrema importância para todos os envolvidos na realização da novela, a repercussão de diversos temas abordados na trama como, por exemplo, bissexualidade e gravidez psicológica e, de maneira mais ampla, a questão da representatividade no audiovisual.
Nesse aspecto, o da representatividade, uma grata surpresa foi constatar o quanto ela foi bem recebida por absolutamente todas as camadas de público, independente de cor, gênero ou classe social. Uma resposta que não deixa de ser esperançosa no sentido de indicar um potencial de nós, brasileiros, construirmos uma sociedade mais igualitária.
A novela abordou de maneira tão sutil, mas muito clara a questão da homofobia, violência doméstica, machismo e do racismo. Qual a importância dessas abordagens em uma novela?
Júlio Fischer - Silvio, acredito que o entretenimento proporcionado por uma telenovela é também uma oportunidade para abordar temas importantes, como esses que você mencionou, e provocar algum questionamento ou reflexão no espectador. Mas o que engaja o espectador a refletir ou questionar sobre qualquer tema é, antes de mais nada, o vínculo emocional que ele estabelece com a novela ou com aquele personagem específico que está enfrentando esta ou aquela questão.
Daí a importância, antes de mais nada, de contarmos uma boa história que desperte o interesse do espectador na vida daqueles personagens. Isso posto, a novela tem essa grande oportunidade de enriquecer a narrativa convidando o espectador a refletir sobre questões que fazem parte do seu próprio dia a dia e do mundo que o rodeia.
Fale um pouco de você, dos seus trabalhos, da sua carreira, de como surgiu esse dom para contar histórias.
Júlio Fischer - Eu venho do teatro. Comecei escrevendo textos infantis (um deles “A Canção de Assis” foi ultrapremiado e depois publicado em livro), fui assistente de Bibi Ferreira numa montagem de “Brasileiro Profissão Esperança” estrelada por ela própria e segui no teatro escrevendo musicais como “Personalíssima” (sobre Isaurinha Garcia, estrelada por Rosamaria Murtinho) e “Emilinha e Marlene, as Rainhas do Rádio” (em parceria com Thereza Falcão.
No meio disso, entrei para a Globo, onde fui colaborador do Walther Negrão (meu mestre e pessoa deliciosa) em várias novelas e depois coautor, junto com Suzana Pires, de “Sol Nascente”. Foram muitos trabalhos nesses meus mais de vinte anos de Globo, e muitos encontros com parceiros incríveis.
Júlio Fischer
O que podemos esperar do último capítulo? Dê-nos um spoiler.
Júlio Fischer - Só o que posso adiantar, Sílvio, é que vai ser um final muito bonito e acredito (espero!) que “Amor Perfeito” vá deixar saudades.
Deixe uma mensagem para nossos leitores.
Júlio Fischer - Se o leitor está nessa página e chegou até o fim dessa entrevista, só posso agradecer o seu interesse pelo nosso trabalho e pelo gênero telenovela de maneira geral. É esse interesse, tanto do público como da imprensa, que alimenta e mantém vivo esse gênero, que é o maior produto cultural do País. Obrigado!