Rainer Cadete celebra triângulo amoroso em Verdades Secretas 2: "É sobre fluidez"
O ator voltou a interpretar o Visky seis anos após a primeira temporada
Publicado em 30/10/2022 às 11:00
Na primeira temporada de Verdades Secretas, Visky (Rainer Cadete) vivia uma relação de tapas e beijos com Lourdeca (Dida Camero). Na segunda leva de episódios da trama, que está sendo exibida pela Globo desde o último dia 4, os dois seguem às turras, mas a vida sentimental do booker ganha um novo integrante: Joseph (Ícaro Silva). Em entrevista ao NaTelinha, o ator celebra o triângulo amoroso. "É sobre fluidez", destaca ele.
"O triângulo amoroso com o Joseph é uma nova história, um novo amor para o Visky. Vamos ver como eles vão lidar com isso. Uma das coisas mais legais é que eu amo e admiro profundamente a Dida Camero e o Ícaro Silva, então estar com eles em cena é uma grande oportunidade de brindar uma amizade de anos e um querer mútuo. Tenho me divertido muito nas cenas desse triângulo e espero que o público também se divirta", completa ele.
O artista ainda diz que Visky e Lourdeca são como uma família, citando uma frase do poeta alemão Rainer Maria Rilke (1875-1926): "Amor são duas solidões protegendo-se uma à outra". "Eu acho que o Visky e a Lourdeca são um pouco isso: duas solidões que se encontravam ali, bebiam uma vodka e acabavam se amando. E depois acordavam confusos porque o Visky se dizia um gay convicto. Só que ele passou a primeira temporada inteira transando com uma mulher. Então, a Lourdeca também traz para o Visky essa consciência de que a sexualidade não é tão quadrada quanto ele imagina, não está tão dentro daquela caixinha do universo gay que ele pensa", avalia.
Cadete pontua que, em Verdades Secretas 2, seu personagem está muito mais consciente de que ele é fluido e que tem uma sexualidade que flui com homens e com mulheres, com a pessoa que ele achar que tem que ser e com quem tiver vontade. Na vida real, o intérprete também se definiu "fora da caixinha" e se declarou como pansexual, salientando que o amor é livre.
O brasiliense, de 35 anos, admite que sua vida mudou radicalmente desde que passou a integrar o elenco da trama de Walcyr Carrasco. "O Visky me atentou a olhar para além desse patriarcado e isso foi muito determinante para mim. Pensar a masculinidade como uma performance mesmo. Há muitas atitudes na sociedade que transformam a pessoa num homem ou numa mulher dentro do conceito patriarcal. Como se, por exemplo, as mulheres fossem mais sensíveis e os homens, menos. E o Visky me ensinou a pensar dessa maneira não-binária, a fazer as pazes com o meu lado feminino, a aprender a andar de salto alto".
"Eu senti que colocaram uma lupa de aumento no meu trabalho e puderam observar o ator que eu sou: um ator que começou no teatro. Eu adoro teatro, me considero um ator de teatro, porque lá a gente pode fazer qualquer personagem. A gente pode construir qualquer personagem e isso foi o que me encantou quando eu fiz o meu primeiro papel. Desde então, nunca mais quis parar de estar envolvido com as artes cênicas. Então, colocaram uma lupa de aumento nesse meu trabalho, que pensa em personagens sempre muito diferentes de mim e um do outro."
Verdades Secretas 2: Rainer Cadete defende Visky: "Ele é um sobrevivente"
Perguntado sobre como analisa a personalidade de Visky, que é uma boa pessoa, mas acaba apoiando negócios ilícitos para faturar, Rainer Cadete defende o personagem e diz que o booker é livre de conceitos e preconceitos. "Ele é um sobrevivente, uma pessoa que lutou muito para ser aceito, que com certeza foi expulso de casa pelo fato de os pais não aceitarem o jeito de ser dele, que teve que cortar um dobrado para se manter. É um excelente profissional dentro do que se propõe a fazer. E tem uma dualidade sim, como todos nós".
"Todos nós somos muito além dessa questão maniqueísta que a dramaturgia geralmente coloca. Somos seres muito mais complexos. A gente é capaz de ter atitudes boas e não tão boas assim, no mesmo dia, no mesmo momento. Eu acho interessante fazer um personagem que revela a vida como ela é. Ao mesmo tempo em que ele é uma pessoa boa, ele apoia negócios ilícitos. Ele apoia mesmo e acredita que está ajudando as pessoas que precisam – que não tem o que comer, como pagar o aluguel, como sobreviver. Ele acredita que ajuda essas pessoas fazendo essa ponte entre os clientes e as pessoas que se prostituem dentro das agências, que aceitam fazer sexo em troca de dinheiro", segue.
O ator acredita que tudo isso vai muito além do bem e do mal e entende que pessoas com histórias parecidas com a de Visky têm que aprender a viver e encontrar meios de existir. "Muitas realmente vão para esse meio da prostituição porque não têm lugar no mercado de trabalho ou porque a sociedade não facilita os acessos dessas pessoas. Por isso que eu trouxe a cultura vogue, as balls, esse movimento das casas que começou nos Estados Unidos", explica.
"Eram nesses lugares que existiam pessoas que tinham sido expulsas de suas famílias e não tinham para onde ir. Essas pessoas acabavam se juntando em casas e competiam em modalidades nas baladas (balls). Foi assim também que surgiu o vogue. Dizem também que surgiu dentro dos presídios. Eles recebiam revistas da Vogue e as pessoas, por serem TLGBQIA+, tinham acesso a essas revistas e faziam poses dentro das cadeias. E depois veio essa migração para as baladas, em várias modalidades, desde beleza, estilo e dança de vogue. Esse universo todo é muito além do bem e do mal", conclui ele, que preferiu colocar a letra "T" na frente da sigla porque enxerga que, nesse cenário, as pessoas trans estão mais vulneráveis.