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Marcelo Adnet sobre ser xingado por apoiadores de Bolsonaro: "É estar do lado certo"

Humorista completa 40 anos e fala sobre carreira, vida pessoal, projetos e política em entrevista exclusiva


Marcelo Adnet sorrindo
Marcelo Adnet comemora 40 anos neste domingo (5)
Por Ana Cora Lima

Publicado em 05/09/2021 às 08:00,
atualizado em 05/09/2021 às 12:39

Um dos humoristas mais talentosos da nova geração, Marcelo Adnet completa 40 anos neste domingo (5) e em conversa com NaTelinha, ele fala sobre a vida, carreira e se derrete pela filha Alice, de nove meses. De repouso por conta de uma pequena cirurgia após um acidente doméstico, Adnet jura que não é workaholic.

"Eu faço as coisas até onde dá e faço quando eu tenho paixão por ela. No nascimento da Alice, eu estava com Adnet na CPI, estava compondo os sambas, mas tudo de casa e sem colocar o trabalho em primeiro lugar. Eu boto em primeiro lugar a minha família, a minha saúde e a minha felicidade porque colocar a carreira em primeiro lugar e colocar as coisas abaixo dela, eu acho um erro fatal. O trabalho é muito importante, mas não é o mais importante que a gente tem na vida e isso tem que ficar claro", admite.

Ser xingado diariamente por defensores do presidente Jair Bolsonaro não o irrita. Pelo contrário. Para Adnet, é a certeza de que está do lado certo e de que o humor é uma arma poderosíssima contra o preconceito, a opressão e os poderes estabelecidos. Ainda em casa por conta da pandemia, ele conta em primeira mão que acaba de escrever dois projetos para 2022. “Um deles é para qualquer momento. É um projeto desligado de política, de noticiários e de tudo e outro é um projeto para a eleição no ano que vem. Vamos ver se esses projetos vão adiante ou não”, torce Adnet.

Confira a entrevista:

Você está fazendo 40 anos. É bom ou é ruim? Se sente mais seguro em relação a tudo na vida? Ou começou aquela fase de dor aqui, dor ali?

Eu me sinto mais seguro e me sinto feliz. Não me sinto velho ou envelhecido. Sei que tenho mais responsabilidades na vida e essas responsabilidades têm as suas vantagens como é por exemplo a minha filha, Alice. É uma responsabilidade e a maior alegria da minha vida. Outro dia, choveu para caramba e eu escorreguei aqui em casa. Cai de lado e pensei: ‘vai ficar tudo roxo’. Ficou roxo e inchado e com o passar do tempo o roxo saiu , mas continuou inchado e aí eu fui ao médico e ele disse que o sangue tinha ficado represado e eu teria que fazer uma cirurgia. Fiz a pequena cirurgia anteontem e estou deitado vendo televisão com um dreno. Vou passar o dia do meu aniversário com um dreno enfiado na perna. Mas, o fato de estar abraçado com a Alicizinha é uma delícia. Ah... essas coisas fazem parte. A primeira cirurgia que eu faço na vida, perto dos meus 40 anos, mas para não correr o risco de empedrar o sangue.

Marcelo Adnet

Para quem disse que não iria postar uma foto da filha, você queimou a língua bonito. Como é ser pai de uma menina e como é acompanhar a evolução de Alice, que dá para perceber que é uma criança bem-humorada e antenada?

Marcelo Adnet - Ela é muito esperta, muito inteligente. Nessa pandemia, eu pude acompanhar mais de perto porque eu não saio de casa e eu estou sempre com ela. Eu vejo todos os dias e acompanho toda a evolução. Qualquer coisinha que mude, eu estou anotando. Noto tudo, passo a passo, cada avanço e faço isso com o maior orgulho, a maior felicidade. Eu tenho um pouco de receio de ficar postando fotos dela porque é um neném e não tem muita consciência sobre isso, mas rola um baita orgulho e uma baita felicidade de dividir com as pessoas essa beleza.

Marcelo Adnet sobre ser xingado por apoiadores de Bolsonaro: \"É estar do lado certo\"

Estava vendo que você é tetracampeão com sambas enredos no Carnaval de São Paulo e ainda tem a São Clemente no Rio em 2022. Como e quando descobriu essa vocação?

Marcelo Adnet - A gente foi eliminado da São Clemente. Ano passado a gente ganhou. Mas esse ano, eu estou assinando o samba da Acadêmicos do Sossego, no Grupo de Acesso no Rio, e sou carnavalesco da Botafogo Samba Clube junto com Ricardo Hessez em um enredo homenageando João Saldanha, que é um dos grandes ídolos da minha mãe. Foi um cara que eu aprendi a admirar na minha infância, um jornalista maravilhoso. Fora essas dois episódios no Rio, eu venci com as parcerias que eu estava, nós ganhamos quatro sambas: três no Grupo Especial, Gaviões da Fiel, Dragões da Real e Rosas de Ouro, e Leão da Itaquera, no Grupo de Acesso. Eu amo samba e sempre amei. É uma coisa que eu não me vejo mais fora e foi importante ter perdido na São Clemente para lhe dar com a derrota também. Até porque faz muito parte quando entram 15 sambas em uma disputa, 14 vão perder. A probabilidade de perder é grande e você precisa saber lidar numa boa . Vai ser um desfile lindo em homenagem ao Paulo Gustavo e se houver uma segurança sanitária, eu quero muito desfilar mesmo não sendo o meu samba.

