Por que Odete Roitman não pode morrer no remake de Vale Tudo
Novela não deveria abrir mão, ainda que só na reta final, da única personagem que mobiliza opiniões e gera controvérsias
Publicado em 09/05/2025 às 12:00,
atualizado em 09/05/2025 às 12:09
Odete Roitman (Débora Bloch) não pode morrer no remake de Vale Tudo. Ainda que o fim da megera aconteça a poucos capítulos do desfecho, já na reta final, como ocorreu na primeira versão, abrir mão da única personagem que tem mexido com as opiniões dos telespectadores seria fatal para a novela das 21h da Globo, cuja repercussão já não vai bem.
Desde que Odete entrou em cena, na semana passada, o efeito gerado pela personagem parece ter sido o oposto ao que a autora Manuela Dias pretendia. O texto tentou afastar qualquer traço que humanizasse a malvada – até mesmo uma cena de carinho com o neto, presente no original, foi cortada.
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Contudo, tanto o roteiro quanto a atriz – que tem se saído bem na dura missão de dar vida à mítica vilã – acabaram caminhando na direção oposta. Ainda que carregada de preconceitos, a milionária está cheia de razões e lava a alma sempre que diz meia dúzia de verdades aos parentes à sua volta.
Não há como defenestrar uma mãe que tenta dar rumo a dois filhos perdidos na vida. Se Odete é manipuladora, Débora Bloch defende bem as intenções da personagem, o que suaviza seus defeitos. A empatia despertada é ainda maior já que seus antagonistas não têm muito carisma.
Foi o que ficou evidente no capítulo de terça-feira (6), no embate com Solange (Alice Wegmann). Ao oferecer um emprego à futura nora em Paris – com segundas intenções, é claro –, a ricaça ouviu uma série de desaforos e a infame frase de efeito “Eu sou resistência”. Como ficar contra a megera?
Frequentemente, algumas atitudes de Odete que são, no máximo, equivocadas, “sem noção”, têm reações desproporcionais. Na quinta (8), ela ouviu que é uma “péssima mãe” de Heleninha (Paolla Oliveira), em mais um porre da filha, apesar de todos esforços, à sua maneira, para ajudar a herdeira.
A única que até agora bateu de frente com Odete e não saiu perdendo foi Raquel (Taís Araujo), responsável por uma bela situada na grã-fina também na quinta-feira. Não é por acaso: a vilã tem uma heroína à altura, bem construída pela intérprete, um dos poucos destaques do elenco nessas primeiras semanas – ao lado do Marco Aurélio de Alexandre Nero.
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Como obra aberta, remake deve mudar de rota de acordo com o gosto da nova audiência
Poupar Odete Roitman da morte, mantendo a vilã até o último capítulo e dando um fim inédito à malvada, parece a solução ideal. Especialmente porque não faltam personagens apáticos para serem cortados da história antes do fim, mantendo assim o midiático “quem matou?”. Por que, então, eliminar aquela que, pelo menos, gera controvérsias?
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Na primeira novela, exibida entre 1988 e 1989, os autores podiam se dar esse luxo. Havia uma variedade de personagens interessantes em cena, e a Odete Roitman interpretada por Beatriz Segall (1926-2018), apesar de espetacular, não carregava a novela nas costas.
A nova Vale Tudo só tem a ganhar ao se reconhecer como obra aberta, que deve mudar ao gosto da nova audiência. Para um remake que, de modo geral, não chegou perto da qualidade vista na primeira versão, desprender-se de vez do texto original pode ser a melhor saída.
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Vale Tudo é escrita por Manuela Dias e tem direção artística de Paulo Silvestrini. O remake é baseado na novela exibida entre 1988 e 1989, criada por Gilberto Braga (1945-2021), Aguinaldo Silva e Leonor Bassères (1926-2004) e que teve direção de Dennis Carvalho e Ricardo Waddington.
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