Ativista gorda, atriz de Poliana Moça celebra a chance de inspirar pessoas a serem elas mesmas

Rafaela Ferreira vive Nanci em Poliana Moça, mas seu trabalho vai muito além da novela infantojuvenil do SBT. No Instagram, a atriz se identifica como "ativista gorda" e participa da luta para que pessoas gordas não sejam vistas como doentes, tenham respeito e possam se amar da forma como são. A carioca diz que as mensagens que recebe de seguidoras que se inspiram nela são o combustível para que ela siga em frente. "Poder, de alguma forma, inspirar as pessoas a serem quem elas são me faz muito feliz", comemora, em entrevista ao NaTelinha.

Desde criança Rafaela percebeu que a sociedade via seu corpo de uma forma diferente da que ela se enxergava e tinha dificuldade de acreditar que poderia ser atriz, já que as personagens gordas dos desenhos animados ou filmes infantis eram sempre vilãs ou carregadas de estereótipos. Aos 33 anos, a intérprete busca ser uma referência pra as crianças que acompanham seus trabalhos e diz que sua maior preocupação é fazer com que elas se vejam representadas em todos os lugares para que possam correr atrás dos seus sonhos.

"Esse é o ativismo que eu represento, é isso que eu desejo, que a gente tenha uma sociedade mais igualitária, onde as pessoas gordas não tenham que pensar se elas cabem ou não, se existe roupa pra elas ou não, se o médico vai tratar elas bem ou não. Foi algo muito natural e que foi se fortalecendo com os anos e com uma oferta de estudos. Hoje nós temos muitas cientistas fazendo trabalhos e pesquisas em relação ao corpo gordo, temos iniciativas como Saúde Sem Gordofobia e muitas outras coisas que nos levam pra frente. É um caminho sem volta", destaca.

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A atriz, que começou a fazer teatro ainda na infância, já enxerga uma evolução com o passar dos anos, mas ainda sonha com o dia em que o corpo não seja a parte central da personagem de uma intérprete gorda e lamenta um fato muito corriqueiro nos bastidores da TV e do cinema.

"O que acontece na nossa profissão é que nós somos convidadas pra fazer teste quando vem descrita a característica física "gorda" na personagem. Caso isso não aconteça, a gente não é nem chamada pra fazer o teste. A gordofobia está num lugar mais estrutural. É difícil eu receber um teste que não venha descrito que era uma personagem gorda".

Rafael Ferreira

"Tem que estar dizendo que eles escolheram uma pessoa gorda. Porque senão, se tiver lá só 'advogada, 25 anos', provavelmente vão ser selecionadas pessoas padrão. Qualquer pessoa que não esteja dentro desse padrão midiático que a gente já tá acostumado não vai ser convidada pra fazer o teste. O mesmo acontece com pessoas amarelas, negras, trans... Tem que estar descrito ali ou a gente não é convidada", completa.

Se na dramaturgia Rafaela conseguiu conquistar seu espaço, na publicidade o caminho parece ser mais longo. Com quase dois milhões de seguidores no Instagram, ela percebe que faz muito menos "publis" do que influenciadoras que são consideradas padrão. Apesar de já ter vários merchans e campanhas publicitárias no currículo, a atriz sente que sua relação com esse mercado poderia ser mais intensa.

"Mas eu também sigo muitas influenciadoras gordas e tenho muita alegria em ver que elas têm, cada vez mais, se tornado referência. Sou apaixonada pela Ray Neon e fico muito feliz de ver que ela tem acesso a publicidades diversas. A Luana Carvalho, a Bia Gremion... São referências pra mim de corpos gordos que lidam muito bem com a publicidade. Então eu espero que com o tempo a gente vá ganhando cada vez mais espaço e que daqui a pouco isso não seja mais uma realidade".

Rafael Ferreira

Poliana Moça: Rafaela Ferreira adianta que virão muitas confusões na vida de Nanci

Reprodução/Instagram

Rafaela Ferreira se derrete quando fala de Nanci e diz que o papel em Poliana Moça foi um verdadeiro presente. A personagem, que era babá de Poliana (Sophia Valverde), descobriu seu dom para a confeitaria, venceu um programa de competição e nunca desistiu dos próprios sonhos, o que, do ponto de vista da atriz, é algo que elas têm em comum. "Além do alto astral, dessa lente otimista pra ver a vida, que eu me reconheço muito na Nanci, ela é uma profissional extremamente determinada, que só foi evoluindo, e se especializando, desenvolvendo seus talentos pra chegar onde ela queria", elogia.

"Como atriz, sempre tive que lutar muito pelos meus sonhos, nunca parar de estudar, estar sempre pesquisando, me inteirando das novidades, conhecendo novas técnicas e me fortalecendo pra ser uma profissional cada vez melhor", lembra, adiantando que Nanci não se verá livre dos tumultos que movimentam sua vida amorosa.

"Ela ainda vai viver muitas desventuras, muitas confusões em relação ao Waldisney. Se preparem porque, como sempre, esse relacionamento abala a relação dela com a Dona Branca, com o André, que é primo dela... Se preparem que ainda vem muita loucura por aí".

Rafael Ferreira

A carioca tem alguns projetos engatilhados para quando a novela do SBT acabar. Um deles é o retorno da peça Sigo de Volta, que debate a relação dos jovens com a tecnologia e o convívio social e na qual ela interpreta a protagonista Úrsula, que pedala pela América do Sul em busca de si mesma. Além do espetáculo, ela está escrevendo um livro e aguardando ansiosamente pelo dia em que receberá uma oportunidade no streaming. "Tô contando os segundos pra viver isso, acho que é um caminho muito importante que se abriu", diz, acrescentando que "seria lindo" emendar Poliana Moça com uma série ou um filme.