Podemos dizer que você é workaholic?

Olha, eu não me acho workaholic. Eu faço as coisas até onde dá e faço quando eu tenho paixão por ela. No nascimento da Alice, eu estava com ‘Adnet na CPI’, estava compondo os sambas, mas tudo de casa e sem colocar o trabalho em primeiro lugar. Eu boto em primeiro lugar a minha família, a minha saúde e a minha felicidade porque colocar a carreira em primeiro lugar e colocar as coisas abaixo dela, eu acho um erro fatal. O trabalho é muito importante, mas não é o mais importante que a gente tem na vida e isso tem que ficar claro.

Você é jornalista formado, mas nunca exerceu a função. Já imaginou você trabalhando na imprensa no atual momento político e setorista em Brasília? Como seria?

Marcelo Adnet - Eu sou jornalista formado e já exerci a função como estagiário. Fui assessor de imprensa e já me imaginei trabalhando no momento atual político do Brasil e acho que eu seria um comentarista, alguém que bota opinião na política. Eu não consigo não botar a minha opinião. Para mim é muito difícil não colocar opiniões que é uma coisa muito cara e deve ser exercida.

Como é ser xingado todos os dias por apoiadores de Bolsonaro?

É estar do lado certo (risos). Desde o início é ter que avisar e alertar que seria um governo péssimo, despreparado e excludente e aí está um governo péssimo, despreparado e excludente e tudo caríssimo no Brasil e o sujeito fala para comprar arma no lugar de feijão. Mas faz parte dessa maré política. Na hora, a esquerda está em cima, outra é a direita e nesse caso a extrema direita porque a direita achou que teria o poder, mas foi a extrema direita que roubou esse lugar. São coisas que fazem partes da balança e do vai e vem da política e da vida. São fases. Mas eu acho que eu não gostaria de abrir mão da minha opinião para não ser xingado. Ser xingado é consequência de ter uma opinião e expressar essa opinião. Acho que essas pessoas que têm influência e que têm seguidores deveriam opinar mais invés de buscar um caminho de não agressão, de não contrariar e a tender por uma certa chapa branca. Mas é importante dizer que as pessoas devem opinar se elas gostam do assunto. Se elas não gostam, elas não são obrigadas a opinar.

Marcelo Adnet

O humor crítico continua sendo uma arma poderosa contra o preconceito, a opressão?

Marcelo Adnet - Sim. O humor continua sendo uma arma contra o preconceito, a opressão e aos poderes estabelecidos porque ele é uma crítica que é feita por outro lugar. Não é uma crítica acadêmica, científica. É uma crítica que nos pega em outra região do cérebro que é muito mais divertido, mais fácil de compartilhar, de viralizar, de rir e de brincar. É importante pra caramba e os governantes sabem disso e procuram muitas vezes se apropriarem dessas armas do humor para tentar ampliar suas bases eleitorais e suas mensagens. Eu acho que o humor é uma arma muito, muito poderosa e acho que existe essa consciência no meio política.

O que mais te tira do sério?

Marcelo Adnet - É a falta de poder dialogar com educação. Dialogar e trocar ideia sem partir para agressão. Não conseguir dialogar me tira do sério.

Você tem projetos para a televisão em 2022?

Marcelo Adnet - Tenho dois projetos para 2022. Inclusive estou acabando de escrever para apresentar e um deles é para qualquer momento. É um projeto desligado de política, de noticiários e de tudo e outro é um projeto para a eleição no ano que vem. Vamos ver se esses projetos vão adiante ou não.

E o Botafogo sobe para a primeira divisão? Se tivesse dinheiro qual o jogador da série A você contrataria para ajudar o Alvinegro?

Marcelo Adnet - Eu acho que ele sobe, mas como botafoguense, a gente está preparado também para ele não subir. Tem que trabalhar essas expectativas. Se eu tivesse dinheiro e traria o Hulk, do Atlético Mineiro.

Tem algum arrependimento?

Marcelo Adnet - Todos nós temos arrependimentos na vida, coisas que com certeza que a gente faria diferente. Mas, é preciso ter a consciência de que não existe o voltar atrás. O passado não se muda. Ele se estuda e, principalmente, você faz as pazes com o passado para seguir adiante. Não importa se a sua vida foi muito bacana ou se ela foi terrível. Se erros foram cometidos. O que importa é saber lidar com isso.

Quais são as características que você acha que pegou muito e aquelas que pegou de menos?

Marcelo Adnet - Eu sou um cara generoso. Acho que eu sou um cara de diálogo, conciliador, mas eu sou extremamente ansioso e irrequieto. Então com esse dreno na perna, eu não sinto dor nenhuma, mas sinto um incômodo porque sei que ele está ali. (gargalha). Meus dois defeitos são esse : ser ansioso e irrequieto.

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